Fala da Presidência durante a 109ª Sessão Especial, no Senado Federal

Abertura da Sessão Especial destinada a homenagear o centenário de nascimento de Dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016), frade franciscano e cardeal brasileiro.

Autor
Izalci Lucas (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/DF)
Nome completo: Izalci Lucas Ferreira
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
Homenagem, Religião:
  • Abertura da Sessão Especial destinada a homenagear o centenário de nascimento de Dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016), frade franciscano e cardeal brasileiro.
Publicação
Publicação no DSF de 14/09/2021 - Página 8
Assuntos
Honorífico > Homenagem
Outros > Religião
Matérias referenciadas
Indexação
  • ABERTURA, SESSÃO ESPECIAL, HOMENAGEM, CENTENARIO, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, DOM EVARISTO ARNS, CARDEAL, FRADE, IGREJA CATOLICA.

    O SR. PRESIDENTE (Izalci Lucas. Bloco Parlamentar PODEMOS/PSDB/PSL/PSDB - DF. Fala da Presidência.) – Declaro aberta a sessão.

    Sob a proteção de Deus, iniciamos nossos trabalhos.

    A presente sessão especial remota foi convocada nos termos do Ato da Comissão Diretora nº 8, de 2021, que regulamenta o funcionamento das sessões e reuniões remotas e semipresenciais no Senado Federal e a utilização do Sistema de Deliberação Remota, em atendimento ao Requerimento nº 1.439, de 2021, do Senador Flávio Arns e outros Senadores, aprovado pelo Plenário do Senado Federal.

    A sessão é destinada a homenagear o centenário de nascimento de D. Paulo Evaristo Arns.

    A Presidência informa que esta sessão terá a participação dos seguintes convidados: Sr. Reverendo D. Joel Portella Amado, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro e Secretário-Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); Sr. Reverendo Cardeal D. Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo; Sr. Reverendo Padre Júlio Lancellotti, Pároco na Paróquia São Miguel Arcanjo, na Cidade de São Paulo; Sr. Pedro Simon, Senador da República pelo Estado do Rio Grande do Sul no período de 2007 a 2015; Sr. Nelson Arns Neumann, Coordenador Nacional Adjunto e Coordenador Internacional da Pastoral da Criança; Sra. Anita Sue Wright, Vice-Presidente do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic); e Sr. Reverendo Frei Fidêncio Vanboemmel, Ministro Provincial na Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil.

    Convido a todos para, em posição de respeito, acompanharmos o Hino Nacional.

(Procede-se à execução do Hino Nacional.)

    O SR. PRESIDENTE (Izalci Lucas. Bloco Parlamentar PODEMOS/PSDB/PSL/PSDB - DF) – Eu quero saudar aqui todos os nossos convidados e também os nossos queridos Senadores e Senadoras.

    Minhas senhoras e meus senhores, hoje estamos aqui para celebrar o centenário de nascimento de D. Paulo Evaristo Arns, um dos mais honrados homens que este País já viu. Independentemente da fé religiosa de qualquer um dos presentes, D. Evaristo é uma daquelas pessoas que nos servem como guia moral e espiritual. É um exemplo com o qual podemos nos tornar seres humanos melhores, mais decentes, mais corretos.

    Nascido em Forquilhinha, em Santa Catarina, foi ordenado padre aos 24 anos. Logo depois, imbuído de uma tremenda curiosidade intelectual, obteve os mais distintos títulos acadêmicos, inclusive o de doutor em Línguas Clássicas, pela Universidade Sorbonne, uma das mais conhecidas do mundo e também conceituada.

    Ele poderia ter sido restringido à atividade puramente intelectual e o teria feito com enorme mérito, como demonstra sua tese de doutorado publicada com o título "A técnica do livro segundo São Jerônimo", mas teve a vontade de ir muito além: trabalhou em favelas, construiu escolas, deu pão aos famintos, abrigo aos que tinham frio, consolo aos que sentiam desespero.

    Se o Brasil tivesse tido uma vida política mais tranquila, talvez ele não tivesse se transformado em um nome conhecido de todos nós. Todavia, é nos momentos de maior escuridão que os homens – e foi o caso de D. Evaristo – trazem à tona aquela chama de grandeza, de decência e de dignidade que têm dentro de si, e foi isso o que fez com que D. Evaristo se tornasse um nome conhecido de todos nós.

    No início da década de 70, o Brasil vivia um dos seus piores momentos. Na superfície, era o Brasil, o país que vai para frente. No subterrâneo, eram os cárceres da ditadura, em que se torturavam e assassinavam brasileiros.

    Foi justamente em outubro de 1970, no auge do terror da ditadura, que D. Paulo se tornou Arcebispo Metropolitano de São Paulo.

    Foi na Catedral da Sé, em 1975, juntamente com o Rabino Henry Sobel e o Reverendo Jaime Wright, que ele celebrou o culto ecumênico em memória do Jornalista Vladimir Herzog, torturado e assassinado pela ditadura. Acompanhado por 8 mil brasileiros, foi evento marcante na nossa história e marco decisivo para se pôr fim à ditadura.

    Anos depois, junto com o Reverendo Wright, foi um dos coordenadores do projeto Brasil: Nunca Mais, um retrato terrível, mas necessário, dos porões da ditadura militar no Brasil.

    D. Evaristo sempre se guiou pelo respeito aos seres humanos e pela volta da democracia, sempre e estritamente dentro da perspectiva cristã, principalmente pela ótica da justiça social, característica da Igreja no pós-Segunda Guerra.

    D. Evaristo ajudou ainda a criar a Comissão Justiça e Paz, que abrigou e salvou a vida de vários perseguidos pelo regime militar. Ele arriscou a própria vida ao se expor publicamente contra a ditadura e, ao fazer isso, ele transformou a Arquidiocese de São Paulo em um ponto de referência na defesa da vida do homem.

    Ele se dizia guiado por quatro princípios expostos pela Pacem in Terris, Paz na Terra, do Papa João XXIII: justiça social, solidariedade, verdade, liberdade, mas respeitando, sobretudo, a liberdade dos outros. São princípios cristãos pelos quais vale se guiar para se ter uma vida justa.

    A vida, é claro, não é fácil, e ele nos lembrou disso em entrevista ao programa Roda Viva em 1995. Naquela oportunidade, ele afirmou que a vida é realmente um desafio, é preciso preparar-se para ela porque ela é braba, mas acrescentou: "Nós precisamos agora de muita coragem, de muita esperança". Hoje, neste momento em que o Brasil enfrenta uma crise sanitária, política e econômica como poucas na história, é preciso coragem e esperança.

    Muito obrigado, D. Paulo! Todos nós emocionados ao lembrar de sua figura tranquila, de sua voz contida e de seus gestos serenos. Obrigado por nos mostrar, por meio de seu exemplo, que somos capazes, sim, de ter coragem e esperança mesmo nos momentos mais sombrios.

    Era o que tinha a dizer.

    Muito obrigado.

    Assistiremos agora a um resumo da biografia do homenageado desta sessão.

(Procede-se à exibição de vídeo.)

    O SR. PRESIDENTE (Izalci Lucas. Bloco Parlamentar PODEMOS/PSDB/PSL/PSDB - DF) – Passo a palavra ao nosso requerente desta sessão, nosso colega, amigo, Senador Flávio Arns.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/09/2021 - Página 8