Pela ordem durante a 21ª Sessão Deliberativa Remota, no Senado Federal

Comentário e análise sobre manifestação do Presidente Rodrigo Pacheco acerca da confiança dos brasileiros nas Forças Armadas. Crítica à comemoração nos últimos três anos, em 31 de março, do Golpe Militar.

Autor
Rose de Freitas (MDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Rosilda de Freitas
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela ordem
Resumo por assunto
DEFESA NACIONAL E FORÇAS ARMADAS:
  • Comentário e análise sobre manifestação do Presidente Rodrigo Pacheco acerca da confiança dos brasileiros nas Forças Armadas. Crítica à comemoração nos últimos três anos, em 31 de março, do Golpe Militar.
Publicação
Publicação no DSF de 01/04/2021 - Página 14
Assunto
Outros > DEFESA NACIONAL E FORÇAS ARMADAS
Indexação
  • COMENTARIO, ANALISE, MANIFESTAÇÃO, PRESIDENTE, SENADO, RODRIGO PACHECO, DURAÇÃO, ENTREVISTA, DISCURSO, PAIS, RELAÇÃO, CONFIANÇA, POPULAÇÃO, FORÇAS ARMADAS, HISTORIA, ASSEMBLEIA CONSTITUINTE, ULYSSES GUIMARÃES, CRITICA, COMEMORAÇÃO, GOLPE DE ESTADO, SUPRESSÃO, LIBERDADE, DEMOCRACIA, TORTURA, MORTE.

    A SRA. ROSE DE FREITAS (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - ES. Pela ordem.) – Sr. Presidente, primeiro muito obrigada. Ontem eu até me inscrevi para falar, e não consegui entender, porque fui uma das primeiras... Depois também não sabia se tinha apagado. Eu peço desculpas porque fiquei insistindo e não quero atribuir a ninguém... Hoje realmente eu não gostaria de interromper V. Exa., mas eu gostaria que me permitisse me dirigir especialmente a V. Exa.

    V. Exa. ontem falou algumas palavras na sua entrevista, na sua mensagem ao País, em que dizia da confiança que nós todos, brasileiros, temos, com certeza, nas Forças Armadas.

    Como V. Exa. sabe, eu fui Constituinte. Este País já viveu muitos momentos difíceis. A sua palavra de confiança, de serenidade... Ainda lhe falam que o senhor é mineiro demais; eu, que sou mineira, fico dizendo que nos atribuem uma calma que eu não tenho, parece que não nasci lá. Mas a sua serenidade e o seu bom senso me deixam muito mais tranquila porque, durante a Constituinte, Presidente, nós tivemos um momento em que, até para a abertura do texto constitucional, houve um certo acirramento de posições. Eu fiz parte da Comissão de Sistematização e, do outro lado, se formou o que, na época, era designado de centrão, mas não é parecido com o centrão de agora, e o Presidente Ulysses tinha uma discussão sobre a palavra soberana.

    Eu relembro isso a meus colegas, Senador Otto, Senador Confúcio, Senador Paulo Rocha, Senador Fernando Bezerra. Eu relembro que, naquele momento, se não tivéssemos Ulysses, por toda a discussão travada em torno da "Assembleia Nacional Constituinte, livre e soberana" – e a palavra "soberana" por alguns setores da área militar não era aceita... Gerou-se uma enorme confusão.

    Eu recupero esse pedacinho da história para dizer que, quando sobre a mesa se discutia se a palavra "soberana" seria incluída ou não no texto constitucional, na abertura, vimos um homem gigante, com sua história, com o seu caráter, com a sua determinação, dizer que quem não queria a palavra "soberana" falava em tanques, e o homem que queria a palavra "soberana" falava em povo. Ele falava: "Quem colocar o tanque na rua, colocaremos o povo".

    Quando V. Exa. ontem – e eu peço vênia para poder lhe dizer estas palavras; acho que posso fazê-lo do alto da nossa pequena história política neste País, no oitavo mandato – recupera e relata e reafirma a confiança... eu quero fazer ao lado de V. Exa. Só quero dizer a quem nos ouve e a quem, por acaso, ajudou a redigir o texto do Ministro da Defesa, que coloca palavras como "restauramos a ordem democrática" – democrática, não! –, "a ordem pública", eu só quero dizer que a história do Brasil não pode mudar. E eu peço que não a mudem, em nome dos meus filhos, dos meus netos.

    Na verdade, nós estamos vendo, há três anos, comemorar-se o 31 de março como se fosse um gesto histórico, mas ele não foi – ele não foi! –, ele não é. Trinta e um de março pode ser lembrado por certos setores como um momento em que houve uma dita revolução, mas para mim foi um golpe, para mim foi a ditadura. Não se pode escrever na história do Brasil outra palavra que não seja: supressão das liberdades democráticas, tortura, mortes. Não podemos escrever nada diferente disso. O que eu quero com isso? Eu votei pela anistia, fiz campanha pela anistia. Eu quero o Brasil como V. Exa. descreveu: com confiança nas Forças Armadas.

    Então, aquele longo silêncio de 21 anos não foi, não foi um reordenamento de ordem pública; foi um golpe na liberdade deste País. E, em nome dessa liberdade, pela nossa história, se eu ficasse calada hoje, com certeza, relembrando o Congresso fechado, os atentados, as mortes, as torturas, eu estaria me omitindo na história do meu País. Mas eu quero dizer, realmente, eu quero ressuscitar em mim o sentimento de confiança para continuar na vida política. E quero dizer que V. Exa. faz parte hoje disso.

    Infelizmente, logo em seguida às suas palavras, que eu fiz questão de distribuir pela rede social, veio essa nota do Ministério da Defesa – uma nota que não estará no livro da história, com certeza.

    Por isso, eu quero agradecer a V. Exa. por nos acalentar, por nos deixar com muita confiança em prosseguir na nossa jornada política, acreditando que o Congresso está entregue em boas mãos. V. Exa. saberá, à altura do seu caráter, da sua idoneidade, da sua seriedade, dos seus compromissos, fazer com que o Congresso esteja em pé, como o povo brasileiro está e sempre esteve. Ninguém, nenhuma farda devolveu ao povo brasileiro nada. O povo brasileiro devolveu ao povo brasileiro a democracia, porque, ao longo de 21 anos, Sr. Presidente, saiu do outro lado um menino, um jovem, com um título de eleitor na mão sem jamais ter sido usado.

    E hoje nós temos garantia de que se V. Exa. estiver em alguma loucura, alguma façanha, alguma aventura, algum devaneio, suscitar qualquer outra fala no Brasil que não seja a sua, pelo respeito às Forças Armadas, pela garantia das liberdades democráticas, haverá de conhecer um povo brasileiro altaneiro, altivo, lutador, mulheres e homens capazes de fazer lembrar que a história de um país se constrói com liberdade, com dignidade.

    Eu quero... Sinta-se abraçado por mim. A minha história não lhe emprestará nada, mas a sua está emprestando à minha neste momento.

    Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/04/2021 - Página 14