Discurso durante a 109ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a homenagear o centenário de nascimento de Dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016), frade franciscano e cardeal brasileiro.

Autor
Flávio Arns (PODEMOS - Podemos/PR)
Nome completo: Flávio José Arns
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Homenagem, Religião:
  • Sessão Especial destinada a homenagear o centenário de nascimento de Dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016), frade franciscano e cardeal brasileiro.
Publicação
Publicação no DSF de 14/09/2021 - Página 9
Assuntos
Honorífico > Homenagem
Outros > Religião
Matérias referenciadas
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, HOMENAGEM, CENTENARIO, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, DOM EVARISTO ARNS, CARDEAL, FRADE, IGREJA CATOLICA.

    O SR. FLÁVIO ARNS (Bloco Parlamentar PODEMOS/PSDB/PSL/PODEMOS - PR. Para discursar.) – Quero cumprimentar V. Exa., Senador Izalci Lucas, do Distrito Federal, amigo, presidindo esta sessão solene, que também é Vice-Presidente da Frente Parlamentar Mista da Educação – Câmara e Senado.

    Quero cumprimentar também D. Odilo Scherer, grande amigo, cuja família é do Paraná. Quero cumprimentar D. Joel Portella Amado, Secretário-Geral da CNBB; o Padre Júlio Lancellotti, grande amigo de D. Paulo Evaristo; e também Frei Fidêncio Vanboemmel, Ministro Provincial na Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil; de maneira muito especial, a Sra. Anita Sue Wright, filha de Jaime Wright, grande amigo de D. Paulo Evaristo; Nelson Arns Neumann, primo, Coordenador Nacional Adjunto e Coordenador Internacional da Pastoral da Criança; e o ex-Senador Pedro Simon, que tinha por D. Paulo grande carinho e grande amizade. Eu pude testemunhar a grande amizade, respeito e carinho que D. Paulo tinha por Pedro Simon.

    Quero cumprimentar os Senadores e as Senadoras que acompanham esta sessão solene e também todos e todas que a acompanham pelos meios de comunicação do Senado.

    Nós estamos juntos, hoje, com alegria, para homenagear o querido tio D. Paulo Evaristo Arns, que completaria cem anos amanhã, dia 14 de setembro. Sua história e seu legado merecem nosso reconhecimento e valorização, principalmente por sua caminhada de vida a favor do ser humano, da cidadania, dos mais vulneráveis e por sua incansável luta em defesa da democracia.

    Nós assistimos agora há pouco a um resumo da história de D. Paulo e relembramos sua história de vida, que nos inspirou e continua nos inspirando, até hoje, a seguir lutando por um País mais igualitário e justo.

    Gostaria de trazer para este momento de homenagem e exaltação de sua trajetória um paralelo, uma reflexão sobre o significado da vida de D. Paulo e o Brasil que vivemos hoje.

    D. Paulo teve sua vida e seu trabalho, como já foi dito, baseados no lema que adotou para a vida religiosa: "de esperança em esperança". Esse lema foi materializado em suas ações, que o tornaram conhecido por todos como o Cardeal da Esperança. D. Paulo acreditava que, mesmo com todos os males presentes no mundo por meio das ações humanas, somos chamados a caminhar de esperança em esperança. Esse cidadão do céu e da terra, pastor e profeta, de inquebrantável força moral tinha no trato com cada pessoa a confirmação do profundo respeito pelo ser humano e pela sua dignidade. Pela sua palavra e pela sua ação, D. Paulo se tornou agente de vida, e vida plena para todos, em especial aos pequenos e esquecidos; lutou por direitos e praticou a solidariedade.

    A palavra solidariedade traz dois significados fundamentais: solidariedade, que destaca o aspecto gratuito da benevolência, da compaixão e da misericórdia; e também lealdade, que valoriza o compromisso. É uma prática que envolve sentimento, opção, adesão e ação transformadora. E D. Paulo, na observância do direito dos pobres, na prática da solidariedade, transformou-se no arauto da paz. Exemplos não faltam em sua história.

    Acreditando no poder da comunidade, foi incentivador, apoiador e mentor de diversos movimentos pastorais, como a Pastoral da Criança, cuja criação tive a honra de acompanhar de perto, ao lado da também querida Tia Zilda Arns. Também teve papel importante D. Paulo na criação da Pastoral da Pessoa Idosa, Pastoral do Povo da Rua, Pastoral Operária, Pastoral de DST/Aids. Quando ele estava sendo velado na Catedral Metropolitana de São Paulo, a gente sentiu essa proximidade do povo com a fila que se fazia, lá na catedral, até o meio da praça, e todas as pastorais presentes para dizer: "Que bom, D. Paulo, estivemos juntos e vamos continuar juntos!". A opção pelos mais vulneráveis também se fez presente em outras passagens emblemáticas da vida de D. Paulo, como, quando vendeu – e é bom repetir isso – o Palácio Episcopal da Arquidiocese de São Paulo e usou o dinheiro arrecadado para criar centros comunitários na periferia da capital paulista. D. Paulo acreditava no poder do povo organizado e trabalhou arduamente para criar mais de 2 mil comunidades eclesiais de base, aproximando a Igreja do povo mais carente, uma ação que ecoa nas periferias até os dias de hoje.

    E não há como falar de D. Paulo sem destacar sua atuação em defesa da democracia; certamente este é um de seus principais legados. Em um período em que o Brasil vivenciou as consequências sombrias da ditadura, D. Paulo não só resistiu, mas também agiu. Ao lado do Pastor presbiteriano Jaime Wright, representado aqui pela Anita Wright, sua filha, e do Rabino Henry Sobel, idealizou o projeto que resultou no livro Brasil: nunca mais. A iniciativa deu voz a muitas pessoas que foram mortas ou torturadas durante o regime militar, em nosso País. Destaco as palavras de D. Paulo no prefácio do livro: "As angústias e esperanças do povo devem ser compartilhadas pela Igreja. Confiamos que esse livro, composto por especialistas [ele dizia], nos confirme em nossa crença no futuro. Afinal, o próprio Cristo, que passou pela terra fazendo o bem, foi perseguido, torturado e morto. Legou-nos a missão de trabalhar pelo Reino de Deus, que consiste na justiça, verdade, liberdade e amor".

    A lembrança de D. Paulo, neste momento crucial da vida de Nação e do seu povo, deve servir, tem que servir de inspiração para a descoberta de caminhos de superação das injustiças, das divisões, das exclusões, dos radicalismos, dos preconceitos e das discriminações. Sem o acolhimento do grito dos excluídos, no sentido da superação do enorme fosso das desigualdades, jamais caminharemos no sentido de uma nação justa e acolhedora para todos os seus filhos e filhas. O direito a uma vida digna é um direito inalienável, e um caminho de direito e de solidariedade só pode se concretizar num clima sadio de democracia.

    D. Paulo foi uma voz que se ergueu pela democracia, pelo direito, pela justiça, sem medo e com destemor contra todos os abusos violadores dos direitos humanos. Neste momento de nossa Nação, que a lembrança do nascimento de D. Paulo sirva para suscitar cidadãos e cidadãs artífices da justiça e construtores da paz. Viva D. Paulo! E como ele dizia: coragem! Esperança!

    Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/09/2021 - Página 9