Discurso durante a 116ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a comemorar o centenário do educador Paulo Freire, Patrono da Educação Brasileira.

Autor
FÁTIMA BEZERRA
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Educação, Homenagem:
  • Sessão Especial destinada a comemorar o centenário do educador Paulo Freire, Patrono da Educação Brasileira.
Publicação
Publicação no DSF de 21/09/2021 - Página 53
Assuntos
Política Social > Educação
Honorífico > Homenagem
Matérias referenciadas
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, DESTINAÇÃO, COMEMORAÇÃO, CENTENARIO, ORIENTADOR EDUCACIONAL, PAULO FREIRE, PATRONO, EDUCAÇÃO, BRASIL, ENFASE, LEGADO, HISTORIA, RECONHECIMENTO, AMBITO NACIONAL, AMBITO INTERNACIONAL.

    A SRA. FÁTIMA BEZERRA (Para discursar.) – Bom, eu quero inicialmente dar o meu boa-tarde a todos e todas.

    Aqui uma saudação muito especial ao querido companheiro Senador Jean Paul pela importante iniciativa de realização desta importante sessão em homenagem a Paulo Freire.

    E estendo aqui meu abraço ao Senador Flávio Arns, à querida companheira também, conterrânea, Senadora Zenaide, ao Senador Fabiano Contarato, enfim, aos demais Senadores que estão participando aqui desta audiência.

    Permitam-me também aqui uma saudação muito especial a você, a Nita – saudades, estou emocionada aqui com a sua mensagem –, bem como também nossa saudação a Lutgardes, filho de Paulo Freire; uma saudação aos movimentos sociais aqui presentes, à CNTE, ao Heleno, ao Todos pela Educação, ao Lucas, enfim; ao Professor Mario Sergio Cortella; à Andressa e à Vanessa a minha saudação, da Campanha pelo Direito à Educação; e uma saudação também ao Professor Marcos Guerra, que compartilhou com Paulo Freire daquele momento tão marcante que foi exatamente As quarenta horas em Angicos. Meu abraço também ao Senador Marcelo Castro. Eu quero, primeiro, rapidamente... E um abraço aos que estão nos acompanhando pelas redes sociais, neste exato momento.

    Quero, primeiro, dizer da emoção que toma conta de todos nós. Se, por um lado, ontem, no dia em que Paulo Freire celebraria 100 anos, se estivesse vivo, o Governo Federal, através do MEC, não destinou sequer uma frase para fazer o registro do centenário de Paulo Freire, mais do que isso, é um Governo que tem atacado sistematicamente a memória, o legado de Paulo Freire, ao mesmo tempo, a alegria de ver que Paulo Freire, desde ontem, vive cada vez mais dentro de nós, homenageado não só no Brasil, mas mundo afora.

    Eu quero compartilhar com os senhores e com as senhoras a emoção de ontem – eu estou aqui com o Secretário de Educação, Professor Getúlio, e com a Secretária Adjunta, Professora Márcia –, a emoção que nós vivenciamos ontem quando fomos exatamente a Angicos, onde tudo começou. Há 58 anos, na gestão do então Governador Aluízio Alves, Paulo Freire era convidado para iniciar o seu trabalho, a sua experiência, o método de alfabetização popular que ficou nacional e mundialmente conhecido como As quarenta horas em Angicos.

    Ontem, na cidade de Angicos, a gente pode conviver ainda com os ex-alunos que estão vivos como, por exemplo, o Sr. Paulo, conhecido como Paulo Carroça. Ele ontem, ainda com a sua lucidez, com a sua sabedoria, falava exatamente daqueles tempos, do quanto tinha sido decisivo para a vida dele tirar a cegueira dos olhos aprendendo a ler, a escrever e a compreender o mundo através de As quarenta horas em Angicos.

    Então, na verdade, é nosso dever zelar pelo legado desse homem. Nós sabemos muito bem da grandiosidade da sua história, da sua trajetória. Nós não estamos falando de uma personalidade qualquer, de uma pessoa qualquer. É um homem que já foi agraciado com mais de 40 títulos de doutor honoris causa pelo mundo afora; um homem que tem sua obra traduzida, como a Pedagogia do Oprimido, para mais de 20 idiomas pelo mundo afora.

    O que eu quero colocar aqui para os senhores e senhoras é que eu acho que a maior boniteza – ele gostava muito dessa palavra – do trabalho de Paulo Freire foi exatamente ensinar o povo pobre, o oprimido, não apenas a ler e a escrever, mas a compreender o mundo e a lutar por seus direitos. É essa, exatamente, a essência do trabalho de Paulo Freire.

    Eu fico feliz, Senador Jean Paul, quando vejo você, juntamente com os demais Senadores, trazendo a sociedade civil e fazendo essa homenagem. Por quê? Porque, ainda em 2016, na condição exatamente de Senadora, representando o povo do Rio Grande do Norte, eu liderava aí, no Senado, toda uma mobilização para não deixar prosperar uma proposição legislativa desvairada que queria, simplesmente, "desomenagear" Paulo Freire, tirar de Paulo Freire aquilo que lhe é de direito, que é, sim, o título merecido, honroso de Patrono da Educação, proposto pela então Deputada Luiza Erundina e sancionado, à época, pela Presidenta Dilma. Felizmente, essa ideia não prosperou no Senado. E é com muita alegria que eu vejo hoje esse mesmo Senado, repito, homenageando Paulo Freire, preservando cada vez mais a memória e o legado de Paulo Freire para o Brasil e para o mundo.

    E quero aqui acrescentar a minha emoção porque ontem, na condição de Senadora, e hoje, na condição de Governadora, lá em Angicos, nesse gesto simples, porém com todo o sentimento de gratidão, nós erguemos, exatamente ontem, a Nita, lá no Município de Angicos, esta escultura. Esta escultura foi idealizada por um artista aqui do Rio Grande do Norte, o Guaraci Gabriel: As 40 horas de Angicos, com as frases "Tudo Começou em Angicos-RN" e "Paulo Freire - Patrono da Educação".

    Quero acrescentar algo que eu tenho muito refletido, no sentido de dizer que a melhor forma de a gente homenagear Paulo Freire, hoje, na condição de Governadora, é avançar para realizar os sonhos e as utopias de Paulo Freire, por uma educação de qualidade, por uma ação mais eficaz de enfrentamento ao analfabetismo.

    Por isso que ontem eu dizia da minha alegria de, mesmo tendo encontrado um Estado em condições muito adversas como eu encontrei, além do mais, numa conjuntura nacional tão hostil, mas dizia da alegria de a gente estar realizando aqui um grande investimento na educação básica do Rio Grande do Norte, que vai desde a construção de escolas, os institutos estaduais de educação profissional, tecnologia e inovação, a questão da formação e da capacitação do magistério, a modernização tecnológica tão necessária, principalmente nesses tempos de pandemia, o que escancarou a exclusão digital, que mostrou que a internet não entra nas escolas e, dentro desse investimento, uma ação para nós muito especial, que é, minha querida Professora Selma, o programa de superação do analfabetismo. Nós ainda temos aqui no Rio Grande do Norte 400 mil pessoas privadas do direito de ler e de escrever.

    Então, são essas ações que, inspirados exatamente em Paulo Freire, nós queremos intensificar; intensificar, repito, para que a gente possa cumprir com o nosso papel. Nossa geração tem o dever, do ponto de vista ético, do ponto de vista histórico, do ponto de vista político, de avançar para que o sonho de Paulo Freire se realize – se realize –, no sentido de que tenhamos um mundo com democracia, com liberdade, um mundo com inclusão, um mundo com cidadania.

    E, como ele bem dizia, como ele muito bem dizia, a educação tem que ser olhada como um direito de cidadania, porque ela é fundamental – fundamental – para a conquista da cidadania, para a conquista de uma vida com dignidade e com direitos.

    Então, viva Paulo Freire!

    Viva Angicos!

    Viva a educação pública!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/09/2021 - Página 53