Discurso durante a 174ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexões sobre a crise política, social e migratória que enfrenta o Estado de Roraima.

Autor
Telmário Mota (PROS - Partido Republicano da Ordem Social/RR)
Nome completo: Telmário Mota de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO ESTADUAL:
  • Reflexões sobre a crise política, social e migratória que enfrenta o Estado de Roraima.
Publicação
Publicação no DSF de 24/09/2019 - Página 31
Assunto
Outros > GOVERNO ESTADUAL
Indexação
  • REGISTRO, CRISE, SITUAÇÃO POLITICA, SITUAÇÃO SOCIAL, ESTADO DE RORAIMA (RR), COMENTARIO, INTERVENÇÃO FEDERAL, IMIGRAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, VENEZUELA, COLOCAÇÃO, IRREGULARIDADE, CONTRATO ADMINISTRATIVO.

    O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PROS - RR. Para discursar.) – Sr. Presidente, Senador Izalci, Srs. Senadores, Sras. Senadoras, telespectadores e telespectadoras da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, eu ocupo hoje esta tribuna para exatamente fazer uma reflexão do que está acontecendo no meu Estado, no meu querido Estado de Roraima.

    Roraima é hoje o Estado que tem a maior riqueza natural per capita do mundo. Roraima tem minério em abundância, água em abundância, sol, terra produtiva, geograficamente é um dos Estados mais bem situados. É um Estado que pode se tornar a mais nova fronteira agrícola do nosso País. Roraima passou a Estado junto com Tocantins, com Rondônia e com Amapá, na expectativa, Sr. Presidente, de se tornar o eldorado do Brasil. Lamentavelmente, a corrupção, a falta de compromisso deixaram meu Estado hoje, o Estado mais pobre do Brasil.

    Sr. Presidente, Srs. Senadores, um país e um Estado não vão para o brejo de uma hora para outra. Não é andando numa estradinha que cai ali num poço d'água e, como dizem na minha terra, atola. Não. Um Estado e um país vão para o brejo paulatinamente, ponto a ponto – uma corrupção aqui, uma demagogia ali, uma impunidade acolá. E aí, Senador Girão, a sociedade dá de ombros, vencida pela inércia, e os canalhas prosperam. Roraima tem sido vítima disso.

    Para completar, lamentavelmente, Roraima é a porta de entrada do Brasil para a Venezuela. Em 2015, eu vim a esta tribuna e alertei ao Governo Federal que a crise na Venezuela ia aumentar, ia recrudescer, e Roraima poderia ser a grande vítima de uma imigração em massa daquele país, que tem 30 milhões de habitantes, que poderia avançar pelas fronteiras. O Governo Federal, como sempre, fez descaso da minha fala e começou todo um processo. Crescendo a crise venezuelana, os venezuelanos começaram a buscar outras alternativas e foram a priori buscar os países que falam a mesma língua. Daí, naturalmente, Peru, Colômbia e Chile foram os países escolhidos pelos venezuelanos.

    Mas as eleições se aproximaram. E, já em 2018, o MDB, a parte podre do MDB, comprometida em querer eleger um Senador que está envolvido na corrupção de R$1 bilhão neste País; um ex-Senador, envolvido em vender medidas provisórias, em fazer as coisas mais absurdas neste País, viu ali, naquele processo migratório, uma alternativa de fazer o Estado sangrar para ele vir como salvador da Pátria. A parte podre do MDB, com a Prefeita de Boa Vista, reuniu-se com dez ministros do Sr. Michel Temer. Chegou ao meu Estado e disse que havia alugueis, para os venezuelanos, de R$700 a R$1,2 mil, havia transporte para interiorizar e havia alimentação. Isso, pelas redes sociais, imediatamente chegou à Venezuela. Mudou o itinerário dos venezuelanos e inchou Roraima. E nada disso aconteceu. O plano deles era Roraima gritar de dor, sangrar e a Governadora perder a governabilidade, para eles fazerem a intervenção federal e ele entrar como salvador da Pátria. Resultado: a Governadora resistiu, com o pouco oxigênio que ela tinha, e ultrapassou as eleições. Esse ex-Senador, como já vinha muito ruim nas pesquisas, ficou de fora, porque o povo já tinha assim decidido, mas, aí, ele quis se vingar da população – ou por qualquer outro motivo – e fez uma intervenção no nosso Estado.

    O Estado de Roraima sofreu uma intervenção federal e para ali eles escolheram... O Governador que tinha sido eleito fez uma medida provisória e passou R$225 milhões. O Governador que foi eleito assumiu o Governo e, na Secretaria de Finanças, colocou esse general que está aqui: Pazuello. Estão aqui Pazuello, Jucá e Temer. "Diz com quem andas que eu direi quem tu és." Está aqui esse Gen. Pazuello pegando na mão do Temer e batendo continência, Jucá de um lado e Temer do outro. Temer esteve preso duas vezes por corrupção e Jucá... ainda vai chegar a hora dele.

    Resultado: o próprio Temer, logo antes das eleições, criou a acolhida venezuelana dentro do Estado de Roraima e nomeou ele, Pazuello, como coordenador dessa acolhida. Ora, a acolhida venezuelana tinha que ter sido feita dentro da Venezuela, como foi feito no Haiti, e, se por quaisquer questões políticas não quisesse fazer, que usasse as áreas institucionais, inclusive militares. Você não pode fazer o acolhimento dentro da área urbana.

    Resultado: Roraima hoje tem – olha só o resultado triste e lamentável, olha só os números que começam a nos assustar – 10 mil venezuelanos perambulando. Em Roraima, que foi o Estado mais pacífico que nós tínhamos – dormíamos de janelas e portas abertas – hoje os moradores têm que pagar vigilantes privados para vigiar a rua. Amanhã, são milícias: quem não pagar tem a casa assaltada. Mais do que isso, mais do que pagar milícias, o nosso Estado de Roraima – estão aqui os jornais – vira o líder em assassinatos no País.

(Soa a campainha.)

    O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PROS - RR) – Dê-me mais um pouquinho, Sr. Presidente, porque é muito sério esse assunto.

    Mais longe: no programa de interiorização, só 5 mil imigrantes. Na maternidade, aumentou o parto em venezuelanas na ordem de 800%.

    Para ser mais prático, o Estado de Roraima hoje vive a seguinte crise: 10 mil venezuelanos perambulando, a acolhida não atende. Só em prédios abandonados, pertinho no palácio, a menos de cem metros, há cerca de 250 pessoas numa favela onde era a Secretaria de Educação, que está em reforma ou está em ruínas; na de Administração, outra grande quantidade; num parque lá, mais de 700 pessoas. Nesses três órgãos, 1.500 venezuelanos.

    Ora, Srs. Senadores, essa acolhida faliu, essa acolhida fracassou.

    Então, mais do que isso, nos chegaram fortes denúncias de irregularidades em procedimentos de contratos de aluguéis, de contêineres, de geradores, enfim, de licitações. E nós queremos transparência, porque o que está em jogo não é o general, não; o que está em jogo é o nome da instituição mais séria, patrimônio deste País, que são as Forças Armadas, que é minha, que é sua, que é do povo honesto brasileiro, que nos orgulha, que é da minha família.

    Meu bisavô, Cel. Mota, foi quem fundou Roraima, foi o primeiro professor, juiz de paz, primeiro promotor...

(Soa a campainha.)

    O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PROS - RR) – ... primeiro Prefeito e que deu o seu filho Vítor para morrer lutando pela defesa nacional, lutando contra os invasores. O Exército brasileiro, as forças nacionais, as Forças Armadas são um patrimônio do meu tio Vítor, como eu acabei de dizer, que morreu lutando contra os estrangeiros, para defender a nossa fronteira; do meu avô, Pedro Rodrigues, o último comandante do Forte São Joaquim.

    E eu não vou deixar que um péssimo gestor possa macular o nome das Forças Armadas ou do Exército brasileiro. O Exército brasileiro garante a nossa soberania. O Exército brasileiro é o "último dos moicanos", que resiste para garantir o Estado democrático de direito.

(Soa a campainha.)

    O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PROS - RR) – E o Exército brasileiro não vai poder estar manchado por qualquer prática irregular de qualquer um dos seus membros, como aquele sargento que colocou droga na comitiva do Presidente da República. Não é digno da farda que veste. Como muitos políticos, Senadores, em qualquer canto da sociedade, há pessoas que não honram os seus compromissos com aquela instituição.

    Então eu tenho respeito, carinho e admiração, e o povo brasileiro também, pelas Forças Armadas, especialmente pelo Exército brasileiro. Mas precisamos de transparência, precisamos apurar essas denúncias. Eu estou levando essas denúncias para a Polícia Federal, para o Tribunal de Contas e para o Ministério Público.

    Já concluo, Sr. Presidente.

    Porque no primeiro recurso, de R$225 milhões, que colocaram quando tiveram, Senador Girão, que é do Ceará, terra do meu avô...

(Soa a campainha.)

    O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PROS - RR) – Senador Girão, os R$225 milhões que foram colocados para fazer a intervenção, eu recebi denúncias iguais a essas. Passei para o Ministério Público, e o Ministério Público, para o Tribunal de Contas, e o Tribunal de Contas já constatou desvio de função.

    Então, Sr. Presidente, eu quero aqui dizer bem claramente que nós vamos apurar. É meu papel fiscalizar o Executivo. É meu papel proteger a dignidade, a consciência do povo honesto deste País, especialmente da instituição mais séria que nós temos e que tem a maior aprovação do povo brasileiro, que são as Forças Armadas e o Exército brasileiro.

    Não adianta querer o general se proteger e dizer que eu estou contra o Exército, não.

(Soa a campainha.)

    O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PROS - RR) – Eu estou contra qualquer prática irregular em qualquer instituição, especialmente no nosso Exército, que não merece nenhuma laranja podre.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/09/2019 - Página 31