Discurso durante a 215ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Celebração pelo aniversário do pai de S. Exa., o ex-Presidente do Senado Ramez Tebet, que se estivesse vivo completaria 83 anos. Referência a políticos que tinham um perfil conciliador e reflexão sobre a necessidade de pessoas públicas com esse temperamento para a busca de uma solução democrática para o atual cenário de crise no País.

Autor
Simone Tebet (MDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Simone Nassar Tebet
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Celebração pelo aniversário do pai de S. Exa., o ex-Presidente do Senado Ramez Tebet, que se estivesse vivo completaria 83 anos. Referência a políticos que tinham um perfil conciliador e reflexão sobre a necessidade de pessoas públicas com esse temperamento para a busca de uma solução democrática para o atual cenário de crise no País.
Aparteantes
Humberto Costa, Izalci Lucas, Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 08/11/2019 - Página 25
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, CELEBRAÇÃO, ANIVERSARIO, PAI, ORADOR, EX PRESIDENTE, SENADO, RAMEZ TEBET, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS).
  • COMENTARIO, NECESSIDADE, PESSOAS, QUALIDADE, CONCILIAÇÃO, SOLUÇÃO, DEMOCRACIA, SITUAÇÃO, CRISE, BRASIL.

    A SRA. SIMONE TEBET (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - MS. Para discursar.) – Sr. Presidente, Senador Izalci, Sras. e Srs. Senadores, ocupo hoje esta tribuna, porque hoje, dia 7 de novembro, é o dia do aniversário do meu pai, o ex-Senador, o ex-Presidente do Senado Ramez Tebet. É muito difícil para todos nós que, como eu, já vimos nossos pais em despedida falar deles conjugando o verbo no tempo pretérito, no tempo passado. Por isso, para mim, meu pai não fez, ou não faria, mas faz hoje 83 anos de idade, vivo não só na minha memória, mas também na minha saudade.

    Eu tenho para mim que, quando falamos dos nossos pais ou com os nossos pais, nunca há uma discordância verbal. Nossos pais sempre são o sujeito do texto das nossas vidas e se verbalizam em todos os tempos. Nossos pais foram, são e serão sempre.

    Na partida física do meu pai, eu confesso que deixei de caminhar lado a lado com ele, seguindo seus passos, para agora seguir os seus rastros. Por isso, eu procurei, como todo dia do seu aniversário eu faço, tentar trazê-lo à memória através de um fato, um episódio. Hoje amanheci e, buscando nos arquivos, achei o dia, talvez o último dele, em que ele foi, nesta mesma Casa, no Plenário do Senado, homenageado pelos seus pares. Das palavras escritas que estavam ali no texto, eu me dei conta da existência de muitos adjetivos, quase que um dicionário, um verdadeiro dicionário de bons sentimentos. Trago aqui alguns deles. Todas essas palavras e esses adjetivos foram ditos ali naquele momento como uma homenagem singela. As palavras que mais me chamaram atenção: prudência, consenso, coragem, desafio, luta, amizade, fraternidade, justiça.

    Creio que poderia escolher qualquer um desses adjetivos para defini-lo, mas, justamente porque procuro seguir os seus rastros, é que procurei trazer hoje, ocupando esta tribuna, coisa que nunca fiz em nenhum dia desde os primeiros dias em que aqui estive, o que me chamou mais atenção, de todos os adjetivos, que foi o que talvez seja o mais fundamental e necessário neste País e que eu resumo no termo conciliação. A todo momento, via no que estava transcrito, dito pelos seus colegas: "O Senador Ramez Tebet é um pacificador, é um homem de conciliação".

    Nunca o Brasil precisou tanto que essa palavra dita seja transformada em ação. O Brasil está dividido por muros, em especial o da desigualdade social – os últimos dados do IBGE apontam que passamos a um número recorde de miseráveis: são agora 14,5 milhões de brasileiros na miséria, vivendo ou melhor morrendo dia a dia – ou o muro do desemprego, pois são 12,4 milhões a quem não mais se permite sequer ganhar o pão com o suor do seu trabalho. E é sabedora de tudo isso que hoje venho a esta tribuna, não para lembrar que meu pai estaria ou está comemorando 83 anos, mas para lembrar que homens como ele não fazem apenas falta a mim, fazem falta ao Brasil.

    E aqui gostaria de lembrar de homens que passaram não só pelo Senado, mas pelo Congresso Nacional e que tinham o mesmo perfil. Refiro-me a Teotônio Vilela, a Tancredo Neves, a Ulysses Guimarães, a Mário Covas, a Itamar Franco, a Franco Montoro. E, me perdoem, em nome deles, faço referência aqui a todos os homens e mulheres públicos que tinham esse perfil conciliador, que sabiam derrubar muros e fincavam sempre a bandeira da conciliação.

    Digo isso neste momento em que vemos o País e o Congresso Nacional se atacando mutuamente. Os ataques não são mais apenas verbais, não são mais os ataques no campo das ideias ou os ataques no campo ideológico, Senador Paulo Paim; são ataques pessoais e verbais nas redes sociais e até mesmo físicos nos gabinetes, nos corredores e nos plenários dos Parlamentos brasileiros. São palavras ditas que não condizem com o decoro e até com a boa educação não só de um homem público que foi eleito para servir o povo e para representá-lo, mas de quem quer que seja.

    Neste momento difícil do País, nós ainda temos que resolver os nossos problemas e temos ainda que conversar e dialogar para que possamos entrar num amplo consenso, numa ampla conciliação, para que possamos, a partir daí, retomar uma agenda propositiva para o País.

    Hoje, eu utilizo estas breves palavras, Senador Izalci – volto a repetir –, não para lembrar a figura de meu pai, mas para lembrar o exemplo de homens públicos que citei aqui entre tantos, porque hoje há uma lacuna, há um eco neste Plenário, há um eco nos corredores do Congresso Nacional, há um eco nos gabinetes que precisa ser preenchido por todos nós. Das palavras daqueles que emprestaram as suas vidas pelo Brasil e pelos brasileiros, que possamos transformar essas palavras, Senador Humberto, em ação. Vamos deixar as nossas diferenças de lado. Vamos partir para a ação antes que seja tarde demais.

    Finalizo lembrando que, se de tudo o que disse...

    Com o maior prazer, Senador Humberto. É um prazer ouvi-lo.

    O Sr. Humberto Costa (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE. Para apartear.) – Senadora Simone Tebet, quero inicialmente parabenizá-la pelo pronunciamento em que, na sua condição de filha, presta essa homenagem ao ex-Senador Ramez Tebet. Quero aqui me associar a essa homenagem também.

    Não tive oportunidade de conviver diretamente com ele, porque, à época em que ele era aqui Senador, eu era Deputado Federal, e as duas Casas não tinham como não têm uma grande comunicação, e, em outros períodos, eu desenvolvi outras atividades no Governo do Estado de Pernambuco. E, na condição também de alguém que já perdeu o pai, eu entendo o sentimento de V. Exa. Reconheço aqui o político que foi Ramez Tebet e as suas características, particularmente essa que V. Exa. resgata hoje, e resgata com muita propriedade, observando o que acontece hoje no nosso Parlamento – é lógico que não é só no Parlamento, mas no Parlamento em especial.

    Eu hoje fazia uma reunião com os meus assessores para conversar um pouco, inclusive sobre notícias falsas, redes sociais, ataques que todos nós já sofremos – eu, no momento, sou uma das bolas da vez –, e eu lembrava que o nível, infelizmente, do Parlamento piorou muito. Eu fui Deputado numa época em que eram Parlamentares – eu vou falar só dos que eram contra a minha opinião, contra a minha posição – Luís Eduardo Magalhães, Gerson Peres, Inocêncio Oliveira, o próprio Aécio Neves, Marconi Perillo. E nós tínhamos um nível de debate, naquela época, na Câmara dos Deputados, que era uma coisa totalmente diferenciada. Apesar das inúmeras e enormes divergências, existia o respeito, existia a cordialidade, existia o entendimento de que o Parlamento é um espaço de disputa, mas é um espaço de entendimento, de respeito, de compreensão. Hoje, infelizmente, isso não acontece.

    Graças a Deus, aqui no Senado, a coisa é um pouco melhor, não sei se é porque aqui nós temos mais liberdade para falar, mais tempo para falar, e lá eles têm que ficar brigando por um espaço e tal... Aquilo a que assistimos é uma coisa realmente... Antigamente, quando alguém se excedia, ficava irritado ou agredia alguém, isso era notícia nacional. Agora, é o contrário: se alguém agir com serenidade, com tranquilidade, pode ser que vire notícia nacional! Aqui, às vezes, a gente até recebe alguém que veio de lá ou que veio de outro lugar achando que, se fizer do mesmo jeito aqui, aqui vai se contaminar, mas, felizmente, parece que aqui é mais difícil isso acontecer – não sei qual é a razão.

    É muito importante este registro, inclusive resgatando que o Senador Ramez Tebet foi uma pessoa que se caracterizou por essa prática. Concordo com V. Exa.: o Brasil está precisando de pessoas que ajudem a produzir entendimento, a gerar conciliação. Como tal, não somente eu quero parabenizá-la, mas também aqui externar o meu respeito a ele, que foi um grande político brasileiro.

    Muito obrigado.

    A SRA. SIMONE TEBET (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - MS) – Agradeço as palavras, Senador Humberto. Gostaria de me solidarizar com V. Exa. em relação aos ataques que V. Exa. diz que está sofrendo.

    Quero lembrar que, numa democracia – e esta é a beleza da democracia –, nós podemos, como expressa a frase que dizem que é de Voltaire e que nós soubemos, agora, recentemente, que não o é, fruto de estudos de historiadores, discordar de absolutamente tudo que V. Exa. diz ou pensa, mas vou defender até a morte o direito de V. Exa. dizer. É essa a beleza da democracia. É isso que faz um país verdadeiramente democrático avançar, porque ninguém é dono da verdade, nenhuma ideologia o é. Nós não temos só coisas boas na direita ou só coisas ruins na direita e vice-versa. É um somatório a favor do País que vai levar o Brasil, que tem essa desigualdade vergonhosa, a encontrar o seu destino, que é o destino de um país que nasceu para ser grande, para ser rico. E ele é grande e rico, mas jamais será fraterno e solidário enquanto essa riqueza não for compartilhada com todos, não for compartilhada com muitos.

    É um prazer muito grande ouvir o Senador Paulo Paim.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para apartear.) – Senadora Simone Tebet, primeiro, eu queria dizer que o seu discurso de hoje, além de ser um discurso de estadista – permita que eu o diga –, está à altura do seu pai. Eu convivi com ele e aprendi a respeitá-lo muito, muito, muito. Eu sou da época deste público que está lá no alto e ao qual V. Exa. se referiu, Covas, Ulysses, Tancredo, porque eu estava no Parlamento naquela época.

    Quero dizer que V. Exa. tem toda a autoridade para chamar a todos – ouvi a palavra "conciliação", que a senhora falou –, para que esta Casa reflita – esta Casa, que eu digo, é o Congresso Nacional –, para que a democracia reflita, para que o Executivo reflita, para que o Judiciário reflita e para que o Legislativo reflita. Eu concordo plenamente com o seu pronunciamento.

    Essa questão de querer desconstituir o outro, pessoalmente, e não fazer o debate das causas é uma política de fato de terra arrasada, para não usar outro termo mais pesado, até para ficar à altura ou próximo do seu pronunciamento. O Parlamento é parlar, é falar, é dialogar, é procurar um entendimento. E eu sinto que falta muito isso. Eu cheguei, numa oportunidade, a dizer que eu sinto falta do centrão da Constituinte. Com o centrão da Constituinte, nós dialogamos, e, por isso, surgiu a Constituição Cidadã.

    Enfim, eu não quero eu falar, quero só dizer que eu tinha um carinho muito grande pelo seu pai. Ele cansou de me receber quando ele era Presidente do Senado. Eu já lhe disse e repito que havia um problema gravíssimo no Rio Grande do Sul com os estudantes sobre um projeto que nós tínhamos aprovado aqui, eu tinha defendido e ele também, e ele disse: "Paim marca dia e hora com eles que eu vou lá". Repito isso. Ele foi, ganhou os estudantes, ganhou a mim, ganhou a todos.

    Enfim, V. Exa. é uma estadista. Seu pai foi um grande estadista e jamais será esquecido por todos nós.

    Parabéns.

    A SRA. SIMONE TEBET (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - MS) – Obrigada, Senador Paulo Paim. Eu agradeço.

    Eu ia finalizar com uma palavra que V. Exa. acabou de dizer. Obviamente, como eu disse, esta não é uma homenagem, pois eu trouxe a memória do meu pai neste dia, porque senti a necessidade de dizer hoje, da tribuna do Senado Federal ao País, que esses muros que dividem, as desavenças, inclusive, que dividem hoje o seio familiar e que acontecem hoje, inclusive, dentro do Congresso Nacional, precisam urgentemente chegar ao final. E essa mudança de postura depende de nós. Nós somos o exemplo, nós somos um espelho, nós somos a caixa de ressonância da sociedade. Que nós possamos voltar a honrar homens públicos da envergadura de Ruy Barbosa e de tantos que eu mencionei, fazendo aquilo que é o nosso dever. Eu ia finalizar exatamente falando da importância e do papel do centro democrático, não desse centrão do Congresso Nacional ou da Câmara dos Deputados, mas do centro democrático, que abriga, como abrigou no passado, na época da ditadura... E, sim, houve ditadura no País; sim, a ditadura fez mortos e desaparecidos; sim, na ditadura, não se tinha o direito de falar, não se tinha liberdade de ir e vir. O AI-5, de todos os atos institucionais, foi o mais criminoso, temerário e medonho que talvez tenha sido editado não só no Brasil, mas nas democracias que, por um tempo, por um lapso, deixaram de conviver com esse período. Nós não tínhamos o direito sequer a um advogado a nos defender, quando éramos presos, porque houve a suspensão do HC. Então, neste momento, como no passado, com um centro democrático que abraçou e abrigou todas as correntes ideológicas que se dispuseram naquele momento contra as barbáries cometidas, é importante que o centro democrático possa voltar a existir para dialogar, para ajudar o Governo, o País, para que nós possamos honrar o mandato e que a população possa voltar a acreditar na classe política e na política brasileira.

    Aqui eu disse – Senador Izalci, eu realmente encerro –, aqui eu citei uma série de atributos que foram dados ao meu pai. Mas eu quero dizer que há um em particular que eu não vi na ata escrita. Com isso, eu quero finalizar.

    Meu pai tinha uma particularidade. Quando ele precisava pensar, quando ele estava preocupado, ele andava nos corredores do Senado, especialmente no Túnel do Tempo, assobiando. Alguns diziam que era desafinado. Mas até nisso ele era conciliador. O que são notas desafinadas? São várias notas que estão ali pensando, comungando de forma diferente.

    Que nós possamos, neste momento em que o País precisa, repito, ser, cada um de nós, deixando de lado um pouquinho dos nossos radicalismos, um pouquinho conciliadores a favor do País, especialmente daqueles que mais precisam.

    Muito obrigado, Senador Izalci.

    O SR. PRESIDENTE (Izalci Lucas. Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - DF. Para apartear.) – Eu não poderia, Senadora Simone, deixar de não só elogiar o discurso de V. Exa., mas sempre de lembrar o quanto Brasília deve a seu pai. Foi ele quem instituiu, na última semana, o Fundo Constitucional. Então, se hoje nós temos segurança jurídica, recursos para pagar a segurança ou parte da educação e a saúde, devemos muito ao seu pai.

    Então, parabéns a V. Exa.!

    A SRA. SIMONE TEBET (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - MS) – Eu é que agradeço.

    Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/11/2019 - Página 25