Interpelação a convidado durante a 108ª Sessão de Debates Temáticos, no Senado Federal

Sessão de Debates Temáticos destinada a discutir os resultados apresentados em relatório do IPCC e os impactos e recomendações para o Brasil.

Autor
Zenaide Maia (PROS - Partido Republicano da Ordem Social/RN)
Nome completo: Zenaide Maia Calado Pereira dos Santos
Casa
Senado Federal
Tipo
Interpelação a convidado
Resumo por assunto
Mudanças Climáticas:
  • Sessão de Debates Temáticos destinada a discutir os resultados apresentados em relatório do IPCC e os impactos e recomendações para o Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 11/09/2021 - Página 22
Assunto
Meio Ambiente > Mudanças Climáticas
Matérias referenciadas
Indexação
  • SESSÃO DE DEBATES TEMATICOS, DEBATE, RESULTADO, RELATORIO, PESQUISA CIENTIFICA, MUDANÇA CLIMATICA, MEIO AMBIENTE, AMBITO, PAINEL INTERGOVERNAMENTAL SOBRE MUDANÇAS CLIMATICAS (IPCC), ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), RECOMENDAÇÃO, BRASIL, ENFASE, EXTRATIVISMO, RECURSOS NATURAIS.

    A SRA. ZENAIDE MAIA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PROS - RN. Para interpelar convidado.) – Sr. Presidente Jaques Wagner, colegas Esperidião Amin e Eliziane Gama e outros colegas que aqui estejam – aqui na tela a gente não vê todos –, quero aqui parabenizar por esta sessão, esta audiência para falar sobre o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas e parabenizar e agradecer nossos convidados: o Governador Casagrande, Fiona Clouder, D. Walmor Oliveira, David King, Greta Thunberg e essa jovem indígena Samela Sateré-Mawé.

    Quero dizer o seguinte: é muito importante, Senador Jaques Wagner e todos que estão aqui, dar visibilidade à população, mostrar que essa degradação, exploração e exclusão, como foi falado pelo nosso Presidente da CNBB, leva à morte. Esse extrativismo – eu queria falar sobre o extrativismo no Brasil –, além de degradar a natureza, excluir os povos indígenas e matar, tem uma crueldade maior hoje.

    O extrativismo, no Brasil – e eu queria explicar para a população que extrativismo é a extração dos recursos naturais providos pela natureza, seja vegetal, animal ou mineral –, foi um dos setores que, como se diz, aumentou o PIB, que mais lucrou na história deste País. Por quê? Eu quero mostrar esse esquema sim. Além de degradar o meio ambiente – lembrando também que essa degradação não é só pelo extrativismo, não é só pelo desmatamento... Em dois anos e oito meses, o Brasil aprovou 1.144 novos agrotóxicos, e isso degrada. Esse agrotóxico é pulverizado e vai para o rio, para os peixes, e a população originária é quem mais sofre mesmo.

    O que acontece neste País? O cara retira, extrai o que há na natureza e exporta. E o Brasil tem isto: a exportação tem isenção de vários impostos. O que acontece? Não sobra nada para o nosso povo. Esses impostos poderiam até ser divididos com a nossa educação, com a nossa saúde, seja ela da população urbana ou da mata. E o que acontece? Geralmente, é uma família que exporta. Ela compra as máquinas no exterior para poder fazer esse extrativismo no Brasil. Não se gera nenhum emprego aqui – não gera. E se investe em duas coisas que o Brasil tem que saber: compra títulos da dívida pública, ganhando juros exorbitantes, porque eles investem a longo prazo; e, segundo, manda esse recurso para o exterior.

    Então, a questão da degradação do meio ambiente a gente está vendo aí. Por exemplo, nada contra essa produção de grãos e de proteína animal, mas como explicar ao povo brasileiro que o Brasil é um dos maiores produtores de alimento e exportadores do mundo e temos 30 milhões com fome? Então, isso mostra esse lado cruel não só da degradação, da exclusão dos povos originários, do desmatamento, da falta de respeito à vida, mas que não sobra nada para o povo brasileiro. Os povos indígenas têm razão quando falam sobre isso.

    Ainda temos leis, que temos que ver, que tiram riqueza da nossa terra, ou seja, tiram água, degradam tudo. Minas com lucros estratosféricos. E o que acontece com isso? Um distanciamento, uma desigualdade social sem limite no País. É como Jaques Wagner diz: a gente aqui não é de partido verde ou amarelo; aqui é a defesa da vida – e a defesa da vida de quem está hoje aqui, dos nossos filhos e dos nossos netos. E o respeito a esse povo originário, porque, quando a gente chegou aqui, já estava aqui.

    Então, se não é pelo lado político... Porque às vezes se diz: "Aqui não é político". Político, sim, porque essas atitudes aqui de não se cobrarem impostos do que é tirado da natureza e do nosso povo, que é quem trabalha, e não cobrar impostos para esse pessoal enricar, isso aumenta a desigualdade social.

    Por isso, eu quero agradecer aqui a cada um de vocês e parabenizar o Senador Jaques Wagner mais uma vez.

    Aqui nós temos que defender vida. E as decisões da vida são políticas. Nós temos um Governo Federal que definiu que vai continuar aumentando a desigualdade, que está desrespeitando as terras indígenas. E o mundo está pagando por isso.

    Eu queria, só para finalizar, Sr. Presidente, dizer o seguinte: eu ouço muito dizer que o Brasil é quem tem mais matas preservadas. E eu digo o seguinte: deveriam saber que somos privilegiados. Os outros países demoraram a descobrir os danos que se fazem quando se degrada a natureza: o aquecimento global, a morte de toda forma de vida – não é a morte só dos humanos. E tivemos o privilégio de descobrir que poderíamos, sim... Temos o diagnóstico e sabemos o tratamento.

    Então, precisamos fazer o nosso papel, como essas duas jovens que eu vi aqui, Greta e Samela Sateré-Mawé, que precisam de respeito, Jaques. E a população brasileira tem que saber que as riquezas deste País estão sendo tiradas e não está sobrando nada para aqueles que mais precisam e estão morrendo de fome.

    Obrigada, Sr. Presidente e todos os convidados.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/09/2021 - Página 22