Discurso durante a 254ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Lamento pelo baixo desempenho do Brasil no resultado de 2018 do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, o Pisa.

Destaque à necessidade de se repensar a metodologia do ensino básico brasileiro.

Autor
Izalci Lucas (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/DF)
Nome completo: Izalci Lucas Ferreira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO:
  • Lamento pelo baixo desempenho do Brasil no resultado de 2018 do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, o Pisa.
EDUCAÇÃO:
  • Destaque à necessidade de se repensar a metodologia do ensino básico brasileiro.
Aparteantes
Confúcio Moura, Styvenson Valentim.
Publicação
Publicação no DSF de 19/12/2019 - Página 18
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO
Indexação
  • COMENTARIO, ASSUNTO, AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO, ESTUDANTE, EDUCAÇÃO, PAIS, BRASIL, PROGRAMA INTERNACIONAL, AVALIAÇÃO, ALUNO.
  • DESTAQUE, NECESSIDADE, ALTERAÇÃO, REAVALIAÇÃO, METODOLOGIA, ENSINO FUNDAMENTAL.

    O SR. IZALCI LUCAS (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - DF. Para discursar.) – Sr. Presidente, Senador Nelsinho Trad, meu querido Senador Confúcio, também ligado à educação, nosso Governador, que luta muito pela educação deste País, eu quero cumprimentar aqui as Sras. e os Srs. Senadores e Senadoras.

    Ficamos extremamente preocupados ao receber o resultado de 2018 do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), realizado pela Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE), e ver o Brasil continuar nas últimas posições entre mais de 70 países participantes. Infelizmente, tudo indica que esses resultados vão continuar assim por muitas décadas, se o Brasil não tomar as providências urgentes para melhorar essa situação.

    Continuamos nas últimas posições desde o ano 2000, quando esse exame foi criado, apesar de todas as providências tomadas pelo Congresso Nacional, pelo Ministério da Educação, pelas secretarias estaduais de educação, visando melhorar essa situação.

    Definir como meta para 2021 um aumento de 20 pontos nas notas do Pisa, por exemplo, é desconhecer as verdadeiras causas do problema, pois, há mais de 30 anos, os nossos especialistas estão testando novas soluções: aulas em horário integral é fazer o dobro do que não funciona; informatizar a escola é automatizar uma metodologia de ensino obsoleta; aumentar o salário dos professores, com a baixa qualidade que eles aprenderam nas universidades; copiar os países com as melhores notas, com culturas completamente diferentes; e muitas outras tentativas. E nada funcionou.

    Cabe-nos a responsabilidade de resolver esse problema. E para isso é necessário que conheçamos as suas origens para elaborarmos um projeto de desenvolvimento na área de educação que, consequentemente, acarretará num crescimento econômico para o Brasil.

    Fala-se constantemente em reforma do ensino médio. Entretanto, esquecem que, se não houver mudanças, quebra de paradigmas no modelo atual de ensino básico, jamais lograremos êxito na melhora dos ensinos médio e superior em face da precariedade no nascedouro do problema.

    O modelo K-12, criado no século XIX, como são chamados os 12 anos em que nossas crianças e jovens estudam até estarem aptos a ingressarem nas universidades, carece de uma revisão imediata. Ele foi criado para formar a mão de obra braçal para a indústria há 200 anos, com o objetivo de cortar a criatividade e formar adultos obedientes.

    No K-12 e nas universidades, se ensina que cada problema tem uma causa. Anulando essa causa, se resolve o problema. Acontece que os problemas reais são bem mais complexos do que isso. Cada um tem inúmeras causas primárias, secundárias, terciárias, etc. Os problemas são tão complexos que somente o uso da lógica não consegue resolvê-los. É necessário o apoio da criatividade para enxergar o todo e achar a solução.

    Em relação à criatividade, é importante citar um teste, Senador Confúcio, que a Nasa utiliza para medir o potencial criativo de seus futuros astronautas e também engenheiros, desenvolvido pelos Profs. George e Beth Jarman, em 1950. Esse teste foi aplicado pelos autores em 1,6 mil crianças de cinco anos. Senador Nelsinho Trad, pegaram 1,6 mil crianças e fizeram o teste, e 98% delas conseguiram a nota máxima no teste – 98% das crianças de cinco anos.

    Animados com essa descoberta, os autores decidiram fazer um estudo e dar ao mesmo grupo dessas crianças o mesmo teste quando tivessem dez anos. O resultado delas agora, na escola primária, caiu para 30%. Com cinco anos, era 98%; com dez anos, caiu para 30%.

    O mesmo estudo foi realizado novamente no mesmo grupo de crianças com 15 anos, agora já no ensino médio, e o resultado foi de apenas 12%. Perturbados, eles decidiram realizar esse mesmo teste em mais de 1 milhão de adultos com mais de 25 anos e somente 2% dos adultos pontuaram no nível máximo.

    Com isso, ficou constatado, então, que o Sistema de Ensino Básico, desenvolvido no início da Revolução Industrial para preparar a mão de obra para as fábricas, mesmo depois de dois séculos, ainda continua bloqueando a criatividade dos alunos. Muitos desses alunos vão frequentar as universidades e se formar em diversas profissões sem a criatividade necessária para a solução dos problemas complexos que as mudanças criam continuamente.

    O exame do Pisa, aplicado a cada três anos, serve para classificar a qualidade do ensino básico e, portanto, da mão de obra desses países. Nesse exame é medido o desempenho dos alunos de 15 anos nas áreas de matemática, ciências e linguagem, considerando: um, os conteúdos básicos das disciplinas; dois, o desenvolvimento do relacionamento humano; três, a solução de problemas complexos.

    Com correlação item 1, os conteúdos básicos das disciplinas, o Brasil utiliza o método de ensino baseado em aulas expositivas, desenvolvido no século XIX, em que os professores verbalizam informações sobre os conteúdos e fazem os alunos as repetirem até decorarem, para passarem nas provas e serem aprovados. Esse é o modelo. Esse sistema de estudo está baseado na memória a curto prazo e, em pouco tempo, os alunos esquecem quase tudo, uma vez que nossas universidades treinam os professores a ensinar conteúdo, e não a ensinar alunos.

    Quanto ao item 2, o desenvolvimento no relacionamento humano, e o item 3, a solução dos problemas complexos, os professores não têm tempo nem conhecimento nos horários das aulas para esses itens.

    Para que o Brasil possa entrar no nível dos países desenvolvidos e formar mão de obra de nível internacional é necessário que os professores aprendam a nova técnica das aulas invertidas, com uso de mapas conceituais e abandonem definitivamente o sistema obsoleto das aulas expositivas. Para isso, devemos treinar, na metodologia de ensino a distância de padrão internacional, todos os professores dos últimos quatro anos do ensino fundamental e dos três anos do ensino médio em: mapas conceituais, aulas invertidas, decisões lógicas, desbloqueio da criatividade, trabalho em pequenos grupos e soluções de problemas complexos. Além disso, todos os diretores das escolas públicas devem fazer o curso de bacharel em Administração (oito semestres), em condições de desenvolver as habilidades técnica, humana e conceitual durante o curso.

    O Governo Federal poderá utilizar, sem custos, os direitos autorais de todas as disciplinas do curso, se ele for realizado pelas universidades públicas, com apoio de especialistas nesta nova metodologia de ensino, funcionários de empresas do Governo Federal – Banco do Brasil, Caixa Econômica e outros – requisitados a custos reduzidos.

    A introdução desta nova metodologia de ensino vai ocasionar melhorias no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb); nas notas dos alunos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem); na classificação do Pisa-Brasil acima da média; e na produtividade da mão de obra brasileira qualificada.

    Com o novo sistema, o dever de casa dos alunos se transforma na leitura das páginas dos conteúdos, indicados pelos professores e na realização dos mapas conceituais dos respectivos conteúdos. Na sala de aula, os alunos passam a trabalhar em pequenos grupos, tirando as dúvidas dos mapas realizados em casa e aprendendo a solucionar problemas complexos da vida real, desenvolvendo o relacionamento humano e a solução de problemas complexos para toda a vida.

    Como consequência para o Brasil, Senador Confúcio, ocorrerá o aumento significativo dos investimentos externos, pois trará segurança aos investidores no sentido de que o País possui mão de obra qualificada e de padrão internacional, destacando também a melhoria do grau de credibilidade do País frente à comunidade internacional.

    Com essa nova situação, virão para o Brasil capitais externos, novas empresas vão ser abertas, aumentará consideravelmente o número de empregos e das rendas, a produção aumentará em níveis bastante elevados, ocorrerá certamente o aumento do Produto Interno Bruto (PIB), as exportações crescerão, os Estados se desenvolverão economicamente, os Governos arrecadarão mais impostos, entre outras melhorias, como novas tecnologias, e o Brasil poderá sair do rol dos países em desenvolvimento.

    Nós somos do tamanho dos nossos sonhos. Vamos focar em melhorar substancialmente os resultados do Pisa em 2021 e futuros. Vamos começar já a formar nossos líderes, gestores e – por que não? – plantar a semente para a formação de novos cientistas criativos e capazes de conduzir o Brasil ao patamar merecido e almejado por todos nós.

    O momento é agora. Ou tomamos as providências em caráter emergencial ou amargaremos os dissabores de continuar numa posição que não condiz com as nossas potencialidades.

    Então, essa é minha fala, Senador Confúcio, porque, sinceramente, se continuarmos fazendo o mesmo, nós não vamos chegar a lugar nenhum.

    Eu estive ontem na leitura e na aprovação do orçamento da educação. Por mais que tenha crescido um pouquinho nas despesas discricionárias, não vai resolver, não há dinheiro para a educação infantil, para investir de fato na educação infantil. Não há recurso nenhum para o ensino médio, principalmente para o novo ensino médio.

    Não podemos continuar fazendo mais do mesmo, porque, se está dando errado, não adianta. Como eu disse aqui, educação integral nesse mesmo modelo é fazer o dobro do que estamos fazendo errado.

    Então, a gente precisa realmente priorizar a educação, mas compatibilizando o discurso com o recurso, o discurso com as ações. Senão, a gente não vai conseguir sair deste País ainda em desenvolvimento.

    O Sr. Confúcio Moura (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO) – Sr. Senador Izalci.

    O SR. IZALCI LUCAS (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - DF) – Pois não, Senador Confúcio.

    O Sr. Confúcio Moura (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO. Para apartear.) – O seu discurso de fim de ano é um discurso extraordinário. O senhor aborda um tema importantíssimo e mostra onde estamos falhando, as sugestões e o rompimento com o século XIX, com o século XX, pois ainda persistimos em continuar fazendo igual. É por isso que nós estamos atolados nesse atraso educacional vergonhoso.

    O Jorge Lemann falou esses dias atrás que nem deseja tanto que o Brasil seja igual a Cingapura em educação, mas que seja igual a Sobral, lá no Ceará, e a outros Municípios exemplares que o Brasil tem já como referência para copiarmos.

    O que temos de fazer é buscar as experiências bem-sucedidas nos Municípios, Municípios longínquos, Município do Estado do Piauí, Município do Estado da Paraíba. O Estado do Ceará tem de sobra bons exemplos, assim como o Estado de São Paulo, aqui em Goiás, o Espírito Santo e tantos outros Municípios brasileiros em que os Prefeitos e/ou Governadores têm feito um esforço muito grande.

    Então, V. Exa., neste fechamento de ano, aborda de uma maneira oportuna, patriótica, o grande gargalo da nossa vida brasileira, o atraso conjuntural, cuja causa fulcral é a má qualidade da educação.

    Parabenizo V. Exa. O seu discurso é de uma profundidade muito grande, é muito oportuno e muito bonito.

    Parabéns a V. Exa.!

    O SR. IZALCI LUCAS (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - DF) – Obrigado.

    Peço ao Presidente para incorporar.

    O Sr. Styvenson Valentim (PODEMOS - RN) – Senador Izalci, o senhor concluiu?

    O SR. IZALCI LUCAS (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - DF) – Pois não, Senador Styvenson.

    O Sr. Styvenson Valentim (PODEMOS - RN) – Posso?

    O SR. IZALCI LUCAS (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - DF) – Com certeza. É um prazer muito grande.

    O Sr. Styvenson Valentim (PODEMOS - RN. Para apartear.) – Complemento a fala do Senador Confúcio em relação ao seu discurso de final de ano sobre educação, que eu peguei pela metade. Quando cheguei, o senhor já estava falando de poucos recursos e algo da nossa péssima – como já foi identificado pelo Pisa – educação.

    Senador Confúcio, o senhor é um educador, médico, já foi Governador e está aqui hoje discursando sobre este tema. É interessante que não dá para a gente aceitar esse modelo, como o senhor disse, de empurrar pela barriga – empurra, empurra, empurra. Qual é o modelo? O aluno não aprende o conteúdo básico, que é Português e Matemática, nas séries em que deveria aprender. Há uma necessidade de empurrar esse aluno para o outro ano, para que ele não fique retido ou reprovado;

    Há uma preocupação desesperadora para que esse aluno conclua o colegial, o ginasial. E quando ele chega para fazer o Enem não consegue interpretar um texto, não consegue fazer um cálculo decimal, não sabe nem o que é uma vírgula entre os números. Ele não tem conhecimento sobre aquilo. Mas esse é o resultado desse empurra – faz de conta que dá aula – é o descompromisso com a educação ao ponto de chegar a esse nível em que está, quase incorrigível.

    Eu creio que não seja só o dinheiro o problema deste País em relação à educação. Além da gestão – e eu digo isso por experiência própria –, além da qualidade dos professores para que ele possa... Realmente, são muitos alunos numa sala de aula para um professor só, que ganha pouco.

    Não estou falando isso só do Governo Federal, não; falo do Estado, porque o ensino do Governo Federal é muito bem pago. Se a gente for falar dos IFRN, tudo é de qualidade lá, tudo.

    Quando a gente fala da educação – e são poucas, Senador Confúcio, que o senhor citou –, as pouquíssimas experiências que a gente tem no Município e no Estado, quando se vai atrás, se vê que normalmente são feitas com esforços pessoais de professores, de gestores, de administradores, de todas as pessoas que quiseram ali melhorar a educação de alguma forma.

    Essas experiências, se a gente for fazer uma pesquisa, se for fazer uma busca, Senador Confúcio, que o senhor mesmo citou, a qual eu já vi, citando experiências também no Rio Grande do Norte, só houve sucesso porque foram realizadas com a vontade individual, que se juntou ao coletivo dessas vontades e transformou a vida de muitos alunos.

    Então, é difícil a gente falar hoje que o problema é só dinheiro, porque não é só dinheiro. É toda a estrutura que está comprometida, como eu já disse. É inconcebível que o aluno não saiba o básico de uma quinta, quarta série para fazer o Enem; que não tenha conhecimento básico.

    Mas, de uma forma ou de outra, ele foi se adiantando, foi passando, foi empurrando o problema para frente. E agora chegou-se ao ponto de a gente ter um número de pessoas sem qualificação de aprendizado.

    Então, é muito importante essa fala do senhor já no final do ano para a gente começar o ano que vem, pensando já nisso. O que a gente ouviu neste ano todinho, Senador Confúcio, nesses 11 meses, foi muita discussão e pouca praticidade, muito falatório e pouca ação.

    O povo brasileiro espera por isso, mais ação. Não estou falando só da gente, mas dos Ministros. O que a gente pode fazer está fazendo aqui dentro.

    Então, muito boa a sua fala.

    O SR. IZALCI LUCAS (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - DF) – Muito obrigado, Senador Styvenson. Incorporo também a fala de V. Exa. e agradeço ao nosso Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/12/2019 - Página 18