Discurso durante a 193ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Celebração do Dia do Professor e considerações sobre a importância do investimento na educação para o País.

Autor
Jorge Kajuru (CIDADANIA - CIDADANIA/GO)
Nome completo: Jorge Kajuru Reis da Costa Nasser
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO:
  • Celebração do Dia do Professor e considerações sobre a importância do investimento na educação para o País.
Publicação
Publicação no DSF de 16/10/2019 - Página 17
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, DIA, PROFESSOR, COMENTARIO, VALORIZAÇÃO, IMPORTANCIA, INVESTIMENTO, EDUCAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, PAIS.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/CIDADANIA - GO. Para discursar.) – Brasileiros e brasileiras, minhas únicas vossas excelências; vossas excelências presentes aqui na galeria, meus únicos patrões, Pátria amada, tão desrespeitada.

    Presidente, amigo, ético, Lasier Martins, permita-me, rapidamente, fazer uma solicitação, já que V. Exa. faz parte da Mesa Diretora.

    Eu não sou dono da verdade, mas creio que aqui há costumes horrorosos, em relação aos quais eu não consigo me silenciar. Por exemplo, quando um colega está na tribuna, fazendo um pronunciamento... Como o senhor já deve ter observado, eu sou um dos poucos que, ali, sentado, prestam atenção o tempo inteiro. Nem celular eu atendo, porque, para mim, é falta de educação. E sei que não é culpa dos assessores, porque isso já virou mania, costume aqui, mas toda hora vem um assessor ao seu ouvido pedir para você assinar uma PEC ou alguma coisa. Penso que esses assessores deveriam procurar a nós, Senadores, em nossos gabinetes, para a gente analisar para assinar uma PEC, um projeto, com o maior prazer, ou nos intervalos aqui. Agora, quando um colega está falando, o mínimo que a gente tem que fazer é respeitá-lo, ouvi-lo, até para a gente aprender com ele e concordar ou discordar dele, respeitosamente.

    Posto isso, é evidente que não poderia ser outra a pauta para minhas palavras de hoje.

    Para nós Parlamentares e toda a Nação brasileira, o dia 15 de outubro, Dia do Professor, é sempre uma ocasião para homenagear os heróis responsáveis pelo presente e pelo futuro do Brasil. São eles profissionais dos quais depende a educação de nossas crianças e jovens. Prestar homenagens é um lugar-comum nessas datas, mas isso não pode encobrir a grave realidade dos professores do Brasil. Mais do que homenagens, os professores brasileiros precisam de atitudes concretas da parte de nós que estamos aqui, nesta Casa de leis. Tão fundamental é o serviço prestado pelos professores...

    Recorro ao ensino de um professor filósofo, um dos maiores sábios da Antiguidade, Pitágoras, que viveu entre os séculos V e IV antes de Cristo, mais precisamente entre os anos 570 e 497 daquela era, e que assim, Senador Lasier, brasileiros e brasileiras, se expressou. Impossível não recordar. Disse ele, aspas: "Eduquem as crianças e não será necessário castigar os homens", fecho aspas. Repito: "Eduquem as crianças e não será necessário castigar os homens". Pitágoras.

    Não podemos ter nenhuma dúvida em afirmar que muitos dos grandes problemas nacionais advêm da falta de informação e de educação da população em geral, que acaba balizando a formação da própria classe dirigente do País, mas tenho a certeza de que a ocasião é, acima de tudo, uma oportunidade ímpar para uma profunda reflexão acerca da correspondência entre o papel social do professor e as contrapartidas, não só econômico-financeiras, que recebem por desempenhar seu papel.

    Eu tenho vergonha do meu salário de Senador da República quando penso nos míseros salários dos professores brasileiros. Não é sem motivo que, mensalmente, documentalmente entregue ao Ministério da Justiça todo mês, doo metade do meu salário para as instituições filantrópicas, claro, do meu Estado de Goiás. Assim como doava 100% do meu salário de Vereador em Goiânia por dois anos. Porque, graças a Deus, na televisão fiz o meu pé-de-meia e, do pouco que eu pedi a Deus, ele me deu em dobro.

    Ocasiões como essa nos dão uma excelente oportunidade não só para homenagear, como também para cobrar das instâncias competentes a valorização do profissional do magistério, cujo desempenho a favor da sociedade não se traduz em benefícios palpáveis.

    Jamais poderemos esquecer que investir em educação é, também, investir no professor. E, quando digo isso, não me refiro apenas à questão salarial – que é, historicamente, o verdadeiro calcanhar de Aquiles de nossos educadores –, mas também à melhoria da infraestrutura de ensino, especialmente nas escolas públicas.

    Estamos às vésperas da aplicação das provas do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem). Ano após ano, esses exames mostram o desempenho lamentável do alunado do ensino médio nas provas a que é submetido.

    Senador Plínio, amigo, ético também, como o Lasier, segundo o Ideb de 2017 (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que é o principal indicador da qualidade do ensino no Brasil, sete Estados e o Distrito Federal tiveram queda nos resultados do ensino médio. Resumidamente, sete de cada dez alunos do ensino médio têm nível insuficiente em português e matemática, como diz o próprio Ministério da Educação (MEC).

    Um estudo publicado, pela revista Nova Escola, revelou como os países com os melhores índices de educação chegaram a esses indicadores e como conseguem se manter entre os melhores. O documento traz sugestões para que se consiga implementar uma educação de qualidade.

    A primeira lição apontada trata da necessidade de seleção dos melhores professores. Enquanto os docentes brasileiros, em sua maioria, foram alunos que pertenciam ao grupo dos 20% piores estudantes, no primeiro mundo da educação a situação é bem diferente: os futuros professores do ensino fundamental, por exemplo, quando estudantes, se encontravam no seleto grupo dos 5% melhores.

    Tal discrepância tem raiz na ausência da valoração dos professores no Brasil. Por aqui, os salários não são atraentes e a profissão, em si, muitas vezes é depreciada, senhoras e senhores, tão depreciada que somente 23% dos professores brasileiros recomendariam a profissão aos jovens que buscam uma carreira na vida. Eu vou repetir: tão depreciada que somente 23% dos professores brasileiros...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/CIDADANIA - GO) – ... só 23%, recomendariam a profissão deles, professor, aos jovens que buscam uma carreira na vida.

    O professor é o fator principal relacionado ao desempenho dos estudantes. Qualquer tentativa de melhorar o sistema educacional que não inclua a valorização docente terá resultados pífios. É o que defende a Gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Itaú Social, Patricia Mota Guedes. A pesquisadora acredita que a valorização do profissional da educação pública passa por um conjunto de estratégias como plano de carreira, salários atrativos e formação de qualidade ao longo da carreira.

    Para concluir, o Brasil tem cerca de 2,6 milhões...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/CIDADANIA - GO) – Eu nunca passo do tempo, estou ainda obedecendo aquilo que combinamos aqui, que a após a chata campainha, nós ainda temos dois minutos. Eu nunca passo.

    Então, são 2,6 milhões de professores. É a profissão mais numerosa do Brasil.

    A PEC que apresentei – e fui o primeiro –, a PEC nº 33, de um Fundeb permanente, visa, entre outros fins, prover recursos para a valorização dos professores.

    Então, fechando de vez, penso, colegas respeitosos, que já é hora de pararmos de falar da abnegação dos profissionais brasileiros de educação. Sua qualidade, sua importância e sua competência já são por demais conhecidas. Agora é hora de valorização. É hora de concedermos aos professores tudo aquilo que eles merecem por formar...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/CIDADANIA - GO) – ... gerações e gerações de brasileiros, para comandar um Brasil, que será cada vez maior e próspero se implantar uma educação de qualidade.

    Rapidamente, permita-me, Presidente Plínio, Senador Lasier, eu só vou ser fã incondicional, gritar nas ruas como se fosse integrante de uma torcida organizada a um Presidente da República deste Brasil que assumir e, no dia de sua posse, imitar o Presidente americano Kennedy, que fez o quê, no primeiro dia? Investiu todas as verbas, tudo o que ele tinha disponível em cofre nas universidades americanas, nas escolas públicas americanas e contratou os maiores intelectuais americanos que se transformaram em educadores – e aí veio a revolução da educação americana.

    O dia em que o Brasil tiver um presidente desse eu vou aplaudi-lo, do contrário eu vou continuar tendo relação normal, porque para mim educação é prioridade, o resto é perfumaria.

    E ofereço esse meu pronunciamento emocionado, lá no céu, àquele que eu conheci e de quem fui amigo pessoal, ao Prof. Darcy Ribeiro. E ofereço, na Terra, este meu pronunciamento a um brasileiro tão exemplar quanto Darcy Ribeiro, aqui Senador, que, aliás, nunca deveria ter saído daqui – uma injustiça abismal! Refiro-me ao Senador Cristovam Buarque.

    Era o que tinha a falar.

    Agradecidíssimo.

    E me desculpem se passei um pouco do tempo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/10/2019 - Página 17