Pela ordem durante a 208ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apreensão com a situação de estudantes brasileiros na cidade boliviana de Cochabamba devido à crise política e econômica naquele País.

Autor
Sérgio Petecão (PSD - Partido Social Democrático/AC)
Nome completo: Sérgio de Oliveira Cunha
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela ordem
Resumo por assunto
ATIVIDADE POLITICA:
  • Apreensão com a situação de estudantes brasileiros na cidade boliviana de Cochabamba devido à crise política e econômica naquele País.
Publicação
Publicação no DSF de 31/10/2019 - Página 68
Assunto
Outros > ATIVIDADE POLITICA
Indexação
  • APREENSÃO, SITUAÇÃO, GRUPO, ESTUDANTE, LOCAL, PAIS ESTRANGEIRO, BOLIVIA, ORIGEM, BRASIL, MOTIVO, CRISE, POLITICA, ECONOMIA.

    O SR. SÉRGIO PETECÃO (PSD - AC. Pela ordem.) – Presidente Anastasia, primeiramente, eu queria parabenizá-lo neste dia de hoje pela condução dos trabalhos nesta Casa.

    Sr. Presidente, eu gostaria aqui da atenção dos colegas Senadoras e Senadores. Vou ler uma carta que recebi pela manhã, hoje, Senador Anastasia, de um grupo de estudantes que está na Bolívia. Precisamente, esse grupo de estudantes está em Cochabamba. O senhor sabe que lá na Bolívia nós temos centenas e milhares de brasileiros que, por falta de opção e até de condição, tiveram que estudar na Bolívia. E, agora à tarde, o Deputado Domingos Neto, lá do Ceará, do meu partido, me chamou porque teria recebido um telefonema de uma mãe desesperada no Ceará, porque sua filha tinha ligado também da Bolívia e feito um relato. O Deputado Domingo Neto é um amigo pessoal do PSD e sabe da minha relação ali na fronteira, pediu que eu fosse até o gabinete dele para que eu fizesse alguma coisa. Eu falei: "Deputado, nós estamos acompanhando aquela situação, mas, sinceramente, não sei o que podemos fazer".

    Então, eu quero fazer aqui um apelo diretamente ao Presidente Bolsonaro, para que ele possa sensibilizar o nosso cônsul, o Embaixador brasileiro que está na Bolívia, o nosso Itamaraty, porque essa carta aqui, com certeza, relata uma situação de desespero.

Caro Sr. Senador Sérgio de Oliveira Cunha [esse é meu nome, para quem não sabe. Sérgio de Oliveira Cunha, mas é Sérgio Petecão], vimos através desta carta implorar [ele está implorando] por um apelo de ajuda, pois a nossa situação aqui na cidade de Cochabamba não está condizente com o que fala o noticiário.

    Até parece que não está acontecendo nada. A mídia brasileira não dá divulgação. Fala lá do Irã, do Iraque, da Palestina, mas nós estamos falando de um problema aqui na biqueira da nossa casa, na fronteira ali do meu Estado. O meu Estado faz fronteira ali com a Bolívia, com o Estado de Pando.

Muitos de nós estamos aqui com a nossa família. Sei que, na tomada de decisão para vir estudar na Bolívia, não enviamos uma carta pedindo ao senhor nem a ninguém de nosso País para estar aqui, porém fomos forçados a tomar essa decisão por não encontrarmos oportunidade de estudar Medicina em nosso País, em nossa cidade, por conta do custo que é altíssimo [e ele tem razão], e não queremos entrar em detalhe quanto às universidades federais neste momento.

De antemão, posso informar ao senhor que alguns adolescentes, estudantes brasileiros alienados e sem noção do perigo se pronunciaram saindo às ruas de Cochabamba envolvendo-se nessa batalha política que não é nossa, e que com isso, com essa tamanha irresponsabilidade, nos deixaram ainda pior para um bom convívio entre nós e os bolivianos.

Agora, após esse incidente, muitos de nós estão sendo atacados verbalmente e fisicamente nas ruas, onde nesse exato momento [ele me fez esta carta hoje] há um estudante brasileiro no hospital indo para um procedimento cirúrgico com várias fraturas em seu corpo.

[Ele me fez um relato da dificuldade que o Consulado brasileiro está tendo para se relacionar com eles.] Por vários dias, estamos pedindo ao consulado providencias, mas a única resposta que recebemos é que fiquemos em casa sem sair para nada. Infelizmente nem todos estão com dinheiro para fazer estoque de comida nem água e são forçados por essa situação de sair de suas residências para pegar comidas com amigos.

Estamos pedindo este apelo porque já não conseguimos mais suportar esta situação. Abaixo seguem vários tópicos que o senhor [e os Srs. Senadores poderão] [...] analisar e chegar às suas próprias conclusões.

1- Não há mais comidas na maioria das prateleiras dos supermercados, quando abrem.

2- Não há mais água mineral vendendo em toda cidade.

3- Todos os bancos estão fechados, não estamos conseguindo receber dinheiro do Brasil.

4- Falta remédios.

5- Não há segurança pública, por esse motivo as ruas estão perigosas, sediadas por cocaleiros e mineradores armados com facas, arma de fogo, pau com prego na ponta, e o maior absurdo, com dinamites.

6- Estamos sendo atacados nas ruas.

7- Todas as universidades e escolas estão fechadas por tempo indeterminado.

8- Todas as companhias aéreas estão fechadas. Quem tem ainda algum dinheiro não consegue comprar passagem. [...]

9- Todos os aeroportos estão sendo bloqueados pelos cocaleiros, mineiros ou cidadão bolivianos, não permitindo a nossa saída do País.

10- Todas as fronteiras com o Brasil estão fechadas, não permitindo o retorno a nossa casa.

11- Nossas crianças estão assustadas, e nós, os pais, estamos tentando apaziguar esta situação.

12- Cortaram o fornecimento de água potável, o que significa que em 24h ou 48h estaremos sem água dentro de nossas residências.

13- Ontem foi cortada a energia elétrica como um aviso do que podem fazer. Felizmente religaram, mas já estão avisando que o próximo corte será por tempo indeterminado.

14- Comida e água que conseguimos já estão acabando. Não sabemos o que fazer quando acabar, pois não há onde comprar.

15 – A violência desses bolivianos é muito grande, e aqui está em guerra.

Sr. Senador, nos ouçam os noticiários não querem divulgar, mas aqui está em guerra, uma guerra civil que não vai acabar tão cedo. Nós estamos ficando sem água e sem comida, não temos mais acesso ao remédio, o nosso dinheiro praticamente acabou e não temos como receber dinheiro de nossos parentes para poder sair daqui. Mesmo que tivéssemos como receber como vamos sair, se todas as ruas e avenidas estão repletas de bolivianos se matando e se enfrentando com armas e bombas (dinamites)?

Eles não estão permitindo a nossa saída, estamos encurralados, e não há ninguém por nós em toda a Bolívia. Caso o senhor queira realmente ver o que estamos enfrentando, nós nos prontificamos a enviar todos os vídeos e mensagens que recebemos a todo momento em nossos grupos de WhatsApp. Não sabemos da situação política entre Brasil e Bolívia, mas estamos precisando, necessitando de uma ajuda de nosso País.

Somos leigos em relação a qual estratégia o Brasil poderia tomar, mas se puder nos resgatar seria maravilhoso. [Então, ele está fazendo um apelo ao Governo brasileiro, às autoridades brasileiras. Estou aqui em meu nome, em nome do Senado Federal, pedindo ao Governo brasileiro para que ele socorra aqueles estudantes que estão ali em território boliviano]

Estudantes residentes de Cochabamba, 30 de outubro de 2019.

    Então, Sr. Presidente, esta carta aqui é apenas uma carta, de centena de telefonemas, de milhares... Todos nós estamos sensibilizados. Nós temos ali uma relação, que sempre foi muito boa. Antes desse Governo Evo Morales, nós sempre tivemos uma relação muito boa com o povo boliviano, que era um povo pacato, um povo ordeiro. Mas quando esse governo ditador assumiu a Bolívia em mais essa eleição, em que ele, de uma forma truculenta, mais uma vez burlou as urnas e se tornou vitorioso, o país virou um caos.

    Então, está aqui esse apelo desse grupo de brasileiros, que estão em Cochabamba. Não é diferente dos que estão em Santa Cruz, que estão em todos os Estados bolivianos, que estão pedindo, fazendo um apelo ao Governo brasileiro, para que mobilize o nosso Consulado, o nosso Itamaraty, para que retire, pelo menos nesse momento em que a Bolívia está diante de uma guerra civil.

    Pena que as nossas televisões, os nossos jornais não estejam divulgando esta barbárie que está acontecendo em território boliviano. Fica aqui o nosso apelo, Sr. Presidente.

    Muito bem, Senador Petecão.

    O SR. MAJOR OLIMPIO (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSL - SP) – Pela ordem, Sr. Presidente.

    O SR. PRESIDENTE (Antonio Anastasia. Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - MG) – Só um segundo, Senador Major Olímpio, eu já vou passar a palavra a V. Exa. pela ordem.

    Quero só registrar...

(Intervenção fora do microfone.)

    O SR. PRESIDENTE (Antonio Anastasia. Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - MG) – Pois não, Senador Petecão.

    O SR. SÉRGIO PETECÃO (PSD - AC) – Inclusive, Presidente, eu gostaria de entregar essa carta para que ficasse registrada aqui, nos Anais desta Casa, para que, Deus o livre, venha a acontecer alguma coisa com aqueles brasileiros que estão na Bolívia, as autoridades brasileiras não digam que não foram comunicadas.

    Obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/10/2019 - Página 68