Interpelação a convidado durante a 19ª Sessão de Debates Temáticos, no Senado Federal

Sessão de Debates Temáticos destinada ao comparecimento do Sr. Ernesto Araújo, Ministro das Relações Exteriores, a fim de prestar informações sobre a atuação do Ministério nos esforços para obtenção de vacinas contra a Covid-19.

Autor
Kátia Abreu (PP - Progressistas/TO)
Nome completo: Kátia Regina de Abreu
Casa
Senado Federal
Tipo
Interpelação a convidado
Resumo por assunto
SAUDE:
  • Sessão de Debates Temáticos destinada ao comparecimento do Sr. Ernesto Araújo, Ministro das Relações Exteriores, a fim de prestar informações sobre a atuação do Ministério nos esforços para obtenção de vacinas contra a Covid-19.
Publicação
Publicação no DSF de 25/03/2021 - Página 20
Assunto
Outros > SAUDE
Indexação
  • SESSÃO DE DEBATES TEMATICOS, DESTINAÇÃO, COMPARECIMENTO, MINISTRO DE ESTADO, ITAMARATI (MRE), SOLICITAÇÃO, INFORMAÇÃO, ATUAÇÃO, VACINA, AQUISIÇÃO, OBTENÇÃO, COMBATE, PANDEMIA, NOVO CORONAVIRUS (COVID-19).

    A SRA. KÁTIA ABREU (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO. Para interpelar convidado.) – Obrigada, Presidente. Colegas Senadores, Ministro Chanceler do Brasil, muito obrigada por sua presença aqui no dia de hoje.

    Eu gostaria de registrar, Sr. Presidente e Sr. Chanceler, em primeiríssimo lugar, que o Governo tem decantado em verso e prosa com relação ao número de brasileiros vacinados e alega que o Brasil é o segundo maior país ou está entre os cinco países em número de vacinados no mundo.

    Na realidade, quando ele coloca isso, ele não está mentindo, porque realmente 12 milhões de pessoas se vacinaram no Brasil. Mas se nós fizermos a vacinação em termos percentuais e proporcionais, nós temos um dos números mais baixos dentre esses países. E se nós dividirmos quem vacinou uma dose e quem vacinou duas doses, se nós considerarmos apenas quem vacinou duas doses, nós temos apenas 1,9% da população que se vacinou, porque 11 milhões de brasileiros tiveram uma dose e apenas 4,2 milhões tiveram duas doses. Então, em termos percentuais, nós temos 5,9% dos brasileiros vacinados.

    O nosso grande problema, Ministro, é a vacina. Nós temos problemas internos de gestão dos hospitais, dos leitos, dos medicamentos, de tudo – nós temos problemas internos de toda sorte. Ministro Ernesto, a única questão hoje que pode nos salvar é vacina. Não adianta eu morar debaixo da ponte e ganhar uma casa nova ou comprar uma casa nova, mas alguém me dizer que eu só vou recebê-la daqui a um ano ou daqui a oito meses. Eu vou continuar morando debaixo da ponte. A nossa preocupação é exatamente, Ministro, termos os contratos de vacinas, mas não termos a vacina aplicada no braço. Continuar debaixo da ponte é o mesmo que não haver vacina para se aplicar. Então, contabilizar a compra de vacina, sinceramente... O mínimo que o Brasil podia fazer era tentar comprar essas vacinas mesmo. Agora, o essencial, o fundamental é que a vacina chegue.

    Nós temos uma questão interessante a ser considerada. Em primeiro lugar, nós atrasamos muito em aceitar a compra destas vacinas, e não foi por falta de pedido – o Contarato aqui explicou bem, e eu não quero ser repetitiva –, CoronaVac, Pfizer. A OMS convidou para coalizão, mas se recusou. Então, nós tivemos momentos de negacionismo que fizeram com que o Presidente não visse a importância da compra dessas vacinas. Agora, imaginem a Pfizer, a CoronaVac oferecendo, a OMS oferecendo, e a gente dizendo: "Não, não, não". Agora vem o Brasil inteiro dizendo: "Pelo amor de Deus, queremos vacina". Ninguém entende quem é Kátia, quem é Rodrigo Pacheco, quem é Ernesto Araújo. As pessoas enxergam o Brasil. O erro é do Brasil, o erro é do Presidente da República. E nós estamos pagando esse preço altíssimo. O senhor sabe da minha relação no mundo todo – graças a Deus, uma ótima relação. Eu tenho amigos cordiais, mas que são muito francos comigo: "O seu País está pagando um preço por más atitudes tomadas, por atitudes equivocadas no passado recente".

    A minha pergunta objetiva, Sr. Ministro... O senhor, agora há pouco, dizia: "Não, não quero falar de questão internacional, diplomática. Eu quero falar da vacina". Eu quero falar da vacina e, por isso, vou falar da questão diplomática, porque, sem a questão diplomática, não teremos vacina, já que o que vamos produzir no Brasil não é suficiente. Ainda bem que há a Fiocruz, o Butantan. O Presidente agora fez um investimento e adiantou um recurso para a Fiocruz. A gente sabe de tudo isso; agora, está tudo muito atrasado.

    Nós estamos com 3 mil mortes. Há gente falando que o pico do pico do pico é dia 6 de abril. No dia 6 de abril, se nós não tivermos diminuído o número de mortes, há gente falando em 7 mil mortos – eu não quero nem pensar numa coisa dessas –, há gente falando em 5 mil mortos. E o picadinho da vacina chegando de um em um.

    A reunião ontem, com o Rodrigo Pacheco aqui dirigindo, com os produtores de vacina, sinceramente, Ministro, foi um vexame, porque nós estávamos na mão com o cronograma do Governo e os produtores de vacina falando outros números totalmente diferentes. Aliás, Ministro, não falaram número nenhum. A única que falou número totalmente desencontrado do cronograma do Governo foi a Fiocruz, nacional. Dos demais, nenhum arriscou cronograma. Isso nos deixou apavorados, em que pese o Presidente Rodrigo Pacheco insistir, de um por um: "Cadê a cópia dos contratos? Eu quero ver os contratos. Cadê o cronograma?". E não diziam. Ninguém conseguiu arrancar desse povo um cronograma.

    Então, só nos resta, não sei se felizmente ou infelizmente, a diplomacia, porque, através da amizade, do bem-querer e das boas relações, nós vamos tentar mobilizar o mundo a nosso favor. Aí chega a minha pergunta, Presidente Rodrigo Pacheco, muito objetiva para S. Exa., que é o Chanceler brasileiro: nós estamos tendo problemas de preconceitos com os dois países, os maiores parceiros comerciais do Brasil, que, por um acaso, são a China e os Estados Unidos. Nós tivemos problemas diplomáticos recorrentes com eles, começando com tudo o que foi falado pelo Contarato: a eleição do Biden; o 5G, o preconceito de espionagem com relação ao 5G; a vacina chamada de "vachina"; críticas de que a culpada pelo coronavírus era a China, que foi proposital; Twitters da família; coisas assim afrontosas, pedindo a cabeça do chanceler da China.

    Na verdade, amigos, há cinco Embaixadores da China no mundo que não são considerados embaixadores, não; são considerados Ministros. E um deles é o do Brasil. É considerado Ministro! É da alta cúpula do Governo chinês o Ministro sempre que vem para o Brasil. Ele foi altamente provocado, altamente instigado por V. Exa., Ministro. Eu não estou contando novidade, não estou aqui para ofendê-lo. Isto foi público e notório: o seu preconceito com relação ao 5G, o preconceito da família com relação ao vírus.

    Qual é o país do mundo que quer passar vírus para alguém? Isso não existe. Quer dizer, uma coisa tão aberta. O Presidente dizer que vende para a China, mas não vai vender o Brasil para a China? Palavras desnecessárias.

    Então, a minha pergunta é a seguinte: o senhor se sente realmente à vontade, como Chanceler do Brasil, para fazer essas ligações, essa interlocução, essas reuniões remotas com esses países, com a China e com os Estados Unidos, diante deste quadro diplomático desastroso, Ministro?

    Sem contar, porque não disse, o tratamento descortês com o Presidente da OMS, por várias vezes questionado, desnecessariamente. E que, por mal dos pecados, é o homem que está hoje com um monte de vacinas na mão, distribuindo. Ele é quem tem o poder, porque recebeu excedente de vacinas.

    A revista Science, americana, fez uma lista dos 11 países que têm quase três bilhões de doses – se for mentira, vá questionar a Science - de países que compraram muitas vacinas, porque achavam que a A podia não servir, que a B não seria eficaz. Por via das dúvidas e excesso de planejamento, compraram tudo e, agora, viram que todas são boas. Então, estão com doses, sim, sobrando. E o Presidente da OMS, Ministro, Chanceler, está com essas vacinas e esse estoque para distribuir. E nós ofendemos esse cidadão ostensivamente. Então, que condições diplomáticas o senhor acha que o Itamaraty, hoje, tem para continuar e restabelecer de forma clara, amigável e se desculpar diante de tantos percalços e ofensas que foram feitas neste período?

    Eu não quero brigar com o senhor. Ao contrário, visitei-o, a seu convite, tivemos uma conversa muito cordial, fui muito bem-recebida. Conversamos abertamente. Agora, o senhor me desculpe. Eu sou Senadora da República, eu sou eleita pelo povo do meu Estado, e o povo do meu Estado está esperando respostas. E eu só tenho uma para dar: que estou lutando pelas vacinas.

     Eu, sinceramente, vejo hoje V. Exa. com uma grande dificuldade de trazer essas vacinas do exterior para o Brasil. Eu queria saber se o senhor não sente essa mesma dificuldade, o atrito postulado, e se o senhor sente, nas relações e na comunicação com esses países, que o senhor ainda tem condições de continuar a trazer vacinas para o Brasil.

    Esse é o meu questionamento: o senhor se sente à vontade para ter sucesso nessa empreitada, que é a maior que nós temos hoje? Nós precisamos vacinar um terço da população, nós precisamos vacinar 70 milhões de brasileiros para conter a desgraça que nós estamos vivendo. Nós teremos essa vacina, Sr. Chanceler? Esse é o seu grande desafio.

    Eu disse agora, há pouco, numa entrevista ao SBT, Sr. Presidente, ao vivo... Perguntaram para mim sobre a eleição presidencial, e eu disse que o primeiro turno da eleição presidencial para Bolsonaro é agora, nas próximas semanas – o primeiro turno dele é agora, nas próximas semanas; não é em 2022. É a vacinação do povo! Se ele tiver sucesso nisso, ele está feito; agora, se não tiver, terá sérios problemas. E o senhor é peça-chave, a Chancelaria brasileira é peça-chave para que isso possa acontecer, em que pese política aqui não estar em voga e nem em pauta neste momento.

    Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/03/2021 - Página 20