Discussão durante a 28ª Sessão Deliberativa Remota, no Senado Federal

Preocupação e alerta sobre a possibilidade de perdas comerciais em razão da política ambiental praticada no País.

Autor
Kátia Abreu (PP - Progressistas/TO)
Nome completo: Kátia Regina de Abreu
Casa
Senado Federal
Tipo
Discussão
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL:
  • Preocupação e alerta sobre a possibilidade de perdas comerciais em razão da política ambiental praticada no País.
Publicação
Publicação no DSF de 15/04/2021 - Página 73
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL
Indexação
  • PREOCUPAÇÃO, PRESIDENTE, COMISSÃO DE RELAÇÕES EXTERIORES (CRE), COMERCIO, AMBITO INTERNACIONAL, POLITICA, MEIO AMBIENTE, DESMATAMENTO, DECLARAÇÃO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), FORUM, CLIMA, POSSIBILIDADE, ACORDO INTERNACIONAL, INGRESSO, ORGANIZAÇÃO PARA COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONOMICO (OCDE).

    A SRA. KÁTIA ABREU (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO. Para discutir.) – Obrigada, Sr. Presidente, colegas Senadores e Senadoras.

    Eu gostaria de aproveitar essa oportunidade, Sr. Presidente, para fazer um alerta como Presidente da Comissão de Relações Exteriores aos meus colegas Senadores e Senadoras a respeito de algumas questões gravíssimas que estão acontecendo no País.

    Fizemos os mesmos alertas a V. Exa., nosso Presidente, e aos colegas a respeito da vacina, da diplomacia da vacina. E, enfim, nós chegamos a bom termo e uma substituição do Chanceler já acomodou, em apenas uma semana de trabalho do novo Chanceler, apenas praticando a normalidade, muita coisa na nossa diplomacia, Sr. Presidente.

    E agora eu venho alertar a respeito das questões ambientais. Claro que a minha maior preocupação no mundo hoje é a pandemia, as vacinas, o contágio e as mortes, mas, em segundo lugar, eu estou muito preocupada com as questões comerciais e não estou vislumbrando bons momentos para nós num futuro próximo.

    Os Estados Unidos, através do seu Embaixador Todd Chapman, fez uma declaração muito dura, muito forte num fórum de empresários, políticos, economistas, no sentido de que o Governo dos Estados Unidos considera a Cúpula de Líderes sobre o Clima, marcada por Joe Biden agora no 22 de abril, como a última chance de o Brasil mostrar preocupação ambiental para recuperar a confiança dos americanos e ampliar as relações com a Casa Branca.

    Quando eu digo que é a última chance, Sr. Presidente, significa que a partir da última chance, se eu não aproveitar, eu, claro, estou indicando nesta fala perdas que podem chegar, Sr. Presidente, a sanções, a retaliações, a boicotes, a restrições, a não encaminhar acordos nossos que estão em andamento, colocar sobretaxa sobre os nossos produtos, reduzir cotas.

    Eu quero lembrar que, dos investimentos do mundo no Brasil hoje, os Estados Unidos são o maior investidor no Brasil, com uma cota significativa nos seus investimentos da ordem, Sr. Presidente, de US$103 bilhões – o estoque de investimento no Brasil. O maior investimento do mundo no Brasil é dos americanos. E a outra questão: a nossa corrente de comércio entre exportação e importação está na casa dos US$106 bilhões.

    E o Embaixador não para por aí: com as ameaças explícitas num fórum aberto em live, foi firme o Embaixador ao dizer que o meio ambiente vai nortear as relações entre Brasil e Estados Unidos e que acordos comerciais entre os dois países e a entrada na OCDE – a entrada do Brasil na OCDE, por exemplo – dependem da latitude do plano que o Governo Jair Bolsonaro vai apresentar na cúpula organizada por Biden no dia 22 de abril.

    Sr. Presidente, no mês de março deste ano, nós tivemos um aumento no desmatamento de 12,6% em relação a março do ano passado. O ano passado todo, nós tivemos o maior aumento de desmatamento dos últimos doze anos.

    Isso são os Estados Unidos. Com relação à União Europeia, Sr. Presidente, que é a nossa grande ambição de acordo comercial, União Europeia–Mercosul, que hoje tem uma corrente atual de comércio de 77,4 bilhões... Tudo que o Mercosul vende para lá e o que eles vendem para o Mercosul são 77 bilhões. Se o acordo for feito, eu estou com todos os estudos econométricos prontos, para dizer que esse fluxo de comércio, que essa corrente de comércio, em dez anos, Sr. Presidente, vai dobrar, em US$154 bilhões por ano em dez anos. É isso que nós estamos perdendo com a ausência desse acordo. E ele foi rompido, ele foi paralisado exclusivamente por conta da questão ambiental e do aumento do desmatamento.

    Sr. Presidente, nestes próximos dez anos, se nós tivéssemos fechado o acordo em 2019, como era o planejado, a renda per capita do brasileiro teria um aumento exorbitante, Sr. Presidente. Nós sairíamos de R$45 mil para quase R$50 mil em dez anos, a nossa renda per capita. E isso é muito triste para nós.

    Eu alerto ao Senado Federal, como Presidente da CRE, a V. Exa., o nosso Presidente do Congresso Nacional, da gravidade que nós estamos correndo, com uma palavra explícita do Embaixador americano, verbalizando a intenção do Governo Biden.

    Eu tive uma reunião com os 23 Embaixadores da União Europeia – 21, aliás – e o seu coordenador, o Embaixador Inácio. E a conversa foi a mesma: não haverá dinheiro para conter desmatamento, do estrangeiro, se nós não sinalizarmos em fazer o dever de casa. Não adiantarão recursos para fazer o desmatamento. Na cabeça deles, da Europa e dos Estados Unidos, adiantar dinheiro agora, sem cumprir o Acordo de Paris, sem cumprir todas as nossas metas, seria premiar o crime ambiental, o desmatamento ilegal.

    Então, o Ministro Salles tinha esta expectativa, o pedido de US$1 bilhão para 2021, para que ele pudesse conter o desmatamento. E isso não é possível, Sr. Presidente. Já, inclusive, comuniquei a várias pessoas do Governo, ao Chanceler, já comuniquei ao Almirante Flávio que isso não será possível.

    E nós estamos correndo um risco muito grande de perder o que já temos em comércio e impedir que esse comércio possa ser ampliado, num momento em que o Brasil passa por uma crise extraordinária, uma crise nunca vista, por conta da pandemia, claro, não estou aqui culpando o Governo por isso.

    Então, está dado o meu alerta, Sr. Presidente. E a Comissão de Relações Exteriores vai estar sempre pronta para informar os meus colegas sobre os acontecimentos importantes do País no que diz respeito à defesa do nosso País e ao comércio exterior.

    Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/04/2021 - Página 73