Discurso durante a 196ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a comemorar os 100 anos do Fortaleza Esporte Clube.

Autor
Jorge Kajuru (CIDADANIA - CIDADANIA/GO)
Nome completo: Jorge Kajuru Reis da Costa Nasser
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão Especial destinada a comemorar os 100 anos do Fortaleza Esporte Clube.
Publicação
Publicação no DSF de 18/10/2019 - Página 70
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, CLUBE, FUTEBOL, CIDADE, FORTALEZA (CE).

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/CIDADANIA - GO. Para discursar.) – Minhas únicas vossas excelências, estou emocionado, como seu empregado público, e já vou direto dizendo à mesa completa aqui: eu, o irmão que conheci... Vou até contar rapidamente porque eu o considero irmão, porque para você chamar alguém de irmão, você precisa ter motivo. Eu tenho irmãos: Datena, Raimundo Fagner – é irmão, podem perguntar para ele –, Sócrates, ex-jogador de futebol; Ivan Lins, músico; e agora, eu ganhei um irmão aqui no Senado, que é o Senador irmão Eduardo Girão.

    Mas eu vou quebrar o protocolo, como sempre. Eu odeio homenagem. Por quê? Porque me faz mal. Infelizmente, esse é um dos motivos de reclamar. O resto eu agradeço a Deus por tudo, porque eu pedi tão pouco a Deus, e Ele me deu em dobro. Agora o problema é que eu só tenho 3% de visão, em função do diabetes. Eu tive descolamento de retina. Então, a questão da homenagem é o quê? Você chega, de repente tem uma pessoa que você conhece, com quem você já esteve, já jantou com ela, e você não enxerga. Aí ela fala assim: "o Kajuru está mascarado". Então, eu peço desculpa.

    Quando o Girão chamou o ex-jogador Clodoaldo, eu me lembro de tê-lo entrevistado. Eu fui jornalista por 40 anos na minha carreira nacional de televisão brasileira. Ele estava aqui e eu não consegui enxergá-lo. É por isso que homenagem me faz mal. E, às vezes, há homenagem a que eu não vou porque eu acho que não tem que homenagear coisa nenhuma.

    Aqui no Senado, eu não fui a nenhuma, só na que eu fiz, como eu Senador, porque era obrigado. Foi a homenagem aos 54 anos do Jornal Nacional, porque eu fui amigo pessoal do Dr. Roberto Marinho, falecido.

    Então, é a primeira – e última, viu? – homenagem a que fiz questão de vir. Eu tenho compromisso urgente agora com o Vice-Presidente da Rede Globo, Paulo Tonet, que é o Presidente da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão). E aqui, Girão, em primeira mão, em sua homenagem, aos radialistas que estão aqui... Uma rádio – me parece que é a Rádio Cidade – me entrevistou. Eu informei, em primeira mão, o que estão falando aí que vão cobrar direitos de transmissão de rádio: esquece, isso não vai acontecer, porque eu não permito. (Palmas.)

    E o rádio do Ceará, que é um exemplo para o Brasil... Eu chegava ao Castelão, e as rádios estavam desde 8h da manhã no estádio, repórter em campo, comentarista, repórter da galera. Então, o rádio do Ceará merece isso. Se fosse cobrar alguma coisa, o futebol é que tinha que pagar para o rádio, de tanto que o rádio faz para o futebol. Essa é a diferença. A televisão, o jogo começa às 5h, começa a falar do jogo às 4h55. As rádios começam quantas horas por dia?

    Eu tenho uma reunião com ele agora. Ele vai oficializar essa notícia que eu já antecipei ao rádio esportivo do Ceará.

    Agora, aqui eu fiz questão. Não é só por causa do irmão Girão, pela história do Fortaleza Esporte Clube – amanhã, 18 de outubro, completam 101 anos, perfeito? –, mas sobretudo porque, no desenrolar de minha existência, em momentos diferentes, eu ganhei, como eu disse, dois amigos umbilicalmente ligados ao grande clube do Estado cearense: um irmão compositor – para mim, um dos melhores do Brasil – Raimundo Fagner... (Palmas.)

    Um cara, gente, que já cantou, e várias vezes, com Mercedes Sosa. É brincadeira o cearense, ou não?

    Aliás, vamos falar a verdade: cearense, quando dá para ser gênio, é brincadeira, amigo, pelo amor de Deus.

    E aquele cearense simples, Toinha, você não sabia. Eu morei no Rio por 15 anos. O que há de cearense no Rio que ficou milionário, que era garçom e de repente hoje é dono de restaurantes fantásticos no Rio de Janeiro. Vocês sabiam disso, não é? Fantásticos. Cearenses trabalhadores ali, que hoje são exemplos, geram milhares de empregos no Rio de Janeiro.

    E esse que eu acabei de falar, Eduardo Girão.

    Eu vou rapidamente concluir.

    Vou contar essa história, não deveria, não, mas preciso dizer o tanto que eu tenho que ser grato – e quem não tem gratidão não tem caráter, para mim – com essa pessoa, que presidiu o Fortaleza – hoje o Presidente é o Marcelo – e que ama o Fortaleza – eu sei disto, ele ama o Fortaleza.

    O Girão, gente, além de ser um homem público raro – raro –, é um homem de palavra – o que ele falar para você esquece –, um homem de coragem, porque nós dois estamos enfrentando uma briga com o Supremo Tribunal, que não é fácil. Não é qualquer Senador que tem peito aqui, não! Pelo contrário, a maioria borra nas calças! O Girão está comigo, e eu estou com ele, junto!

    Mas eu quero mostrar o outro lado, porque o lado político é fácil de falar: o lado humano, do ser humano.

    Pablo Neruda, num pequeno trecho, ensinou-me o seguinte:

E que meti a colher até o cotovelo

numa adversidade que não era minha,

no padecimento dos outros.

    Então, esse é o exemplo do Girão.

    Eu, emocionado, tenho que falar isto. Eu estou vivendo um momento muito difícil na vida. Não tenho nenhuma vergonha de falar. Estou enfrentando uma doença grave, um tumor no pâncreas, preciso fazer a cirurgia urgentemente e estou esperando só a votação da reforma da previdência. O Girão sabe disso. O Girão e a Leila do Vôlei, que é minha irmã há dez anos – o Girão sabe disso –, os dois, ficam todo dia aqui no Plenário em cima de mim. A Leila ficou sem falar comigo três dias: "Vai fazer a cirurgia, pelo amor de Deus! Não espere reforma coisa alguma! Saúde em primeiro lugar!". Eu falei: "Não, eu vou ficar aqui. Eu vou esperar. Sou empregado público, é meu dever e Deus vai me segurar para fazer a cirurgia!".

    Enfim, ontem os dois estavam aqui. Cheguei e falei para eles – o Senador Oriovisto e o Senador Amin estavam também na roda. Esta história é bonita. E a história bonita do Fortaleza tem a ver com fortaleza. Fortaleza é um time de paixão. A gente vê o estádio, e não tem como não arrepiar no jogo do Fortaleza. É impossível você não ficar arrepiado no jogo do Fortaleza. Então, essa é uma história de paixão. Já que sua esposa está aqui, Girão, a sua esposa só pode ter orgulho de você. Ela se casou com um homem na verdadeira acepção da palavra e com um ser humano que eu não sei se eu vou conhecer fácil nesse meio político. Eles perguntaram para mim: "Você vai ou não vai?". Eu falei: "Eu vou responder para vocês a verdade, então. A verdade é uma só, eu estou completando a grana. A cirurgia custa R$180 mil. Você sabe disso". A cirurgia de pâncreas – quem sabe aqui? – é cara, não adianta, no Einstein, em São Paulo.

    Vocês sabiam que o Senador tem direito de fazer a cirurgia, e o Senado paga? Vocês sabiam disso? Aquele Deputado Federal – meu nome é felicidade; meu nome não é Feliciano, não. Eu não sou picareta, não! –, aquele Deputado Federal Feliciano fez uma cirurgia odontológica, eu acho que ele botou diamante no dente, e pediu para o Senado pagar, e o Senado pagou: R$158 mil. Não foi o Senado que pagou; vocês pagaram, os contribuintes pagaram. O cara pediu o reembolso. Aí os dois, o Girão e a Leila, falaram: "Você tem que pedir, você tem direito, porque você faz jus ao seu mandato, Kajuru. Você não tem nada a ver com o Feliciano, porque a do Feliciano é uma questão estética; a sua é de pâncreas, é diferente, Kajuru. Você tem que pegar esse dinheiro do Senado". E eu falei: "Eu não vou pegar. Eu respeito dinheiro público. Eu não aceito um centavo do Senado!".

    Entra aí no Portal da Transparência do Senado. Senador Kajuru, qual é o custo dele? Zero, zero, absolutamente zero.

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/CIDADANIA - GO) – Para encerrar.

    Eu vou sair disso aqui, que alguns acham que é um chiqueiro, mas, para quem achar que é chiqueiro, vou sair sem levar nem o cheiro nem a caatinga. E dinheiro público não, amigo, eu respeito.

    Aí falei para eles, para fechar. Girão, não vou fazer, irmão, porque estou completando a grana, eu vou conseguir para terminar. Sabem o que ele falou para mim, ele e o Oriovisto, os dois? "Nós temos o dinheiro, nós vamos passar o dinheiro para você". "Como? Eu tenho que pagar vocês depois." "Não, não, nós vamos passar o dinheiro para você, Kajuru." Alguém acredita nisso? Eu contei ontem à noite para o Datena, que é igual a um irmão meu, um pai. O Datena chorou no telefone. Ele disse: "Você está brincando. Dois Senadores fizeram isso com você?" "Fizeram." Então, isso é que é a vida.

    Para quem acha que todo político é igual... Ah, político é tudo igual! Tem gente diferente, e diferente como homem, como ser humano. Claro que eu não aceitei o dinheiro deles, mas eu tenho que registrar essa história. Eu já consegui o dinheiro, graças a Deus, com as minhas reservas, e vou fazer a cirurgia.

    Só para não ser chato, eu fui longo, desculpe, mas foi por emoção, porque eu falei de coração.

    O Fortaleza, gente, superou tanta coisa, uniu conquistas, comemorações, homenagens no ano do centenário.

    Justamente em 2018, quando completou os cem anos, alcançou o seu principal feito no futebol, o título do Campeonato Brasileiro da Série B. Tornou-se o único clube nordestino a ganhar o título de alguma divisão do Campeonato Brasileiro na era dos pontos corridos.

    Na sequência, neste 2019, agora, ganhou o título estadual e a Copa do Nordeste, impondo-se sobre os adversários dos nove estados da Região.

    Mais uma glória para a gigantesca Nação Tricolor de Aço de Fortaleza, que já havia vencido a Copa Cidade de Natal, em 1946, uma das primeiras disputadas de âmbito regional no Nordeste. O Fortaleza ganhou ainda o antigo Torneio Norte-Nordeste, em 1970.

    Com 42 títulos estaduais, o Fortaleza foi também por duas vezes vice-campeão brasileiro da Série A, nos anos de 1960 e 1968, e duas vezes vice-campeão brasileiro da Série B, em 2002 e 2004.

    Pouca gente sabe, Brasil, Pátria amada, mas o Fortaleza é o único clube cearense a ter se classificado em campo para um torneio continental, como vice-campeão da Taça do Brasil de 1968, vencida pelo Botafogo. Lembram-se? Teria de disputar então o quê? A Taça Libertadores da América do ano seguinte. Mas, por causa de divergências com a corrupta Conmebol por causa de datas, a CBF não indicou e o Brasil, à época, não teve representantes na competição, mas seria o Fortaleza disputando uma Taça Libertadores da América.

    Os títulos são muitos, mas o grande patrimônio do Fortaleza é a sua fanática torcida, conhecida pelos belíssimos mosaicos que arrepiam qualquer pessoa normal que gosta de esporte, que ama o esporte. Aqueles mosaicos montados nas partidas importantes, como ontem inclusive.

    E sempre presente, um clube que representa, vira notícia, como em 2014, quando proporcionou o maior público do ano no Brasil, num jogo da série C, contra o Macaé: quase 64 mil pessoas presentes.

     Eu me lembro como se fosse hoje. O Fagner me ligava toda hora do estádio, toda hora. Aliás, eu falei para o Girão: o Fagner liga toda hora para mandar vídeo, para mandar tudo. Ele ama o Fortaleza. E o Fagner, só para concluir, me emociona quando ele canta: "Fortaleza, clube de glória e tradição". Mas só para não falar do Fagner, Girão, a gente tem que também aqui saudar e bater palmas para ele, porque esse hino do Fortaleza é tão bonito que você tem que dizer quem é o autor, quem é que escreveu: Jackson de Carvalho. (Palmas.)

    Então, de forma sincera, eu agradeço a paciência de vocês. Atrasei-me um pouco lá com o Tonet, da Globo, mas ele vai entender o motivo, é justo. Desculpem-me por não continuar, mas depois eu terei pela TV as imagens de sequência e as falas, que eu vou acompanhar e colocarei nas minhas redes sociais, com muito prazer, algo que eu não fiz com ninguém. Nem na homenagem que eu prestei à Rede Globo eu coloquei nas minhas redes sociais, mas o Fortaleza eu vou colocar, faço questão de colocar. Eu tenho 30 redes sociais. Pouca gente, só 96 milhões de acessos – 40 anos de carreira na televisão.

    Então, é isso aí. Deus abençoe a todo mundo, paz, saúde. Principalmente Deus, pelo amor de Deus, ficar agarradinho com Deus, cearenses aqui presentes, em nome da Toinha... Que mulher, hein? Obrigado por você existir, bem. Que mulher!

(Intervenção fora do microfone.)

    A SRA. ANTÔNIA LIMA – Ouvi as suas palavras muito sinceras. Eu acho que o torcedor do Fortaleza tem sangue na veia. Não é todo mundo que torce, não. Tem que ter sangue!

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/CIDADANIA - GO) – Ela é apaixonante, não é?

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/CIDADANIA - GO) – Um beijo no coração de vocês todos. Muito obrigado pelo carinho! (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/10/2019 - Página 70