Discurso durante a 16ª Sessão de Debates Temáticos, no Senado Federal

Sessão de Debates Temáticos destinada a debater o uso de tratamento profilático no combate à Covid-19.

Autor
Jean-Paul Prates (PT - Partido dos Trabalhadores/RN)
Nome completo: Jean Paul Terra Prates
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE:
  • Sessão de Debates Temáticos destinada a debater o uso de tratamento profilático no combate à Covid-19.
Publicação
Publicação no DSF de 16/03/2021 - Página 57
Assunto
Outros > SAUDE
Indexação
  • SESSÃO DE DEBATES TEMATICOS, DESTINAÇÃO, DISCUSSÃO, UTILIZAÇÃO, TRATAMENTO, PREVENÇÃO, COMBATE, PANDEMIA, NOVO CORONAVIRUS (COVID-19).

    O SR. JEAN PAUL PRATES (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN. Para discursar.) – Obrigado, Presidente desta sessão, Girão.

    Eu queria, fechando a sessão, tentar fazer uma conciliação geral de entendimentos, porque, vejam, a importância deste tipo de sessão é inegável.

    Corroborando também o que o Senador Marcelo Castro colocou, sair confuso, ou o Senador Izalci, sendo solidário a ele, e até o Senador Marcos do Val, que agora inverteu uma posição que era minha aqui, ao nos pedir que não entrássemos com ações – e eu vou explicar já porque nós... Aqui, no caso, eu entrei não com uma ação; fiz apenas uma representação no Ministério Público. Em outros lugares, houve ações mais radicais, digamos assim, mas já chego lá.

    Eu queria dizer, inicialmente, que um dos objetivos, Senador Girão, de uma audiência como esta, às vezes, é exatamente colocar de frente para todos as confusões que existem, mesmo que a gente não chegue a conclusões específicas, até porque temos, neste tema, duas características fundamentais: uma, que ele é muito complexo; e outra, que ele demora tempo para maturar, porque as experiências... E a ciência correrá atrás das teses que são colocadas aqui e de outras que nem foram colocadas aqui, mas que pululam mundo afora, o que demora um tempo natural, realmente. Só que do outro lado, nós temos uma emergência.

    Então, é preciso entender também aqueles que tentam fazer, caracterizar algum tipo de solução, mesmo que precária, mesmo que tenha as suas deficiências ou que ainda esteja sujeita a confirmações. Eu entendo isso aí perfeitamente. Não sou contra o procedimento de se utilizar os medicamentos, sempre de forma assistida e diagnosticada, caso a caso. E esse que é o meu ponto.

    Para o doutor aí que trouxe uma logomarca, fazendo propaganda da clínica dele, eu estou trabalhando é a favor do trabalho dos médicos. Eu quero que cada um de V. Sas., médicos, seja de fato consultado por cada um dos clientes e, se tiver que tomar aspirina, como eu disse, Coristina, azitromicina, ou qualquer "ina" dessas, ivermectina ou cloroquina, que tome e que cada médico desse assine embaixo, assine o aval disso aí. Não há problema nenhum. Isso faz parte da responsabilidade do médico. O que eu quis, Marcos, colocar aqui, não foi por uma ação genérica, para que ninguém prescreva medicamento nenhum; o que eu quis me referir foi a isto aqui, que é o uso que eu acho...

(Procede-se à reprodução de vídeo de celular.)

    O SR. JEAN PAUL PRATES (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) – Infelizmente, eu não obtive uma resposta clara dos Doutores sobre o que eles acham desse tipo de postura, que é simplesmente o seguinte, vou traduzir: o Prefeito vai à televisão e diz assim: Tome nesta dose, todo mundo tome nesta dose, o determinado remédio, e vá tranquilo para a feira, que está protegido. Veja o que ele falou, "está protegido contra o coronavírus".

    Eu não estou fazendo nenhum cavalo de batalha eleitoral aqui. A eleição já passou, acabou a eleição. Não há eleição, mesmo que ele tenha usado isso para ganhar a eleição. Tudo bem, isso vai ser analisado ao longo da história e os eleitores vão perceber. O que eu estou falando é que isso está acontecendo agora. Isso aconteceu semanas atrás, quando ele tentou se vacinar e aí denunciaram que ele estava furando a fila e ele disse "não, não tem problema" e fez essa colocação. Não há problema em que eu vá esperar tomando ivermectina e recomende a todos e todas que façam a mesma coisa. Tomem o remédio e vida normal.

    Isso é contra o trabalho de vocês. É isso que eu estou dizendo! Porque o Prefeito é um político, ele não está ali como médico, ele não está vendo todo mundo, caso a caso. Não está vendo. Ele está falando genericamente. Isso sim é uso politiqueiro do medicamento, e é por essa razão... Veja o porquê da importância dessa discussão, Girão: porque é por essa razão que há esse debate. Não é por outros motivos. Não é porque ninguém tem inveja da Doutora Nise, da Doutora Ellen, porque elas saíram na frente e prescreveram alguma coisa que pode ser um dia comprado. Não é isso. O medo da sociedade brasileira é que isso se torne um placebo, falso imunizador, e que, ao correr pelo WhatsApp, pelas redes sociais, o boato de que remédio tal, remédio "y" e tal, etc., cura o Covid ou assassine o Covid...

    E outra confusão que a gente sai daqui sem resolver é a questão do que é tratamento precoce, o que é tratamento preventivo, porque há uma confusão terminológica o tempo todo. As pessoas saem de um conceito e vão para o outro com uma facilidade enorme. A meu ver, há um tratamento quando você apresenta os sintomas, a partir da apresentação dos sintomas, e há aquela pessoa que não está com nada, que quer sair de casa e ainda toma ivermectina para sair de casa, como se estivesse sido vacinada. Há gente que faz isso, pessoal. Não é à toa que, nessa segunda onda, os lugares onde há os números mais críticos, infelizmente, são exatamente os lugares onde grassou mais essa tese de tomar remédio e sair. Então, é preciso ter cuidado com isso.

    Nós não estamos falando contra vocês, doutores que estão na vanguarda, querendo abrir novos horizontes, abrindo sendas importantes para a ciência, na prática, tentando receitar remédios que, na pior das hipóteses, não farão mal, mas podem ajudar. Não estamos tolhendo essa esperança, Girão. O que nós queremos é responsabilidade, porque, na era da rede social, na era da politização, da polarização, isso passou a ser "ah, esse é o remédio do Bolsonaro, esse é o remédio do Prefeito". Se eu sou do Prefeito, eu tomo o remédio. Se eu não tomo, é porque eu sou antibolsonaro. Não tem nada a ver. Se a gente faz isso, a gente condena a metade que votou em Bolsonaro a sair por aí sem máscara.

    Eu estou dizendo isso até para colocar para o Doutor André, que colocou a obrigação da máscara, que nós – eu, Girão, Marcelo Castro, Marcos do Val, Zenaide – votamos um projeto para proibir a presença das pessoas sem máscara em ambientes públicos. Sabe quem é que vetou isso? Infelizmente, eu preciso dizer: o Presidente da República vetou isso. Nós vamos ter sessão esta semana. Felizmente, um dos vetos importantes é derrubar isso. Parece brincadeira, porque a gente está num País, onde, primeiro, nós tivemos que fazer uma lei, no Senado, no Congresso, passando não sei lá quantos dias de tramitação, depois que muita gente já estava contaminada e morrendo, para colocar máscaras nas pessoas. E mais piada ainda é que essa lei, que tem todo o sentido e unanimidade por todos nós que estamos aqui, eu imagino, e eu ouvi aqui os depoimentos, foi vetada pelo Presidente da República. A título de que o Presidente vetou isso? Qual a explicação para isso? Não há explicação, a não ser politicagem. Então, não vamos fazer politicagem, nem na esquerda, nem na direita, nem no governismo, nem no oposicionismo.

    O que é que nós queremos? É que os debates como esse, mesmo que saiamos com várias perguntas, com várias dúvidas, sejam produtivos e que a gente consiga entender o que que é precoce e o que que é preventivo, o que a Doutora Nise está propondo. "Olhe, o medicamento que eu estou propondo é assim, assim, assim, você tem que ir ao médico, o médico vai receitar, que o doutor que faz propaganda aí e aqui fature...". Porque não vá me dizer que o laboratório Merck... Agora, a nova teoria da conspiração – permita-me uns segundos finais, Eduardo Girão – é que o Merck disse que a própria ivermectina que ele mesmo fabrica não faz efeito nenhum para a Covid. Aí você diz isso para as pessoas e "como é que pode? O laboratório, o próprio fabricante, falou que o negócio não serve...". Aí, agora vem uma teoria conspiratória que diz: "Não, é porque os laboratórios querem, na verdade, que você mate essa história da ivermectina porque, como a ivermectina é muito barata, muito simples, eles têm que inventar um outro remédio mais caro para combater o Covid". Eles vão elaborar isso aí. Eu posso dizer a mesma coisa dos médicos e das farmácias que estão faturando com ivermectina. Ou não posso? Então, se a gente entrar nessa seara da teoria conspiratória de quem ganha, quem perde, eu, na verdade, sei, conheço pessoas da Merck na Alemanha, que me disseram: a Merck fez essa afirmação porque ela estava temendo a quantidade de pessoas que estão tomando isso, indo para o hospital e morrendo. Reservado aqui o direito aos médicos de comprovar que isso pode ajudar nos efeitos, aquela história toda do cara que está tomando remédio contra o coração e assim mesmo tem infarto. Eu estou perfeitamente consciente disso.

    Mas o laboratório, diante da avassaladora venda desse remédio no mundo todo, resolveu fazer aquilo ali como segurança, dizendo: olha, não vão dizer que a gente falou que era para isso. Estão investigando, mas a gente aqui não pode dizer nada a respeito, estamos apenas fabricando remédio para verme.

    Essas colocações são importantes. A gente sai com dúvidas? Sai, mas são boas dúvidas. Vamos adiante com as dúvidas. Vamos debater mais, mas vamos, sobretudo, não cometer a irresponsabilidade de tentar transformar qualquer medicamento desse numa panaceia e vender para a população, como eu coloquei aqui o depoimento, em televisão, horário nobre, que aquilo previne o Covid e você pode ir para a rua, porque isso é um desserviço. Isso não existe em lugar nenhum do mundo. Em lugar nenhum do mundo, um chefe político faz isso. Esse é o meu ponto.

    Quero agradecer, Girão, o espaço a mais, agradecer aos profissionais que estavam aqui, que tiraram o seu tempo para nos ajudar a esclarecer isso. E dizer que nem sempre, como eu disse, uma audiência termina com tudo concluído. É apenas o começo de uma discussão, colocação de pontos de vista, como o Girão colocou, de forma educada, racional, às vezes até um pouco mais ríspida e tudo, mas que faz parte da discussão. Mas nós saímos daqui, certamente, mais enriquecidos com esse conhecimento, inclusive pelas dúvidas que ele gerou.

    Um abraço, pessoal. Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/03/2021 - Página 57