Discurso durante a 229ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexões sobre o Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores, ocorrido no último final de semana.

Autor
Paulo Rocha (PT - Partido dos Trabalhadores/PA)
Nome completo: Paulo Roberto Galvão da Rocha
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Reflexões sobre o Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores, ocorrido no último final de semana.
Publicação
Publicação no DSF de 26/11/2019 - Página 30
Assunto
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • COMENTARIO, ANALISE, REALIZAÇÃO, CONGRESSO, AMBITO NACIONAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).

    O SR. PAULO ROCHA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PA. Para discursar.) – Presidente, todos aqueles que estão nos assistindo, nos ouvindo pelos nossos serviços de comunicação do Senado, eu queria, na verdade, registrar aqui um grande acontecimento, do meu ponto de vista, que se realizou no final de semana, que foi o Congresso do Partido dos Trabalhadores.

    O Partido dos Trabalhadores tem uma história muito ligada à história do Brasil, à história do seu povo, da sua gente, principalmente dos trabalhadores.

    Muitos não gostam do PT, outros odeiam, mas temos de reconhecer – e sermos reconhecidos – que nós hoje, há um pouco mais de 40 anos, fazemos parte da história mundial, inclusive da libertação da classe trabalhadora neste mundo, principalmente no nosso País.

    O Partido dos Trabalhadores nasceu a partir da concepção de que, depois de 500 anos de dominação do nosso País... E este País já nasceu sob a dominação de uma metrópole, que usou, inclusive, o instrumento do trabalho escravo – e para isso foi buscar negros na África – para dominar este pedaço do mundo; aliás, um dos pedaços mais ricos do mundo.

    Aqui há tudo para sermos um país desenvolvido, com justiça social, com dignidade para o seu povo, com paz, mas essa riqueza serviu para constituir uma classe dominante, uma casta da elite mundial que se aproveitou desses recursos para, cada vez mais, acumular riqueza em suas mãos. Por isso, essa diferença entre ricos e pobres, entre regiões mais desenvolvidas e menos desenvolvidas.

    É um absurdo, Senador Paulo Paim! V. Exa., aqui em seu discurso, se referiu a que o Brasil, hoje, é um dos maiores concentradores de riqueza nas mãos de poucos. É o número um do mundo! E isso graças a essa visão dessa classe dominante, que usou o seu poder econômico, político, de dominação para se transformar nisso.

    Foi a nossa geração que construiu instrumentos para enfrentar essa desigualdade. Embora aproveitando experiências de outros momentos também em que os trabalhadores se organizaram em partidos, em movimentos sociais e sindicais, foi a nossa geração que construiu instrumentos mais eficientes e mais eficazes para, na mão do povo, na mão dos trabalhadores, fazer as transformações que nós precisamos ainda fazer neste País.

    Foi a partir do ronco das fábricas, das roças, dos locais de trabalho, das lutas nos bairros que veio um processo de organização do povo. Primeiro, na luta sindical. Somos aqui dois Senadores, eu e o Senador Paulo Paim, que viemos dessa história, dessa luta; nós que viemos de dentro da fábrica. E foi a partir dessa organização de base, dessa consciência dos trabalhadores mais simples e mais explorados que tomamos a consciência de que era preciso nos unirmos, nos organizarmos e construir instrumentos para conquistar não só a nossa independência, a nossa libertação, mas também justiça, paz e dignidade para todos. Construímos o chamado sindicalismo novo, que tinha esta concepção de vir de dentro dos locais de trabalho para transformar, em direções fortes, e levamos também a construir a Central Única dos Trabalhadores.

    Em 28 de agosto de 1983, em São Bernardo do Campo, nós fundamos a Central Única dos Trabalhadores. Qual foi a proposta? A elite brasileira, através das suas leis, permitia que, no máximo, a gente se organizasse como categoria: os gráficos para um lado, os metalúrgicos para outro, os professores para outro, os trabalhadores rurais para outro etc., etc. Mas fomos nós, a nossa geração, que construímos a Central Única dos Trabalhadores, e ali nós deixamos de pensar como categoria e passamos a pensar como classe trabalhadora.

    Não é à toa, Senador Paulo Paim – e a história faz isso, a história é justa com aqueles que lutam –, que V. Exa. se tomou o primeiro Secretário-Geral da Central Única dos Trabalhadores e eu fui o primeiro Vice Norte da CUT. Foi isso que criou as condições para nos organizar e que levou à possibilidade também de nós fundarmos um partido, o chamado Partido dos Trabalhadores, que criou a condições. Ali nós entendemos que não bastava só um sindicalismo forte, mas era preciso também a presença em algum lugar se estivessem decidindo os interesses dos trabalhadores. E resolvemos ocupar todos os espaços. Onde se estivesse discutindo os interesses dos trabalhadores, nós tínhamos que ocupar esse espaço, inclusive a disputa de poder político do País.

    Foi para isso que nós construímos o PT como um instrumento não só de transformação social, mas um instrumento político dos trabalhadores. E não é à toa que estes trabalhadores vêm de dentro da fábrica: hoje, estamos aqui eu e o Senador Paulo Paim como um exemplo desta luta e de consciência dos trabalhadores, e nos transformamos em Senadores da República, para representar aqui neste espaço, que sempre foi só dominado pelos doutores, pela elite... Estamos aqui trazendo a força, a consciência e os interesses dos trabalhadores.

    Por isso, eu queria registrar este grande momento para nós: de que realizamos ontem mais um congresso dos trabalhadores, e num momento difícil para o País, num momento de retrocessos para o nosso País, num momento de destruição do Estado social que nós estávamos construindo, num momento de destruição das nossas instituições, porque foi através da democracia que nós construímos instituições fortes, governos fortes, Judiciário forte e um Parlamento forte; tudo isso está sendo destruído, as conquistas que nós colocamos na Constituição Brasileira – e aí, de novo, o Senador Paulo Paim, foi um daqueles operários que se tornou o primeiro Secretário-Geral da CUT, mas também se tornou Constituinte, porque foi decisão do nosso partido: onde estivessem defendendo os interesses dos trabalhadores, nós estaríamos lá ocupando os espaços. E colocamos, já naquela época, 16 Parlamentares, Deputados Federais como Constituintes. E foi com a nossa história, a nossa luta e a nossa mobilização, a partir da luta sindical, que nós colocamos um conjunto de avanços, de conquistas na Constituição brasileira. E isso, Senador Paulo Paim, está sendo destruído aqui. V. Exa. sempre reflete sobre essa destruição de direitos conquistados, avanços conquistados.

    E fizemos mais na história do País. Fomos nós, foi a nossa geração, foi o Partido dos Trabalhadores que colocou na Presidência da República o primeiro operário a governar o Brasil: Luiz Inácio Lula da Silva. Podem dizer tudo, podem condenar, podem nos prender, mas não se apaga da história que fomos nós, quando Lula chegou ao Governo, que criamos políticas públicas para trazer dignidade para o povo, dignidade para os trabalhadores, que sempre foram esquecidos pela classe dominante. Está aí. Não dá para contar nos dedos das mãos as várias políticas públicas que nós construímos neste País: Luz para Todos; Bolsa Família; Mais Médicos; Minha Casa, Minha Vida; ProUni; mais universidades. Foram criadas condições, através do programa de agricultura familiar, para fortalecer e valorizar a produção da agricultura familiar. Hoje, 70% dos alimentos que chegam à mesa do povo vêm da agricultura familiar, graças a essas políticas de valorização e de investimento na agricultura familiar. Foi através do processo democrático de ter acesso às universidades que, hoje, o jovem mais pobre, o negro e o índio chegam à universidade, porque, antes, era coisa só de filho de ricos, filho de abastados. É isso que transforma o País. É isso que cria as condições de dar dignidade para o nosso povo, para a nossa gente.

    Então, eu queria registrar este momento muito importante para a história da classe trabalhadora e para a história do Partido dos Trabalhadores. Hoje, o Partido dos Trabalhadores é o maior partido e o mais organizado partido do Brasil e da América Latina. É um dos maiores partidos do mundo que defendem os interesses dos trabalhadores. Não é à toa que hoje o companheiro Lula é respeitado. Mesmo sendo perseguido politicamente no nosso País, é respeitado em todo o mundo.

    Por isso, queria registrar esse congresso. Cerca de 600 delegados estiveram presentes para decidir os rumos que o Partido dos Trabalhadores enfrentará nesta conjuntura difícil para o nosso País, para enfrentar um Governo que foi colocado aqui pela elite mundial, pelos interesses do capital financeiro, para entregar a nossa soberania, entregar o nosso patrimônio, tirar direitos do povo e dos trabalhadores.

    Portanto, o Partido dos Trabalhadores, com este congresso, não só se armou para enfrentar este momento difícil do nosso País, como tirou uma nova direção capaz de dar o direcionamento correto para os momentos que nós vamos enfrentar nos próximos anos aqui. E uma das nossas tarefas principais é resgatar a democracia, porque só com democracia podemos corrigir o que a elite faz e fez durante quinhentos e poucos anos no nosso País, só acumulando riqueza nas mãos de poucos e a pobreza nas mãos de muitos.

    Por isso, Senador Paulo Paim, não é por acaso, mas produto da história, que hoje, com este registro, após o nosso congresso, nós dois estejamos presentes aqui no Plenário do Senado Federal para representar perante o nosso País a verdadeira face da classe trabalhadora, de um povo que se levanta, que se rebela contra os governantes de plantão para assegurar a possibilidade de viver num País tão rico e ter um povo digno, um povo que quer viver neste País.

    Para terminar, o que nós queremos do Partido dos Trabalhadores é transformar este País numa nação, e, a partir dela, nós queremos que todos sejam cidadãos, sem medo de ser felizes.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/11/2019 - Página 30