Interpelação a convidado durante a 19ª Sessão de Debates Temáticos, no Senado Federal

Sessão de Debates Temáticos destinada ao comparecimento do Sr. Ernesto Araújo, Ministro das Relações Exteriores, a fim de prestar informações sobre a atuação do Ministério nos esforços para obtenção de vacinas contra a Covid-19.

Autor
Simone Tebet (MDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Simone Nassar Tebet
Casa
Senado Federal
Tipo
Interpelação a convidado
Resumo por assunto
SAUDE:
  • Sessão de Debates Temáticos destinada ao comparecimento do Sr. Ernesto Araújo, Ministro das Relações Exteriores, a fim de prestar informações sobre a atuação do Ministério nos esforços para obtenção de vacinas contra a Covid-19.
Publicação
Publicação no DSF de 25/03/2021 - Página 50
Assunto
Outros > SAUDE
Indexação
  • SESSÃO DE DEBATES TEMATICOS, DESTINAÇÃO, COMPARECIMENTO, MINISTRO DE ESTADO, ITAMARATI (MRE), SOLICITAÇÃO, INFORMAÇÃO, ATUAÇÃO, AQUISIÇÃO, OBTENÇÃO, VACINA, COMBATE, PANDEMIA, NOVO CORONAVIRUS (COVID-19).

    A SRA. SIMONE TEBET (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - MS. Para interpelar convidado.) – Obrigada, Sr. Presidente. Cumprimentando V. Exa., cumprimento o Senador Contarato pela iniciativa.

    Quero de antemão, Sr. Presidente, pedir desculpas ao Ministro Ernesto Araújo. Não confunda as minhas palavras, que serão contundentes, serão firmes e serão duras, a minha sinceridade com falta de respeito. Mas, sim, com indignação. Aceite as minhas palavras como uma brasileira que está indignada.

    Desde que V. Exa. tomou posse, eu tenho me perguntado e tenho me questionado sobre o Brasil em que vivemos, se nesse meio século de vida, dos meus cinquenta anos, eu não tenho vivido num País imaginário, fruto apenas da minha cabeça. Digo isso porque a sensação que me vem agora é de que o Brasil em que V. Exa. acredita, o Brasil gerido por seu Governo faz parte de um mundo à parte.

    V. Exa. diz que nós estamos nos baseando em fatos subjetivos, eu diria que fake news ou factoides; pois eu vou me basear em palavras ditas por V. Exa., em aspas, nos grandes jornais de circulação deste País e nas redes sociais de V. Exa., a não ser que sejam outros a redigir o que consta nas suas redes sociais. V. Exa. recentemente disse no Estadão que o Brasil é incompreendido, discriminado, quase como que dizendo golpeado pelo resto do mundo, aí se referindo ao enfrentamento do Brasil à pandemia do coronavírus.

    Eu gostaria de acreditar nas palavras de V. Exa., mas, Ministro, o Brasil em que eu vivo e que teimo a acreditar ser verdadeiro não é esse País em que V. Exa., de forma fantasiosa, acredita. O meu País, Sr. Ministro, e acredito que seja o nosso País, porque eu não duvido, não, do amor de V. Exa. à nossa Pátria, é hoje o epicentro da pandemia no mundo. A cada dez infectados, quatro são brasileiros. A cada dez pessoas que morrem, quatro são brasileiros.

    Fruto do quê, Sr. Ministro? Do negacionismo, da omissão, da falta de coordenação nacional e de gestão do Ministério da Saúde, que resulta hoje em falta de leitos, em falta de UTI, em falta de oxigênio, em falta de anestésico e relaxante neuromuscular para intubar nossos pacientes.

    Eu não estou falando apenas de vidas perdidas; tão grave quanto, são vidas mal vividas hoje, vidas sem vida, porque não há vida para quem não tem emprego, não tem renda e não tem comida na mesa. E não me venha o seu Governo dizer que isso é fruto do isolamento social; a recessão é fruto da falta de Governo no combate ao coronavírus.

    Portanto, Sr. Ministro, eu gostaria aqui de dizer: o senhor está no lugar errado. Não peça para sair, não; peça para mudar. Vá para um ministério ideológico, mas não fique no Ministério das Relações Exteriores. O Ministério das Relações Exteriores trata da relação do Brasil com o mundo, que tem que ser harmoniosa, sob pena de padecermos ainda mais uma recessão sem precedentes.

    Eu deixo aqui, apenas para a sua defesa, algumas perguntas. Qual é a estratégia do Brasil, de V. Exa., ao lançar torpedos verbais contra a China, maior importadora dos nossos produtos, e principalmente do agronegócio, do qual o meu Estado é um dos grandes produtores, o Estado de Mato Grosso do Sul? E aí, repito, não é factoide, está no seu tuíte do dia 22 de abril de 2020. Não bastasse termos que combater o coronavírus, temos que combater o "comunavírus", referindo-se à China. Fez uma referência ao seu blogue, dizendo que o comunismo, que é um mundo sem nações, sem liberdade, de vigia e de punição. Eu também não sou de esquerda. Aqui, muitos que disseram são de centro, são de direita; mas essa não é uma fala do meu Chanceler, do Ministro das Relações Exteriores do País a que hoje eu sirvo como Senadora da República. Isso é inconcebível, afastar o Brasil do país que mais compra produtos, não só do agronegócio, mas do país maior produtor de vacinas do mundo, de vacinas que estão faltando no braço de brasileiros.

    Ainda, qual é a sua estratégia ao se envolver no processo democrático das eleições americanas? Eu não vou citar, porque eu iria citar o mesmo momento que o Senador Tasso Jereisatti. E aí fica...

    Sr. Presidente, só 30 segundos, porque tem a ver com o ofício de V. Exa. e da Senadora Kátia. Eu fico me perguntando: são 300 mil famílias, hoje, chorando por 300 mil brasileiros mortos; será que a carta de V. Exa., Presidente Pacheco, junto à nossa Vice-Presidente americana, Kamala Harris, e a moção de apelo internacional formulada pela Senadora Kátia Abreu vão conseguir sensibilizar esses países, depois de tantos disparates e de tanto desrespeito do Governo brasileiro? Vou rezar todos os dias para que sim. Tenho dúvidas se nós não levaremos algum tempo para poder resolver essa questão.

    E deixo, ao final, uma única pergunta se o Ministro não quiser me responder as demais: valeu a pena, Ministro, tanto barulho, tanta fantasia, guerra ideológica desnecessária? O mundo dividido: valeu a pena radicalizar ao extremo irmãos brasileiros que hoje não se sentam à mesma mesa, para comungar da mesma refeição, porque pensam politicamente diferente?

    E fica, como derradeiro, Sr. Presidente, uma pergunta. Ontem, uma sobrinha me ligou para dizer que a minha tia morreu faltando dois dias para ser vacinada, porque o cronograma de vacina, no Brasil, está atrasado. Eu pergunto: quantos milhares de vidas vão ser perdidas pelo atraso da vacina por questão de dias, não é nem de semanas, fruto da incompetência, da omissão e do negacionismo de V. Exa. e do Governo a que V. Exa. serve?


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/03/2021 - Página 50