Discurso durante a 189ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro sobre a vida de Irmã Dulce, Santa Dulce dos Pobres, por ocasião de sua canonização. Comentário sobre carta entregue por S. Exa. ao Papa Bento XVI, durante a sua visita ao Brasil, solicitando que fosse dada atenção ao processo de beatificação da Irmã Dulce.

Autor
José Serra (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/SP)
Nome completo: José Serra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Registro sobre a vida de Irmã Dulce, Santa Dulce dos Pobres, por ocasião de sua canonização. Comentário sobre carta entregue por S. Exa. ao Papa Bento XVI, durante a sua visita ao Brasil, solicitando que fosse dada atenção ao processo de beatificação da Irmã Dulce.
Aparteantes
Fabiano Contarato, Fernando Bezerra Coelho, Flávio Arns, Nelsinho Trad, Otto Alencar, Paulo Paim, Rose de Freitas.
Publicação
Publicação no DSF de 10/10/2019 - Página 37
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • COMENTARIO, VIDA, HISTORIA, IRMÃ DULCE, CANONIZAÇÃO, IGREJA CATOLICA, REGISTRO, ENTREGA, CARTA, PAPA, BENTO XVI.

    O SR. JOSÉ SERRA (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - SP. Para discursar.) – Meus caros colegas, Senadoras, venho aqui fazer menção a uma pessoa que já não está entre nós, mas que está presente na alma e na realidade do povo brasileiro: Irmã Dulce, primeira santa nascida no Brasil – Maria Rita, Irmã Dulce, Serva de Deus, Beata Dulce dos Pobres, Santa Dulce dos Pobres.

    Em 1914, nascia, em Salvador, Maria Rita. Filha do dentista e professor universitário Augusto Lopes Pontes e da dona de casa Dulce de Souza Brito. Diferentemente do aspecto franzino e da voz fraca e suave com que todos a conheceram, foi uma criança como outra qualquer. Declarou certa vez que, até os 13 anos, era louca por futebol, e o maior castigo que poderia receber, se pintasse muito durante a semana, era "aos domingos, não ir ao futebol com meu pai", dizia ela.

    Antes de se tornar freira, dispensava atenção especial aos moradores de rua, recolhendo-os em sua casa, que ficou conhecida como A Portaria de São Francisco, tamanho o número de pessoas carentes que ocorriam à sua porta.

    Apesar de católico praticante, o pai de Maria Rita não aprovava a vocação da filha, que começou a abraçar depois de conhecer um bairro pobre de Salvador. Desde então, ela sentiu que queria dedicar toda a sua vida aos mais necessitados, principalmente aos doentes.

    Aos 19 anos de idade, em 1933, depois de formar-se professora, venceu a resistência do pai e, levada por ele, entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, no Convento da cidade de São Cristóvão, em Sergipe. Nascia a Irmã Dulce, nome que adotou em homenagem a sua mãe, falecida quando ela tinha apenas sete anos. 

    Com muita luta e obstinação, fez da assistência aos pobres a sua razão de viver. Mendigos e doentes eram acolhidos em hospitais; crianças abandonadas eram levadas para o orfanato; desempregados recebiam refeições, passagens de ônibus para voltarem à terra natal e uma cama para dormir até que seu problema fosse resolvido.

    Para atender a essas pessoas, Irmã Dulce invadia públicos e casas abandonadas. A sua determinação era tanta que passou a ser conhecida e respeitada por todos na Bahia, inclusive pela classe política. A sua palavra e os seus pedidos se tornavam mandatórios.

    O escritor Paulo Coelho relata que, quando se encontrava em situação de rua – ele foi morador de rua, o Paulo Coelho – e com problemas com drogas, procurou a Irmã Dulce e disse que precisava de ajuda. Ela lhe deu um pedaço de papel onde escreveu: "Vale uma passagem". O motorista o mandou entrar no ônibus. Esse é apenas um episódio que ilustra a sua influência na sociedade baiana.

    Cinco anos depois de tornar-se freira, inaugurou, em 1939, o Colégio Santo Antônio, escola pública de Salvador para atender os operários e seus filhos.

    Em 1949, depois de muito andar por todos os hospitais da cidade para conseguir atendimento aos doentes pobres, transformou um galinheiro do Convento Santo Antônio em um hospital para mais de 70 enfermos. Transformou-o, ao longo do tempo, no maior hospital filantrópico do País.

    Em 1959, fundou a associação Obras Sociais Irmã Dulce. No ano seguinte, inaugurou o Albergue Santo Antônio.

    Em 1988, foi indicada pelo Presidente José Sarney ao Prêmio Nobel da Paz.

    Teve dois encontros com o Papa João Paulo II, em 1980 e em 1991. Esse último encontro, cinco meses antes da sua morte, foi marcado por uma quebra de protocolo. Por encontrar-se bastante debilitada, não pôde ir ao encontro do Papa. Ele, então, alterou sua agenda, e foi visitá-la onde ela estava.

    Sua obra ficou conhecida e passou a ter grande peso não apenas na Bahia, mas também em todo o Brasil. Políticos e governantes visitavam a Irmã Dulce para conhecer o seu trabalho. Recebia a todos, mas nunca se deixou usar para fins eleitorais. Ao contrário, usava os contatos, cada vez mais estreitos com governantes, autoridades e empresários, para tirar proveito em favor dos pobres. Dificilmente um pedido seu era negado. Chegou até a ser conhecida como "pidona bem-sucedida".

    Todo esse trabalho, o milagre atribuído a ela – em 2001, curou uma mulher com forte hemorragia pós-parto –, resultaram em sua beatificação em 2009. A sergipana Cláudia Cristina dos Santos, depois de dar à luz ao seu segundo filho, sofreu uma hemorragia que durou mais de 18 horas. Desenganada pelos médicos, recebeu a visita de um padre, que foi ao hospital orar por sua vida. O padre levou consigo uma imagem da Irmã Dulce e pediu que ela intercedesse por Cláudia. O sangramento foi controlado e ela sobreviveu.

    Em 2007, eu, Governador de São Paulo, entreguei ao Papa Bento XVI, durante a sua visita ao Brasil, uma carta solicitando que fosse dada atenção ao processo de beatificação da Irmã Dulce, que se encontrava à espera de exame fazia três anos. E a beatificação acabou acontecendo em 2011.

    Um trecho da carta que entreguei ao Papa:

Julgo ser meu dever trazer à atenção de Vossa Santidade a situação da serva de Deus Dulce dos Santos Lopes Pontes. Como tantos brasileiros, estou convencido de que Dulce Pontes poderia integrar o livro dos santos da Igreja Católica. O milagre que lhe é atribuído encontra-se há três anos na Congregação para a Causa dos Santos à espera de exame.

Antes de exercer o cargo de Governador de São Paulo, ocupei o Ministério da Saúde e sou testemunho da obra inigualável do Anjo Bom da Bahia. É reconhecida como benfeitora dos humildes e dos desesperados. Num dos mais pobres Estados brasileiros, criou obras sociais que são um exemplo de altruísmo e da melhor tradição do cristianismo.

    Foi isso o que entreguei ao Papa, como texto.

    Para tornar-se santa faltava um segundo milagre, que veio em 2014. Um glaucoma havia tirado a visão do maestro baiano Maurício Moreira, por mais de 14 anos. Em 2014, uma infecção nos olhos cegos tornou a vida do maestro um suplício. Desesperado de dor, colocou a imagem de Irmã Dulce sobre os olhos e pediu que ela aliviasse o seu sofrimento. No dia seguinte, começou a ver o vulto das próprias mãos. A cada dia a visão foi melhorando até que voltou e enxergar plenamente.

    O Vaticano reconheceu e validou esse segundo episódio como um milagre, abrindo caminho para a santificação da Beata Dulce dos Pobres. A primeira notícia do Vaticano para a canonização veio em maio deste ano. Para concluir o processo de beatificação, de santificação, o Papa Francisco celebrará, no dia 13 de outubro deste ano, a canonização da Irmã Dulce. A freira conhecida como o Anjo Bom da Bahia será a primeira santa brasileira. Nasce a Santa Dulce dos Pobres.

    Para homenagear a história dessa brasileira que dedicou à vida a aplacar o sofrimento físico...

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ SERRA (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - SP) – ... e sossegar o espírito de muito brasileiros humildes e desesperançados é que me senti honrado de aceitar o convite carinhoso e emocionante de Maria Rita Pontes, sobrinha de Irmã Dulce, para participar da cerimônia de canonização da Santa Dulce dos Pobres. Trecho do convite:

Neste momento de grande emoção para todos nós, brasileiros, não poderia deixar de agradecer a V. Exa. que teve papel relevante para que o processo da Irmã Dulce tivesse celeridade, ao entregar uma carta ao Papa Bento XVII, em 2007, como Governador de São Paulo, pedindo que a Santa Sé olhasse com carinho o processo de canonização do Anjo Bom do Brasil. Não fosse só isso o bastante para contar com a sua presença nesse evento, lembro aqui as inúmeras vezes que o senhor veio em socorro de suas obras, para que o desejo de Irmã Dulce fosse mantido, com uma instituição 100% do SUS, com 954 leitos.

Nas horas de aflição sempre tive o seu apoio para bater nas portas do Ministério da Saúde e pedir mais recursos para a manutenção dos serviços do nosso hospital. Por isso, meu querido Senador, gostaria imensamente que o senhor estivesse conosco no Vaticano, em 13 de outubro, para celebrar com a família, os amigos e devotos da Irmã Dulce esse momento inesquecível e histórico da sua elevação, para todos os que participaram da sua vida, suas obras e da sua elevação nos altares.

    O Sr. Flávio Arns (Bloco Parlamentar Senado Independente/REDE - PR. Para apartear.) – Senador José Serra, permite-me um aparte?

    Eu queria, Senador José Serra, em primeiro lugar, apesar de o pronunciamento ser de Irmã Dulce, enaltecer o trabalho de V. Exa.

    V. Exa. fez um trabalho de transformação, de verdadeira revolução no Brasil, apoiando as obras de Irmã Dulce, importantíssima sem dúvida alguma, e o reconhecimento da família em relação ao trabalho de V. Exa.

    Então, quero enaltecer o seu trabalho como Senador, como Governador, entregando a carta para o Papa Bento XVI, pedindo também apoio para que Irmã Dulce fosse canonizada. Foi uma intervenção das mais importantes.

    Também em relação a uma outra pessoa, a minha tia Zilda Arns, coordenadora da Pastoral da Criança, que ainda hoje tem 160 mil voluntários acompanhando um milhão de crianças no Brasil, V. Exa. sempre foi referência para ela. Ela dizia: "Olha, o José Serra é amigo, apoia, está junto." E, nós, como sociedade, temos que reconhecer o que V. Exa. fez para Irmã Dulce e para a tia, me permita dizer assim, a minha tia Zilda Arns, que também está em processo de beatificação. No início do processo, V. Exa. estava lá em Curitiba, no campo do Atlético, junto com toda a comunidade da Pastoral.

    Agora, quero também enaltecer... Eu às vezes fico pensando na Irmã Dulce, nos dois milagres oficiais; a obra dela, eu diria, já foi um milagre. Atender a milhões de pessoas no decorrer dos anos, milhares chegando a milhões de pessoas, sendo referência para tanta gente, abrindo portas, a gente tem que pensar no Brasil de hoje que isso é um milagre. O milagre de fazer com que a vida das pessoas seja melhor sem coisa partidária, ideológica, pelo simples sentido de humanidade, como V. Exa. colocou no seu pronunciamento. Quer dizer, Irmã Dulce transformou para melhor o ser humano no Brasil. Quantas pessoas fazem isso? Esse foi o milagre. Oficialmente, dois, que são necessários, mas o milagre da transformação do ser humano em um ser humano melhor...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Flávio Arns (Bloco Parlamentar Senado Independente/REDE - PR) – ... sem dúvida é o grande milagre.

    Então, eu quero parabenizá-lo, José Serra, como colega, como Senador, como Ministro, como Governador, pela sua trajetória de vida. Eu acho que nós, brasileiros, temos que reconhecer em V. Exa. a referência para uma vida melhor.

    E parabéns pelo pronunciamento. O povo da Bahia tem que se orgulhar, o povo brasileiro e a humanidade hoje, o povo da Terra, do Planeta tem de dizer: "Que bom que lá no Brasil existiu uma Irmã Dulce!".

    Parabéns! Felicitações, porque a família está dizendo: "Você, José Serra, foi importante nisso tudo".

    Parabéns!

    O SR. JOSÉ SERRA (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - SP) – Muito obrigado, Senador Arns.

    Só a emoção não me permite comentar as palavras de V. Exa.. Eu não tenho condição, mas quero agradecer profundamente.

    Muito obrigado.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Senador José Serra, pela ordem.

    O Sr. Nelsinho Trad (PSD - MS) – Pela ordem, Sr. Presidente.

    O SR. PRESIDENTE (Antonio Anastasia. Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - MG) – Senador Paim, por gentileza, para um aparte ao Senador José Serra.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para apartear.) – Estou aqui, Senador José Serra.

    Bem rápido – bem rápido. Eu só quero cumprimentar V. Exa.

    V. Exa. tem uma história bonita, que eu acompanhei durante esses mais de 30 anos em que estou na vida pública, e V. Exa. tem toda autoridade para ir à tribuna nesse momento e falar da Irmã Dulce.

    Irmã Dulce significa para nós todos liberdade, justiça, carinho, solidariedade, e V. Exa., na tribuna, nesse momento, retrata essa imagem.

    Irmã Dulce representa amor, e este País precisa tanto de amor e de respeito ao próximo, precisa tanto de políticas humanitárias. E V. Exa., ao ir à tribuna, está fazendo esse apelo. A melhor forma de homenagear a nossa querida Irmã Dulce, que, às vezes, chamavam até de Mãe Dulce, é V. Exa. na tribuna, levantando, nesse momento, não o debate, mas alertando o País de que esta Santa, como disse muito bem o querido Flávio Arns, é do milagre. E nós precisamos de milagres hoje, para as pessoas amarem mais – amarem mais – e não odiarem. Não é nem odiarem menos, não odiarem ninguém.

    Por isso, eu o cumprimento, com muito carinho e respeito à V. Exa.

    Quantas vezes votamos juntos? Nunca me esqueço do seguro-desemprego, de que muita gente não se lembra; eu estive junto com V. Exa., mas quando me perguntavam: "Não, estive junto, mas o primeiro signatário foi o Senador José Serra".

    Meus cumprimentos mais uma vez.

    Parabéns a V. Exa.!

    O SR. JOSÉ SERRA (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - SP) – Muito obrigado, Paim.

    O Sr. Otto Alencar (PSD - BA. Para apartear.) – Senador José Serra, V. Exa. foi Ministro da Saúde e foi o Ministro da Saúde que muito ajudou o Hospital Santo Antônio, visitou-o várias vezes, esteve lá várias vezes. Conviveu com a Irmã Dulce, conheceu a Irmã Dulce, e eu tenho certeza absoluta de que a sua marca de trabalho lá nunca será esquecida, até porque eu convivi quase 12 anos como médico voluntário e vi como o hospital avançou com tantas pessoas que têm o espírito público que tem V. Exa.

    O Senador Paim acaba de falar sobre a questão do seguro-desemprego. V. Exa. encarna, realmente, um político que escreveu uma história de centro social, tem vocação social, em todos os momentos em que ocupou o cargo, em que ocupou o poder, como governador, prefeito de São Paulo, ministro.

    Então, esta é a marca da sua vida: a de um homem público que eu considero um dos mais importantes do Brasil e dos mais competentes também, e competência que leva para o bem desse País. Tantas e quantas vezes V. Exa. apresentou aqui projetos superimportantes para o desenvolvimento econômico e social do nosso País. Eu tenho uma admiração muito grande por V. Exa., e V. Exa. sabe disso.

    E essa homenagem V. Exa. faz a uma baiana, a uma freira baiana que começou com a sua vocação espiritual para o lado social ainda muito jovem, aos 14, 15 anos, e fez essa obra monumental que é o Hospital Santo Antônio, as suas obras sociais, como o Educandário Santo Antônio, na cidade de Simões Filho, que educa 800 jovens há muitos anos com a manutenção dessa luta dela, que deixou Maria Rita, sua sobrinha, como herdeira para tocar essas obras sociais.

    Eu queria dizer aqui uma coisa que me chama muita atenção. Há pessoas que passam fazendo esse trabalho e buscam ser bem anônimas. E, nessa história de Irmã Dulce, houve um anônimo que entrou comigo lá – eu saí para a política, ele ficou –, que nunca quis que o nome dele aparecesse, nunca se manifestou sobre isso e já faleceu. E eu hoje aproveito o aparte que V. Exa. me dá para fazer uma homenagem póstuma a um dos médicos mais humanitários que eu conheci em minha vida, o Dr. Taciano Campos.

    Ele entrou lá na minha época e se dedicou até o último dia da vida dele. Faleceu trabalhando lá para a Irmã Dulce e fazendo questão de dizer: "Eu não quero que ninguém saiba que eu faço isso". Porque as pessoas que têm grandeza de espirito fazem sem esperar a contrapartida. V. Exa. fez isso pelo Hospital Santo Antônio, como fizeram outros tantos que passaram por lá e que ajudaram a Irmã Dulce. E a Taciano Campos – estou fazendo essa homenagem agora, porque ele nunca quis isso, mas eu vou aproveitar para fazer –, ao lado de tantos outros, ele foi fundamental.

    Reconhecer dois milagres da Irmã Dulce realmente... É importante que ela, com esses milagres, venha a ser santificada lá pelo Papa Francisco. Mas, como trabalhei por lá e na época não se atendiam a doentes, pacientes, como é hoje; atendiam-se as vítimas da desnutrição, pessoas que chegavam lá com a tuberculose osteoarticular, osteomielite aguda, fraturas espontâneas pela fome na década de 70. Hoje não há mais, não se acha mais paciente dessa natureza. Mas quem conviveu, como ela conviveu, atendendo aos tuberculosos e carregando para dentro de casa... Eu, que operei centenas deles com tuberculose óssea, osteoarticular, nunca tive um problema de saúde. Eu nunca me contaminei com o bacilo da tuberculose, e ela também nunca. Para mim, o maior milagre é esse. Ela acolheu milhares, centenas de pessoas que chegavam lá desnutridas e ela nunca teve essa doença, embora tivesse problema pulmonar. Esse é o milagre de quem faz o bem, porque quem opera num hospital filantrópico... E operava com condições bem diferentes de um hospital privado: às vezes, não tinha nem o ar-condicionado; tinha que, com uma compressa, enxugar a testa para que o suor não caísse dentro da ferida cirúrgica. Isso, para mim, na minha opinião, é o maior milagre do mundo. Operar uma pessoa quase morrendo, ela recuperar a saúde e sair hígida, andando e recuperada.

    Foram inúmeros milagres de Irmã Dulce pela sua dedicação. Eu não conheci ninguém na minha vida – e convivi com tantas pessoas importantes, inteligentes e também de dedicação à vida das outras pessoas, que pudesse ter uma força espiritual igual a ela e pudesse fazer uma coisa que eu nunca vi em nenhum ser humano: falava, determinava e decidia pelos olhos. Quem decide pelos olhos é santo, e ela é Santa Dulce dos Pobres, eu tenho absoluta certeza disso.

    O SR. JOSÉ SERRA (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - SP) – Muito obrigado.

    O Sr. Fernando Bezerra Coelho (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - PE. Para apartear.) – Senador José Serra, eu também venho à tribuna de aparte, para me associar à manifestação que V. Exa. faz em relação à santificação da Irmã Dulce.

    Eu sou pernambucano, mas tive a alegria de poder viver na Bahia, em Salvador, no Colégio Marista, de 1968 a 1975. Nessa oportunidade, eu conheci as Obras Sociais da Irmã Dulce, conheci a Irmã Dulce e fico muito, muito feliz com tudo que vai acontecer durante esta semana, com o Brasil tendo a sua primeira santa nascida no Brasil e que vai receber o reconhecimento de toda sociedade brasileira pelo enorme trabalho que a Irmã Dulce desenvolveu lá na Bahia.

    Mas eu quero também me associar a tantas outras palavras de companheiros e companheiras que falam da sua trajetória política, dos seus serviços prestados ao Brasil nas mais diversas oportunidades: como Prefeito de São Paulo, Governador de São Paulo, Ministro da Saúde, Ministro do Planejamento e hoje Senador da República pelo Estado de São Paulo.

    V. Exa. fez um gesto muito grande com a minha terra natal, Petrolina. Eu fui Prefeito; V. Exa., Ministro da Saúde. V. Exa. viabilizou o início da construção do Hospital de Traumas, hoje o Hospital Universitário de Petrolina. V. Exa. foi decisivo em atender ao apelo que lhe fiz e iniciarmos aquele grande empreendimento.

    Mas eu quero nesta tarde chamar a atenção do Plenário para uma fala que V. Exa. está começando a colocar de forma aberta, com a autoridade que V. Exa. tem. Quando muitos estão querendo acelerar e precipitar a discussão da reforma tributária de que o Brasil precisa, que é necessária para simplificar, para reduzir a carga de impostos que pesa sobre o setor produtivo, V. Exa. tem, de forma competente, trazido uma palavra nas Comissões e no Plenário, conversando com os colegas para alertar que a iniciativa da reforma tributária pode tudo, só não pode ser açodada, só não pode ser precipitada. Ela tem que amadurecer num amplo e profundo debate. E aí, mais uma vez, V. Exa., que foi o arquiteto da construção do atual sistema tributário que nasceu na Constituinte de 1988, está trazendo aqui a sua experiência, o seu conhecimento para apenas pedir a reflexão do Senado, da Câmara e do Congresso Nacional para que a gente possa fazer essa discussão, mas sem queimar etapas, sem atropelar o processo, para que o Brasil, de fato, possa alcançar um sistema tributário mais justo, menos regressivo, que seja estimulador de novos investimentos e que possa promover o crescimento e a geração de emprego.

    Cumprimento V. Exa., Senador José Serra.

    O SR. JOSÉ SERRA (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - SP) – Muito obrigado.

    O Sr. Fabiano Contarato (Bloco Parlamentar Senado Independente/REDE - ES) – Um aparte, Senador José Serra.

    O Sr. Nelsinho Trad (PSD - MS) – Pela ordem, Sr. Presidente.

    O Sr. Fabiano Contarato (Bloco Parlamentar Senado Independente/REDE - ES) – Senador...

    O Sr. Nelsinho Trad (PSD - MS. Para apartear.) – É apenas para parabenizar o Senador José Serra pela brilhante iniciativa aqui, Senador, e registrar mais uma vez a admiração que tenho por S. Exa., que é devidamente conhecedor e engrandece muito este Parlamento com sua presença, com sua experiência e com sua sensibilidade. E trazer um assunto como esse, lembrando que nós vamos ser coroados com a nossa Santa Irmã Dulce dos Pobres, como bem fala o nosso Senador Otto, realmente enche esta Casa de alegria.

    Aproveito esta oportunidade, Sr. Presidente Antonio Anastasia, de Minas Gerais, para registrar que estamos recebendo a visita de Senadores do Quênia, que aqui estão presentes: Senador Samson, que é o chefe da delegação; Senador James Orengo; Senador Fred Outa; Senador Mutula Junior; e Senadora Judith Pareno, que estão acompanhados do Embaixador Isaac. Estiveram em Minas Gerais, foram ver os trabalhos dos bombeiros em Brumadinho e estão também em contato com as autoridades do Tribunal Superior Eleitoral para ver a questão da votação eletrônica. Amanhã vão para o Rio de Janeiro para verem também as belezas da terra...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Nelsinho Trad (PSD - MS) – ... maravilhosa que é a cidade do Rio de Janeiro.

    Era esse o registro.

    Parabéns mais uma vez ao Senador José Serra.

    O Sr. Fabiano Contarato (Bloco Parlamentar Senado Independente/REDE - ES) – Pela ordem, Sr. Presidente.

    O SR. PRESIDENTE (Antonio Anastasia. Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - MG) – Senador Fabiano, eu vou pedir licença a V. Exa., é só um minuto. (Palmas.)

    Senador Serra, peço que permaneça tão somente para cumprimentar a delegação do Quênia, que com certeza vai sair.

    Cumprimento e agradeço ao Senador Nelsinho as palavras.

    Saúdo os Senadores do Quênia por essa visita. Agradeço também a visita ao meu Estado de Minas Gerais e desejo que a visita ao Rio de Janeiro também seja muito frutífera.

    Sejam bem-vindos, eminentes Parlamentares do Quênia, nação amiga e irmã do continente africano! Meus cumprimentos a V. Exas. Sejam bem-vindos e boa viagem!

    Senador Fabiano, para um aparte.

    O Sr. Fabiano Contarato (Bloco Parlamentar Senado Independente/REDE - ES. Para apartear.) – Senador José Serra, é com grande satisfação que estou aqui como cidadão. Eu nem sonhava em ser Senador, mas já o admirava como cidadão quando verificava que o senhor, em todos os cargos públicos e políticos que exercia, obedecia àquele comportamento ético que deve reger todo ser humano. Pode ter certeza de que o senhor dignifica, e muito, a honrada classe dos seres humanos e, em especial, dos políticos quando, como muito bem disse aqui o Senador Paim, que lembrou do seguro-desemprego...

    Eu me lembro dos genéricos, que foi uma conquista da população brasileira. O seu olhar humanizador humaniza a dor, a sensibilidade de se colocar na dor do outro me faz ter a convicção e a esperança de poder exercer um mandato como Senador. Que eu possa dignificar e honrar todos os votos que obtive da população capixaba para que tenhamos um Brasil mais justo, fraterno e solidário.

    A homenagem que o senhor presta a Santa Dulce dos Pobres...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Fabiano Contarato (Bloco Parlamentar Senado Independente/REDE - ES) – E eu falo que o amor supera todos os obstáculos. Nós podemos exercer esse papel de Santa Dulce. E aí eu faço um apelo aos Senadores e Senadoras: que exercitemos mais o amor, porque foi isso, com humildade, com simplicidade e com coragem que ela exercia aquilo que São Paulo diz: "Eu não vivo, mas Cristo vivem em mim".

    E esse é um constante exercício. Quando eu olho, como estou olhando para o senhor, como estou olhando para o Presidente e para todos os colegas, e enxergo Cristo, pode ter certeza de que eu vou exercer mais o amor, o respeito, a caridade, a humildade, a compaixão, a solidariedade. E como muito bem disse o Senador, não é incidência menor do ódio, é não ter ódio. O que nós temos é que fazer uma grande corrente do bem, difundindo, propagando o amor, aquilo que a nossa santa Dulce...

    A Dulce dos pobres, estava ali suprindo um papel muitas vezes de obrigação do próprio Poder Público, do próprio Estado brasileiro, que, na sua ineficiência... Temos aqui esses santos que hoje estão sendo declarados, mas quantos santos não foram declarados e são efetivamente aqueles que merecem todo o nosso carinho, nossa veneração e nosso amor?

    Eu quero, do fundo do coração, parabenizá-lo e falar que, para mim, é com muita satisfação que eu estou neste mandato tendo o senhor aqui como uma pessoa em que eu me espelho, como uma pessoa que me orienta, como uma pessoa com quem eu aprendo, tendo em vista sua sobriedade, sua serenidade e seu equilíbrio emocional.

    Parabéns! Pode ter certeza de que o senhor, assim como outros Senadores que aqui estão, dignifica e muito a honrada classe dos políticos brasileiros.

    O SR. JOSÉ SERRA (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - SP) – Muito obrigado.

    A Sra. Rose de Freitas (PODEMOS - ES) – Presidente...

    O SR. JOSÉ SERRA (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - SP) – Eu queria dar o meu muito obrigado aos colegas Senadores que falaram. Só a emoção não me permite o alongamento. Não tenho condição de agradecer como deveria as palavras de cada um pela emoção que me domina, mas quero dar o meu abraço apertado em cada um de vocês e novamente agradecer pela generosidade.

    Muito obrigado.

    A Sra. Rose de Freitas (PODEMOS - ES. Para apartear.) – Senador Serra, antes de o senhor sair dessa tribuna, eu fico feliz demais pelo dia de hoje. Eu queria dizer isso o olhando, por sua história, por seu trabalho, pela sua coerência na luta pelo Brasil.

    Então, ver este Plenário, dos que chegam agora, dos que estão há mais tempo, dos que trazem um pedaço de sua história para este Plenário, homenagear V. Exa. é a coisa mais justa a que eu já assisti nesta Casa.

    A admiração que eu tenho pela sua persistência... Está vendo um fato acontecer, ele está fora do prumo, precisa se encaixar, precisa construir mais um capítulo a favor da evolução deste País, e hoje com bandeiras sociais importantíssimas... Recentemente, o senhor passou um projeto aqui – até esse olhar atento me chamou a atenção – em relação às creches, o que toca o coração das mulheres do Brasil inteiro.

    Então, ao vê-lo sendo citado pelos seus companheiros, recebendo aqui o carinho de todos, que bom que as pessoas conseguem fazer isso de corpo presente, olhando e abraçando toda a sua dedicação a este País!

    Fui sua colega Constituinte e sempre acho que segui quase todos os seus conselhos – um ou outro não –, mas sempre persistente, perfilando ao lado das boas ideias que acabou construindo.

(Soa a campainha.)

    A Sra. Rose de Freitas (PODEMOS - ES) – Recentemente, aconteceu isso na sala do Davi Alcolumbre, com o Presidente ao lado do Paulo Guedes. Quando a reunião ia acabar, V. Exa. fez a sua colocação pertinente, imediatamente aceita pelo Ministro. Esse é V. Exa.

    Então, deveriam estar aqui os 80 Senadores para dizerem em alto e bom som o que um homem pode fazer com sua determinação, com sua honestidade e com sua dedicação pelo seu país.

    V. Exa. fez tudo certo até agora.

    Meu abraço, querido! O SR. JOSÉ SERRA (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - SP) – Senadora Rose, minha colega de Constituinte, minha amiga, não imagina o bem que as suas palavras me fazem, o bem, muito bem!

    Muito obrigado!

    O SR. PRESIDENTE (Antonio Anastasia. Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - MG) – Eminente Senador José Serra, V. Exa. ouviu praticamente da unanimidade dos Senadores presentes o reconhecimento pelas suas palavras sobre a Irmã Dulce, mas também pelo seu trabalho como homem público completo.

    E eu só queria acrescer, se me permite a condição de Presidente do Senado neste momento, que eu o admiro muito e o estimo muito e sei que isso é comum a todos nós.

    Parabéns pelas suas palavras aqui em homenagem à Irmã Dulce, sobretudo, pela sua vida em prol do Brasil!

    Parabéns!

    O SR. JOSÉ SERRA (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - SP) – Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/10/2019 - Página 37