Discurso durante a 183ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Censura ao vídeo sobre os incêndios na Região Amazônica exibido no festival Rock in Rio. Apresentação de estudo da Embrapa que evidencia que o Brasil é um dos países que mais preserva a sua cobertura florestal. Considerações desfavoráveis a novas demarcações de terras indígenas. Exposição de argumentos a favor do uso dos recursos da Floresta Amazônia para o desenvolvimento econômico da região. Apelo para a abertura de CPI para investigar as ONGs na Amazônia.

Autor
Plínio Valério (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Francisco Plínio Valério Tomaz
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MEIO AMBIENTE:
  • Censura ao vídeo sobre os incêndios na Região Amazônica exibido no festival Rock in Rio. Apresentação de estudo da Embrapa que evidencia que o Brasil é um dos países que mais preserva a sua cobertura florestal. Considerações desfavoráveis a novas demarcações de terras indígenas. Exposição de argumentos a favor do uso dos recursos da Floresta Amazônia para o desenvolvimento econômico da região. Apelo para a abertura de CPI para investigar as ONGs na Amazônia.
Publicação
Publicação no DSF de 02/10/2019 - Página 41
Assunto
Outros > MEIO AMBIENTE
Indexação
  • CRITICA, VIDEO, INCENDIO, REGIÃO AMAZONICA, APRESENTAÇÃO, PERIODO, FESTIVAL, MUSICA, RIO DE JANEIRO (RJ).
  • REGISTRO, ESTUDO, AUTORIA, CONCLUSÃO, QUALIDADE, PRESERVAÇÃO, FLORESTA, BRASIL.
  • DESAPROVAÇÃO, CONTINUAÇÃO, DEMARCAÇÃO, TERRAS INDIGENAS.
  • DEFESA, UTILIZAÇÃO, RECURSOS, FLORESTA AMAZONICA, BENEFICIO, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, PAIS.
  • APOIO, ABERTURA, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), INVESTIGAÇÃO, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), LOCAL, BACIA AMAZONICA.

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - AM. Para discursar.) – Sr. Presidente, Sras. Senadoras e Srs. Senadores, circularam intensamente pelas redes sociais imagens colhidas no Rock in Rio, o grande festival de música que ocorre no Rio de Janeiro e que tem a Amazônia como referência.

    São imagens muito diferentes, mas que apresentam traços em comum. Além da legítima preocupação com a floresta que todos nós brasileiros temos, particularmente nós, Girão, amazônidas, a hipocrisia ficou patente naqueles que se aproveitam dessa bandeira.

    Uma dessas imagens mostrava a exibição do filmete feito lá mesmo no Amazonas, em Presidente Figueiredo, quando uma produtora batizada Maria Farinha Filmes armou um incêndio fake. Eu denunciei isso aqui desta tribuna já. A intenção da produtora era filmar, Senador Paim, as cachoeiras e, para isso, teve uma licença da Secretaria do Meio Ambiente. Tudo falso! Tudo falso! Segundo o representante da produtora, o filme destinado à abertura do Rock in Rio tinha o objetivo de chamar a atenção do mundo para as queimadas na Região Amazônica e lá eles fizeram um fogo com lança-chamas.

    Essas imagens falsas foram projetadas e tiveram aplausos no Rock in Rio, que gritava que o mundo era uma grande floresta e estava queimando. Invariavelmente, a plateia usava o coro Salve a Amazônia para sublinhar seu compromisso com a floresta. E o mais constrangedor de tudo isso foi ao final, além do incêndio artificial fake, da hipocrisia, foi o lixo deixado por quem quer salvar a Floresta Amazônica.

    Por que eu ressalto isso? Por que eu trago isso novamente para a tribuna do Senado? Porque eu considero hipocrisia, sim, aqueles que querem fazer da Amazônia, aqueles que querem fazer do salvamento, da salvação da Amazônia uma causa. A Amazônia nunca pode ser uma causa de quem não conhece a Amazônia.

    Esse pessoal, Paim, aqueles artistas que defendem a floresta em pé, mas que cobram cachês altíssimos para ir ao Rio de Janeiro, não são capazes sequer de doar os seus cachês para alguma entidade, para alguma cooperativa, para alguma associação que cuida verdadeiramente da Amazônia e do seu povo.

    E, aqui, a gente tem que chamar novamente a atenção do povo brasileiro. Eu me viro sempre para as câmeras quando eu quero esquecer os estrangeiros, quando eu quero esquecer lá fora e quero me dirigir novamente ao povo brasileiro para que você tenha orgulho de ser brasileiro, para que você não entre nessa onda do complexo do colonizado, porque não passa de complexo do colonizado aquele que vê no que há lá fora tudo de bom e nega os valores daqui, aqueles que se juntam aos estrangeiros, que querem colocar em nós nódoas ambientais que não temos, que querem que nós assumamos o papel de vilões quando, na realidade, Paim, nós não somos os vilões. Os bandidos são outros.

    E eu vou dar dados aqui oficiais. Olha só, meu bom Senador Lasier, o estudo da Embrapa "Monitoramento por Satélite sobre a evolução das florestas mundiais" mostra que, apesar de eventuais desmatamentos ocorridos nos últimos 30 anos, o Brasil é um dos países que mais mantém sua cobertura florestal, senão o que mais preserva. Conta ainda com 69,4% de suas florestas originais. Na Amazônia, de onde eu venho, do Amazonas, de onde sou, a preservação é ainda maior, perto de 80%.

    Brasileiro, brasileira, olhem esses dados oficiais da Embrapa. Dos 100% de suas florestas originais, a África mantém hoje 7,8%; a Ásia, 5,6%; a América Central, 9,1%; e a Europa, o pior caso no mundo, apenas, Senador Otto, 0,3% de sua floresta natural. Embora deva-se mencionar o esforço existente por lá de reflorestar para uso turístico e comercial, não é possível ignorar que 99,7% das florestas primárias europeias foram substituídas por cidades, cultivos e plantações comerciais.

    E é esse pessoal, Senador Lasier, e é essa turma que quer nos impingir, nos colocar e nos amordaçar. É essa turma que quer tutelar o indígena. Desde 2013, quando ocupei a tribuna na Câmara Federal, eu disse em alto e bom tom que o índio não aceita tutela. E olha por que querem tutelar o índio. Constituição da República Federativa do Brasil, Capítulo VIII, Dos Índios, art. 231, §2º: "As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes".

    Querem tutelar o índio, querem tornar o nosso índio incapaz para que tomem conta de suas terras e para poder explorá-las. Recebi hoje representantes, Senador Jaques Wagner, de duas etnias, dos Macuxis e dos Cocamas, que estão reivindicando o direito e o cumprimento da legislação de poder explorar suas terras de forma que tenham sustento, que tenham renda.

    A terra indígena, quando se oficializa a demarcação da terra, se abandonam os índios. E eu sempre digo e volto a repetir aqui, porque é importante que você, brasileiro, que você, brasileira, saiba. A política indigenista traçada, ditada do exterior para dentro não surte efeito. Manaus tem hoje em sua periferia, vivendo em condições subumanas, mais de 40 mil índios. Repito, mais de 40 mil índios sobrevivem em Manaus. E vieram das reservas e vieram de onde tem ouro, vieram de onde tem nióbio, vieram de onde tem cassiterita, ametista, cristal rosa. Vieram de onde existe riqueza, Senador Otto, mas são abandonados e são obrigados a ir para a capital, no caso, Manaus. Mais de 40 mil índios vivendo em condições subumanas. Se o Brasil continuar preservando o que preserva hoje, olha só esse dado. Há 8 mil anos, o Brasil possuía 9,8% das florestas mundiais. Hoje, o País detém 28,3%. Isso quer dizer o quê? Que nós preservamos, Senadora Maria do Carmo, e eles derrubam, e eles destroem. E a nossa floresta cada vez mais ocupa percentualmente lugar na preservação das florestas do mundo inteiro.

    É por isso que eu quero conversar com brasileiros e brasileiras, pois, ao invés de nos vangloriar por preservarmos, querem nos impingir o carimbo de vilões, o carimbo de bandidos, e não somos reconhecidos pelo histórico de manter a cobertura vegetal. E aí é impossível, aí não tem como a gente não observar e não pintar resquícios de colonialismo, resquícios de colonialismo. Tudo que é...

(Soa a campainha.)

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - AM) – ... do outro é correto; tudo que é de fora é bonito e é melhor, e o que é de dentro não presta.

    Portanto, Sr. Presidente que preside os trabalhos agora, Senador Lasier, eu quero dizer novamente, eu quero reiterar outra vez, eu quero me repetir mil vezes, mil vezes, porque eu tive uma benção de Deus, o povo amazonense me colocou aqui para que eu pudesse dizer, Senador Omar Aziz, muitas coisas que ele, lá na minha cidade, lá na beira do rio, não pode dizer. Deixa eu perguntar e afirmar: é ou não é cretinice dessa gente que pretende fazer da Amazônia um santuário? É ou não é cretinice de quem destruiu suas terras, suas florestas, querer nos ensinar?

    O Inpe acaba de divulgar que no Amazonas, de onde eu sou, de onde eu vim, as queimadas estão aumentando, mas não diz que esse aumento é pequeno em relação à queimada que existe. O Amazonas mantém 97% de sua floresta preservada. Por que que nós não podemos usar mais 1%, 2%, 3%, 10% para que possamos sair desse isolamento, desse esquecimento? É preciso gerar, sim, renda para essa gente. O meu conterrâneo, Senador Otto, lá no beiradão, não tem dinheiro para comprar um quilo de açúcar, mas se ele puder derrubar uma árvore e fazer duas dúzias de tábuas, ele pode vender e comprar um saco de sal e de açúcar. Mas não pode. Não pode porque organizações não governamentais internacionais nos amordaçam a cadeados ambientais a nos impedir de evoluir.

    Daí o meu pedido, assinado por 30 Senadores, da CPI para investigar as ONGs na Amazônia. E eu faço um apelo daqui ao Presidente Davi Alcolumbre, que é do Amapá, que sofre o que eu sofro, que grita o que eu grito, que sabe do que estou falando, para que leia o requerimento para instalar a CPI das ONGs na Amazônia. E aí vocês vão ver. Aí vocês, brasileiros e brasileiras, vão entender porque eu quero que vocês conheçam a Amazônia, que vocês amem a Amazônia, que é para poderem defender a Amazônia como a gente.

    É uma vergonha! É um acinte à soberania nacional o que essas ONGs fazem na Amazônia. Como o exemplo daquela que eu dei aqui, de uma só ONG, a Opção Verde, que comprou no Município de Coari o equivalente a 105 mil campos de futebol, em uma área que tem petróleo, que tem gás. Estão em Presidente Figueiredo, numa área que tem todo tipo de riqueza. Elas estão no Amazonas, na Amazônia inteira.

    Não, não. Se nesse enredo de Hollywood, cujo título é "a floresta está em chamas", há vilões e há mocinhos, os bandidos não somos nós, brasileiros; os bandidos não somos nós, os amazônidas. Se há bandidos, se há vilões, esses são eles, que, descaradamente, de forma hipócrita, querem dizer: "Façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço".

    Eu já digo o contrário: temos que fazer o que eu digo, porque o que eu digo aqui é a verdade, que precisa ser trazida para que o Brasil tome conhecimento.

    Agradecendo a graça de ser Senador, eu posso, enfim, encerrar, Sr. Presidente, reiterando aqui a necessidade da CPI para investigar as ONGs na Amazônia, para que nós não soframos mais tentativas de ser tutelados... Tutelados, porque essa é a palavra. Querem nos tratar como colônia, nos tutelar, e, ao tutelar, querem ter o direito do tutelado, que é o direito de usar a sua riqueza para o seu bem, que, repito, não é dádiva...

(Soa a campainha.)

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - AM) – ... não é benefício, não é benesse do homem. Ninguém nos deu; quem deu essa riqueza toda à Amazônia foi Deus, e é em nome Dele que a gente tem que saber preservar.

    Obrigado, Presidente Lasier.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/10/2019 - Página 41