Discurso durante a 109ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a homenagear o centenário de nascimento de Dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016), frade franciscano e cardeal brasileiro.

Autor
Marcelo Castro (MDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Marcelo Costa e Castro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Homenagem, Religião:
  • Sessão Especial destinada a homenagear o centenário de nascimento de Dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016), frade franciscano e cardeal brasileiro.
Publicação
Publicação no DSF de 14/09/2021 - Página 21
Assuntos
Honorífico > Homenagem
Outros > Religião
Matérias referenciadas
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, HOMENAGEM, CENTENARIO, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, DOM EVARISTO ARNS, CARDEAL, FRADE, IGREJA CATOLICA.

    O SR. MARCELO CASTRO (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - PI. Para discursar.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores e todos que nos acompanham pela internet: bom dia!

    É com muita honra que participo desta justa e merecida homenagem a D. Paulo Evaristo Arns pelo centenário do seu nascimento, um intelectual brilhante, uma alma generosa, um homem de rara coragem.

    Poucos brasileiros fizeram um trabalho tão revolucionário em defesa da dignidade humana e da visibilidade dos marginalizados. Seu trabalho humanitário é reconhecido mundialmente.

    Aproveito a ocasião para saudar o ilustre Senador Flávio Arns, seu sobrinho, e também os demais signatários do Requerimento nº 1.439, de 2021, que deu origem a esta sessão especial.

    Saúdo também os convidados: Cardeal D. Odilo Scherer; Bispo D. Joel Portella Amado; Padre Júlio Lancellotti; Frei Fidêncio Vanboemmel; Sr. Nelson Arns Neumann, da Pastoral da Criança; Sra. Anita Wright, do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil; e o ilustre e grande Senador da República Pedro Simon.

    Falar sobre D. Paulo Evaristo Arns é falar sobre caridade, direitos humanos, justiça social, liberdade, esperança e resistência. Não quero abusar da atenção de V. Exas. revisitando toda a biografia do nosso querido Cardeal da Esperança; contudo, alguns fatos não podem deixar de ser lembrados, não somente para nós aqui no Congresso, mas principalmente para as novas gerações, para os cidadãos mais jovens que nos acompanham pelas redes sociais, pela Rádio Senado e pela TV Senado.

    D. Paulo foi um grande professor e um intelectual de primeira linha. Era profundo conhecedor de Teologia, de Filosofia Cristã e de línguas clássicas, essas que foram objeto de seus estudos quando se doutorou pela Universidade de Sorbonne, uma das mais conceituadas do mundo, aos 31 anos de idade. Escreveu mais de 56 livros e foi laureado com 24 títulos honoris causa em universidades de todo o mundo.

    Somente pelo seu brilhantismo acadêmico D. Paulo já seria digno dos nossos aplausos, porém certas pessoas ao que parece realmente já vêm ao mundo com alguma missão especial designada por Deus. E foi justamente quando se tornou Arcebispo Metropolitano de São Paulo, em 1970, no período mais difícil da ditadura, que o nosso homenageado abraçou a sua grande missão neste mundo: lutou incansavelmente pelas populações mais vulneráveis e buscou aproximar a Igreja da sociedade.

    Durante os governos militares, enfrentou generais, sofreu ameaças de autoridades, denunciou mortes e torturas praticadas na ditadura, abriu as portas da Igreja para abrigar os perseguidos e registrou os anos de chumbo em livro para que o Brasil nunca mais esqueça e não permita a volta de regimes autoritários.

    D. Paulo Evaristo Arns tem e sempre terá um papel de destaque na história brasileira. É um dos principais símbolos do combate à ditadura, defensor do restabelecimento da democracia e do voto das Diretas Já.

    Enquanto esteve à frente da arquidiocese, D. Paulo trabalhou incansavelmente para ajudar os necessitados, criando centros comunitários na periferia. Chegou mesmo a vender o Palácio Episcopal para a construção de 1,1 mil centros comunitários. Com a ajuda da também saudosa Zilda Arns, sua irmã, atuou na criação, por exemplo, das conhecidas Pastorais da Criança e da Pessoa Idosa.

    Na seara política, D. Paulo se tornou voz forte e perene de oposição à ditadura militar. Ele usava corajosamente o seu carisma, a sua condição de pessoa pública e, principalmente, sua autoridade moral para conscientizar a população e denunciar os excessos do regime.

    Quando o Brasil viveu os tempos sombrios da ditadura militar e da tortura, D. Paulo Evaristo Arns visitou inúmeros presos políticos e organizou a Comissão da Justiça e Paz em sua arquidiocese para dar-lhes assistência. Não bastasse isso, por diversas vezes D. Paulo chamou para si a arriscada incumbência de ir aos quarteis, em plenos anos de chumbo – de chumbo, meus ilustres pares –, para dialogar com os militares, intercedendo por muitos presos políticos.

    Um homem de grande erudição – porém, humilde –, de uma generosidade ativa e empreendedora, de uma coragem mansa e desarmada; porém, sem limites. Foi D. Paulo Evaristo Arns, em um culto ecumênico na Catedral da Sé de São Paulo, lotada, com a presença da imprensa estrangeira, que denunciou a morte e tortura de Vladimir Herzog, contestando o que estava sendo divulgado pela imprensa, que ele havia se suicidado.

    Sras. e Srs. Senadores, cidadãs e cidadãos que nos acompanham nesta sessão especial, na minha modesta opinião, por todas as suas realizações D. Paulo Evaristo Arns merece ser incluído no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. Para os cristãos, fica o exemplo apostólico de um homem comum que fez da sua vida um exercício perene de fé viva e amor incondicional ao próximo, seguindo os passos de São Francisco, de quem era devoto. Para quem não é cristão, fica exemplo do verdadeiro humanista, um homem que, por meio do diálogo franco, pacífico e destemido, ajudou seus semelhantes de diversas formas, um homem que lutou contra a injustiça social e a opressão política do seu tempo e que procurou deixar o mundo melhor para gerações futuras.

    Senhoras e senhores, são muitas as razões que nos levam a homenagear D. Paulo Evaristo Arns. Aqui destaco: amigo do povo, cardeal da esperança, defensor intransigente da democracia e dos direitos humanos, advogado por uma educação de base, exemplo prático de solidariedade, de fraternidade, de busca da verdade e da justiça e defensor de presos e de perseguidos pelo regime militar. D. Paulo Evaristo Arns foi também, senhoras e senhores e cidadãs que nos acompanham, um grande aliado das mulheres e do protagonismo feminino. Inspiração para todos os brasileiros e brasileiras, D. Paulo Evaristo Arns nos deixa de legado a essência da vida pública, que é trabalhar pelo bem da coletividade e colocar o ser humano em primeiro lugar sempre.

    Com todos esses feitos, ainda foi uma pessoa sem vaidade. Portanto, ao diletíssimo Cardeal da Esperança, no centenário do seu nascimento, registro aqui o nosso sincero e comovido muito obrigado. Que as novas gerações nunca se esqueçam de agradecer aos heróis do passado, aos gigantes sobre cujos ombros podemos hoje nos erguer e vislumbrar horizontes mais claros. E, lembrando seus feitos, inspirando-se em seus exemplos, que os nossos jovens possam renovar as esperanças e lutar sempre por dias cada vez melhores.

    Era o que tinha a dizer.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/09/2021 - Página 21