Discurso durante a 168ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a comemorar os 50 anos do Jornal Nacional.

Autor
Eduardo Braga (MDB - Movimento Democrático Brasileiro/AM)
Nome completo: Carlos Eduardo de Souza Braga
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão Especial destinada a comemorar os 50 anos do Jornal Nacional.
Publicação
Publicação no DSF de 14/09/2019 - Página 48
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, DESTINAÇÃO, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO, JORNAL, TELEVISÃO, REALIZAÇÃO, REDE GLOBO.

    O SR. EDUARDO BRAGA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AM. Para discursar.) – Meu caro Presidente do Senado, amazônida como eu, meu querido eminente Senador Davi Alcolumbre; caro Senador Jorge Kajuru, autor da propositura; meu caro Vice-Presidente e Presidente do Conselho Editorial e do Comitê Institucional do Grupo Globo, João Roberto Marinho; meu caro presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão e Vice-Presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Sr. Paulo Tonet Camargo; e, em nome de quem eu saúdo a todos os jornalistas e funcionários da Rede Globo, nossa querida Zileide Silva; falar sobre o Jornal Nacional e os 50 anos do Jornal Nacional, no século XXI, quando a comunicação ganhou novas plataformas, ganhou novas práticas, é sem dúvida nenhuma constatar que o Brasil é e será um grande País e um grande continente, pela sua dimensão, pela sua diversidade e pela peculiaridade característica.

    Nossos antepassados nos deram uma língua única, falada de Norte a Sul deste País continental, quando não havia meios de comunicação. E coube exatamente ao Jornal Nacional o desafio de poder integrar, de norte a sul, o nosso País, fazendo com que a notícia pudesse chegar a todos aqueles brasileiros que falavam a mesma língua.

    No dia 1º de setembro de 1969, nascia a primeira edição do Jornal Nacional. A música, aquela mesma música instrumental eletrizante que tanto conhecemos, se tornou parte da cultura e da memória viva do povo brasileiro. Sua vinheta se tornou sinônimo de notícia, anunciando o momento no qual a família ainda hoje se reúne para ver e ouvir os principais acontecimentos do País, depois de uma longa jornada de trabalho e de estudo.

    Naquele já longínquo 1969, o objetivo "modesto", entre aspas, de apenas pessoas que poderiam ser estadistas e visionárias, do Jornal Nacional era o de integrar o Brasil através da notícia e ser o primeiro telejornal que atingia todo o Território nacional. E olhem que território! Hoje, quando parecemos estar inundados de informação, isso soa assustadoramente estranho, mas, naqueles tempos, havia muitos brasis separados, quase como imensas ilhas, com enormes desigualdades econômicas, sociais e até mesmo de culturas de cada uma dessas ilhas isoladas.

    Avançamos muito, sem dúvida. Porém, sabemos que o desafio, que ainda permanece, de integrar as regiões mais isoladas, as isoladas das isoladas, é muito menor do que aquele de 1969, mas não menos importante. Quanto às regiões isoladas na Amazônia, ainda temos muito a fazer, mas, graças a empreendedores, como o saudoso Roberto Marinho, como Phelippe Daou e como outros brasileiros, tem sido possível sonhar e acreditar que essas regiões isoladas das isoladas, em que, muitas vezes queremos fazer notícias por elas, muitas vezes queremos falar por elas, e elas querem, muitas vezes, ser ouvidas por nós... Esse mecanismo é apenas construído quando há vontade e fé de que podemos vencer.

    O sucesso do Jornal Nacional é imenso, único em termos mundiais, ao conseguir produzir conteúdo internacional, nacional, regional e local e fazer com que a informação alcance praticamente todo o Território nacional. Para o Jornal Nacional, não há o distante, há o próximo, há um só Brasil. Há um só Brasil, imenso País com mais de 8 milhões de quilômetros quadrados – apenas o meu querido Amazonas, mais de 1,5 milhão de quilômetros quadrados –, com a maravilhosa diversidade de sua gente.

    Como comemorar os 50 anos do Jornal Nacional? Na minha opinião, é principalmente reverenciar a sua história e a sua própria vontade de realizar essa visão, com todos os avanços, com os tropeços e os desafios que o País tem enfrentado neste meio século; é relembrar a longa caminhada pela redemocratização; é refletir sobre os erros e acertos na política e na economia; é festejar conquistas na área tecnológica; é vibrar com nossos atletas; é se indignar com a violência de cada dia, com a corrupção; e é lamentar o muito que ainda temos que lutar por um Brasil mais justo e menos desigual.

    O Jornal Nacional, que hoje homenageamos, é um espelho do nosso País; do Brasil engravatado, mas, acima de tudo, do Brasil de pé no chão; do Brasil dos poderosos, mas, acima de tudo, dos mais humildes; da roça, das grandes cidades, da floresta, do campo; de quem dita as regras e de quem vai de encontro às regras.

    Do primeiro bom dia de Cid Moreira e Hilton Gomes, em 1969, até os dias de hoje, o Jornal Nacional se tornou a voz de um Brasil continental, com todas as suas diferenças, todas as suas culturas, suas riquezas, suas raças e seus valores.

    O rigor técnico, as inovações tecnológicas e a qualidade primorosa do trabalho de comunicação são reconhecidos no mundo inteiro – o padrão Globo de qualidade –, mas essa capacidade de integração, essa capacidade de diálogo com todos os brasileiros, das mais diversas crenças e classes sociais, de norte a sul do País, talvez seja o maior mérito do Jornal Nacional ao longo deste meio século.

    Vale destacar que integração é palavra-chave para quem vem da Amazônia, como eu, como o nosso querido Davi Alcolumbre, como Randolfo Bittencourt, como Lucas Barreto... Perdão, Randolfe Rodrigues. Eu quero aqui me penitenciar, pois, quando fui Deputado Estadual – e já se vão alguns anos –, eu tinha como um dos colegas meus na Assembleia Legislativa Randolfo Bittencourt e, por isso, eu vivo chamando o Randolfe Rodrigues de Randolfo Bittencourt, que era um Parlamentar com grande espírito público. Portanto, honra-me mencioná-lo.

    Quero dizer que, como amazônida, eu preciso reconhecer que, numa região em que as florestas e os rios dominam grande parte da paisagem, dificultando o acesso e a comunicação, todo o esforço por integração é precioso e merece o nosso reconhecimento e apoio.

    Com o Jornal Nacional, o povo do Amazonas supera barreiras e se sente gente e parte da história, junto com os demais brasileiros. Somos muitos em nossa diversidade. E o Jornal Nacional tem parte relevante para nos sentirmos, assim, irmanados e iguais, mas desafios enfrentados iam muito além da integração nacional, como se essa tarefa já não fosse considerável.

    E cabe uma reflexão sobre algo extremamente importante e essencial: o papel do jornalismo numa sociedade moderna. O protagonismo é o dos fatos, não o das opiniões de uma pessoa atrás de uma tela de computador. O jornalismo em sua melhor forma, como tem demonstrado o Jornal Nacional ao longo dessas cinco décadas, significa uma fonte de informação confiável e fidedigna, compreensível para uma audiência variadíssima. O jornalismo são os olhos de um País, é a vigilância permanente da democracia. É ali que está o jeito como o povo se vê e vê o mundo. É ali que está a grande aventura de compreender o que se passa ao nosso redor.

    O jornalismo, especialmente o televisivo, é por vezes a primeira mirada sobre o que está acontecendo. Ele tem que ser ágil, até para concorrer com as outras plataformas, mas, ao mesmo tempo, fidedigno à realidade. Conciliar as duas coisas não é fácil, como sabe qualquer profissional da área, mas o jornalismo tem filtros como os da autocrítica constante ou da admissão do erro, quando é o caso.

    O bom jornalismo, do qual o Jornal Nacional é exemplo, não é a expressão de uma ideologia, de que lado ela for do espectro ideológico. O bom jornalismo, do qual, repito, o Jornal Nacional é exemplo, é a expressão do compromisso com a verdade, por mais dolorosa que ela possa ser e a busca, por mais difícil que seja, para superar os nossos próprios vieses, orientações intelectuais, culturais ou políticas. Não é fácil, mas ninguém disse que seria.

    Em tempos de fake news, relembrar a importância da notícia fidedigna e confiável é fundamental. Valores como isenção, correção e respeito aos fatos são essenciais para todos nós.

    As redes sociais, Presidente – e me encaminho para finalizar –, trouxeram coisas novas, inéditas, mas, ao mesmo tempo, carregam, em seu lastro, o peso de uma imensa dissonância cognitiva. Muitas pessoas perdem a conexão com a realidade e acreditam apenas em suas próprias convicções. Amigo é quem compartilha dessas mesmas certezas, e inimigo é aquele que as questiona. Inimigo, nessa visão curta, é aquele que está preocupado com a apuração cuidadosa dos fatos, com a independência, com a correção da notícia. Por isso, tantas e tantas vezes, a agressão violenta e purulenta ao trabalho de centenas, talvez milhares, de profissionais sérios e comprometidos que fazem o Jornal Nacional.

    Existem críticas? Claro, sempre irão existir, ainda mais quando o cenário político é dominado pelo radicalismo e por paixões ideológicas, mas nada supera a admiração pela qualidade do trabalho de comunicação levado à frente por centenas de profissionais de primeira linha Brasil afora.

    O Jornal Nacional é, sem sombra de dúvida, a referência mais importante da imprensa brasileira, o degrau mais alto da notícia, a vitrine mais disputada e, por vezes, a mais temida. O Jornal Nacional pauta o noticiário, pauta as conversas do dia a dia, pauta, muitas vezes, a agenda nacional.

    Não sei se, ao criarem o Jornal Nacional, Alice-Maria e Armando Nogueira, sob o comando de Roberto Marinho, chegaram a imaginar o alcance que esse jornal teria. Creio que sim. Os visionários fazem a história, mudam os seus cursos e constroem pontes para o futuro.

    Um alcance conquistado com dedicação e profissionalismo admiráveis não apenas por parte dos idealizadores do jornal, dos diretores da Rede Globo, dos que estiveram e estão hoje na linha de frente do Jornal Nacional, mas de um batalhão de repórteres, editores, cinegrafistas, produtores, técnicos, apresentadores. A todos os meus parabéns e muito obrigado.

    Para concluir, agradecemos, pois, à Rede Globo e, em particular, aos profissionais, que, ao longo de 50 anos, fizeram o seu trabalho – na maioria das vezes, de forma invisível para nós espectadores – de unir este imenso e maravilhoso País, que é o nosso Brasil. Ajudaram a nos unir, ajudaram a termos uma só Nação e, ao mesmo tempo, tão diversa e tão única como é o Brasil.

    Obrigado ainda pelo esforço contínuo de oferecer uma fonte de informação preocupada com a agilidade, com a facilidade de compreensão e, sobretudo, com a verdade. Obrigado a toda a equipe do Jornal Nacional. Vocês são prova de que o Brasil pode dar certo, de que o Brasil deu certo, de que o Brasil vai dar certo.

    Parabéns ao Jornal Nacional! (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/09/2019 - Página 48