Pronunciamento de Plínio Valério em 25/09/2019
Discurso durante a 177ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Manifestação sobre o pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito para investigação das ONGs. Leitura de trechos de artigo sobre a Amazônia, do jornalista Alexandre Garcia.
- Autor
- Plínio Valério (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
- Nome completo: Francisco Plínio Valério Tomaz
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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TERCEIRO SETOR:
- Manifestação sobre o pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito para investigação das ONGs. Leitura de trechos de artigo sobre a Amazônia, do jornalista Alexandre Garcia.
- Publicação
- Publicação no DSF de 26/09/2019 - Página 21
- Assunto
- Outros > TERCEIRO SETOR
- Indexação
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- MANIFESTAÇÃO, RELAÇÃO, PEDIDO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), INVESTIGAÇÃO, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNALISTA, REFERENCIA, REGIÃO AMAZONICA.
O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - AM. Para discursar.) – Presidente Anastasia, Sras. Senadoras, Srs. Senadores, hoje eu devo começar, pela conversa que tivemos. O senhor e eu tivemos uma conversa sobre esse pedido de CPI para investigar as ONGs, que eu e 30 Senadores estamos pedindo, e que o nosso Presidente Davi Alcolumbre deve ler em seguida, na próxima semana.
Ao ouvir o pronunciamento do Senador Arns, realmente a gente precisa dar uma burilada nessa comunicação. Eu tenho dito sempre aqui, tenho afirmado, Senador Anastasia, não uma vez – o Senador Paim sempre aqui conosco e já deve ter visto eu reafirmar algumas vezes –, que nós não estamos querendo estigmatizar nem demonizar nenhuma ONG e que as ONGs boas serão preservadas, assim como a gente separa o joio do trigo, valorizando o trigo que são as ONGs boas e, é claro, investigando o joio que são ONGs más.
Mas quando eu ouço o Senador Arns falar, Senador Amin e Senador Anastasia, que estou um pouquinho na comunicação, porque estou querendo investigar as ONGs que trabalham, que dizem trabalhar com meio ambiente. São aquelas ONGs que arrecadam dinheiro lá fora, muito dinheiro, e que dizem aplicar aqui, e não aplicam. Portanto, sim, são as ONGs que trabalham com meio ambiente. É claro que existem ONGs boas e elas serão preservadas.
Eu, seguindo o conselho do Anastasia, do Senador Amin, do Senador Paim, a gente tem que insistir nessa comunicação mesmo. A ONG é para investigar aquelas pessoas que se utilizam... A CPI é para investigar aquelas ONGs cujos dirigentes se aproveitam do tema amazônico para usufruir, enriquecer e ganhar dinheiro. Ponto! Nós vamos insistir nisso.
Eu me permito aqui, Senador Anastasia... No final de sua crônica, o grande jornalista Alexandre Garcia transcreve as palavras que eu disse no discurso e, lá no final, ele diz concordar comigo no que diz respeito a que a gente tem que conhecer a Amazônia para amar e defender. E, por concordar com tudo o que o Alexandre Garcia disse na sua crônica – ele concorda comigo, e eu concordo com ele em tudo –, eu transcrevo alguns trechos aqui – permitam-me; não é coisa longa –, até porque concordo e vou dizer por quê, Senador Paim.
Crônica de Alexandre Garcia:
Dias depois de terem estado na Embaixada da Noruega em Brasília, governadores da Amazônia foram a Nova Iorque participar da Conferência do Clima na ONU. A mesma ONU que em 1948 sugeria a internacionalização da Amazônia, criando o Instituto Internacional da Hilea Amazônica. A cobiça cresceu em 1989 o então vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, dizia que a Amazônia não é dos brasileiros [abro aspas], "é de todos nós". E o presidente da França, François Mitterrand, afirmava que o Brasil precisa aceitar uma soberania relativa sobre a Amazônia. Macron atualizou, chamando a Amazônia de "nossa casa". Agora na ONU [continua Alexandre Garcia], Macron provocou o presidente do Brasil [disse ele]: "Estamos discutindo tudo isso sem o Brasil presente". Eu acrescentaria [diz Alexandre] que ausente também na ONU o personagem decisivo no clima da Terra: o sol. Estavam presentes, no entanto, os governadores do Acre, Mato Grosso, Amazonas e Amapá – Waldez Góes, do DEM, chegou a tirar foto com Macron e Randolphe Alexandre, espécie de governador da colônia vizinho, a Guiana Francesa. Ficou no ar um cheirinho de subserviência colonial – o mesmo que rescendeu na embaixada da Noruega – sobrando a imagem do pires na mão pelo dinheiro estrangeiro para o Fundo Amazônico. Na semana passada, na tribuna do Senado, o jornalista e senador Plínio Valério, representante do Amazonas, fez graves denúncias para justificar seu pedido [...] sobre a Amazônia.
Aqui ele transcreve o que eu fiz, mostrando as escrituras, falando do interesse e dos 105 mil hectares de uma só ONG. Ele vai concordando comigo e, no final, faz essa observação de que concorda comigo. E eu concordo com tudo o que ele disse, sem nenhum medo de ser mal interpretado, Senador Paim.
O Brasil não é mais colônia. Querem nos tratar como se fôssemos colônia. Lá em Manaus, com todo o respeito – eu tenho o maior respeito pelo amazonense e sou amazonense –, eu sempre digo, Senador Anastasia, que nós amazonenses sofremos do complexo do colonizado: tudo o que é dos outros é melhor. E chegando a Brasília, aqui no Senado, eu deparo com o brasileiro com complexo do colonizado. Admira-me – eu não entro no mérito – que pessoas defendam, como Governadores, cada um com seu problema, cada um com sua necessidade. É estar de pires na mão, sim, quando você acena para a possibilidade de aceitar R$20 milhões, R$25 milhões – não são nem de dólares.
A Noruega, esse império – porque lá ainda há rei – tão bonzinho, doou dois bilhões e pouco para o Fundo da Amazônia. Só em Belém, Paim, só em Belém, onde eles mantêm uma fábrica de alumínio, conseguiram uma isenção fiscal equivalente a 7 bilhões. Quem deve a quem? Quem enganou quem? Quem está lucrando com quem?
Então, eu concordo com Alexandre Garcia quando ele reacende, realmente, essa coisa e instiga, dizendo – a gente sofre em falar isso – do complexo do colonizado, de achar que a gente pode chegar lá e pedir ajuda. Ora! Ajudar é ajudar. Eu te ajudo para você fazer o teu melhor. Eu não te ajudo, Paim, para dizer: "Paim, estou te ajudando; você tem que fazer isso, e isso, e isso". Isso não é ajuda; é imposição.
Então, com orgulho de ser amazonense, com orgulho, Presidente Anastasia, de representar o Amazonas, sem nenhum medo de ser mal interpretado, eu digo aqui: o Amazonas não precisa, o Amazonas não quer e o Amazonas recusa esmola – esmola! Nós queremos parcerias, amizades e pessoas que nos ajudem, mas jamais esmola, principalmente um dinheiro que se diz que tem que ser usado dessa forma, que ameaça, sim, a nossa soberania.
Eu não sou bolsonarista, eu não fui eleito sob a égide do Bolsonaro, mas há que se concordar com ele, sim, quando ele fala de Amazônia. Muitas vezes, eu discordo dele, da forma como ele diz, da forma como ele entra na loja de cristal, porque a gente não pode entrar na loja de cristal espanando tudo, mas a Amazônia precisa, sim, ser mantida e respeitada por nós. Por isso, a minha cruzada.
Ontem, eu disse aqui e vou dizer hoje, Senador Amin, terça, quarta, todas as vezes que subir à tribuna: eu quero começar por você, brasileiro; eu quero começar por você, brasileira, para que vocês entendam o que é Amazônia. Enquanto vocês não entenderem o que é Amazônia, enquanto vocês não valorizarem a Amazônia, enquanto vocês não aprenderem a amar a Amazônia, vocês não vão defendê-la. E é preciso, sim, defender a Amazônia.
Nada dessa história de que é preciso aceitar ajuda externa sempre, porque este País é extremamente rico. O mundo não tem mais capacidade, Anastasia, de produzir alimentos. A população cresce numa medida muito superior à produção de alimentos. E quem é que tem terra para plantar? E quem é que tem água para regar? E quem é que tem sol para nos ajudar? Brasil! Amazônia!
E a gente tem que aceitar essa história de o Governador ir à Noruega, esquecer o nosso Presidente – o nosso, porque ele é Presidente do Brasil, portanto, é meu Presidente também. Repito: não sou bolsonarista, mas defendo a ideia do que ele pensa sobre a Amazônia. Ir lá de pires na mão e aceitar ajuda... Essa isenção de 7,5 bilhões... Desculpe, meu amigo Marcio Bittar, que é um dos grandes defensores da Amazônia, indignado e revoltado tanto quanto eu sou, porque ele é do Acre, meu vizinho, e nós somos mesmo revoltados com essa situação. Não é, Márcio? Somos, sim.
Então, uma simples isenção de 7,5 bilhões, Amin. E nos dão como esmola 2 bilhões, dizendo que tem que ser para essa ONG, para essa ONG, para essa ONG e para essa ONG, porque, se assim não o fosse, o Amazonas teria mais que dois projetos aprovados pelo Fundo Amazônia. Teve apenas dois projetos aprovados – 49 e 47 milhões, somando os dois. Uma só ONG teve 54 milhões.
Não tenho nada contra a Bahia, muito pelo contrário. Os três Senadores aqui, pessoas boníssimas, experientes, Senadores excelentes. Mas o que a Amazônia tem a ver com a Bahia? Vinte por cento do Fundo da Amazônia foi para a Bahia. A Bahia precisa, sim. Eu só estou dizendo que é o termo "Amazônia". Não querem nos ajudar, tirem, retirem o termo "Amazônia". Aí eu quero ver quem é que vai colaborar, porque é a Amazônia que estimula, é a Amazônia que cria essa pecha de dizer...
Por isso eu critico esses artistas que vão para Copacabana ou para Hollywood e dão uma entrevista, Marcio, dizendo que a Amazônia está queimando, que a Amazônia está sendo derrubada. Sim. Há hectares, há matas que estão sendo derrubadas e queimadas, sim. Mas, daí a dizer que a Amazônia está em chamas, é filme de Hollywood.
Portanto, reafirmo e reafirmarei, Presidente, todas as vezes que puder aqui ocupar esta tribuna: entre os pontos cruciais por mim colocados na campanha, essa CPI das ONGs foi um compromisso de campanha que eu assumi. Vamos ter de investigar as ONGs, sim, as más. As boas serão preservadas.
Para finalizar, repetindo, Presidente...
(Soa a campainha.)
O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - AM) – ... não passa na cabeça deste Senador do Amazonas estigmatizar, demonizar nenhuma ONG, mas passa no peito e no coração deste Senador amazonense, sim, investigar aqueles que nos utilizam, nos usam há séculos – há séculos –, porque isso não vem de agora. E, nas décadas mais recentes, como disse o Alexandre Garcia, a cada década, a cada passo, há um Presidente francês, um Presidente americano ou um norueguês dizendo que a Amazônia é do mundo, que a Amazônia não pode ser só responsabilidade do Amazonas.
Eu digo que sim, a Amazônia é nossa. A responsabilidade de cuidar da Amazônia é nossa. O dever é nosso.
Assim como Macron, Noruega e Alemanha querem transferir suas nódoas, seus pecados ambientais para nós, nós não vamos aceitar nódoas de ninguém, pecado de ninguém. Nós não podemos aceitar a responsabilidade que querem nos impor: a responsabilidade de sermos irresponsáveis e de não cuidarmos da Amazônia. Somos responsáveis, sim.
Brasil acima de tudo. A Amazônia é brasileira, sim, e será por nós preservada, cuidada.
Em nome do povo do Amazonas, que me mandou para cá, reafirmo o compromisso que tenho de defender a Amazônia numa linguagem amazônica, mas depende de você brasileiro, de você brasileira entender, compreender, conhecer e amar. Aí você vai nos ajudar a defender, porque quem ama defende.
Obrigado, Presidente.