Discurso durante a 166ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a comemorar o aniversário de Juscelino Kubitschek e aniversário do Memorial JK.

Autor
Wellington Fagundes (PL - Partido Liberal/MT)
Nome completo: Wellington Antonio Fagundes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão Especial destinada a comemorar o aniversário de Juscelino Kubitschek e aniversário do Memorial JK.
Publicação
Publicação no DSF de 13/09/2019 - Página 45
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, DESTINAÇÃO, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO, MEMORIAL, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, JUSCELINO KUBITSCHEK.

    O SR. WELLINGTON FAGUNDES (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - MT. Para discursar.) – Sr. Presidente Izalci; quero cumprimentar também o proponente desta sessão, o Senador Randolfe, que brilhantemente falou; quero aqui cumprimentar também o Deputado Federal Lafayette de Andrada, representando a Bancada de Minas Gerais; a Sra. Anna Cristina Kubitschek, em quem a gente percebe a felicidade: que felicidade ser neta de Juscelino Kubitschek! Quero aqui parabenizá-la em nome de toda a família.

    Também cumprimento o companheiro Deputado Paulo Octavio, que foi Senador da República, uma das figuras notáveis deste Brasil. Com certeza Brasília deve muito a V. Exa., principalmente quando eu via em V. Exa. a preocupação de transformar Brasília num grande centro de eventos: "Como é que a nossa Capital não está preparada para isso?", e hoje, com certeza, graças ao seu trabalho, Brasília já é uma cidade preparada para receber a todos os brasileiros e todas as pessoas do mundo que para cá venham.

    Quero cumprimentar também o pioneiro na construção de Brasília o Deputado Federal Sr. Carlos Murilo Felício dos Santos.

    Senhoras e senhores, todos aqui que se fazem presentes, aqueles que nos assistem por todos os meios de comunicação desta Casa, quero começar aqui dizendo o que dizia Juscelino: "Costumo voltar atrás, sim; não tenho compromisso com o erro." Essa frase de Juscelino Kubitscheck de Oliveira, médico, ex-Deputado, ex-Prefeito de Belo Horizonte, ex-Governador de Minas, ex-Presidente da República e ex-Senador por Goiás, que nasceu na data de 12 de setembro do ano de 1902, num lar humilde de sua amada e mineiríssima Diamantina. Faço questão de falar da mineiríssima, porque eu tive a felicidade de ter também como companheira uma mineira de Monte Alegre de Minas Gerais, e a sapiência mineira é algo inigualável.

    Sua saudosa memória, que homenageamos nesta sessão especial, deve servir de inspiração e, sobretudo, de alento a todos nós, brasileiros, hoje e sempre. Afinal, não foi à toa que o seu período na Presidência, de 1956 a 1961 – eu nasci em 1957, então, exatamente quando eu nasci, Juscelino estava na Presidência –, e ele passou à história como uma era dourada, de prosperidade, democracia e paz.

    Sua maneira destemida e desbravadora é reproduzida hoje no esforço e na determinação com que o povo do meu Estado do Mato Grosso se apresenta ao Brasil. Juscelino, portanto, do meu querido Estado e da minha gente, desbravava para o Brasil crescer.

    Apelidado por um dos seus biógrafos de "o artista do impossível", Juscelino Kubitscheck colocou uma energia indomável, um otimismo contagiante, e um carisma à toda prova inteiramente a serviço do nosso País, com resultados brilhantes que o elevaram ao panteão dos maiores estadistas brasileiros de todos os tempos.

    Ele foi capaz de persuadir os seus contemporâneos e a todos nós, até hoje, da possibilidade de alcançarmos, ao mesmo tempo, desenvolvimento econômico e estabilidade política; progresso com liberdade, sem ódio e sem rancor, respeitando quem discordava das suas opiniões, buscando construir pontes para o consenso em torno dos interesses nacionais maiores, convicto de que o diálogo é o melhor caminho para dirimir as diferenças e os conflitos de interesses entre as pessoas em prol do bem comum.

    Assim expressou Juscelino Kubitscheck sua forma de fazer política – abre aspas: "Não nasci para ter ódio, nem rancores; nasci para construir".

    Senhoras e senhores, com JK, o Brasil aprendeu que pode vencer as adversidades de uma complicada herança histórica, bastando para isso que tenhamos confiança em nós mesmos e acreditemos firmemente nas nossas potencialidades naturais e humanas.

    Como o tempo é curto, vou me concentrar somente em alguns dos principais aspectos do magnífico desempenho econômico do seu Governo. Farei isso porque os ensinamentos que dele podemos extrair servem ao Brasil de hoje e ao Brasil de amanhã.

    Eleito em 1955 com o slogan "50 anos em 5", JK enfrentou, logo em seguida à sua posse, uma complicada herança financeira dos Governos Vargas e Café Filho, consequência do baixo preço internacional do café – então nosso principal produto de exportação – e também dos déficits do Tesouro Nacional.

    Assessorado pelo seu Ministro da Fazenda, José Maria Alkmin, outro hábil político do velho PSD mineiro, o Governo utilizou a política cambial como ferramenta para o desenvolvimento industrial e a modernização do País, favorecendo a importação de bens de capital – máquinas e equipamentos – para as indústrias automobilística, naval e também de base. Seu Plano de Metas destinava-se a promover o desenvolvimento por meio da industrialização acelerada.

    O plano tinha quatro vetores: 1) estímulo aos investimentos estrangeiros; 2) reorientação do setor público de modo a aumentar sua participação na formação de capital; 3) capitalização de recursos para áreas estratégicas; e 4) política financeira sintonizada com esses objetivos desenvolvimentistas.

    Nesse contexto, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico – antes BNDE e, bem mais tarde, cumprindo seu papel, BNDES, com o "S" de Social – desempenhou estratégico papel produtor. O banco era dirigido pelo mato-grossense Roberto Campos, notável promotor do progresso brasileiro.

    Entre 1957 e 1960, a participação do Governo na formação bruta de capital fixo – incluídas as empresas estatais – se elevou a 47,8%. O período coincidiu com a maturação dos investimentos anteriormente aplicados na reconstrução da Europa Ocidental e do Japão, que haviam sido devastados pela Segunda Guerra Mundial. A conclusão daquele ciclo liberou abundantes capitais estrangeiros, destacando-se alemães e japoneses, em busca das oportunidades que despontavam no Brasil de JK.

    Graças à combinação desses fatores – observem, senhoras e senhores –, articulados pela habilidade política e a confiança que o Presidente e sua equipe conquistaram no seio da opinião pública nacional e da comunidade internacional, o País cresceu a taxas até então inéditas. Havia habilidade política e confiança da opinião pública interna e externa, uma boa receita para os dias hoje.

    Entre 1957 e 1960, o PIB avançou num ritmo médio de 7,8% ao ano. Se acrescentarmos o ano de 1961, no qual Juscelino governou até janeiro, quando entregou a faixa presidencial ao seu sucessor, Jânio Quadros, essa média sobe para 8,3%.

    Além da famosa meta-síntese – construção de Brasília, a nova Capital Federal –, o Governo JK multiplicou seu dinamismo em muitas outras valiosas obras de infraestrutura – entre outras, abriu 20 mil quilômetros de rodovias.

    A entrada de capitais estrangeiros trouxe consigo novas tecnologias e novos métodos de gestão que contribuíram para ampliar a produtividade do trabalhador brasileiro. Muitos segmentos industriais nasceram e se expandiram velozmente graças ao crescimento do mercado interno: veículos automotores de passeio e carga; eletrodomésticos; tratores; produtos químicos e farmacêuticos; siderurgia e também metalurgia.

    Senhoras e senhores, veio a escalada de radicalização política e polarização ideológica em seguida à renúncia de Jânio, e levou, com isso, à ruptura da ordem constitucional em 1964.

    Juscelino se preparava para disputar nas urnas, quando sua trajetória foi brutalmente interrompida pela cassação do mandato senatorial e pelo congelamento da eleição presidencial direta por mais de 20 anos.

    Infelizmente, o líder incansável não pôde realizar seu novo projeto: reproduzir o "50 anos em 5" no setor agropecuário, produzindo um desenvolvimento consistente e harmonioso entre o Brasil rural e o Brasil urbano. Juscelino é o símbolo de um Brasil que pode dar certo. De um Brasil que tem tudo para dar certo.

    Sr. Presidente, senhoras e senhores, permitam-me avançar um pouco mais. Neste momento, o nosso País luta para se recuperar da mais longa e profunda crise econômica da nossa história e também das suas consequências sociais, traduzidas no contingente gigantesco de 12,6 milhões de brasileiros desempregados.

    As realizações protagonizadas por JK no passado podem e devem inspirar e energizar o Brasil do presente na caminhada rumo a futuro melhor, mais próspero e, com certeza, mais justo.

    É claro que os tempos são outros.

    Agora mesmo, porém, acabo de retornar de uma missão oficial a Cingapura. Um pequeno país e grande potência econômica e tecnológica, que, graças à sabedoria e ao espírito público de suas lideranças, saltou do terceiro mundo para o primeiro no intervalo de, no máximo duas décadas. Lá pude constatar que há uma grande disponibilidade de capitais ao redor do planeta, prontos para financiar investimentos em infraestrutura baseados em bons projetos e obras bem administradas. Só precisamos fazer a lição de casa.

    Disse JK: "Não me arrependo do que fiz. Não me arrependo de ter levado em consideração o interesse de preservar o nosso dia de amanhã – o futuro da Pátria brasileira".

    Rogo a Deus, finalizando, que a bandeira desenvolvimentista desfraldada pelo Presidente Juscelino Kubitscheck guie o nosso Brasil na direção de uma nova etapa de desenvolvimento socioeconômico sustentado.

    E faço questão sempre de repetir quando estou nos meus diálogos políticos o que falava Juscelino Kubitschek: governar é a arte de saber priorizar; governar é a arte de saber perdoar. E foi com o perdão na alma que Juscelino conseguiu, inclusive, vencer os seus adversários mais ferozes.

    Lembro-me muito bem de um diálogo da sua mãe, quando ela teve que receber um político que eu não vou citar aqui, que foi o algoz de Juscelino Kubitschek. E ele fazia questão: "Não, vamos recebê-lo". E ela não conseguia ter aquela mesma linha, aquela mesma forma de ternura de Juscelino Kubitschek. Ela o acabou recebendo. A política faz isso.

    Então, eu quero aqui parabenizar toda a sua família e, principalmente, agradecer em nome de todos os brasileiros, em especial de Mato Grosso, porque, se o nosso Estado hoje é um dos Estados que mais se desenvolvem no Brasil, um dos Estados que é campeão na produção, foi exatamente porque Juscelino Kubitschek descobriu o Centro-Oeste do Brasil.

    Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/09/2019 - Página 45