Discurso durante a 210ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com o alto índice de desemprego no Brasil.

Exposição sobre a importância de investimentos em educação para promoção do desenvolvimento econômico, com destaque para necessidade de priorização do ensino profissional bem como das ciências exatas e naturais nos currículos escolares.

Registro de reunião, que será realizada em 5 de novembro, da Frente Parlamentar Mista de Ciência Tecnologia, Pesquisa e Inovação com a Mobilização Empresarial pela Inovação.

Autor
Izalci Lucas (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/DF)
Nome completo: Izalci Lucas Ferreira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA:
  • Preocupação com o alto índice de desemprego no Brasil.
EDUCAÇÃO:
  • Exposição sobre a importância de investimentos em educação para promoção do desenvolvimento econômico, com destaque para necessidade de priorização do ensino profissional bem como das ciências exatas e naturais nos currículos escolares.
CIENCIA E TECNOLOGIA:
  • Registro de reunião, que será realizada em 5 de novembro, da Frente Parlamentar Mista de Ciência Tecnologia, Pesquisa e Inovação com a Mobilização Empresarial pela Inovação.
Aparteantes
Confúcio Moura.
Publicação
Publicação no DSF de 02/11/2019 - Página 7
Assuntos
Outros > ECONOMIA
Outros > EDUCAÇÃO
Outros > CIENCIA E TECNOLOGIA
Indexação
  • APREENSÃO, SITUAÇÃO, RELEVANCIA, DESEMPREGO, PAIS.
  • DEFESA, INVESTIMENTO, RECURSOS FINANCEIROS, EDUCAÇÃO, OBJETIVO, DESENVOLVIMENTO, ECONOMIA NACIONAL, ENFASE, ENSINO PROFISSIONAL.
  • REGISTRO, REUNIÃO, FRENTE PARLAMENTAR, CIENCIA E TECNOLOGIA, MOBILIZAÇÃO, EMPRESA.

    O SR. IZALCI LUCAS (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - DF. Para discursar.) – Sr. Presidente, Senador Confúcio, Sras. e Srs. Senadores, não sei se vocês sabem, se vocês já observaram uma cena que se tornou comum no noticiário brasileiro: as filas de desempregados em busca de uma vaga de emprego. Eu não sei vocês, mas assistir a reportagens desse tipo me gera não só mal-estar, mas sofrimento. Deveria, especialmente a nós que estamos nesta Casa de leis, que representa o povo brasileiro. É difícil aceitar que um trabalhador não consiga o que é lhe é mais caro: um emprego. Esta Casa não pode ficar alheia a isso, Senador Confúcio. São quase 13 milhões de desempregados. São famílias e cidadãos em busca de trabalho. Diante disso, nós precisamos entender a história desses brasileiros. O dia a dia desse cidadão é que vai nos mostrar o que o levou para aquela fila, assim como vai mostrar também o que pode dar esperança para que ele possa continuar lutando, o que faltou no seu currículo, que tipo de informação lhe foi pedida, e ele não tinha, como esse trabalhador está tentando sanar as possíveis rejeições no mercado de trabalho.

    Aí eu entro em um tema que vem sendo uma das minhas principais lutas como Parlamentar: a educação. Desde já, eu quero colocar que a educação não é só para formar para o mercado de trabalho. Educação é a base para qualquer projeto bem-sucedido que um país pretenda construir. Sempre defendi que educação de qualidade é sinônimo de país soberano. Assim, o mundo do trabalho precisa de educação de qualidade; a competitividade brasileira precisa de educação de qualidade; a formação social do Brasil precisa de educação de qualidade; a inovação brasileira precisa de educação de qualidade.

    Eu destaquei bastante o termo qualidade de propósito. Após séculos de atraso, o Brasil ainda está conseguindo universalizar apenas etapas básicas, como o Ensino Fundamental. Segundo o IBGE, em 2015, 97,7% da população de 6 a 14 anos estava matriculada nesse nível de escolarização. A melhoria nas taxas de matrícula, no desempenho dos alunos e no fluxo escolar da etapa fundamental sustentou o aumento da taxa de matrícula de ensino médio, que alcançou 62,7%, em 2015. No entanto, é preciso mais. De nada adianta ter matrícula se os alunos do Ensino Médio nada aprendem e abandonam a escola, porque nem vão para o mercado de trabalho ou para o ensino superior – a geração nem-nem.

    No Brasil, somente 15% da população entre 25 e 64 anos tem o ensino superior completo. Ao passo que nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) esse percentual alcança 37%. Agora é o momento de analisar o que estamos oferecendo aos nossos alunos. Não é só colocar gente em sala de aula e distribuir os diplomas; é hora de focar em ensino de qualidade, onde os alunos aprendam de fato e possam usar os seus conhecimentos em sua trajetória pessoal e na construção de um país grande.

    Voltando à fila de que falei no começo, o que percebo é que parte dela não teve a formação educacional que de fato precisava. Boa parte dessa mão de obra até termina o ensino médio, mas não aprende. Sabem por que? Porque, muitas vezes, o conteúdo ensinado está longe da realidade do aluno, longe da realidade do mercado de trabalho que esse estudante vai ter que encarar.

    Vejam bem: apenas 11,1% dos alunos do ensino médio cursam educação profissional, no Brasil. Nos países mais desenvolvidos, mais da metade dos jovens do ensino secundário cursam algum tipo de formação profissional. Na Austrália e na Finlândia, o percentual de jovens que cursam trilhas profissionais era cerca de 70% em 2015. Em países como Alemanha, Dinamarca, França e Portugal, essa participação excedia os 40%.

    O Brasil precisa aumentar essa oferta de ensino médio casado com ensino profissional. Hoje nem passamos dos 10%. O que me preocupa é que ainda não conseguimos oferecer ferramentas básicas de educação para os nossos alunos, como Matemática de qualidade, por exemplo. Se não conseguimos o básico, como vamos preparar esses estudantes para um mercado de trabalho em plena era de exigências tecnológica, na era do conhecimento? Como vamos conseguir ser uma nação inovadora se o nosso principal capital, o humano, não recebe o investimento necessário? E quando eu digo investimento é no sentido amplo: de recursos, sim, mas também de professores bem pagos, qualificados e atualizados, de infraestrutura adequada, de currículos modernos e antenados com a era digital. Precisamos inserir nossos trabalhadores no que se chama futuro do trabalho.

    Um estudo do Senai divulgado agora em agosto, chamado Mapa do Trabalho Industrial, mostrou que o País precisa qualificar 10,5 milhões de trabalhadores em ocupações industriais nos próximos cinco anos, em todas modalidades de cursos: superior, técnico, qualificação profissional e aperfeiçoamento. Essa mão de obra precisa se aperfeiçoar para atender às demandas de um mercado de trabalho em transformação. O Brasil precisa de engenheiros, de técnicos condutores de processos robotizados, de profissionais de planejamento, programação e controles logísticos, de instaladores e reparadores de linhas e cabos elétricos, telefônicos e de comunicação de dados. Isso só para falar do início do que precisamos na indústria pesada. Sem falar ainda da área de saúde e social.

    No dia 8 de outubro, eu trouxe para a tribuna um dado: de 2011 para cá, o Brasil passou da posição de 47º para 66º no Índice Global de Inovação. Segundo a análise do próprio Índice, o fraco desempenho brasileiro deve-se, entre outros fatores, à baixa pontuação obtida no indicador relacionado a recursos humanos.

    Sras. e Srs. Senadores, nesse mesmo dia, mostrei que uma pesquisa encomendada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), chamada Projeto Indústria 2027, apontou que 75% das empresas brasileiras pesquisadas são ainda analógicas e, em outras, a digitalização foi incorporada somente no modo pontual. Ou seja, meu amigo Senador Confúcio, é preciso uma alteração radical na estrutura do ensino brasileiro, para que possamos crescer como País.

    Precisamos dar ferramentas às mentes criativas, incentivar formações inovadoras e formar gente com ênfase em engenharia, tecnologia, ciência e matemática, tudo isso para conseguirmos mentes disruptivas, conectadas com o digital, que coloquem o Brasil na rota da inovação, porque, como eu já disse desta tribuna, em várias ocasiões, a inovação precisa ser prioridade, porque é o combustível impulsionador da nova economia.

    Um dos principais caminhos, Senador Confúcio, é a aposta no capital humano. Essa mudança educacional precisa se dar em todos os níveis e precisa ser priorizada pelos Estados, tem que ser prioridade de Estado.

    Vou contar uma história para vocês. Em 2013, o então Presidente norte-americano, Barack Obama, percebeu que os Estados Unidos estavam perdendo espaço nos mercados tecnológicos, estava perdendo para os países asiáticos, como Coreia e China. O que ele fez? Declarou o modelo educacional Stem como prioridade em todos os níveis educacionais. O que é o Stem? É uma abordagem educacional que enfatiza ciências naturais e matemática – tanto que a livre tradução é um acrônimo de ciências, tecnologia, engenharia e matemática. Para isso, ele investiu pesado no método e na formação dos professores.

    O Brasil precisa investir nas disciplinas ainda como a de artes, que remete a design. Isso não quer dizer deixar de lado as ciências humanas. É desmistificar as ciências exatas e naturais para os alunos.

    Em escolas que têm adotado o método, as experiências têm sido positivas. É caso da Rede Sesi, que tem se preocupado com essas questões já há algum tempo. Este ano, com os alunos do Sesi, o Brasil trouxe vários prêmios do Mundial de Robótica Escolar, que ocorre em Houston, nos Estados Unidos, inclusive o de melhor design de robô.

    Querem ver outro exemplo desse sistema que mostra como o método pode despertar a inovação? Um grupo de alunos do Sesi de Alagoas tem um projeto chamado EcoSururu. Os estudantes produziram telhas e embalagens PET a partir de cascas de sururu, que é um molusco comum na região. A telha, além de ecológica e sustentável, é mais resistente do que as telhas comuns: aguenta temperaturas de 85°C, enquanto as mais utilizadas, de cerâmica, suportam 50°C. Com a inovação, eles ganharam um prêmio da Prefeitura de Maceió.

    Com a formação em Stem, podemos, sim, incentivar a formação de mais engenheiros, tendo em vista o lugar central ocupado pela engenharia na geração de conhecimento, tecnologias e inovações. É estratégico dar ênfase à melhoria da qualidade dos cursos oferecidos no País, a fim de alimentar e aumentar a produtividade e ampliar as possibilidades de crescimento econômico, tanto hoje quanto no futuro.

    O primeiro passo já foi dado. A revisão das diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em Engenharia, peça chave deste processo, foi feita em abril, quando o Ministério da Educação homologou o novo currículo. Agora é esperar que as universidades se adaptem e ofereçam cursos com formação por competências, com foco no desenvolvimento do aluno e na educação mais prática e próxima do ambiente profissional.

    O texto incorpora a maioria das propostas apresentadas pelo grupo de trabalho para o fortalecimento das engenharias, criado pela MEI (Mobilização Empresarial pela Inovação). O documento foi elaborado em parceria com a Abenge (Associação Brasileira de Educação em Engenharia).

    O Brasil precisa apostar mais no seu capital humano. Para isso, precisa formar mão de obra qualificada para combater o desemprego e colocar o País na rota global de inovação, com profissionais de ponta. Por isso, a Frente Parlamentar Mista da Educação e a Frente Parlamentar Mista de Ciência, Tecnologia, Pesquisa e Inovação têm um papel importante a desempenhar e ajudar a mudar a realidade do povo brasileiro.

    A aposta na educação e na tecnologia é o que vai nos proporcionar um ciclo virtuoso de inovação, de uma economia mais diversa e competitiva, com mais e melhores empregos e mais empreendedores. Essa é uma agenda urgente e de longo prazo – e só por meio dela poderemos enfrentar problemas como o desemprego e a desesperança que nos atingem nesses tempos de crise.

    Senhoras e senhores, vamos focar no que, de fato, é a nossa realidade: o povo brasileiro, nossas famílias e os problemas nossos do dia a dia. Depois de tudo que coloquei, depois de tudo exposto por constatações e números, podemos resumir em poucas palavras as expectativas de nosso povo e de nossa gente – atenção: as famílias querem respostas de nós, a quem deram seu voto e sua confiança, querem saber como podem viver hoje e daqui em diante.

    Senadores da República, nós temos a imensa responsabilidade de fazer cumprir as leis que daqui emanaram, sim, mas antes disso, temos a nossa lei maior, que é a proteção de nossa população em seus direitos básicos, que são educação, saúde e segurança.

    Então, peço a todos que saiam de debates os quais não interessam a mais de 90% da população, que clama por emprego, saúde e, sobretudo, educação. Sras. e Srs. Senadores, peço que saiam dessa redoma. Vamos às ruas para ouvir 90% da população, que pouco se interessa sobre aquilo que, diariamente, se discute aqui e nas contendas entre esquerda e direita. Nada disso interessa a quem vive o dia a dia, com falta de emprego, falta de comida, falta de saúde e falta de segurança. Meus amigos e minhas amigas, Senadores e Senadoras, o Brasil real está aqui diante dos olhos de todos nós – basta olhar. Vamos enxergar isso.

    E, Senador Confúcio, quero ainda reforçar a nossa reunião do dia 5, terça-feira, das 12h às 14h. Faremos uma reunião da Frente Parlamentar Mista de Ciência, Tecnologia, Pesquisa e Inovação com a MEI (Mobilização Empresarial pela Inovação), já com a presença confirmada do nosso Presidente Davi, com o nosso Presidente da Câmara, Rodrigo Maia, com o nosso Ministro da Ciência e Tecnologia e com esses empresários que participam do movimento, que são as 300 maiores empresas do País. Nós vamos discutir inovação e vamos ter que rediscuti-la aqui, na elaboração do orçamento, tanto da ciência e tecnologia quanto, principalmente, da educação.

    Então, agradeço a paciência de V. Exa.

    O SR. PRESIDENTE (Confúcio Moura. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO. Para apartear.) – Senador Izalci, eu gostaria de fazer um pequeno aparte ao seu pronunciamento, porque é um tema de que eu também gosto, que é a educação, a inovação e a pesquisa científica. O senhor e outros Senadores abordam esse tema, mas o senhor com maior veemência. Então, o senhor aponta os rumos que o Brasil deve seguir.

    Nós estamos mal. Por mais que a gente queira ser otimista aqui, falar bem do Brasil – e a gente deve, por obrigação, falar bem do nosso País –, os dados as estatísticas nos traem, puxam a gente para baixo. Então, nós temos aí a pobreza, os bairros distantes, os morros, a área rural realmente com escolas precárias, sem objetivos claros, sem mecanismos de preparação, com os alunos mal agasalhados...

    Então, nós temos que realmente, além de falar, agir. Nós temos que agir mesmo, visitar, adotar, brigar, ir aos Municípios. Até acho que a grande revolução educacional deve surgir de baixo para cima. A gente cansa de falar aqui dos Municípios que vão bem. Quando a gente fala que um Município vai bem, o primeiro deles que vem a cabeça é Sobral, que, em 22 anos, deu a volta por cima na qualidade da educação e hoje é uma referência nacional. Mas não só Sobral, pois também no Estado do Piauí há muitas escolas de excelência, no Sertão, no Estado do Ceará, no Estado da Paraíba, no Estado de Pernambuco, no Estado de Goiás, no Estado de Espírito Santo, em São Paulo, no interior, onde cidades pequeninhas têm feito um trabalho maravilhoso, que pode ir se irradiando.

    Então, eu creio que é por aí. O seu discurso é um brado retumbante de um Senador experiente atormentado pela realidade, e V. Exa. faz esse clamor, esse movimento...

(Soa a campainha.)

    O SR. PRESIDENTE (Confúcio Moura. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO) – ... chamando os empresários, chamando todo mundo para realmente a gente assumir o que é mais importante no nosso País, que é a educação, a inovação e a pesquisa científica.

    Então, eu quero saudar V. Exa. e parabenizar o Distrito Federal por ter um Senador com esse nível de atuação, muito moderno, muito avançado... Eu tenho certeza de que aqui, sendo a Capital, muito bem esclarecida, com ótimo nível, eles estão observando o comportamento de V. Exa. e estão gostando.

    Então, parabéns a V. Exa.

    O SR. IZALCI LUCAS (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - DF) – Obrigado, Senador Confúcio.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/11/2019 - Página 7