Pronunciamento de Paulo Paim em 26/09/2019
Discurso durante a 178ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal
Reflexão sobre o futuro do trabalho, em referência ao conteúdo da entrevista do Professor Jeffrey Pfeffer ao jornal Valor Econômico.
Exposição de preocupações com a eventual aprovação pelo Senado Federal da reforma da previdência.
- Autor
- Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
- Nome completo: Paulo Renato Paim
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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TRABALHO:
- Reflexão sobre o futuro do trabalho, em referência ao conteúdo da entrevista do Professor Jeffrey Pfeffer ao jornal Valor Econômico.
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PREVIDENCIA SOCIAL:
- Exposição de preocupações com a eventual aprovação pelo Senado Federal da reforma da previdência.
- Publicação
- Publicação no DSF de 27/09/2019 - Página 11
- Assuntos
- Outros > TRABALHO
- Outros > PREVIDENCIA SOCIAL
- Indexação
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- COMENTARIO, ASSUNTO, FUTURO, TRABALHO, REFERENCIA, ENTREVISTA, PROFESSOR, ECONOMIA, PERIODICO, VALOR ECONOMICO.
- APREENSÃO, MOTIVO, POSSIBILIDADE, APROVAÇÃO, PROPOSTA DE EMENDA A CONSTITUIÇÃO (PEC), REFORMA, PREVIDENCIA SOCIAL.
O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para discursar.) – Sr. Presidente, Senador Izalci Lucas, Senadores e Senadoras, eu venho à tribuna nesta quinta-feira, já concluída a Ordem do Dia, para fazer uma reflexão junto a esta Casa: para onde caminha o mundo do trabalho?
Sobre o novo mundo do trabalho, Sr. Presidente, eu falo aqui de uma entrevista do Professor Jeffrey Pfeffer, do Valor Econômico, em que ele diz que o trabalho no mundo todo caminha numa linha que mais escraviza que liberta.
Sr. Presidente, achei a entrevista muito interessante. Cumprimento o jornal Valor e o professor dessa universidade dos Estados Unidos. Segundo ele: "O novo mundo do trabalho [palavras que estão na entrevista] mais escraviza do que liberta". A insegurança está nos matando.
Se por um lado, os novos formatos do trabalho [...] nos deixaram mais livres das amarras [segundo ele] da gestão tradicional, por outro, estão criando profissionais mais inseguros e frágeis do ponto de vista financeiro, físico e emocional. [Diz ele] "No Vale do Silício [Estados Unidos], é possível ver engenheiros de 30 anos com corpo de 50 [anos]".
Considerado um dos grandes pensadores da gestão moderna [...], cultuado autor e coautor de 15 livros sobre administração, o professor [...] [fez essa palestra em São Paulo sobre o tema que eu estou aqui discorrendo].
[...] Agora, em seu último livro "Morrendo por um $alário Como as Práticas Modernas de Gerenciamento Prejudicam a Saúde dos Trabalhadores e o Desempenho das Empresas – E o que Podemos Fazer a Respeito" [...], seu alvo é o modus operandi do novo universo do trabalho, que mais [repete ele] escraviza do que liberta.
O medo de perder o emprego, os contratos temporários [intermitentes], a falta de seguro saúde e a instabilidade financeira, segundo ele, estão aumentando o estresse e nos conduzindo para um cenário profissional ainda mais precário no futuro [do que é hoje]. Quem trabalha [...] nem sabe direito quais serão os seus horários [...] [durante a semana ou durante o mês], o que [...] é muito complicado para alguém que tem a responsabilidade de cuidar [...] [da família] ou idosos.
Aí, ele está se referindo ao trabalho intermitente que esta Casa aprovou na reforma trabalhista. Hoje, quando falam que aumentou o número de trabalhadores de carteira assinada... Demitiram aqueles que estavam no contrato formal anterior e contrataram o intermitente, por isso dá a impressão de que aumentou, mas o número de horas trabalhadas diminuiu e o número do valor do salário no fim do mês também diminuiu.
Mas fala mais ele:
"Como você pode se planejar quando não sabe qual será a sua agenda de um minuto para o outro?" [...] [Como será o seu salário seja no dia, na semana ou no mês?] Tudo isso, segundo o professor, só faz crescer a tensão no ambiente corporativo e os conflitos familiares.
Nos novos formatos de trabalho, embora exista maior flexibilidade, Pfeffer lembra que não existem benefícios e que, certamente, a pessoa não terá uma renda adequada.
Isso aqui está de acordo com o que está acontecendo no Brasil na reforma trabalhista, no congelamento de investimento na Emenda 95 e, agora, na reforma da previdência, que começou no Governo anterior e, no momento, já está aqui no Plenário do Senado.
Um dos locais mais tóxicos para se trabalhar, para ele, é o [tão falado] Vale do Silício, que concentra as empresas mais inovadoras do mundo [mas desmonta a vida e a estrutura dos trabalhadores]. [Diz ele] Lá [no Vale do Silício], as pessoas acreditam que tudo o que importa é terminar o trabalho e que devem tomar qualquer substância, legal ou ilegal, como esteroides, cocaína e o que for preciso para [...] [se manter no emprego]" [...].
Ele lembra que os efeitos disso sobre a saúde humana são duradouros [ou seja, permanente]. [Prossegue:] "Se você decide fumar amanhã, o cigarro não afetará a sua saúde imediatamente, mas com o tempo você ficará doente. Da mesma forma, se você decidir trabalhar horas irracionais [como as 12 horas que estão colocadas na lei da reforma trabalhista] ou tomar drogas, com o tempo, terá que pagar um pedágio enorme [para a vida]." [Vai morrer mais cedo.]
As empresas [...] podem dar a esses trabalhadores mesas de pingue pongue ou sushi, mas o que esses profissionais querem é um chefe que os respeite, [...] [algum senso de segurança, de humanidade, e] a oportunidade de equilibrar as suas várias obrigações na vida.
"A tendência atual do aumento da depressão e de doenças crônicas [suicídio, que cresce no mundo todo] não são um problema só do primeiro mundo. Está em todo lugar. Estamos realmente no caminho do que [...] [ele considera] insustentável."
Por isso, esta semana tivemos, na Comissão de Assuntos Sociais, uma audiência pública sobre o suicídio no Brasil. E teremos outra, agora na Comissão de Direitos Humanos, nesta semana que entra.
Na opinião do professor, as empresas deveriam voltar a tratar os funcionários como uma família, à moda antiga. [E não, como disse Charlie Chaplin, somente como se fossem um número. Aquela frase histórica: vós não sois máquina, vós sois homens e mulheres.] "Em certo momento, éramos companhias que se sentiam responsáveis por todas as partes, pelos clientes, pela comunidade e pelos funcionários. Agora, elas pensam que não são [mais] responsáveis por ninguém, talvez pelos acionistas [pelos investidores]. Mas, certamente [nada além do lucro] nada além dos acionistas", afirma [ele].
O fato de vivermos em uma sociedade altamente conectada, onde o trabalho invade os momentos de lazer e na qual é difícil estabelecer relações de longo prazo, nos leva a ficar cada vez mais doentes. "Sabemos [que o bom viver] que a amizade [que a solidariedade] traz saúde", diz.
Hoje eu vi numa entrevista, inclusive, que cuidar do lado espiritual faz bem para o coração. Mas, para isso, é preciso que se tenha uma linha de solidariedade, de fraternidade e de amor.
Diz mais o professor:
Para o professor, as organizações sabem que trabalhadores saudáveis produzem mais e faltam menos, portanto, deveriam deixá-los dormir o suficiente ao invés de permitir [somente] um tempo livre para uma soneca.
(Soa a campainha.)
O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Trabalhadores produzindo, trabalhando dia e noite, em áreas muitas vezes insalubres, penosas e periculosas, não vão produzir o que eles esperam.
A chegada dos robôs e das inteligências artificiais que, em um futuro nem tão distante, podem deixar milhões [e milhões] de trabalhadores sem emprego, segundo ele, deve agravar o quadro de estresse global. Pfeffer diz que os governos e as empresas realmente precisam fazer uma opção política [decente] para garantir que esse futuro não seja inevitável. "Precisamos poder decidir em que tipo de futuro vamos viver."
(Soa a campainha.)
O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Não é retirando direitos do trabalhador do campo, da cidade, da área pública ou da privada, como vai acontecer na reforma da previdência e como já aconteceu na reforma trabalhista, que nós vamos melhorar a qualidade de vida das pessoas. Não é retirando do salário mínimo a correção pela inflação mais PIB; não é desvinculando, como alguns já falam, até o crescimento real do salário mínimo... O crescimento real do PIB já desvincularam, mas querem retirar até a recomposição do salário mínimo devido à inflação.
Sr. Presidente, eu vou terminar o meu pronunciamento só dizendo que eu voltarei amanhã à tribuna para falar das maiores preocupações que eu tenho com a reforma da previdência.
(Soa a campainha.)
O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Só vou dar os títulos, mas vou me aprofundar amanhã, Sr. Presidente, quanto à carência; à aposentadoria especial; ao valor da aposentadoria por incapacidade; à reversibilidade das cotas; ao cálculo do benefício, que agora será de toda a vida e não de 80% das maiores contribuições; à contribuição dos servidores inativos a partir de um salário mínimo; às alíquotas extraordinárias no RPPS quando houver déficit atuarial; ao abono salarial, que vai tirar de 13 milhões de pessoas o correspondente a um salário mínimo que ele recebia todo ano; ao contrato de trabalho intermitente; à privatização dos benefícios não programados, como auxílio-doença, auxílio-acidente, pensão, aposentadoria por incapacidade, auxílio-maternidade; à entrega para a área privada da previdência complementar; à conversão do tempo especial em comum, que era com 40% e agora não vai ter mais.
(Soa a campainha.)
O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Enfim, a PEC acaba com a aposentadoria especial, acaba com o direito a se aposentar com 25 anos de contribuição de todos aqueles que trabalham em áreas de alto risco com periculosidade – daqui para a frente, vai ter que ser 40 anos de contribuição e, no mínimo, 65 de idade, sem nenhuma regra de transição. Eles perdem tudo!
Sr. Presidente, faremos um esforço. Se não der para mexer na PEC principal de imediato, nós vamos tentar com os destaques, fazendo com que os destaques supressivos sejam votados e, oxalá, apoiados pelos Senadores, porque, com isso, também, a PEC não precisa voltar para a Câmara dos Deputados.
Senador Izalci, mais uma vez, agradeço a tolerância de V. Exa. Eu havia me comprometido a ficar em 10 minutos, mas sei que fui a 15.