Interpelação a convidado durante a 18ª Sessão de Debates Temáticos, no Senado Federal

Interpelação a convidado da Sessão de Debates Temáticos destinada à análise, com representantes de instituições e empresas, sobre a viabilidade do fornecimento de vacinas e de oxigênio no Brasil, detalhando quantitativos e prazos conforme as suas estruturas produtivas, de modo a reduzir os efeitos danosos do novo coronavírus (Covid-19).

Autor
Simone Tebet (MDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Simone Nassar Tebet
Casa
Senado Federal
Tipo
Interpelação a convidado
Resumo por assunto
SAUDE:
  • Interpelação a convidado da Sessão de Debates Temáticos destinada à análise, com representantes de instituições e empresas, sobre a viabilidade do fornecimento de vacinas e de oxigênio no Brasil, detalhando quantitativos e prazos conforme as suas estruturas produtivas, de modo a reduzir os efeitos danosos do novo coronavírus (Covid-19).
Publicação
Publicação no DSF de 24/03/2021 - Página 51
Assunto
Outros > SAUDE
Indexação
  • INTERPELAÇÃO, CONVIDADO, SESSÃO DE DEBATES TEMATICOS, DISCUSSÃO, REPRESENTANTE, ENTIDADE, EMPRESA, VIABILIDADE, FORNECIMENTO, VACINA, PRODUTO INDUSTRIALIZADO, BRASIL, QUANTITATIVO, PRAZO, ESTRUTURA, PRODUÇÃO, COMBATE, NOVO CORONAVIRUS (COVID-19), PANDEMIA.

    A SRA. SIMONE TEBET (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - MS. Para interpelar convidado.) – Obrigada, Sr. Presidente.

    Eu não tenho mais perguntas a fazer. Aliás, tenho muitas perguntas, mas não dirigidas a esses convidados. Acho que a audiência cumpriu o seu propósito. Quero agradecer imensamente à Senadora Rose pela iniciativa, porque nos permitiu ter as informações necessárias para que pudéssemos agora ter convicção daquilo que tínhamos apenas como suspeita, até por leituras que fazíamos e fizemos através dos veículos, grandes veículos de imprensa, especialmente os grandes jornais de circulação.

    Hoje, infelizmente, na mesma toada do Senador Tasso Jereissati, esta audiência comprovou apenas o que nós já suspeitávamos e temíamos: nós não teremos vacinas suficientes e a tempo para acabar com essa carnificina. Nós estamos vivendo, Sr. Presidente, momentos talvez dos mais difíceis que eu possa lembrar na minha vida adulta, tempos tenebrosos, tempos em que estamos vendo irmãos brasileiros – no meu caso, sul-mato-grossenses – morrendo nas filas dos hospitais. Não temos leitos, não temos UTI, não temos oxigênio, não temos insumo, não temos medicamentos para intubar os nossos pacientes. Está faltando caixão, Sr. Presidente. Só não pode faltar ação, sensibilidade do Congresso Nacional.

    Eu faço aqui um apelo a V. Exa. e aos colegas. É a primeira sessão que nós estamos fazendo depois do falecimento do Senador Major Olimpio. Millôr Fernandes sempre dizia que viver é desenhar sem borracha. Com isso, ele queria dizer – e falava isso – que a vida não é um desenho feito a lápis, porque sempre fica a marca d'água. Aí eu digo, Sr. Presidente, que nós temos que ter muito cuidado para não errar naquilo que é essencial. E, quando nós estamos falando do essencial, nós estamos falando de vidas. Nós não podemos errar quando está nas nossas mãos a vida de milhões de brasileiros. É isto o que está acontecendo em relação ao Covid diante da necessidade urgente de vacinação, Sr. Presidente, erros que borracha alguma será capaz de apagar da nossa memória: vidas perdidas de filhos, de pais, de avós. O passado não se apaga. Foi um passado de negação, um passado de omissão, um passado de mortes de quase 300 mil brasileiros.

    Mas nós temos tempo, Sr. Presidente, nós estamos com tempo.

    A Comissão de acompanhamento que V. Exa. instalou e que muito brilhantemente tem feito o seu trabalho pelas mãos tão competentes e harmoniosas do Senador Confúcio é fundamental, mas não é suficiente. A ideia primorosa, genial, que veio no momento certo, da Senadora Kátia Abreu de apelar ao mundo num pacto de solidariedade para que ajude o Brasil a ajudar o próprio mundo, para que possamos acabar com a pandemia também é necessária, mas não é suficiente.

    Então, eu peço a V. Exa. que, com a prancheta do desenho que nós temos à mão, que V. Exa., com todas as mãos sendo oferecidas agora a V. Exa., fale pelo Senado Federal e pelo Congresso Nacional. Até agora, entendemos o posicionamento de V. Exa. Temos que aguardar hoje o pronunciamento do Presidente da República. Amanhã, V. Exa. terá uma reunião decisiva com os Governadores e o Presidente da República. Mas se, de lá, Sr. Presidente, nós não tivermos uma mudança de posicionamento do Presidente da República, nós estaremos engrossando o coro a favor da CPI da pandemia. Não é possível mais. Há um limite entre a omissão e a prevaricação. A prevaricação passa a ser crime. Nós, por enquanto, estamos dentro do limite do tolerável, Sr. Presidente, mas, a partir do momento em que o Presidente da República se negar, a partir de amanhã, a ir para a televisão e dizer que a vacina é necessária, a dar o braço, na frente da opinião pública e da imprensa, para a vacina e dizer "tomem qualquer vacina, vacina já, porque é a única capaz de salvar"; se o Presidente da República não mudar o discurso de vacina ou economia, saúde ou emprego, como se fossem coisas distintas, o que, na realidade, não são, pois são os dois lados da mesma moeda – sem vacina, não há emprego; sem vacina, não há retomada da economia, e isso todos já estão dizendo; se o Presidente da República não vier a público dizer que apenas o afastamento – não estou falando de lockdown, mas apenas de afastamento, do distanciamento social – é capaz de salvar vidas e que máscaras, sim, são necessárias e precisam ser distribuídas gratuitamente para a população brasileira, repito, V. Exa. terá que instalar a CPI da pandemia.

    Este é o pedido que faço, o pedido de uma Senadora que está em Mato Grosso do Sul com leitos superlotados, não aguentando mais, Sr. Presidente, ter que ouvir, de colaboradores, de pessoas, de cidadãos sul-mato-grossenses que, pelo amor de Deus, um leito para salvar a vida do seu pai, de sua mãe, de seu avô ou de sua avó. Então, o apelo que faço a V. Exa., que tão bem está conduzindo até agora, até este momento, é que, a partir de amanhã, a depender do posicionamento do Presidente da República, possa falar por nós, possa desenhar por nós uma nova história para o nosso País, porque hoje são mais de três mil pessoas que perderam a vida pelo negacionismo, pela omissão e pela irresponsabilidade de alguns poucos que ainda acreditam que, através de uma contaminação em massa o mais rapidamente possível, nós podemos, com o efeito manada ou rebanho, sair dessa crise.

    Desculpe-me pelo desabafo, Sr. Presidente, mas a Bancada Feminina, pelo menos algumas Senadoras têm me abordado, e nós estamos no limite do tolerável. Eu imagino o que esses heróis da frente de resistência da saúde estão passando neste momento.

    Meu Estado é pequeno. Lá morrem, proporcionalmente, muito menos pessoas do que morrem nos grandes centros, e nós não estamos suportando tanta dor. Eu não perdi ninguém próximo ainda, nenhum familiar, mas eu me doo pelas mães e pelos filhos que estão perdendo seus entes queridos, Sr. Presidente.

    Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/03/2021 - Página 51