Discurso durante a 126ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação de solidariedade ao Senador Fabiano Contarato, vítima de recente episódio de homofobia. Apoio ao Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 8, de 2016, que institui a Política Nacional de Informações Estatísticas relacionadas à violência contra a mulher.

Preocupação com o crescimento da escassez alimentar entre a população mais vulnerável do País. Apelo ao Congresso Nacional para que regulamente a renda básica universal de cidadania.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Direitos Humanos e Minorias, Mulheres:
  • Manifestação de solidariedade ao Senador Fabiano Contarato, vítima de recente episódio de homofobia. Apoio ao Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 8, de 2016, que institui a Política Nacional de Informações Estatísticas relacionadas à violência contra a mulher.
Assistência Social:
  • Preocupação com o crescimento da escassez alimentar entre a população mais vulnerável do País. Apelo ao Congresso Nacional para que regulamente a renda básica universal de cidadania.
Publicação
Publicação no DSF de 01/10/2021 - Página 14
Assuntos
Política Social > Proteção Social > Direitos Humanos e Minorias
Política Social > Proteção Social > Mulheres
Política Social > Proteção Social > Assistência Social
Matérias referenciadas
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, FABIANO CONTARATO, SENADOR, VITIMA, HOMOFOBIA, APOIO, PROJETO DE LEI DO SENADO (PLS), POLITICA NACIONAL, INFORMAÇÕES, ESTATISTICA, VIOLENCIA, VIOLENCIA DOMESTICA, MULHER.
  • PREOCUPAÇÃO, REDUÇÃO, ALIMENTAÇÃO, POPULAÇÃO CARENTE, PAIS, SOLICITAÇÃO, CONGRESSO NACIONAL, REGULAMENTAÇÃO, LEI FEDERAL, RENDA, CIDADANIA, COMBATE, POBREZA.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para discursar. Por videoconferência.) – Boa tarde, Presidente Rodrigo Pacheco! Seja bem-vindo ao Rio Grande do Sul!

    Boa tarde a todos os Senadores e autores, Relatores do dia de hoje!

    Primeiramente, eu quero aqui deixar toda a minha solidariedade ao Senador Fabiano Contarato, vítima de homofobia. Isso é inaceitável. O respeito às diversidades e às diferenças é princípio humanitário. Não podemos aceitar, não podemos calar, principalmente frente a qualquer forma de discriminação ou preconceito, seja contra LGBTQIA+, seja contra negros, mulheres, indígenas, pessoas com deficiência, ciganos, emigrantes, migrantes, refugiados. Termino dizendo, abraço, meu amigo, meu irmão, Senador Fabiano Contarato.

    Sr. Presidente, quero destacar o projeto de hoje da ex-Senadora, Vice-Governadora do Piauí, Senadora Regina. Esse projeto cria Política Nacional de Informações Estatísticas relacionadas à violência contra a mulher. Lembro que a Vice-Governadora é negra, foi Presidente da CDH. Tem como finalidade reunir, organizar e analisar dados atinentes à violência contra a mulher. Em 2019, 3.737 mulheres foram assassinadas no Brasil. Dessas, 66% eram negras. Portanto, o PLS nº 8, de 2016, é necessário para que possamos melhorar o combate à violência contra a mulher.

    Sr. Presidente, quero falar de um outro tema. O Brasil está estarrecido. As imagens de pessoas disputando restos de carne, ossos e pelancas ganhou o mundo. Isso aconteceu na Zona Sul do Rio de Janeiro e foi amplamente divulgado pela mídia no dia de ontem e de hoje. Há pessoas que chegam a percorrer quase 36km até esse local. Às vezes, conseguem uma passagem, uma carona, penduradas nos trens, e outras vezes vão caminhando mesmo, porque a fome não espera. Essa realidade cruel com os brasileiros não acontece somente no Rio de Janeiro, está em todo o País. É um fato, é real. Não tem como fechar os olhos.

    Conforme pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, mais de 117 milhões de pessoas vivem, hoje, sem acesso pleno e permanente a alimentos. Desses, 19 milhões, 9% da população, passam fome, vivendo um quadro de insegurança alimentar grave. Os números revelam ainda, Senadores e Senadoras, o aumento de 54% no número de pessoas que sofrem com a escassez de alimentos se comparado a 2018.

    O relatório da Oxfam mostra que o Brasil está entre os focos emergentes de fome, ao lado da Índia e da África do Sul. Segundo a última pesquisa de orçamentos familiares do IBGE, em média, 15 pessoas morrem por dia de fome. Vejam que a fome no Brasil já virou uma questão estrutural; crianças morrem por desnutrição.

    Aí vamos em frente e vamos ver que, conforme a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), o nosso País já é o terceiro maior produtor de alimentos do mundo – veja, o terceiro maior produtor de alimentos do mundo! –, ficando atrás apenas da China e dos Estados Unidos, mas já somos o segundo maior exportador global, só perdendo para os norte-americanos.

    Há alguns anos, o Brasil tinha resolvido o problema da fome. Como deixamos chegar a essa situação de agora? É lamentável, é triste ver o choro pela fome. Se as pessoas disputarem ossos e pelancas, restos, o que antes era para cachorros, agora, infelizmente, é uma disputa entre crianças, idosos, mulheres grávidas, pobres, miseráveis e desempregados. Isso é muito cruel. Presidente, o que aconteceu no Rio é cena de campo de concentração.

    Em 1942, em Geografia da Fome, Josué de Castro perguntou: "Quais são os fatores ocultos dessa verdadeira conspiração de silêncio em torno da fome? Será por simples obra do acaso que o tema não tem atraído devidamente o interesse dos espíritos especulativos e criadores dos nossos tempos?". E, por fim, ele afirma, e aqui eu termino: "A fome não é obra do acaso, e, sim, de um silêncio premeditado".

    O Congresso precisa, urgentemente, regulamentar a Lei 10.835, de 2004, da renda básica universal de cidadania, através da aprovação do Projeto de Lei 4.194. Precisamos sair deste abismo social e de tragédia humana.

    Era isso, obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/10/2021 - Página 14