Interpelação a convidado durante a 16ª Sessão de Debates Temáticos, no Senado Federal

Sessão de Debates Temáticos destinada a debater o uso de tratamento profilático no combate à Covid-19.

Autor
Jean-Paul Prates (PT - Partido dos Trabalhadores/RN)
Nome completo: Jean Paul Terra Prates
Casa
Senado Federal
Tipo
Interpelação a convidado
Resumo por assunto
SAUDE:
  • Sessão de Debates Temáticos destinada a debater o uso de tratamento profilático no combate à Covid-19.
Publicação
Publicação no DSF de 16/03/2021 - Página 44
Assunto
Outros > SAUDE
Indexação
  • SESSÃO DE DEBATES TEMATICOS, DESTINAÇÃO, DISCUSSÃO, UTILIZAÇÃO, TRATAMENTO, PREVENÇÃO, COMBATE, PANDEMIA, NOVO CORONAVIRUS (COVID-19).

    O SR. JEAN PAUL PRATES (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN. Para interpelar convidado.) – Presidente Girão, desta sessão importante, eu queria fazer uma colocação que é muito específica e que V. Exa. já conhece, porque, inclusive, concorda com ela.

    Não se trata, nesse caso, sequer de entrar no mérito mais aprofundado, já que está sendo aprofundado nesta sessão importante, da posologia, do uso de medicamentos, da própria autonomia do profissional médico, da confiança entre médico e paciente. Nós estamos em pleno acordo quanto a isso. O médico possui autonomia, sobretudo em períodos emergenciais. Mas em uma relação direta entre médico e paciente, no caso, avaliada casuisticamente, acompanhando o desenvolvimento do quadro sintomático de cada um ou de cada uma.

    Mesmo assim, não se trata de liberdade absoluta. Quanto mais longe o profissional – e acho que todos que estão aqui presentes concordarão com isso – médico se afastar do protocolo reconhecido, maior o risco que ele corre. E, naturalmente, maior a responsabilidade também. Nesses termos, estamos totalmente de acordo.

    O que eu tenho a reclamar e a colocar aqui perante os profissionais presentes é se algum deles concorda com o uso político, e eu diria mais, politiqueiro do processo de recomendação de medicamentos.

    A Senadora Zenaide já adiantou o assunto. Aqui nós temos um caso muito grave, em que um Prefeito, Prefeito da capital, vai à televisão e ao rádio – e tenho isso publicado em várias sessões do próprio Senado – dizer: "Eu não vou me vacinar, posso esperar a vacina porque estou tranquilo, estou tomando ivermectina", ou não sei que "ina" dessas. E a última que o disse foi em relação à própria vacina. Ele colocou claramente um conflito ou uma substituição direta entre o medicamento e a vacina. E antes, desde o ano passado – inclusive durante o período eleitoral –, distribuiu remédios e receitou quantos comprimidos cada pessoa poderia tomar. "Olhe, vá lá e tome dois comprimidos, de seis em seis horas". Dava a posologia. E ainda se arvorava, nesse sentido, por ser médico. "Sou médico, Prefeito e o negócio é o seguinte: vá lá no ginásio tal, pegue os remedinhos, tome e fique tranquilo, porque isso tem caráter preventivo; não é tratamento precoce, é preventivo".

    Eu acho isso de uma gravidade absurda, porque, claro, vocês podem prever qual é o resultado. A pessoa, o incauto, que não tem a obrigação do conhecimento médico completo, adquire uma sensação falsa de segurança, de imunidade contra o vírus e, naturalmente... Eu não estou dizendo que alguns deles e que o próprio Prefeito – vamos fazer justiça –, em algum momento, tenha dito: "Deixe de usar máscara, porque você está tomando ivermectina". Ele disse que não tem problema esperar a vacina, o que é grave. "Vamos esperar a vacina com tranquilidade". O que é que isso diz a contrario sensu? Diz, "Olha, se você tomar o remédio, você pode viver normalmente". O cara pensa, imediatamente: vou à feira.

    Eu fiz campanha em Natal. Encontrei pessoas na feira e, interpelando como é que estava o movimento na casa, me disseram: "Estou tranquilo, porque estou tomando o remédio. Eu posso ficar aqui normalmente." Claro que elas estavam, na maioria, de máscara. Mas sabe-se lá que outros cuidados ou se algumas delas, talvez, nem estivessem de máscara. A máscara é uma unanimidade.

    Inclusive, pena que nós aqui, no Senado, Senador Girão, tivemos de propor uma lei para obrigar o uso de máscara, porque isso seria uma óbvia medida a ser tomada pelo Ministério da Saúde, desde o início da pandemia. Lá pela metade do curso do ano passado é que nós conseguimos aprovar, com todo o tempo de tramitação que isso requer, uma lei de que me orgulho de ter relatado, juntamente com a contribuição de todos os colegas, para obrigar o uso de máscara. Mesmo assim, lembrem-se, fomos vítimas de fake news. Teve gente que escreveu na minha rede social: "Você é um xiita que está querendo que a polícia invada a casa das pessoas para obrigá-las a usar máscara". Saía todo tipo de fake news, inclusive essa de que a gente estaria obrigando a polícia a entrar na casa das pessoas, como comunistas que querem invadir a casa, aproveitando o ensejo da pandemia. Isso é só para ver com a gente está sujeito a interpretações dos atos da gente.

    Então, alguém, quando um político, mesmo se arvorando como médico – e, a meu ver, até piorado pela condição de ser arvorar como médico –, com toda essa segurança que o médico transmite, vai à televisão genericamente e diz: "Você que é gordo, magro, preto, branco, pequeno, grande, com comorbidade ou não, tome dois comprimidos a cada não sei quantas horas que está tudo bem, vamos para a economia, vamos bombar aí, vamos trabalhar, porque a economia do Rio Grande do Norte não pode parar", é uma temeridade.

    Eu gostaria que os profissionais, mesmo os que concordam com as liberdades, com a esperança de ver algumas dessas testagens comprovadas no futuro, fossem peremptórios em relação a isso. Uso político não, de forma alguma, porque o povo não é gado. O povo não é todo igual. Deve ser submetido à responsabilidade de todo tipo, jurídica e política, aquele que receita isso genericamente, e passa, como eu disse, a sensação falsa de imunidade. Está aí o resultado, que Zenaide acabou de colocar: 90% dos casos de UTIs do Rio Grande do Norte, hoje, estavam tomando o kit Covid. Não é o efeito do kit Covid, mas talvez a gente não estivesse nessa situação se não tivessem sentido uma sensação de imunidade provocada pelo medicamento. O uso precoce... Tem o sintoma, foi diagnosticado, foi tratado por um médico, o médico olhou a pessoa? O.k., vamos lá, pode tomar aspirina também, de repente dá certo. Agora, a posologia dada genericamente na TV em horário nobre eu acho que passa um pouco do ponto. Gostaria que fizessem observações a respeito. Obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/03/2021 - Página 44