Discurso durante a 234ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Destaque à mobilização da sociedade contra a instalação da Mina Guaíba, entre os Municípios gaúchos de Charqueadas e Eldorado do Sul/RS. Preocupação com a produção de arroz e outros alimentos orgânicos, que pode ser impactada pela mineração no Estado do Rio Grande do Sul.

Registro da criação do Centro de Inovação Sesi em Tecnologias para a Saúde, no Estado de Santa Catarina, que tem como objetivo o desenvolvimento sustentável.

Leitura de carta do Sr. Saul José Pereira sobre preocupações com o impacto da reforma da previdência nos trabalhadores que atuam em área insalubre, penosa e periculosa. Defesa do meio ambiente.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MINAS E ENERGIA:
  • Destaque à mobilização da sociedade contra a instalação da Mina Guaíba, entre os Municípios gaúchos de Charqueadas e Eldorado do Sul/RS. Preocupação com a produção de arroz e outros alimentos orgânicos, que pode ser impactada pela mineração no Estado do Rio Grande do Sul.
CIENCIA E TECNOLOGIA:
  • Registro da criação do Centro de Inovação Sesi em Tecnologias para a Saúde, no Estado de Santa Catarina, que tem como objetivo o desenvolvimento sustentável.
PREVIDENCIA SOCIAL:
  • Leitura de carta do Sr. Saul José Pereira sobre preocupações com o impacto da reforma da previdência nos trabalhadores que atuam em área insalubre, penosa e periculosa. Defesa do meio ambiente.
Aparteantes
Confúcio Moura, Eduardo Girão.
Publicação
Publicação no DSF de 30/11/2019 - Página 7
Assuntos
Outros > MINAS E ENERGIA
Outros > CIENCIA E TECNOLOGIA
Outros > PREVIDENCIA SOCIAL
Indexação
  • COMENTARIO, MOBILIZAÇÃO, SOCIEDADE CIVIL, PROTESTO, INSTALAÇÃO, MINAS, MINERAÇÃO, MINERIO, REGIÃO, CHARQUEADAS (RS), ELDORADO DO SUL (RS), APREENSÃO, PRODUÇÃO, ARROZ, ALIMENTOS, FATO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS).
  • REGISTRO, CRIAÇÃO, SERVIÇO SOCIAL DA INDUSTRIA (SESI), LOCAL, INOVAÇÃO, TECNOLOGIA, SAUDE, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS).
  • LEITURA, CARTA, AUTORIDADE, APREENSÃO, EFEITO, REFORMA, PREVIDENCIA SOCIAL, TRABALHADOR, AREA, ATIVIDADE INSALUBRE.
  • DEFESA, MEIO AMBIENTE, CORRELAÇÃO, MINERAÇÃO.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para discursar.) – Senador Izalci Lucas, sempre presidindo as sessões. Se for chamado, eu sei que é segunda, terça, quarta, quinta e sexta. Isso é bom, muito bom.

    Senador Confúcio Moura, sempre presente. É uma satisfação falar com V. Exa. no Plenário, pois vai usar da palavra na sequência.

    Sr. Presidente, eu tenho usado este espaço, principalmente da segunda à tarde e de sexta de manhã, para fazer alguns registros sobre situações que percebo da maior gravidade, seja no meu Estado, seja no País.

    Quero falar hoje, Sr. Presidente, de uma preocupação que é mundial. Trata-se da questão do meio ambiente. Cada vez mais, eu percebo que, principalmente na Europa, nos países do Primeiro Mundo, a política se volta para a questão ambiental. E os chamados partidos verdes, que têm na sua causa o meio ambiente, a vida de todo o ecossistema, crescem. Muitos dizem, inclusive, que eles serão uns dos instrumentos de geração de renda e emprego no futuro, nesta linha de cuidar, preservar e valorizar o ecossistema e não como está acontecendo, infelizmente, não só no Brasil, mas também em outros países.

    Mas vou falar do meu Rio Grande no que diz respeito a essa realidade. Movimentos sociais, partidos políticos, ambientalistas e população em geral estão mobilizados contra a instalação entre os Municípios gaúchos de Charqueadas e Eldorado do Sul, numa distância de 16km da capital, Porto Alegre, da maior mina de carvão a céu aberto no Brasil, a chamada Mina Guaíba. A empresa responsável, que está à frente do projeto, ignora o fator humano e naturalmente o social que está envolvido. Alega apenas o desenvolvimento econômico e a geração de empregos, embora eu entenda que muito poucos.

    No mês de junho, a comunidade local, em parceria com os movimentos sociais, realizou uma assembleia popular para debater os impactos da extração mineral e socioeconômica. Cerca de 300 pessoas participaram, entre eles, assentados da reforma agrária, pescadores, agricultores, estudantes, ambientalistas, quilombolas, ciganos, trabalhadores e trabalhadoras urbanas das regiões do Delta do Jacuí e Grande Porto Alegre.

    O projeto prevê a extração de 166 milhões de toneladas de carvão a partir de 2023, numa área de 4 mil hectares, com milhões de toneladas de resíduos, 422 milhões de metros cúbicos de areia e 200 milhões de metros cúbicos de cascalho, o que contêm altos teores de sílica, enxofre, alumínio e ferro.

    Reitero que os impactos sociais e ambientais serão enormes, uma vez que ela colocará em risco uma das maiores produções de arroz orgânico da América Latina. Desaparece o arroz e vêm minas expostas de carvão. Essa plantação orgânica foi feita por assentamentos que trabalham na linha da agroecologia, no assentamento Apolônio de Carvalho, assim como atingirá mais de cem famílias do Condomínio Guaíba City, que terão que deixar as suas casas. Haverá rebaixamento de dezenas de metros de terra e consequentemente contaminação do lençol freático, dos mananciais e afluentes, inclusive do Rio Guaíba, afetando toda a bacia hidrográfica responsável pelo abastecimento de água de mais de 4 milhões de pessoas que serão afetadas pela poluição e pela contaminação. No lugar da produção de comida saudável – e refiro-me aqui ao arroz orgânico –, teremos uma imensa mina poluidora, com pouquíssimos postos de trabalho e quase nada de pagamento de impostos.

    A bióloga Naieti Bagro da Silva, integrante do Amigos do Meio Ambiente, aponta que a mineradora está tentando trazer uma visão errônea de que não vai haver impacto no meio ambiente, de que existe uma melhoria para o Estado e uma qualificação nisso. Mas sabemos, claramente, que isso não existe, que não é real. É um absurdo que um Estado como o Rio Grande do Sul, que tem tecnologia, que é riquíssimo em ciência, com ótimas faculdades, com um sistema agrário e uma plantação orgânica já bem estabelecidos e reconhecidos, tire isso para colocar uma extração de carvão muito pobre, um carvão de baixa qualidade. O principal, segundo ela, é que será ao lado do nosso afluente mais limpo, que é o Rio Jacuí.

    Segundo o Prof. Caio dos Santos, pesquisador do Observatório dos Conflitos do Extremo Sul do Brasil, vinculado à Universidade Federal do Rio Grande (Furg), as empresas responsáveis por essas minerações tendem sempre a minorar os impactos usando o discurso de uma alta tecnologia como solução para qualquer impacto que, na prática, venha a acontecer em relação ao meio ambiente – vejam bem aqui – e à água. Abro aspas:

Temos percebido que na indústria da mineração eles usam, se possível, a pior tecnologia, que é a mais barata, como é o caso das barragens [por que não lembrar com tristeza?] de Brumadinho e Mariana. Tendem também, ao se falar dos impactos, a reduzir a população a ser atingida pelo projeto como, por exemplo, em São José do Norte, onde os pescadores ficam de fora dos impactos da mineração, como se isso não fosse afetar a vida deles. [Afeta, não tem como].

    Faço os seguintes questionamentos: como ficarão as famílias desalojadas que produzem alimentos saudáveis? Como ficará o meio ambiente? Como ficará a saúde da população? Como ficará a água que abastece 4 milhões de pessoas? 

    Há 166 projetos de mineradoras no Estado. Dentre eles – olhem para aonde vamos – São José do Norte, Caçapava do Sul, Lavras do Sul. Estou lembrando aqui alguns só, dos 166. E Guaíba.

    Está circulando ainda, em solo gaúcho, um manifesto contra a instalação da Mina Guaíba. Parte dele, que resumo, diz o seguinte:

Sabemos que a situação do Brasil é calamitosa, na qual os nossos direitos não estão sendo resguardados, as riquezas naturais são saqueadas e o meio ambiente sofre com a exploração predatória, que visa somente ao lucro pelo lucro. Os projetos de mineração previstos para o Rio Grande do Sul não possuem qualquer compromisso com a população e suas necessidades, muito menos com o meio ambiente. Por isso, resistimos a essa grave ameaça às nossas vidas, cidades e meio ambiente. Por isso, num país soberano e sério, o ataque às nossas terras, o ataque ao meio ambiente, não pode continuar. [Aqui diz]. Por isso, somos contra o saque dos nossos minérios.

    Concluo, Sr. Presidente, e vou para o segundo registro.

    Eu recebi um relatório muito interessante, longo, mas positivo, onde eu registro o convite que fez a meu gabinete a Confederação Nacional da Indústria (CNI) para que um ou dois assessores do meu gabinete estivessem no evento que foi realizado em Santa Catarina, com a organização da CNI e também naturalmente com a participação de alguns Deputados e Senadores. Sei que o Senador Esperidião Amin esteve lá, acompanhou o evento. Estou-me referindo a ele porque foi o Senador... Foi também o Senador Jorginho Mello. E os Senadores que não puderam ir, naturalmente mais próximos à região, mandaram os assessores.

    Eu quero cumprimentar essa iniciativa da CNI. Eles voltaram de lá muito empolgados com o Centro de Inovação Sesi em Tecnologias para a Saúde (CIS Tecnologias para a Saúde), criado ali, em Florianópolis, que tem como objetivo o desenvolvimento sustentável. Ficaram muito impressionados.

    Eu faço só como registro que teremos, em curto espaço de tempo, um satélite que será o primeiro projetado de forma integralmente pela indústria nacional. Está previsto para ser lançado em setembro ou outubro de 2020, produzido pelo sistema na Índia, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O satélite será ocupado com uma câmera de alta resolução capaz de coletar imagens com qualidade radiométrica e geométrica, fatores fundamentais para a aplicação em áreas agrícolas e também na linha de proteger o meio ambiente.

    Cumprimento essa iniciativa. Cumprimento todos. Todos sabem que eu tenho uma afinidade. Acho que ele pode ser aprimorado, mas querer exterminar o Sistema S, exterminar o Sebrae, exterminar iniciativas como essa, que levam à formação de milhões de jovens em todo o País, é um equívoco, é um atraso. Eu espero que não aconteça.

    Esse documento que foi formulado pelo assessor que esteve lá, com todo o apoio da CNI e de todos os técnicos lá presentes, eu peço que seja considerado na íntegra e que fique nos Anais da Casa.

    Por fim, Sr. Presidente, o último registro que faço é um registro simples, mas importante. Um senhor mandou para o meu gabinete uma carta. Das centenas de cartas que recebo, se somar com às da Comissão de Direitos Humanos, serão tantas que seria impossível ler, nem que eu viesse todos os dias à tribuna. Carta que recebi do petroquímico Saul José Pereira, Rio Grande do Sul. Ele aqui discorre, eu vou apenas fazer uma introdução. Enfim, registro neste momento a carta que recebi do Sr. Saul José Pereira, Rio Grande do Sul. Ele fala sobre suas preocupações com o momento atual do País. É um texto simples, sincero, verdadeiro, corajoso, que expõe a realidade da nossa gente lá no chão das fábricas, lá no ambiente de trabalho.

    Diz ele:

Senador Paim, estou aflito [muito aflito] com as coisas que estão acontecendo tanto em relação à perda de direitos trabalhistas quanto ao que eu chamo de golpe de misericórdia nos trabalhadores, que é essa reforma da previdência, também passando por projetos que pretendem alterar as normas regulamentadoras de segurança e saúde do trabalhador, que são fundamentais para garantir o mínimo de segurança em um país como o nosso que, atualmente, ocupa uma posição nada confortável de quarto lugar entre o número de acidentados de trabalho no mundo. [E nós estamos abrindo mão agora das normas de segurança].

    Diz ele:

Senador Paim, façamos uma analogia [localize-se como se estivesse pegando] com o nosso Transurb [que é o metrô lá de Porto Alegre], saindo de sua estação inicial, Novo Hamburgo, completamente lotado de passageiros, no seu deslocamento por todas as estações de todas as cidades – Novo Hamburgo, São Leopoldo, Sapucaia, Esteio, Canoas e, finalmente, Porto Alegre.

    Aí ele diz:

[Faça de conta que] nenhum dos passageiros pode descer, pois terão de descer apenas no terminal final, no centro de Porto Alegre. Pergunto ao senhor: o que irá ocorrer com todos os passageiros que [já estão no trem ou que já] estão nas estações [...] [Qual a perspectiva deles?].

O que eu quero dizer com isso, Senador, é o seguinte: se atualmente temos grandes problemas de geração de empregos [temos!], pois o fluxo entre quem está saindo do trem e quem está entrando não está fechando adequadamente, como podemos aumentar o tempo de permanência de trabalhadores [...] no mercado de trabalho? [Será fechando as estações, e ninguém entra e ninguém sai?] Precisamos, urgentemente, gerar mais empregos.

    Seria urgente, no caso do exemplo, que outros trens como esse fossem colocados, mas não fechar as portas. É o que está acontecendo no Brasil com o número de falências de empresas.

Além disso, como podemos comparar o trabalho de um vendedor de pipocas [diz ele], profissão muito digna e pela qual tenho o maior respeito [e tenho colegas que até atuam nessa área]...

    Mas vamos analisar: o meu colega que vende pipocas – e eu compro dele, diz ele –, como compará-lo a

... um mineiro que está centenas de metros abaixo da terra em sua atividade, ou um petroleiro que está há vários dias em uma plataforma? [Como comparar?].

Os produtos químicos extremamente tóxicos, como benzeno, o tolueno, o xileno e outros, inclusive radioativos, agora, com a reforma da previdência, parece que deixarão de fazer mal ao trabalhador.

    E ele volta a dar o exemplo do trem. É fechar as portas? Ninguém entra, ninguém sai? É fazer uma reforma e dizer que todos esses produtos que ele citou aqui, como o benzeno, que fazem mal à saúde – e qualquer médico, qualquer enfermeiro, qualquer auxiliar ou aprendiz sabem disso –, com a reforma da previdência, não vão mais fazer mal? Claro que vão, afirma ele.

Será que as pessoas que essas pessoas que estão aí em Brasília dentro dos gabinetes com ar condicionado sabem o que é trabalhar em um regime alternado de turno, passando noites e noites em claro? [diz ele]. Claro que não.

Gostaria muito de ver Parlamentares [...] [que falam que isso não é real; pois bem, que falam, como se tivessem conhecimento. Quem sabe eles possam] subir em um helicóptero e se encorajar a ficar em uma plataforma não por alguns minutos, mas todo um ciclo [...] [São 21 dias como se estivessem preso, numa plataforma, para sentirem o que é estar isolado numa plataforma, ou, todo dia, descer a 100m, 150m numa mina]. E nunca eu ouvi ninguém falar [diz ele aqui] do número de mortes que acontecem tanto na plataforma, como também nas minas.

    Repete ele:

Não apenas alguns minutos, ficar todo um ciclo de 21 dias com os colegas que lá trabalham, e, após chegar no Congresso Nacional, falar como são simples e fáceis as atividades especiais.

    Ele quer dizer, na verdade, que aqueles que forem lá, os Parlamentares, vão perceber que não é simples e fácil, como é falado aqui que é uma coisa trivial trabalhar no subsolo de uma mina ou numa plataforma.

Em verdade, falam os Parlamentares porque não conhecem. Não conhecem [diz ele] ou não fazem a menor questão de conhecer cada atividade especial, antes de subirem em uma tribuna para falar de fatos que não conhecem, sobre que não têm conhecimento de causa, ou, o que é pior, apertarem um botão...

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) –

... para retirar direitos que levaram anos e anos para serem reconhecidos [e conquistados], e hoje o INSS rejeita [...] [com facilidade, ou faz vista grossa sobre os benefícios daqueles que teriam o direito de se aposentar nessa situação].

    Enfim, é fato real. Essa exposição é diária para aqueles que têm o princípio da aposentadoria especial e, como ele diz, não é só especial o termo, são pessoas que trabalham em áreas em que a saúde está em alto risco, seja pela insalubridade, seja pelo serviço penoso ou pela periculosidade, que queriam até engessar na Constituição, porque "periculosidade não faz mal" – como se disséssemos para a nossa juventude que perigo não faz mal. "Perigo é perigo, mas não faz mal".

    Enfim, aí, termina, dizendo:

Senador Paim, falo não apenas em nome da minha categoria petroquímica, mas também em nome de professores, mineiros, vigilantes, enfermeiros, pessoas que trabalham com radiologia e tantos outros. As classes especiais precisam de um olhar diferenciado. São especiais não por serem especiais, mas pela gravidade dos perigos envolvidos nessas atividades.

Em nome do maior patrimônio que tenho [diz ele], o maior patrimônio [Senador Confúcio], o melhor patrimônio em toda minha vida, que é meu filho. Ele tem nove anos. Esse é o meu patrimônio, que poderá ter seu futuro comprometido, porque hoje tenho 22 anos de atividade especial, ou seja, faltariam 3 anos para minha aposentadoria.

    Infelizmente, em relação a essas pessoas, será que a aposentadoria delas, para a qual faltavam dois ou três anos – ou de alguns para quem faltava até um ano, no caso da questão da periculosidade, ou faltavam alguns meses – vai virar um sonho somente?

    É triste que a aposentadoria dele, graças a essas pessoas sem piedade, vá desaparecer.

    "Isso poderá fazer com que, em breve, eu e muitos colegas, ao avançar da idade, sejamos dispensados pela minha empresa", porque a empresa não tem nenhuma obrigação nem o compromisso de manter o funcionário até que ele chegue, pela nova redação, à época em que ele, em tese... Em tese, né? Porque a maioria, por exemplo, dos que trabalham em situação de periculosidade não se aposenta mais. É com 25. Como é que você vai chegar a 40? Porque não há nenhuma regra de transição. Você estava com 22, iria se aposentar dali a três, e, de um momento para outro, jogaram para 40 e 65.

    Enfim, ele termina dizendo: "O Governo apenas supõe que as empresas vão manter essas pessoas velhas no mercado de trabalho". É não olhar as estatísticas. É não conhecer os números do IBGE. É não olhar para o mundo real. O mundo real é outro. As empresas botam para a rua e pegam a mão de obra até mais barata, mais jovem e com seu conhecimento tecnológico, que é outro. Então, quem vai manter a vida dessas famílias? E ele deu o exemplo de seu filho de nove anos.

    Eu falei que ele é corajoso. Ele termina aqui, dizendo, de forma muito sincera e corajosa. Senador Confúcio Moura – sobrenome que eu vou guardar ainda –, ele disse: "Senador Paim, muito obrigado, um abraço muito forte, e diga meu nome aí. Meu nome é Saul José Pereira. petroquímico, de Porto Alegre, Rio Grande do Sul".

    Claro que ele tem esperança de que agora... Há um projeto de lei complementar, de que o Senador Esperidião Amin é o Relator, e eu tenho dialogado muito com ele, para que a gente consiga diminuir os danos a partir daquele projeto para essas pessoas que atuam em área insalubre, penosa e periculosa. O caso dele é específico, como ele coloca aqui. O projeto vai ser debatido, espero, da forma mais democrática possível, inclusive com audiência pública, se for possível.

    Senador Confúcio Moura, a assessoria me lembra que V. Exa. está pedindo um aparte. Eu vou conceder, com muita satisfação.

    O Sr. Confúcio Moura (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO. Para apartear.) – Muito obrigado, Senador Paim.

    Cumprimento o Senador Izalci, que preside a sessão de hoje.

    V. Exa., Senador Paim, fez dois ou três discursos no mesmo momento. Eu vou pegar só a parte relativa à política ambiental, que V. Exa. destacou no início do seu pronunciamento, sobre as relações entre a mineração, as extrações, as atividades econômicas, a manutenção dos aquíferos, dos rios, riachos e igarapés, como são chamados na Amazônia, esse equilíbrio necessário que V. Exa. destacou e também o uso de venenos, de um modo geral, nas lavouras e as consequências de tudo isso para o ser humano, para o solo, enfim, para o meio ambiente.

    Eu trabalhei em garimpo no início da minha carreira médica, em Rondônia, muito antes da Constituição de 88. Tudo era feito no olho. A gente fazia represamento de barragens, mas na prática... E as consequências disso tudo até hoje estão lá: realmente, áreas reviradas de solo, o leito dos rios aparecendo. Lá mesmo, no meu Estado, no meu Município, há o Garimpo Bom Futuro, que é o maior garimpo a céu aberto de estanho, cassiterita, tudo feito no braço, igual Serra Pelada. Então, aquilo realmente atrapalhou muito, danificou bastante a questão dos leitos dos rios, da água.

    E está tudo escrito, bem escrito, na Constituição Federal, no seu art. 225 e outros, acima e abaixo. Lá, está muito bem regulamentado. Não é agora o grito de um ministro, palavra de outro que pode atropelar uma Constituição. V. Exa. fez parte dela, votou favorável naquela época e ajudou a contribuir com tudo isso. Então, está lá na Constituição. Agora, chega um ministro e fala "não, isso aqui pode, isso aqui pode", como se ele fosse o grande constituinte-mor.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – O dono da verdade absoluta.

    O Sr. Confúcio Moura (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO) – O dono da verdade absoluta, agredindo as pessoas, os princípios, as instituições, as próprias autarquias que trabalhavam com a manutenção do meio ambiente, como o Ibama, o ICMBio, tantas outras importantíssimas, as fundações que cuidam da medição dos danos ambientais. Então, isso tudo, esse desprovimento de tudo, parece que está querendo reconstruir do zero, parece que está querendo voltar ao ano de 1500. "Vamos voltar ao ano de 1500 para recomeçar o Brasil de novo." Então, essas coisas V. Exa. destaca muito bem.

    Agora, por fim, vem o problema da carne. O preço da carne está realmente altíssimo. E a carne vem de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rondônia, Pará. E há esse esforço de entrar nas florestas, com o desmatamento, para plantar pasto para produzir mais boi agora. Isso é passageiro, mas mesmo assim há esse impacto, sendo que hoje pode-se criar muito boi confinado, sem precisar desse impacto. Além do mais, esse atravessamento de conversas fiadas pode atrapalhar o fazendeiro produtor de carne, porque o mundo comprador quer saber a origem desse boi, se esse boi é produzido em reserva indígena, se esse boi é produzido em áreas de unidades de conservação, em parques, etc., ou áreas de invasão. Daí a pouco a rastreabilidade impede o negócio. Então, os próprios fazendeiros, o povo do agro, o agronegócio, já estão virando a cabeça. "Não faça isso! Vai atrapalhar o meu negócio!" Então, vamos verticalizar.

    E V. Exa. destaca na sua toada de discurso muito centrada e muito racional todos esses elencos que o senhor coloca aqui didaticamente desse que deve ser o respeito ao meio ambiente. Ele é mais ou menos sagrado.

     Então, eu cumprimento V. Exa. pelo discurso.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Senador Confúcio Moura, eu faço questão de que o seu aparte seja colocado na íntegra no meu pronunciamento. Todo o seu aparte, mas, nessa questão do meio ambiente, V. Exa., que já foi Governador, destaca que já trabalhou lá no minério como médico, conhece bem essa realidade, e eu fico muito feliz de ver – triste, mas feliz –, porque o depoimento é um depoimento real, o seu depoimento, de quem conhece toda essa realidade. E é inegável que este Congresso vai ter que se debruçar mais sobre o meio ambiente, não tem como.

    Todo mundo sabe, Senador Girão, todo mundo sabe que eu tenho muito apreço, muito carinho pela pauta trabalhista, inclusive, eu e V. Exa. temos conversado muito, V. Exa. me dizendo: "Mas espera, vamos ver um pouco, vamos ver como é que fica." É uma conversa muito positiva. Tanto que deixamos alguns projetos para o ano que vem.

    A pauta trabalhista é fundamental, mas eu temo e reconheço que está havendo no mundo uma revolução, eu não vou usar o termo "revolução industrial", uma revolução no mundo do trabalho. Isso é fato e é real. Está havendo uma revolução no meu trabalho.

    Eu hoje mesmo – permita que eu diga isso, aproveitar o Senador Girão –, no meu gabinete no Sul, eu sempre tive um espaço meu no escritório, agora eles me dizem e às vezes comprovam: "Senador, eu produzo muito mais se eu ficar em casa, botando em dia tudo isso que o senhor quer" e a repercussão do nosso trabalho, e, quando eu digo nosso, é porque não é só meu, "do que eu estar lá batendo ponto de 8h às 18h". É um exemplo, casos – há casos.

    Então, nós temos que analisar esse momento novo. Há uma revolução, não dá para negar. Há uma revolução no mundo do trabalho, mas ao mesmo tempo em que eu reconheço isso, entendo também que está havendo uma revolução na questão do meio ambiente.

    A gente vê a juventude nos países da Europa indo às ruas e pedindo: "Pelo amor de Deus parem de cometer um crime contra a natureza, que quem vai pagar – segundo essas meninas e meninos – serão os nossos filhos". E este Congresso vai ter também que se debruçar sobre isso com a profundidade que o momento exige.

    Os exemplos que o Senador Confúcio deu, Senador Girão e Senador Izalci, eu achei muito interessante os exemplos que ele deu, que apontam nesta linha.

    Há problema de falta de carne no mundo, eu diria – foi o exemplo que ele deu, não foi meu. Será que a saída é começar a cortar as matas, terminar com as florestas, atropelar os rios, enfim, só para criar gado, ou criar gado de forma mais qualificada? Há muitas formas de criar gado, até porque existe uma onda no mundo na linha de não se consumir tanta carne, e isso está começando a avançar no mundo todo. No meu gabinete já tem uns dois ou três que não comem mais carne. E estão bem, a saúde deles, inclusive, melhorou. Interessante isso! Olha que eu venho de um Estado produtor também.

    Senador Girão, o aparte de V. Exa., já que é uma sexta-feira, há a possibilidade de falarmos um pouquinho mais.

    O Sr. Eduardo Girão (PODEMOS - CE. Para apartear.) – Senador Paulo Paim, Presidente Izalci, Senador Confúcio, aqui, observando o seu pronunciamento, Senador Paulo Paim sobre essa questão da carne, como exemplo, dou um testemunho meu: há 20 anos eu não coloco um pedaço de carne na boca. E eu digo para você de coração: desde que eu fiz isso... No começo era difícil, primeira semana, segunda semana, eu que gostava de churrascaria, era aficionado...

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – É o meu caso. Estou ouvindo o seu conselho.

    O Sr. Eduardo Girão (PODEMOS - CE) – Eu sei que a sua terra tem o melhor churrasco do Brasil, com permissão de outros colegas de outros Estados.

    Mas é impressionante como a minha saúde melhorou, como eu comecei a dormir melhor, como a minha produção aumentou, a leveza, você fica leve, e há outras alternativas de proteína. Tudo isso, obviamente, com, vamos dizer, com acompanhamento de algum especialista ou nutricionista. Foi um livro que eu li chamado Fisiologia da Alma. É um livro do espírito, se eu não me engano, Ramatis. Esse livro me marcou profundamente. A partir dali eu tomei consciência, inclusive da questão do cemitério que fica dentro da gente, com a carne animal.

    Então, só para dar esse testemunho.

    Realmente, inclusive, já solicitamos uma audiência pública, não foi na sua CDH, mas, se eu não me engano, foi na CAS. Já solicitamos, e assinei o ofício para fazermos uma audiência pública sobre este assunto: o vegetarianismo e o meio ambiente, trazendo Suzan Andrews, trazendo grandes pesquisadores. É interessantíssima a tese sobre haver impacto mesmo na questão da pecuária, mas tudo tem de ser feito com muito equilíbrio, porque há muitos empregos gerados a partir da pecuária. Isso é tudo uma transição que tem de ser feita com muita serenidade, para não prejudicar a economia assim de uma hora para outra.

    Mas é uma tendência mundial o vegetarianismo. Tem crescido. Aqui em Brasília, em todo o lugar, há restaurante vegetariano.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Meus cumprimentos, Senador Girão. Também peço que incorpore ao meu pronunciamento a bela contribuição a este debate de que eu estou me empoderando mais, que estou conhecendo mais, querendo conhecer mais.

    Toda a luta em defesa do Planeta, do ecossistema e da vida na sua radicalidade maior, que é a vida não só dos seres humanos, mas de todos: da planta, das flores, das águas, dos peixes, dos animais, enfim.

    Mas vou na linha do que V. Exa. falou. E pode saber que, no meu gabinete, há dois, três adeptos já, e estão contagiando.

    Isso, a gente vê no mundo todo, não só no meu gabinete, não só no seu exemplo.

    Obrigado, Sr. Presidente, pela tolerância de V. Exa.

    O SR. PRESIDENTE (Izalci Lucas. Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - DF) – Eu peço ao meu querido Senador Girão para presidir para que eu possa fazer também o primeiro pronunciamento, porque hoje vou falar também como comunicação inadiável. Quero fazer duas falas hoje.

    A Presidência comunica às Sras...

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Fora do microfone.) – Sr. Presidente, peço que conste na íntegra o meu pronunciamento.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/11/2019 - Página 7