Pronunciamento de Simone Tebet em 11/03/2020
Discussão durante a 4ª Sessão Conjunta, no Congresso Nacional
Comentário sobre a crise mundial em razão do novo coronavírus e os reflexos na economia brasileira.
- Autor
- Simone Tebet (MDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
- Nome completo: Simone Nassar Tebet
- Casa
- Congresso Nacional
- Tipo
- Discussão
- Resumo por assunto
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ECONOMIA:
- Comentário sobre a crise mundial em razão do novo coronavírus e os reflexos na economia brasileira.
- Publicação
- Publicação no DCN de 12/03/2020 - Página 100
- Assunto
- Outros > ECONOMIA
- Indexação
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- COMENTARIO, CRISE, AMBITO INTERNACIONAL, MUNDO, ECONOMIA, PANDEMIA, NOVO CORONAVIRUS (COVID-19), BRASIL, COBRANÇA, REMESSA, PAUTA, COMBATE, ENFASE, REFORMA TRIBUTARIA.
- DEFESA, ATUAÇÃO, CONGRESSO NACIONAL, DEMOCRACIA.
A SRA. SIMONE TEBET (Bloco/MDB - MS. Para discutir. Sem revisão da oradora.) – Obrigada, Deputada Soraya, que muito dignifica a bancada feminina ao presidir esta sessão do Congresso Nacional.
Eu quero aqui me dirigir às Sras. e Srs. Senadores e Deputados. É a primeira vez em seis anos que assumo o microfone do Congresso Nacional. Nunca o havia feito antes, eu que sou muito combativa no Senado Federal e sempre que sou chamada à responsabilidade nunca fugir da responsabilidade de colocar as minhas ideias, as minhas opiniões não só em palavras mas em atos. E ao estar aqui pela primeira vez em uma sessão do Congresso Nacional, sendo presidida por uma mulher, isso só reforça a importância desse momento que reforça principalmente o entendimento de que o que eu vou dizer hoje precisa ser dito, e ser dito com todas as letras.
Eu me dirijo às senhoras e senhores, homens e mulheres de boa vontade, eu não me dirijo aqui a Senadores da República ou a Deputados Federais. Fiz questão de ocupar essa tribuna num momento, inclusive, quando houvesse poucos colegas em que pudéssemos falar sem gritaria, porque no momento o que eu tenho a dizer é exatamente sobre isso: o momento que nós estamos vivendo.
Eu quero dizer que nessa segunda-feira a crise mundial e brasileira mostrou a sua verdadeira face, e a face mais cruel. Não me refiro apenas à crise interna, doméstica, local, crise econômica, política e institucional – porque, sim, estamos vivendo uma crise institucional neste País –, mas me dirijo e me refiro à crise que assola todo o globo terrestre. Ela começou com a pandemia do coronavírus, se estendendo à queda do barril de petróleo, passando por uma série de crises regionais e nacionais.
Ela culminou no fechamento das fronteiras de um país considerado um dos mais turísticos do mundo, mostrando que aquele país, juntamente com os países da Europa, estão prontos a desaquecer a sua economia em nome da saúde pública daqueles países, da saúde pública nacional.
Isso vai derrubar, como consequência, as commodities brasileiras, e nós sabemos que quem empurra hoje economia do Brasil é o agronegócio brasileiro. Mais do que isso, ela ainda atinge no lado da crise nossa no Brasil. Ela vem e nós não podemos nos esconder por trás de números e estatísticas. Ela vem caminhando ao lado de uma epidemia do coronavírus, que já chegou ao Brasil.
Por que é que me dirijo, neste momento, na tribuna do Congresso Nacional, às senhoras e aos senhores? Porque agora é hora de responsabilidade. Que deixemos todos os radicalismos, o ódio, a desunião, os nossos interesses político-partidários legítimos, de divergência, mas que possamos, numa ampla comunhão de vontade, unir forças para deixarmos o que é acessório de lado temporariamente e podermos focar naquilo que é o principal.
Mas mais do que isso, Sra. Presidente Soraya, é importante que o Chefe desta Nação pegue essa bandeira, dirija-se à Nação, não apenas através das redes sociais, numa grande bolha ilusória, mas que possa se dirigir à Nação como o grande Presidente da República de todos nós, independente de termos votado nele ou não, e dê um norte, a diretriz. Mande para o Congresso Nacional as pautas prioritárias, no que se refere ao combate dessa pandemia hoje, porque não é apenas mais uma epidemia nacional. Que mande os projetos considerados relevantes no que se refere à pauta econômica, inclusive a reforma tributária, cuja base tem que sair do Governo Federal, independentemente da posição que tenhamos no mérito, porque aqui eu já quero abrir um parêntese e dizer: a reforma tributária tem que vir do Presidente da República, mas a digital tem que ser do Congresso Nacional.
(Soa a campainha.)
A SRA. SIMONE TEBET (Bloco/MDB - MS) – Eu já encerro.
Por isso eu quero aqui, neste momento, clamar ao Presidente da Câmara, ao Presidente do Senado, que já sinalizaram a abertura do diálogo para o Presidente da República, que o Presidente da República entenda que esse foi um ato de boa vontade do Congresso Nacional com esse Governo. Diz alguém aqui, não da oposição. Quem faz este pronunciamento hoje aqui é alguém que, embora independente, ajudou o Governo em todas as medidas, em todos os momentos e à frente da Presidência da Comissão de Constituição e Justiça, mas que hoje pede ao Presidente da República que exerça seu cargo como tal. V. Exa. é o líder desta Nação, goste um, outros, não. Mas V. Exa. tem que nos dirigir, e nós aqui democraticamente votaremos o projeto de acordo com a nossa consciência.
Encerro, nos meus últimos dez segundos, se me permitir, Deputada Soraya, apenas para dizer o seguinte: não quero ser...
(Soa a campainha.)
A SRA. SIMONE TEBET (Bloco/MDB - MS) – ... alarmista, mas o que vemos hoje é exatamente o contrário. Eu escrevi e gostaria de ler uma versão distorcida da Oração de São Francisco: onde há equilíbrio, estamos levando a instabilidade; onde havia moderação, implantou-se o radicalismo; onde havia diálogo, instituiu-se o monólogo como ferramenta de política. Nos momentos normais, isso faz parte do processo jurídico, político e democrático; nos momentos de crise, não. Ou nós nos damos a mão, ou nós nos perderemos todos. E perderá, acima de tudo, o Brasil.
Eu encerro acreditando na sensatez, no equilíbrio, na capacidade e, acima de tudo, acreditando que a instituição mais democrática deste País é o Congresso Nacional, que não pode ser achacado, ou ser dito por muitos, sejam autoridades ou não, como vilão desse processo. Não. Desde a abolição da escravatura, passando pelo processo de redemocratização, esta Casa, o Congresso Nacional, deu as saídas.
(Soa a campainha.)
A SRA. SIMONE TEBET (Bloco/MDB - MS) – A porta de saída da crise, das crises nacionais sempre passou pelo Congresso Nacional, sob pena de não ser democracia. E a democracia vai ser sempre defendida por todos nós. Nós temos, sim, que defender o Congresso Nacional, porque ao defender o Congresso Nacional, nós defendemos a democracia e o povo brasileiro.
Muito obrigada. Eu peço desculpas. Eu sei que aqui o prazo é regimental, e eu o extrapolei em dois minutos. Muito obrigada, Deputada Soraya e a todos que ouviram atentamente o meu desabafo de brasileira, que eu sei que é o desabafo de muitos, de milhões que estão nos assistindo. Muito obrigada.