Discurso durante a 221ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Protesto contra os discursos midiáticos que enfatizam o desmatamento na Amazônia e menosprezam as precárias condições de vida das populações locais, como os altos índices de mortalidade infantil.

Autor
Plínio Valério (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Francisco Plínio Valério Tomaz
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MEIO AMBIENTE:
  • Protesto contra os discursos midiáticos que enfatizam o desmatamento na Amazônia e menosprezam as precárias condições de vida das populações locais, como os altos índices de mortalidade infantil.
Publicação
Publicação no DSF de 20/11/2019 - Página 55
Assunto
Outros > MEIO AMBIENTE
Indexação
  • PROTESTO, MOTIVO, DISCURSO, ASSUNTO, MEIO AMBIENTE, DESMATAMENTO, REGIÃO AMAZONICA, DESTAQUE, PRECARIEDADE, SITUAÇÃO, POPULAÇÃO, HABITANTE, LOCAL, FLORESTA AMAZONICA, ENFASE, INDICE, QUANTIDADE, MORTALIDADE INFANTIL.

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - AM. Para discursar.) – Obrigado, Presidente. Quero saudar a turma da galeria.

    Presidente, Sras. e Srs. Senadores, o meu compromisso assumido com a Amazônia me retira qualquer medo de ser mal interpretado, de ser criticado, de ser considerado chato. Eu tenho um compromisso muito grande com a Amazônia e, com o que vou dizer aqui, não quero, Senadores e Senadoras, minimizar nenhum assunto, nem maximizar outro assunto. Estou falando de um relatório do Inpe, que saiu hoje e que diz que o desmatamento na Amazônia bate recorde e cresce 29,5% em 12 meses.

    Eu leio aqui também o relatório do Unicef que diz que a Amazônia, de todos os lugares no planeta, no País, é o pior lugar para a criança viver. Por que quero fazer esse paralelo, Senador Esperidião Amin? Porque o desmatamento da Amazônia, com os dados, que não estão concluídos e que podem até ser verdadeiros, ganha manchete nas redações de televisão, nos grandes jornais, nos sites. A Amazônia entra no foco de novo, e nós amazônidas passamos novamente a sermos vilões, como se a gente estivesse desmatando a Amazônia nessa histeria coletiva que se espalha.

    Eu não quero entrar no mérito se aumentou ou não aumentou, de quanto foi ou quanto não foi, se é verdadeiro ou se não é; eu quero colocar aqui, Senadores, para tentar igualar. Eu não quero que um se sobreponha ao outro, mas, sim, tentar igualar.

    O que é mais importante? O Inpe divulga que foram destruídos 9.762 quilômetros quadrados de floresta – isso em agosto de 2018 para 2019. O Unicef, uma das mais respeitadas entidades internacionais, voltada para os grandes desafios sociais, diz o seguinte: 9 milhões de crianças vivem na Amazônia Legal, e os indicadores apontam que, nos nove Estados que compõem a região, cerca de 43% das crianças e dos adolescentes vivem em domicílios com renda per capita insuficiente para adquirir uma cesta básica.

    Eu disse isso aqui desta tribuna: o Unicef fez um relatório internacional, mas não tivemos uma nota em nenhum site, em nenhuma revista, em nenhum grande jornal. Não estou querendo que divulguem o meu discurso, estou querendo que divulguem os dados do Unicef, que são dados estarrecedores.

    Em 2016, 1.225 crianças morreram antes de completar um ano, Senador Lasier, no meu Estado do Amazonas – 1.225 crianças morreram antes de completar um ano no Amazonas. E os dados só pioram. Esta afirmação está aspeada: "A Amazônia é o pior lugar do Brasil para ser criança", Unicef conclui.

    Tudo isso confirma a convicção que tenho e que já tive a oportunidade de dizer aqui nesta tribuna: sem condições sociais, não há preservação ambiental. Entendam isso, de uma vez por todas! Não adianta manter a floresta em pé, se não há políticas sociais para o ser humano. Entendam isso! Pesquisadores, cientistas... O saber não vale nada, se não for acompanhado do bom senso. E o bom senso e a razão nos dizem isso. O próprio Unicef, no relatório, admite: "Não vai dar para salvar o meio ambiente sem preservar a população local, cada vez mais vulnerável e dependendo de benefícios sociais". Aqui não se trata apenas da Amazônia; essa questão social está no País inteiro. Preservar a floresta, sim, mas não se pode preservar a floresta, Presidente, com o sacrifício das populações.

    Esse relatório do Unicef recebeu o nome de "Agenda pela Infância e Adolescência da Amazônia". Esses dados, que eu chamo de estarrecedores, nos dizem o seguinte:

Também é na Amazônia Legal [essa Amazônia que os cientistas querem preservar, essa Amazônia cujos dados o Inpe divulga sem concluir, para causar essa histeria toda no mundo, em Hollywood, em Ipanema, principalmente] que o assassinato de jovens e adolescentes aumenta em ritmo mais acelerado no País. Entre 2007 e 2017, o número de homicídios de jovens cresceu acima da média nacional [...]. Enquanto o homicídio de jovens de 15 a 19 anos aumentou 35% no Brasil na década, [na região] avançou [...] no Acre, 312%; Amapá, 107%; Amazonas, 117%.

    Esses são os dados do Unicef.

    E aqui são os dados do Inpe. A floresta merece toda a consideração e o espaço do mundo. As crianças que morrem na Amazônia antes de completar um ano não merecem linha nenhuma, Senador. Não adianta a gente cobrar, ou melhor, adianta, porque a minha teimosia, o meu compromisso com a Amazônia vai ser colocado aqui sempre. Essa história de que o destino nos espera... A gente tem que ir ao encontro do destino. A Amazônia tem que ser conhecida por vocês, brasileiros. O brasileiro, a brasileira precisa conhecer a Amazônia, porque, se conhecer, vai admirar, vai respeitar, vai amar e vai defender.

    Tudo merece manchete. Está aqui a do Inpe: houve aumento de 29% em relação aos 12 meses passados, mas há desmatamentos legais dos projetos. Mas é verdade. Está bem! Suponhamos que seja verdade: o Inpe está certo; a situação merece esse escândalo. Por que o relatório do Unicef não merece? Por que o registro de 1,2 mil crianças mortas antes de completar um ano não merece destaque?

    Por que 43% dos lares onde há crianças não terem condições de comprar uma cesta básica não merece destaque? Por que isso é trocado pelo desmatamento, pela floresta em pé?

    Estou aqui fazendo apologia ao desmatamento? Claro que não! Claro que não! Estou aqui querendo igualar a importância do desmatamento com a importância das políticas sociais para a Amazônia, o Estado de onde eu venho, o Amazonas.

    Não adianta! Eu vou insistir. Não adianta! Enquanto não entenderem que a preservação ambiental está associada umbilicalmente à questão social, as coisas não vão melhorar.

    Eu encerro aqui, Senador Lucas, falando da hipocrisia do Canadá, da hipocrisia da Noruega, da hipocrisia da Alemanha, e vou demonstrar. Eles nos criticam, querem a floresta em pé por causa do oxigênio, a gente não mexe muito no petróleo, a gente não mexe muito nisso... Pois bem: o maior gastador de energia movida pelo petróleo é o Canadá, que tem pouco mais de 30 milhões de habitantes e gasta cinco vezes mais petróleo que o Brasil, que tem 210 milhões de pessoas. A Noruega, que tem cinco milhões de pessoas e quer nos dar lições de como preservar, gasta três vezes mais petróleo do que nós gastamos. E assim por diante: a Alemanha, duas vezes mais. E a gente, aqui, sendo sempre submetido ao comando desse pessoal, dessas ONGs internacionais que querem ditar o nosso modo de vida, o nosso modo de ser.

    Portanto, fica aqui a voz deste Senador do Amazonas a dizer sempre, sempre, dessa injustiça, dessa cegueira que toma conta dos brasileiros que seguem os modismos, dos brasileiros que não se libertaram ainda do complexo do colonizado, dos brasileiros que aceitam que tudo do exterior é melhor.

    Fica aqui o nosso protesto. Eu não vou nunca, nunca, Presidente, permitir que a flor da mentira espalhe as suas pétalas sobre nossas cabeças. Mentira, mentira e mentira! A verdade, assim, fica secundária, fica para escanteio.

    Como é que eu posso... São 9 milhões de crianças, das quais 43% os pais não têm sequer dinheiro para comprar uma cesta básica, Senador Paim. E querem nos condenar quando se desmata alguma coisa.

    Encerro dizendo: isso aqui não é apologia ao desmatamento, isso aqui não é desconhecimento de que a floresta em pé é importante, mas eu quero que se dê a mesma importância, a mesma verdade para o povo da floresta que vive em condições subumanas.

    E os índios, para quem eles demarcam tantas áreas? E os índios, em nome de quem eles tanto falam? Em Manaus há entre 40 a 50 mil indígenas vivendo em condições subumanas – índios que vieram das reservas, onde há ouro, onde há prata, onde há nióbio, onde há tudo, mas eles não têm políticas públicas, não têm educação, não têm saúde, não têm transporte.

    É muito bonito, em Ipanema, a gente dar razão aos ecologistas. É muito bonito, em Hollywood, criar-se o título de que a Floresta Amazônica está queimando e está sendo devastada. Mas a realidade é outra, e essa realidade, à qual eu pertenço, me manda dizer a vocês: não é justo, não é justo!

    São 1,2 mil crianças que morrem todos os anos antes de...

(Soa a campainha.)

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - AM) – ... completarem um ano. E a gente não vê uma linha. Os senhores e as senhoras não virão uma linha sobre este meu discurso amanhã em lugar nenhum, porque não interessa.

    Agora fosse eu falar de desmatamento no meu Estado, fosse falar de devastação, de queimada no meu Estado, aí, sim, aí a gente ia para os grandes jornais.

    Mas a mim não importa. Quando eu assumi o compromisso com o Senado, com a Nação, eu me desfiz de toda e qualquer vaidade. E o mandato do Senado, a benção divina, a benção de Deus que eu recebi, estou aqui, me faz vir sempre, falar sempre da mesma coisa, da mesma verdade, e dessa comparação.

    Deixa eu dar mais um dado, Presidente, me permita, e encerro o discurso. Encerro o discurso já em seguida.

    Falei da Noruega...

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – V. Exa. tem cinco minutos.

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - AM) – Obrigado, Paim.

    Falei do cinismo, da hipocrisia da Noruega, da Alemanha e do Canadá, que querem...

    O Canadá, que mexe com o nióbio... A Europa toda – não é o Canadá – não tem nem 2% preservado. O Canadá, que mexe com o nióbio, está lá no alto do Rio Negro, no Amazonas, que é onde há a maior reserva de nióbio do mundo! Eu não posso entrar, o caboclo não pode entrar, mas o turista canadense entra, semanalmente.

    E vão extrair dente, vão cuidar da saúde dos ribeirinhos, coitados! Eles são bons demais! E o complexo de colonizado, Flexa, nos leva sempre a acreditar que eles estão certos e que nós é que estamos errados.

    Em mim não vão, no amazônida não vão colocar nódoas ambientais deles, que não preservaram a floresta deles. Têm pecados ambientais e querem jogar para a gente, como se nós brasileiros não soubéssemos, não tivéssemos a competência, Senador Paim, de cuidar da Amazônia. E nós sabemos cuidar da Amazônia, sim.

    Duas declarações aqui: uma do Governo atual, do Presidente Bolsonaro, e uma do Greenpeace. Dá para fazer isso aqui, Senador Paim, e encerrar, com seu consentimento. São duas afirmações. Está aqui, está na afirmação do desmatamento! Só podia ser lá, no desmatamento.

Como parte dos esforços para conter a destruição na Amazônia, o Ministro Marcos Pontes, da Ciência e Tecnologia, também disse que estuda criar um programa, em conjunto com o Exército, para levar mais cientistas para o bioma. A parceria ajudará, segundo ele, a reduzir os custos da operação e a utilizar as bases já instaladas das Forças Armadas na região. Pontes acredita que ao levar mais pesquisadores para a Amazônia será possível reduzir o desmate.

    O Greenpeace diz, reforça a crítica contra a política ambiental do atual Governo e diz:

A combinação de altas taxas de desmatamento, com a falta de governança [o Greenpeace dizendo que o Brasil não tem governança], sacrifica vidas, coloca o País na contramão da luta contra as mudanças climáticas e traz prejuízos à economia, uma vez que o mercado internacional não quer comprar produtos contaminados por destruição ambiental e violência. [fecha aspas]

    A mesma coisa: um quer levar cientista para lá e outro quer deixar a floresta em pé, culpando o Governo brasileiro. É tudo a mesma coisa, tudo peça da mesma engrenagem, tudo dentro da mesma mão. O índio, a Amazônia não precisa de tutores. Não precisa. O homem da Amazônia tem todo o direito do planeta de poder usar os seus recursos, os seus bens naturais, para sobreviver deles, para viver deles, para sustentar a sua família com dignidade e não com esmola.

    A Noruega, a Alemanha querem nos dar esmola, querem mandar dinheiro para o Fundo Amazônia para ser aplicado, coitadinho, porque o pessoal da Amazônia precisa de ajuda para manter a floresta em pé.

    Senador Paim, 1.226 crianças morrem todos os anos no Amazonas antes de completarem um ano, antes de completarem um ano. E eu não vejo ninguém chorar esse lamento. E eu não vejo ninguém sentir essa dor.

    Por isso, mais uma vez, eu estive aqui para registrar isso, Senador. Este Senador do Amazonas vai estar sempre aqui protestando. Não interessa, não importa se sou chato, se vou sofrer crítica, se sou feio, se sou bonito. O que me importa é o compromisso que assumi com a Amazônia, que me trouxe aqui para falar a verdade. E a verdade nos diz: eles estão mentindo.

    Obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/11/2019 - Página 55