Pronunciamento de Jorge Kajuru em 13/09/2019
Discurso durante a 168ª Sessão Especial, no Senado Federal
Sessão Especial destinada a comemorar os 50 anos do Jornal Nacional.
- Autor
- Jorge Kajuru (PATRIOTA - Patriota/GO)
- Nome completo: Jorge Kajuru Reis da Costa Nasser
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM:
- Sessão Especial destinada a comemorar os 50 anos do Jornal Nacional.
- Publicação
- Publicação no DSF de 14/09/2019 - Página 45
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM
- Indexação
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- SESSÃO ESPECIAL, DESTINAÇÃO, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO, JORNAL, TELEVISÃO, REALIZAÇÃO, REDE GLOBO.
O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PATRIOTA - GO. Para discursar.) – Inicialmente, o bom-dia à Pátria Amada. Em relação aos presentes e às presentes aqui, eu vou dar bom dia a todos e a todas. Exceto a duas pessoas eu não vou dar bom dia: à notável Zileide Silva e ao completo Heraldo Pereira. Por quê? Porque milhões de brasileiros dizem e já disseram várias vezes a eles "boa noite!" Porque quantas vezes neste País, desde 1969, milhões de brasileiros, no momento da bancada do Jornal Nacional, do "boa noite", lá da sua sala: "Boa noite!". Eu cansei de fazer isso. A minha mãe, merendeira de grupo escolar, dava boa noite desde 1969 para o Hilton Marques e para o Cid Moreira. E o papai ficava bravo com ela, padeiro: "Para de dar boa noite! Ele não está dando boa noite para você, não, Maria José! Está dando boa noite para o Brasil". Então, é o início, de forma bem-humorada, e o Brasil inteiro sabe o que significa esse boa-noite.
Como homem de comunicação que sou, com mais de 40 anos de carreira na televisão brasileira, não poderia deixar de propor uma homenagem ao Jornal Nacional pelos seus 50 anos. A sessão solene no Senado é também uma homenagem a alguém que sempre mereceu a minha admiração, o carinho que os filhos dele sabem que ele nutria por mim: o jornalista e fundador da Rede Globo, Roberto Marinho, que, aos 60 anos, poderia se preocupar com netos ou outros prazeres, eis que a trouxe ao Brasil e a transformou na quarta maior rede de televisão do mundo. Enquanto vivo, ele autorizava e liberava citações a todos. Ele contratava intelectuais, jornalistas de esquerda; gente que sofria na época da ditadura só tinha emprego através de seu pai, João Roberto, o Dr. Roberto Marinho. Quantos lá trabalharam sabendo que em outro local não havia espaço.
O Jornal Nacional, sabemos, nasceu do sonho do Dr. Roberto de fazer um telejornal que pudesse unir o Brasil através da notícia. Sonho materializado em 1º de setembro de 1969, quando o JN foi ao ar pela primeira vez e já nasceu histórico por se constituir no primeiro programa gerado no Rio de Janeiro, em rede nacional, através da Empresa Brasileira de Telecomunicações, a Embratel.
Com ele, a TV Globo, criada quatro anos antes, passava a ser, de fato, a Rede Globo de Televisão. As imagens de Hilton Gomes e Cid Moreira, vistas simultaneamente, ao vivo, em todos os recantos do País, significaram mais que o acesso a notícias transmitidas em rede nacional, representaram para o Brasil um de seus maiores saltos no mundo da comunicação.
Nelson Rodrigues escreveu que "a televisão matou a janela", frase de efeito restrita, é claro, a um momento histórico quando, em nossas vilas interioranas e nos subúrbios das grandes cidades, as famílias viam a vida passar pela janela, literalmente. Se vivo estivesse, o genial dramaturgo reconheceria que, para os brasileiros – e a isso chamaria de "óbvio ululante" –, o Jornal Nacional abriu, sim, uma janela para o mundo, já em sintonia com o conceito de aldeia global do filósofo e teórico da comunicação Marshall McLuhan.
Constituiu-se no Brasil, a partir do JN, uma associação definitiva entre TV e informação, e o Jornal Nacional, inspirado nos telejornais principais norte-americanos, inovador no formato e na linguagem, logo se tornaria o mais importante e famoso noticiário brasileiro, alcançando altos e duradouros índices recordes de audiência.
No começo, era o tubo do aparelho de TV em preto e branco, fixo na sala das casas. Hoje, são as telas gigantescas de alta definição, esparramadas por todos os lugares, ou as microtelas móveis que nos acompanham 24 horas. A televisão mudou, os meios de comunicação, em geral, continuam se transformando, mas o jornalismo, em qualquer plataforma, mantém a sua essência e segue firme na missão de informar e produzir conhecimento.
O avanço tecnológico modifica, constantemente, a maneira como se produz jornalismo em TV, mas o trabalho com informação, um dos mais importantes bens sociais, mantém-se como um árduo e contínuo exercício de busca da notícia, com isenção e correção, numa batalha incessante contra o movimento do relógio em que a agilidade tem de se impor.
Na luta constante pela informação de qualidade, o Jornal Nacional soube ser exemplar: enfrentou as vicissitudes da censura no regime militar, moldou-se às novas demandas trazidas pela redemocratização e firmou identidade em meio ao processo de alternância de poder, neste mais longo período democrático da história brasileira. Cometeu erros? Sim, como todos. Mostrou mais virtudes, e a principal delas foi a admissão dos próprios erros.
Volto no tempo para lembrar a polêmica edição veiculada pelo JN no debate entre os candidatos no segundo turno da eleição presidencial de 1989. A emissora absorveu o dano à sua imagem e, posteriormente, adotou como norma não editar mais debates políticos, que passaram a ser vistos apenas na íntegra e ao vivo. Não poderia deixar de assinalar também o fato registrado em 2013 quando o Grupo Globo reconheceu em editorial lido pelo próprio Jornal Nacional que foi um erro o apoio ao golpe militar de 1964 e ao regime subsequente.
Fazer uso da autocorreção em meio à trajetória vitoriosa! Esse – a confiança – é mais um dos motivos, entre tantos outros, que levaram a maioria dos brasileiros a se inteirar sobre o que acontece no Brasil e no mundo através do Jornal Nacional.
Ao longo de meio século pelo Jornal Nacional, acompanhamos as grandes transformações na política, na ciência, na religião, no esporte, nos costumes, na cultura e na tecnologia. Pelo JN, acompanhamos a nossa história e vimos o reconhecimento do Jornal Nacional extrapolar fronteiras. Neste 2019 de comemorações, o jornalismo da Globo concorre ao prêmio Emmy Internacional pelo 13º ano consecutivo. Cabe destacar que o chamado Oscar da televisão mundial já foi conquistado. Em 2011, o JN ganhou o prêmio na categoria notícia devido à cobertura, um ano antes, da expulsão dos traficantes e da ocupação policial no Complexo do Alemão no Rio de Janeiro.
A maior vitória do JN, a meu ver, é a credibilidade conquistada junto aos brasileiros, e é ela que dá o suporte a centenas de profissionais, muitos aqui presentes, dedicados à produção diária da informação correta.
Por isso, apesar do leque de opções, no último mês de agosto, cerca de metade de todos os televisores ligados estiveram sintonizados no JN, um desempenho que o Presidente do Conselho Editorial do Grupo Globo, aqui presente, querido João Roberto Marinho, definiu como sem igual não somente no Brasil, mas mundo afora. Aliás, faço questão de também assinalar o quanto V. Sa., Sr. João Roberto, herdou de seu pai a vocação jornalística. E, ao aperfeiçoar um talento nato, transformou-se o senhor em um dos maiores jornalistas deste País.
Tudo que aqui já disse é pouco para expressar a minha admiração, especialmente pelos colegas jornalistas que criaram, aperfeiçoaram e transformaram em essencial para os brasileiros o Jornal Nacional.
Priorizar o JN, na condição de telespectador, é algo que se impõe pelo resultado de um trabalho coletivo, revelador da qualidade da equipe. Guardadas as proporções, é como se ver um filme bem dirigido, uma peça de teatro com elenco estelar, um concerto com músicos e maestros talentosos. Quando você vê a qualidade de cada reportagem no Jornal Nacional, com o conteúdo, não há como você desligar, você mudar de canal.
Por isso, quando de certas críticas, Sr. João Roberto Marinho, amigo Tonet e jornalistas da emissora, recomendo humildemente – quem duvidar passe em meu gabinete 16, lá vocês verão – aos responsáveis pelo Jornal Nacional que as críticas sejam relevadas. Já em alguns casos, sugiro como resposta a colocação delas na parede da redação, como eu fiz em meu gabinete, quando processado pelo Ministro Gilmar Mendes, como atestado de idoneidade.
Em tempos de fake news e novos desafios à sempre necessária reafirmação de nossa democracia, cuja manutenção é essencial à atividade jornalística, era o que eu tinha de falar.
E, de coração, João Roberto Marinho, entre tantas frases de seu pai, quero lembrar uma, para que funcionários da emissora mais novos do que eu possam ter a certeza de quem era Roberto Marinho. Ele, um dia, disse o seguinte, em Barcelona, na Espanha, na Olimpíada: "Pague-se muito quando houver talento, demita-se muito quando faltar talento". É o que mais tem no Jornal Nacional nesses 50 anos.
Agradecidíssimo. (Palmas.)