Pronunciamento de Plínio Valério em 29/10/2019
Discurso durante a 207ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Defesa da soberania brasileira no tratamento da política ambiental para a Região Amazônia.
- Autor
- Plínio Valério (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
- Nome completo: Francisco Plínio Valério Tomaz
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
POLITICA INTERNACIONAL:
- Defesa da soberania brasileira no tratamento da política ambiental para a Região Amazônia.
- Aparteantes
- Marcos Rogério.
- Publicação
- Publicação no DSF de 30/10/2019 - Página 18
- Assunto
- Outros > POLITICA INTERNACIONAL
- Indexação
-
- DEFESA, SOBERANIA, BRASIL, REFERENCIA, POLITICA, MEIO AMBIENTE, RELAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA, CRITICA, ATUAÇÃO, PESSOAS, PAIS ESTRANGEIRO, COMENTARIO, ZONA FRANCA, MANAUS (AM).
O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - AM. Para discursar.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, mais uma vez – e é bom que seja mais uma vez, porque demonstra esta oportunidade que Deus concedeu de eu estar aqui exercendo um mandato de Senador da República – faço uma constatação que se impõe ao observar as pressões externas sobre os brasileiros. Eu falo isso, Senador Girão, a propósito da preservação das nossas florestas, em especial da Amazônia, de onde venho. Essas manifestações são movidas apenas por um viés ideológico e político, não por qualquer consideração autenticamente ecológica e muito menos por preocupação com os maiores interessados, que são os moradores dessas regiões. A solução para o desafio não passa por esse tipo de avaliação com bases ideológicas e políticas artificiais, mas pela lógica, pela racionalidade.
Existe um ponto essencial no debate sobre a Amazônia: qualquer solução para os problemas ecológicos passa necessariamente pelos problemas sociais. Sem enfrentá-los, estaremos enxugando gelo. Esse é o conceito real que se sobrepõe às posturas daquele tradicional politicamente correto, mas de fundamento meramente, repito, ideológico e político.
Na verdade, especialmente quando vindas de fora, as pressões soam falsas, com sua credibilidade ameaçada pela constatação de que são permeadas sempre pelo princípio do "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço". Basta verificar: os países mais empenhados em nos impor princípios ambientais politicamente corretos são os que mais consomem energia fóssil, justamente são os que mais utilizam com motivos poluentes.
Olha só, Senador Girão, olha só, Senador Rogério: o campeão mundial desse consumo de petróleo é o Canadá. Por ano, o Canadá consome per capita 7.603kg de equivalentes de petróleo e está acima, em termos proporcionais, até do maior gastador de energia fóssil do Planeta, que são os Estados Unidos, que têm 6.797kg consumidos per capita. A Noruega, que quer nos dar lição de questões ambientais, consome por ano per capita 5.815kg de equivalentes de petróleo per capita. A Alemanha, outra a nos dar lição, consome 3.817kg. E a França, do Macron, 3.689kg. Estão acima do Japão, tão carente de recursos naturais, mas, mesmo assim, não abusam do que fazem. Embora tão criticada pela emissão e consumo de energia fóssil, a China está atrás deles – para se ter uma ideia de como eles consomem muito.
E o Brasil? Querem nos impor novas responsabilidades, querem fazer com que a gente tenha vergonha, mas o Brasil está muito abaixo dessa gastança toda. O consumo de energia pelos brasileiros fica em 1.484kg de equivalentes do petróleo ao ano, estando atrás até da Turquia. Isso significa, pelo que eu disse aqui, que um canadense gasta cinco vezes mais combustível do que um brasileiro.
O consumo na Noruega – e notem só que a Noruega tem 5 milhões de habitantes, o dobro de Manaus – per capita corresponde praticamente a quatro vezes o do Brasil. E nós estamos falando do Brasil continente, duzentos e poucos milhões de habitantes. Estamos falando de uma Alemanha, de uma Noruega, de uma França. O Canadá tem 37 milhões de pessoas. A Noruega, 5,3 milhões. E nós já temos 210 milhões, 220 milhões. E nós ficamos sofrendo essas pressões de ativistas estrangeiros sobre o que nós devemos fazer.
E eu aproveito aqui semanalmente para falar para o brasileiro, para falar para a brasileira: não sintam vergonha. Nós não temos as nódoas ambientais que eles querem nos impor. Nós não carregamos sobre nossos ombros e peito os pecados ambientais que eles carregam. É preciso ter orgulho de ser brasileiro. E nós temos dados, para que você saiba, orgulhe-se e combata essas mentiras.
Apesar de eventuais desmatamentos ocorridos nos últimos 30 anos no Brasil, somos um dos países que mais preservam. Nós contamos com 69,4% de nossas florestas originais, aí incluída toda a vegetação, e a Mata Atlântica vai junto também. Na Amazônia, de onde venho, a preservação é ainda maior: 83% preservados. A Amazônia, que o Papa – o meu Papa, sou católico – diz que está em chamas, está sendo devastada, tem preservados 83%. E essa preservação, que deveria ser motivo de elogio, Senador Girão, é motivo de crítica. E, se a gente comparar, dos 100% das florestas originais, a África mantém 7,8%; a América Central, apenas 9,7%; a Ásia, 5,6%; e a Europa, apenas 0,3% de suas florestas preservadas. Estão reflorestando, mas isso é mais para a questão turística, para a questão de ganhar dinheiro.
A gente costuma citar aqui a França, a Alemanha e a Noruega por conta de sua agressividade ao falar da devastação ambiental na Amazônia. A verdade é que toda a Europa Ocidental já consumiu o que tinha que consumir. Daí eles quererem nos impor as nódoas ambientais que eles têm, os pecados ambientais que eles carregam.
E quero falar para o brasileiro o tempo todo, insistir com o brasileiro o tempo todo que nós somos motivo de orgulho por preservar a nossa floresta e não motivo de vergonha.
Olha outro dado aqui. Há 8 mil anos, o Brasil possuía 9,8% das florestas mundiais. Olha só, Girão, há 8 mil anos nós representávamos 9,8% das florestas mundiais. Como os demais devastaram essas áreas, mas nós as defendemos, essa proporção só aumentou. Hoje, o Brasil detém 28,3% do total das florestas. Eles derrubam a deles e querem que a gente mantenha a nossa em pé. Em compensação, eles gastam muito mais energia, a renda per capita é muito maior, a qualidade de vida é bem melhor. Por quê? Porque eles fazem uso dos recursos naturais, desses mesmos recursos naturais que eu ouvi um dia desses um cientista estrangeiro dizer que são uma dádiva divina e que por serem uma dádiva divina têm que ser preservados para o bem das espécies. É uma dádiva divina, sim, mas tem que ser usada por nós. Essa dádiva foi concedida a nós, amazônidas, a nós, brasileiros. E, se esse desflorestamento prosseguir no ritmo em que vai, logo, logo o Brasil vai estar com metade das florestas do mundo inteiro.
E nós somos criticados diariamente. E a gente é motivo, eu diria, de chacota mesmo, porque querem nos impor o carimbo da irresponsabilidade, ou seja, que nós, brasileiros, não somos responsáveis o suficiente para tomar conta da floresta. Por isso eles querem sempre estarem intervindo, seja com ideias... Daí a minha insistência, todos os dias aqui, Rogério, todos os dias aqui, Marcelo, insistindo sempre, sempre: temos que instalar a CPI para investigar essas ONGs na Amazônia. Isso depende agora, única e exclusivamente, de o Presidente Davi Alcolumbre ler o requerimento que foi assinado por mais de 30 Senadores. Aí nós vamos separar o joio do trigo, o trigo do joio, valorizar o trigo e jogar o joio no lixo.
Eu insisto aqui, Presidente, eu brigo aqui e digo todos os dias da questão ambiental, da questão, particularmente, que diz respeito à Amazônia. O que eu quero, o que eu brigo, o que eu luto e o que eu prego aqui: menos ideologia, menos política e mais racionalidade quando se discutir a questão ambiental no País; menos hipocrisia e mais seriedade; menos cretinice e mais compromisso. É isso que eu vou continuar aqui fazendo todos os dias, todos os dias, sem me importar,...
(Soa a campainha.)
O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - AM) – ... se sou chato ou não, inconveniente ou não, desafiador ou não. Isso não me importa; o que me importa é o recado que eu trouxe do meu Estado do Amazonas; o que me importa, Presidente, é a fala, é o recado que a gente tem que transmitir aqui todos os dias.
Brasileiro, brasileira, não sintam vergonha da questão ambiental neste País. Nós não somos motivo de críticas sérias. O que querem é nos impingir nódoas e pecados que não são nossos. Por isso, não podemos assumir essa responsabilidade. Eu quero que você brasileiro, eu quero que você brasileira conheçam a Amazônia. Conhecendo a Amazônia, você vai respeitar; e, respeitando, você vai cuidar.
O Sr. Marcos Rogério (Bloco Parlamentar Vanguarda/DEM - RO) – Senador.
O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - AM) – Eu aceito o seu aparte, Senador, com o maior prazer.
O Sr. Marcos Rogério (Bloco Parlamentar Vanguarda/DEM - RO. Para apartear.) – Senador Plínio, eu queria apenas fazer uso do aparte neste momento para cumprimentar V. Exa., que sempre que sobe à tribuna para falar de temas relacionados à nossa Amazônia e o faz com absoluta competência e com absoluto zelo, com dados, números, evidências, na defesa da nossa soberania nacional e na defesa das nossas condições regionais, dos amazônidas, dos mais de 20 milhões de brasileiros que vivem na Amazônia. Então, eu queria ressaltar, mais uma vez, o acerto da fala de V. Exa.
O Brasil vive um período de absoluto preconceito contra a Amazônia, lamentavelmente. É muito simpático para qualquer ator global, em qualquer parte do mundo, rotular a Amazônia, rotular o amazônida, como se está fazendo agora. Olham para a Amazônia sem conhecer a Amazônia, sem conhecer a realidade e fazem este enquadramento imaginário: a Amazônia pegando fogo, a Amazônia em chamas. Desconhecem a Amazônia. Quem conhece a Amazônia é quem vive na Amazônia, é quem defende a Amazônia.
E nenhum de nós aqui é defensor de qualquer tipo de ato criminoso, de ato ilegal. Defendemos uma Amazônia sustentável, equilibrada, mas que reconheça a importância de sua gente, que foi para lá estimulada pelo Brasil Central, para cuidar. Integrar para não entregar era um desafio, era um chamamento. E hoje querem tratar como criminosos.
Não vejo essa mesma veemência, essa mesma condenação em relação ao que está se dando, inclusive, hoje no Nordeste. E olha o prejuízo econômico, social e ambiental que estamos vivenciando, tão lamentável quanto o derramamento de óleo no mar daquela região. Mas você não vê as ONGs internacionais, você não vê Macron falando nada disso, você não vê nenhum outro ator global fazendo esse mesmo enfrentamento em razão de um dano ambiental...
(Soa a campainha.)
O Sr. Marcos Rogério (Bloco Parlamentar Vanguarda/DEM - RO) – ... de proporções ainda desconhecidas. Mas se é da Amazônia, o preconceito não está só na vista e na fala, parece-me que está no coração. Lamento isso.
Eu queria fazer uso da palavra neste momento para, mais uma vez, ressaltar o acerto da fala de V. Exa. na defesa da Amazônia e dos amazônidas.
Muito obrigado.
O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - AM) – Obrigado, Senador Marcos Rogério. O senhor, que é tão amazônida quanto eu, sabe da revolta e do compromisso que todos nós temos e faz esclarecer a verdade.
Eu encerro já, Sr. Presidente, dizendo que, outro dia, 40 cientistas, inclusive brasileiros, assinaram um documento alertando para o perigo de extinção da floresta e do povo da Amazônia, ou seja, eles querem nos colocar na situação da ararinha azul e do mico-leão-dourado, porque o homem da Amazônia está em risco de extinção. Então, vamos lá, aí nos igualam à ararinha azul e ao mico-leão-dourado. E há ainda uma cientista renomada que afirmou agora que, daqui a dois anos, haverá uma hecatombe na Amazônia, que a Amazônia vai sumir daqui a dois anos. Eu não a chamei de idiota porque quero deixar para chamá-la de idiota daqui a dois anos quando não acontecer.
O Sr. Marcos Rogério (Bloco Parlamentar Vanguarda/DEM - RO) – É uma destrambelhada.
O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - AM) – Sim.
Eu fico encantado é com a valorização que se dá a esse tipo de declaração.
Foi agora esse que era do Inpe, que foi exonerado outro dia, lá a Manaus e deu uma palestra, onde afirmou que nós políticos amazonenses estávamos inventando mentiras quando dizíamos que a floresta estaria preservada por causa da Zona Franca – de graça. Claro que ele foi lá mandado, que ele foi lá dirigido, condicionado por alguém. E eu o chamei de imbecil, porque ele é um imbecil. Aí eu já posso provar que ele é um imbecil, porque o que preservou...
(Soa a campainha.)
O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - AM) – ... a nossa floresta, se não foi...
Já encerro, Presidente. Só mais 30 segundos.
Quando a Zona Franca foi criada, não foi no sentido de: "Ah, vamos preservar a floresta". Não foi nada disso, não! A Zona Franca foi criada para tirar a Amazônia do isolamento, levar políticas públicas para dar dignidade ao cidadão. Só que, ao ofertar milhares de empregos, esvaziou o interior. E o comerciante local falou: "Caramba! Eu vou empregar o meu dinheiro na indústria e no comércio". Assim, ninguém tocou na floresta, que foi preservada. E o imbecil acha que não é dada disso.
Mas eu não estou aqui, Presidente, para chamar ninguém de imbecil, até porque, se eu fosse falar, eu não faria outra coisa. Eu estou aqui, realmente, para defender a Amazônia, estou aqui para defender o Amazonas, estou aqui para ser um Senador da República ciente da sua responsabilidade. É o que estou fazendo aqui agora.
Obrigado, Presidente.