Interpelação a convidado durante a 108ª Sessão de Debates Temáticos, no Senado Federal

Sessão de Debates Temáticos destinada a discutir os resultados apresentados em relatório do IPCC e os impactos e recomendações para o Brasil.

Autor
Esperidião Amin (PP - Progressistas/SC)
Nome completo: Esperidião Amin Helou Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Interpelação a convidado
Resumo por assunto
Desenvolvimento Sustentável, Mudanças Climáticas:
  • Sessão de Debates Temáticos destinada a discutir os resultados apresentados em relatório do IPCC e os impactos e recomendações para o Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 11/09/2021 - Página 23
Assuntos
Meio Ambiente > Desenvolvimento Sustentável
Meio Ambiente > Mudanças Climáticas
Matérias referenciadas
Indexação
  • SESSÃO DE DEBATES TEMATICOS, DEBATE, RESULTADO, RELATORIO, PESQUISA CIENTIFICA, MUDANÇA CLIMATICA, MEIO AMBIENTE, AMBITO, PAINEL INTERGOVERNAMENTAL SOBRE MUDANÇAS CLIMATICAS (IPCC), ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), RECOMENDAÇÃO, BRASIL, ENFASE, TESE, CURSO DE DOUTORADO, GESTÃO, POLITICA PUBLICA, SUSTENTABILIDADE.

    O SR. ESPERIDIÃO AMIN (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - SC. Para interpelar convidado.) – Você vê que está agradecendo à Senadora Zenaide Maia pelas castanhas de caju, que ela generosamente mandou para quem manda aqui em casa.

    Eu queria cumprimentá-lo, Senador Jaques Wagner, pela realização deste evento, pelo aspecto plural dele e dizer que fiquei vivamente impressionado por todos os depoimentos, especialmente por aqueles que partem da nossa experiência. E quero cumprimentar o Governador do Espírito Santo, Renato Casagrande.

    Vou dividir a minha participação em duas partes. A primeira é endereçada ao senhor, como Presidente da nossa Comissão de Meio Ambiente.

    Eu nunca lhe falei, mas, em 2010, eu defendi a minha tese de doutorado na Universidade Federal de Santa Catarina, e o título da minha tese é "Gestão Pública por Indicadores de Sustentabilidade e Utilização de Tecnologia de Informação e Comunicação num Observatório Urbano". Isso foi em novembro de 2010. Talvez tenha sido a minha mais ousada tentativa de colocar o meio ambiente não como um pedaço da coisa, e, sim, como centro da gestão pública.

    Eu já tinha feito trabalhos sobre indicadores de desenvolvimento social, de desenvolvimento econômico, de desenvolvimento humano, mas o tema sustentabilidade, ou seja, suportabilidade, até quando o mundo nos suportará... E até homenageando o nosso D. Walmor: "Suportai-vos uns aos outros". Quer dizer, aturai-vos e escorai-vos; um tem que suportar o outro no sentido duplo da palavra suporte, escora, e aguentar o cara. Até quando vão nos aguentar? Até quando o mundo vai nos aguentar? E quero colocar isso no centro, no foco da gestão pública.

    Eu acho que valeria a pena a gente dialogar sobre um trabalho acadêmico que atualizasse isso para nós levarmos, quem sabe, em novembro, alguma contribuição brasileira: "Olha, não é o meio ambiente de vocês, não é essa preocupação lateral, a latere. Isso aí tem que ser a regra do jogo". Suportar a nós mesmos tem que ser a regra do jogo, assim como essa brilhante colocação da Senadora Zenaide. Quer dizer, os países do chamado Primeiro Mundo...

    E eu falo aqui na condição de... Acho que aqui eu sou o único que é primeira geração; nem meu pai nem minha mãe nasceram no Brasil. Portanto, eu sou fruto de visitantes com necessidade. Os dois vieram para o Brasil porque estavam em uma situação muito pior lá na sua origem.

    Então, essa relação de troca da commodity, como falou a Senadora Zenaide, é um deboche contra nós, porque, desde 1500, ou talvez antes, nós somos vistos pelo mundo como uma fonte de commodity, desde o pau-brasil até o minério de ferro etc., terras raras e tudo mais.

    O mundo nos enxerga, Senadora Zenaide, como um pote de onde eles podem vir buscar o lhe interessa. E nós que nos danemos! É assim que o mundo nos tem tratado e está nos tratando hoje! Quando querem comprar terras brasileiras, é porque a deles não tem competitividade com a nossa, para arrancar daqui. Se há alguém que nos dá lição permanente de deboche em relação à sustentabilidade, é o conjunto de países do Primeiro Mundo. Os nossos maiores parceiros querem vir aqui pegar um navio de minério de ferro e nos pagar, como diria o Brizola, com um terço de contêiner de chip, de semicondutor, que, aliás, está faltando! A nossa indústria automobilística está semiparalisada por falta de semicondutor, que usa um pouquinho do nosso minério de ferro. Então, essa relação de troca também tem que entrar nesse debate de novembro.

    E, finalmente, eu acho que nós poderíamos, com a lucidez do nosso Presidente Jaques Wagner, fazer um trabalho, ensaiar alguma coisa para colocar o meio ambiente não como um puxadinho, mas como o centro da gestão pública. Eu fiz esta tentativa em 2010: gestão pública com foco nos indicadores de sustentabilidade, que vão desde a pesca até o conceito de felicidade nacional bruta, que o Butão nos ensinou e que a Fundação Getúlio Vargas já pesquisa, para não levar o nosso rancor, mas para pedir ao mundo que reflita sobre um modelo de gestão desses que leva em conta a nossa Encíclica Papal, bem lembrada por Dom Walmor, para que nós possamos corrigir essa deformação ética do mundo.

    Concluo: a essa deformação ética nós estamos assistindo. Quanto de vacina está sobrando na Inglaterra? O senhor sabe? Mais de 250 milhões de doses! Quanto de vacina está sendo jogada fora nos Estados Unidos da América? O senhor tem ideia? Pois é! E, na África, será que lá chegaram as vacinas? "Ah, eles não têm tecnologia, eles não têm IFA!" É um deboche você ouvir conselhos de quem está agindo assim agora – agora! –, debochando dos povos pobres e sem tecnologia, que não conseguem nem receber o IFA para processar, como é o nosso caso! Se Deus quiser, daqui a pouco, nós vamos produzir o IFA! Nós estamos vivendo uma pandemia, e o tratamento que os ricos, muitos deles aqui representados por quem nos ensina, por quem veio aqui nos ensinar... Estão debochando dos mais pobres!

    E a maior demonstração de egoísmo surge exatamente quando se precisa! Aí nós todos somos vulneráveis. E o que vimos foi: "Primeiro, os meus; quando sobrar vacina, eu vou pensar em vocês". Isso também é burrice, porque, com o comércio que nós temos hoje, quando chega um navio a Nova York, provavelmente a tripulação daquele navio é de países aonde a vacina não chegou ainda, e eles podem ser exportadores do vírus. Então, eu acho que todos nós temos que aprender, mas não aprenderemos se exercitarmos o cinismo.

    Por isso, volto à minha proposta original para o meu amigo Jaques Wagner: vamos fazer um trabalho – pode ser acadêmico – para levar para a conferência de novembro dizendo que o meio ambiente, a sustentabilidade tem que ser o centro da nossa visão e da nossa atuação em matéria de gestão pública.

    Muito obrigado a todos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/09/2021 - Página 23