Discurso durante a 154ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa de um programa sustentável para a Amazônia.

Satisfação pela aprovação, na CAE, de empréstimo para a cidade de Aracaju-SE.

Considerações sobre a recente perda de popularidade do Presidente Jair Bolsonaro atestada por diferentes institutos de pesquisa. Críticas ao Presidente da República.

Autor
Rogério Carvalho (PT - Partido dos Trabalhadores/SE)
Nome completo: Rogério Carvalho Santos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MEIO AMBIENTE:
  • Defesa de um programa sustentável para a Amazônia.
GOVERNO MUNICIPAL:
  • Satisfação pela aprovação, na CAE, de empréstimo para a cidade de Aracaju-SE.
GOVERNO FEDERAL:
  • Considerações sobre a recente perda de popularidade do Presidente Jair Bolsonaro atestada por diferentes institutos de pesquisa. Críticas ao Presidente da República.
Publicação
Publicação no DSF de 04/09/2019 - Página 22
Assuntos
Outros > MEIO AMBIENTE
Outros > GOVERNO MUNICIPAL
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • DEFESA, PROGRAMA, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, REGIÃO AMAZONICA, PRESERVAÇÃO, MEIO AMBIENTE.
  • REGISTRO, APROVAÇÃO, COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONOMICOS, EMPRESTIMO EXTERNO, ARACAJU (SE).
  • REGISTRO, PERDA, POPULARIDADE, PESQUISA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, JAIR BOLSONARO.

    O SR. ROGÉRIO CARVALHO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - SE. Para discursar.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, antes de dar início ao meu pronunciamento, eu queria concordar com o Senador Telmário, pois a sustentabilidade é o caminho para promover o desenvolvimento da Amazônia; mas num programa sustentável, num programa que respeite a biodiversidade, que respeite o nosso patrimônio genético e que respeite o nosso patrimônio florestal, que é imensurável para toda a humanidade, e que respeite os povos originais da Amazônia e a sua condição de verdadeiros proprietários da terra. Portanto, é preciso que as Casas parlamentares possam fazer um debate profundo sobre a sustentabilidade e o desenvolvimento na Região Amazônica.

    Mas eu queria também aproveitar a oportunidade para agradecer ao Presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, Senador Omar Aziz, por ter pautado hoje o empréstimo de US$75,2 milhões para a cidade de Aracaju para financiar um projeto de reestruturação e adequação da zona oeste da capital sergipana, e agradecer também aos colegas Senadores e Senadoras por terem aprovado o regime de urgência para trazer ao Plenário este pleito, que é um pleito do Prefeito Edvaldo Nogueira, mas que é um clamor de todo o povo sergipano e principalmente da população mais carente da cidade de Aracaju.

    E, por fim, eu queria tratar sobre a notícia que toma conta do País neste início do mês de setembro que é a perda da popularidade do Presidente Jair Bolsonaro. Em uma semana, três institutos de pesquisas diferentes – e nós não estamos em período eleitoral, portanto aqui não há a intenção clara de favorecer a este ou àquele e, sim, uma pesquisa para avaliar o desempenho; aqui há institutos dos mais diversos tipos e todos caminham de forma semelhante, que são Datafolha, Veja/FSB e Vox Populi, que eu tive acesso a todo o conteúdo da pesquisa – confirmam a rejeição do povo brasileiro ao Governo Bolsonaro.

    Aos oito meses de mandato, se compararmos os percentuais de ruim e péssimo dos últimos Presidentes, vamos ver na prática o que o autoritarismo de Bolsonaro e a falta de rumos para o Brasil trazem como consequência para o atual Presidente. Fernando Henrique Cardoso, em 1995, nesse período, tinha uma rejeição de 15%; Lula, de 10%, em 2003; Dilma, de 11%; e Bolsonaro chega aos representativos 38% de rejeição do povo brasileiro. A insatisfação das pessoas está exatamente nos bombardeios diários de falas absurdas que não dialogam com a liturgia do cargo de Presidente. Parece que o cargo é maior do que ele. E nós temos aí uma população que se envergonha, e ele envergonha o País com declarações que são inapropriadas e que fogem da liturgia do cargo.

    Mas parece que a estratégia do Presidente é cultivar a polarização. Principalmente, nesses momentos, ele quer cultivar a polarização com o PT e adotar um clima de palanque permanente que não constrói o caminho da transformação na vida das pessoas. É hora de governar. É hora de dizer a que veio. É hora de apresentar um projeto para o País e não de querer brigar e promover a disputa como se estivesse numa campanha eleitoral permanente.

    Depois de toda a articulação do Bolsonaro com a Operação Lava Jato, que acompanhamos através dos vazamentos dos procuradores, nada mais natural para o Presidente Bolsonaro manter o gênero do "vão ter que me engolir", diante das críticas que crescem com seu despreparo.

    Bolsonaro acreditou, juntamente com o Ministro Moro, que estavam acima da lei, que podiam tudo, inclusive fazer da Justiça um mero instrumento de luta política. Eles tripudiaram sobre um partido que sempre defendeu os que mais precisam; intensificaram o antipetismo na sociedade para tirar o PT das eleições – e tiraram! Tiraram o Presidente Lula da disputa e criaram o antipetismo, que, felizmente, as pesquisas mostram que tem diminuído e que a sociedade tem tomado consciência de que não é com o antiPT ou anti qualquer coisa que vamos ter soluções para os grandes problemas e os desafios do País.

    O pior de tudo, dessa construção urdida nos bastidores, é que nós temos um ex-Presidente, que foi um dos maiores Presidentes da história do Brasil, preso, e a sociedade, numa das pesquisas, dessas três que foram divulgadas, majoritariamente diz que o Presidente Lula deve ter um novo julgamento; que o Presidente Lula deve ter a oportunidade de ser julgado por um juiz isento, por um juiz que não faz conluio com o Ministério Público, por um juiz que se mantém imparcial, por um juiz que não tem preferências político-eleitorais nem interesses no resultado da eleição. Por isso, a população brasileira, majoritariamente, já aponta e defende que o Presidente Lula tenha um novo julgamento.

    Precisamos ter consciência de que o maior equívoco cometido por esse Presidente Bolsonaro está em medir a nossa República com a régua dos seus próprios interesses e convicções pessoais. Não se governa um país somente com as suas convicções e com os seus interesses menores e paroquianos. Governa-se um país construindo consensos e acordos entre diversas forças e diversas formas de pensamento, para garantir a pluralidade necessária para resolver problemas complexos, como o desemprego, como a geração de riqueza, como a produção de conhecimento e tantos outros desafios que a modernidade impõe.

    Vivemos tempos de transformação e não temos mais que aguentar o tipo "quem manda sou eu!". Olha, Senador Humberto Costa, imagine, em uma sociedade civilizada, alguém ouvir de um Presidente essa frase: "Quem manda sou eu". Quem manda é o povo, porque, numa democracia, sua excelência o povo é quem deve mandar, e os representantes do povo, todos eles juntos, é que constroem o vetor que vai definir o que será o nosso País, e não a vontade imperativa de um único dirigente, de um único político, que é o Presidente, apesar de sua legitimidade. Contudo, foram eleitos 81 Senadores e 513 Deputados, que têm o direito de....

(Soa a campainha.)

    O SR. ROGÉRIO CARVALHO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - SE) – ... de contrapor-se e de melhorar aquilo que foi feito. Imperativamente não há espaço para "quem manda sou eu". Isso é um atraso, é uma ruptura com uma compreensão mais profunda de democracia. Muito menos a postura – que, perdoem-me, arrepia-me falar esse termo – fascista do nosso Presidente, que esclareço: a principal característica do fascismo é não dar espaço para o diferente, é transformar o diferente em algo que deve ser eliminado. Foi assim que fez o Hitler, e é assim que age o Presidente Bolsonaro quando se refere àqueles que se divergem dele, "tem que eliminar". Como ele disse na campanha: "Tem que eliminar os vermelhos", tem que eliminar aqueles que pensam diferentemente dele. Isso é uma marca fascista, a que o povo demonstra nas pesquisas a sua reprovação.

    Bolsonaro não tem planos para o País. A grande aposta do Presidente era a reforma da previdência, e ele falou que esta reforma era para salvar o Brasil. Como salvar o País se o Ministro Paulo Guedes já anunciou que a reforma não vai gerar emprego no País?

    Nos levantamentos feitos pelos institutos de pesquisa, há a constatação de que a insatisfação do povo está na saúde precária, no aumento do desemprego e nos cortes da educação. Majoritariamente, o povo reprova a administração em mais de 80% na saúde, 80% reprovam o desempenho do Governo na educação e no desemprego ultrapassa os 85% de reprovação.

    E por falar em educação, quem não se emocionou ao assistir à matéria exibida, neste domingo, num programa de televisão que noticiava que uma medalhista da Olimpíada de Matemática teme o futuro dos estudos com o corte da bolsa do CNPq, uma bolsa, Senador Humberto, de R$100. E essa bolsa garantiria a essa menina os dois semestres que ela precisa para concluir o ensino médio para entrar na universidade e poder se formar. Quem não viu isso? E esse é o corte de R$37 milhões em bolsas do CNPq, o que mostra o descompromisso, o desrespeito e a incompreensão de como se constituirá o futuro, que é através do conhecimento. É um Governo que nega a ciência, que nega o conhecimento, que nega o futuro desta e das futuras gerações.

    Sensibilizou-me a situação da Natália, que mora no interior do Piauí, cuja família dorme em redes. E ela disse: "É muito triste, porque eu queria demais fazer a faculdade e mudar a vida da minha família". É difícil ouvir isso e não se comover.

    Muito difícil mesmo quando vimos ainda outra manchete dizendo que o repórter que denunciou o dia do fogo na Amazônia sofre ameaças de morte, e o Governo põe uma cortina de fumaça sobre isso. Nesse dia, foram verificados 124 episódios de fogo, um recorde de ocorrência até então. No dia seguinte, o número de focos saltou para 203.

    É com essa realidade que a rejeição do Bolsonaro aumenta e não há acertos. O único acerto está nessas pesquisas...

(Soa a campainha.)

    O SR. ROGÉRIO CARVALHO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - SE) – ... nos dados que demonstram que o povo está arrependido. Arrependido de ter votado em alguém que dizia ser contra a corrupção e hoje protege seus parentes ou pessoas de sua estima. O povo está arrependido de ter votado em alguém que desenvolve a política da morte com as armas, dos agrotóxicos, em alguém que quer vender, entregar as riquezas do Brasil a qualquer custo ou que se utiliza de factoides para vender um naco do nosso País. Pode olhar: a cada episódio desse de factoide, na sequência – eu preciso de mais um minuto, Sr. Presidente, para concluir –, vende um pedaço do Brasil.

    Ainda há esperança para o povo brasileiro. O caminho perpassa por alguns pontos: acreditar nas instituições, deixar de lado as ideias extremistas e agir com consciência diante dos fatos, ver a política como um instrumento de luta popular. Kajuru, Plínio, Presidente, Senador Berger, sem a política, sem a construção destas Casas, sem o entendimento, sem trazer as divergências, a pluralidade, a diversidade, não seremos capazes de construir um projeto de nação e de sociedade que contemple a todos os brasileiros. E, se ainda assim persistir o ódio, é nas ruas que vamos defender a nossa soberania e a nossa democracia, porque, afinal de contas, este é o desafio que está dado para todos nós: defender a vida, defender a democracia, defender o direito à cidadania, defender a soberania e a autodeterminação dos povos...

(Soa a campainha.)

    O SR. ROGÉRIO CARVALHO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - SE) – ... defender a paz contra a violência, as liberdades individuais e, acima de tudo, construir um país mais justo e igual, mas respeitando sempre a vida e colocando a vida como o grande guarda-chuva de toda a luta civilizatória.

    Muito obrigado, Sr. Presidente, pela tolerância que o senhor sempre, generosamente, me dá.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/09/2019 - Página 22