Discurso durante a 116ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a comemorar o centenário do educador Paulo Freire, Patrono da Educação Brasileira.

Autor
Flávio Arns (PODEMOS - Podemos/PR)
Nome completo: Flávio José Arns
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Educação, Homenagem:
  • Sessão Especial destinada a comemorar o centenário do educador Paulo Freire, Patrono da Educação Brasileira.
Publicação
Publicação no DSF de 21/09/2021 - Página 71
Assuntos
Política Social > Educação
Honorífico > Homenagem
Matérias referenciadas
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, DESTINAÇÃO, COMEMORAÇÃO, CENTENARIO, ORIENTADOR EDUCACIONAL, PAULO FREIRE, PATRONO, EDUCAÇÃO, BRASIL, COMENTARIO, FILME DOCUMENTARIO, ARCEBISPO, DOM EVARISTO ARNS.

    O SR. FLÁVIO ARNS (Bloco Parlamentar PODEMOS/PSDB/PSL/PODEMOS - PR. Para discursar.) – Eu agradeço, Jean Paul, Senador, amigo. É uma alegria estar junto com você, com todos os convidados, as convidadas e os familiares de Paulo Freire também.

    É um momento, assim, importante para o Senado Federal. Estamos todos e todas juntos para celebrarmos o centenário do Patrono da Educação Brasileira, reverenciado no mundo inteiro, estudado nas melhores universidades de maior prestígio no mundo. É nossa obrigação nos lembrarmos da figura, da obra, do legado, dos desafios que ele colocaria para os dias de hoje.

    Dois Paulos estão sendo celebrados nessa semana. Na semana passada, tivemos a sessão solene para D. Paulo Evaristo Arns, centenário também, no dia 14 de setembro; e Paulo Freire, dia 19 de setembro.

    Eu vi o documentário ainda feito sobre as duas figuras, Dois Paulos na Pauliceia, e achei tão bonito Paulo Freire sentado ao lado de Tio D. Paulo – permitam-me chamá-lo assim –, irmão do meu pai, dizendo que, muitas vezes, era requisitado a apresentar o currículo e ele estava pensando em colocar, no currículo, que ele tinha nascido no mesmo ano de D. Paulo, cinco dias depois de D. Paulo, e que, na verdade, os dois também se chamavam Paulo. Então, eu digo: que maravilha! O Brasil tem que reverenciar pessoas assim que constituem uma referência para o País no mundo inteiro e outras tantas em outras áreas. É preciso valorizar os brasileiros que têm um legado extraordinário a apresentar para as crianças, os adolescentes, os jovens, para todas as gerações futuras.

    Na abertura desta sessão, quando foi apresentado o vídeo de Paulo Freire, ele trouxe verdades. Precisamos de dinheiro na educação. Todos nós concordamos com isso. Orçamento! Lugar de criança, de adolescente, de jovem, de adulto que precisa de educação é no orçamento. Então, essa coerência tem que sempre acontecer.

    Ele também disse – eu acho que todos os brasileiros concordam com isto – que temos que ter competência técnica na educação – competência –, para conhecermos, fazermos, nos aprofundarmos. E, ao mesmo tempo, ele também destacou o fato, no vídeo introdutório desta sessão, de que nós temos que também fazer com que haja a leitura do mundo, quer dizer, do mundo e das palavras, mas considerar a leitura do mundo. E nós temos que pensar nisso também, porque metade da população do Brasil com mais de 25 anos não tem educação básica. Que educação queremos? Vamos levar em conta a leitura do mundo antes da leitura das palavras, quer dizer, vamos partir da realidade concreta dessas pessoas que sabem fazer as perguntas e não só cobrarmos as respostas, mas as perguntas que essas pessoas fazem em relação ao mundo.

    Nesse próprio vídeo, Paulo Freire e as pessoas que falavam sobre ele lembravam: isso é educação para a libertação. É isso que nós queremos! Ninguém, no Brasil, vai discordar de que, se você tiver educação, acesso a esse direito humano essencial, você vai ter uma vida melhor.

    Como é bonito ver pais e mães muito simples dizendo: "Eu quero que o meu filho, a minha filha seja alguém na vida." E ser alguém na vida significa, pela educação, ter chances e oportunidades.

    É importante lembrar que Paulo Freire estava sempre ao lado dos que estão no fim da fila: os mais vulneráveis, os que mais sofrem, os mais oprimidos. Quem são esses, no dia de hoje, no Brasil? Onze milhões de brasileiros não alfabetizados; outros dez milhões de brasileiros alfabetizados no cotidiano da vida; 40% dos brasileiros sem o ensino fundamental completo e com mais de 25 anos de idade.

    A gente fala para o Ministro da Educação: "Vamos estar, como Paulo Freire, ao lado dos que estão no fim da fila". A história, ele sempre enfatizava, faz-se com o outro e não para o outro – não existe mensagem mais atual, mais importante, mais necessária. Queremos ajudar a agricultura, vamos fazer com o agricultor; o comércio, com o comerciante; a educação, com o povo que está lá no fim da fila. Mesmo na área da pessoa com deficiência, sempre dizemos "autodefensoria", "auto-advocacia", "vamos escutar o que a pessoa com deficiência tem a dizer".

    Com isso, Paulo Freire e D. Paulo chegaram às bases, às comunidades, às periferias, e foram chamados de comunistas, porque quem chega à base, na periferia, é subversivo, é comunista. Mas nós temos que pensar que, na base, na periferia, está metade, quase mais da metade da população do Brasil. Por isso, D. Paulo, inclusive, vendeu o Palácio Episcopal, para construir centros comunitários. Por isso, Paulo Freire sempre fala em libertar: a educação é libertadora; a pedagogia da libertação.

    Mas qualquer pessoa, no Brasil, vai dizer: "Eu mando o meu filho para a escola, ensino fundamental, ensino médio, universidade, pós-graduação, porque ele vai andar com as próprias pernas pela vida afora". Coerência entre o pensar e o fazer, há muita coerência em Paulo Freire e, também, em D. Paulo, nos Paulos da Pauliceia.

    Achei tão bonita a frase: "Eram tão humanos que só podiam ser divinos". Eram tão humanos que só podiam ser divinos! Que coisa mais linda, para a gente lembrar, para todas as pessoas, mesmo àquelas que, hoje em dia, criticam, fazem atos contra Paulo Freire, e dizer-lhes: "Olhem, não existem verdades mais verdadeiras do que essas que ele costumava colocar". Eles colocavam também: "Sejam alegres, sejam alegres e ajudem os outros." Isso é ser comunista, provavelmente, para a cabeça de alguns. Sejam alegres e ajudem os outros! No outro dia, o Padre Julio Lancellotti, na homenagem a D. Paulo, disse: "Olha o que D. Paulo falava. Veja uma área de que você goste, da agricultura, da criança, do idoso, do deficiente, da periferia, do povo de rua e se dedique a essa área. Seja alegre e ajude os outros!"

    E, para terminar, eu gostei muito também da fala do filho do Paulo Freire, que vocês repetiram nas falas seguintes, em que ele usou o verbo esperançar. E é verdade. O lema de D. Paulo era ex spe in spem, que significa "de esperança em esperança". Que esta sessão de hoje, de homenagem a Paulo Freire, aos Paulos e aos milhares de Paulos que estão aí no Brasil, porque há tanta gente boa se dedicando, seja para dizermos para eles: Esperança! Esperança! Organização do povo! Ir para base! Olhar para quem está no fim da fila. Não fazer para o outro, mas fazer com o outro.

    Mas tem outra palavra além de esperança: coragem. A gente precisa ter coragem nos dias de hoje para dizer "estes são bons, estes estão junto com o Brasil", e vamos convencer as pessoas a dizer que não existem realidades mais necessárias do que aquelas trazidas por pessoas no Brasil inteiro, entre elas os Paulos da Pauliceia que diziam "esperança e coragem".

    Parabéns, gente! Vamos, juntos, unidos, organizados, falar com as pessoas para dizer "olha, nós queremos diálogo, entendimento, sem radicalizações, sem polarizações". O Brasil precisa pensar no brasileiro, na brasileira e na sua educação libertadora.

    Um grande abraço, gente!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/09/2021 - Página 71