Discurso durante a 145ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Exposição sobre o câncer de cabeça e pescoço, com destaque para a importância da prevenção e do diagnóstico precoce.

Autor
Nelsinho Trad (PSD - Partido Social Democrático/MS)
Nome completo: Nelson Trad Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Saúde Pública:
  • Exposição sobre o câncer de cabeça e pescoço, com destaque para a importância da prevenção e do diagnóstico precoce.
Publicação
Publicação no DSF de 04/11/2021 - Página 33
Assunto
Política Social > Saúde > Saúde Pública
Indexação
  • COMENTARIO, DOENÇA, CANCER, IMPORTANCIA, PREVENÇÃO, DIAGNOSTICO, INICIO.

    O SR. NELSINHO TRAD (PSD - MS. Para discursar.) – Sr. Presidente, sempre trago assuntos relacionados à área da saúde, até para poder dividir com os pares algumas preocupações que tenho, na qualidade de médico, e, muitas vezes, a relação médico-paciente acaba te deixando, com algumas situações devidamente expostas, com a sensibilidade mais aflorada.

    Eu quero, aqui, tratar de um tema que afeta milhares de brasileiros e, mesmo assim, passa despercebido pela maioria de nós, eu falo do câncer de cabeça e pescoço e das suas repercussões. Por que é que eu estou me referindo a esse tema? Recentemente, no meu consultório, em Campo Grande, eu recebi um paciente sequelado de uma cirurgia altamente mutiladora, um câncer de faringe, que não conseguia mais se expressar através da fala, porque, habitualmente, essas pessoas não conseguem mais se comunicar pela fala e apenas se comunicam pela escrita. Era um repórter, uma pessoa da comunicação, e, afora a doença que lhe acometia, a sequela que o obrigava a agir dessa maneira era tão dolorosa quanto a própria doença.

    Por câncer de cabeça e pescoço, entendem-se aqueles tumores em uma vasta área: cavidade oral, glândulas salivares, faringe, seios paranasais, cavidade nasal e laringe. É o 6º tipo de câncer mais comum. Em 2019, no Brasil, foram registradas 13.189 mortes, o que significou 5,6% do total de óbitos por câncer; no mundo, no mesmo ano, foram 467 mil falecimentos; além disso, mundialmente, são 700 mil novos casos anuais, sendo que a taxa de mortalidade é de 50% depois de 5 anos. Na Europa, pesquisas indicam que 77% das pessoas não sabem o que é o câncer de cabeça e pescoço, e a consequência dessa ignorância, que podemos imaginar que seja similar, se não maior, no Brasil, é o diagnóstico tardio da doença.

    A Associação Brasileira de Câncer de Cabeça e Pescoço alerta para o fato de que os sintomas indicativos são frequentemente negligenciados. Nos últimos anos, nota-se o aumento da incidência desse tipo de tumor em jovens, principalmente pelo aumento da infecção pelo vírus HPV. Além disso, há, segundo a associação, um outro elemento agravante: o consumo de álcool e o tabagismo são grandes fatores de risco para o câncer de cabeça e pescoço, que podem multiplicar em até 20 vezes a probabilidade de uma pessoa saudável desenvolver a doença.

    Por isso é tão importante ficar de olho nos possíveis sintomas de uma fase mais precoce da doença. Na lista enumerada pela Associação Brasileira de Câncer de Cabeça e Pescoço, os mais comuns são esses...

(Soa a campainha.)

    O SR. NELSINHO TRAD (PSD - MS) – Já estou encerrando, Sr. Presidente.

    Feridas na boca ou no rosto que não cicatrizam; mudanças na voz ou rouquidão por mais de duas semanas; manchas vermelhas ou esbranquiçadas na região bucal; caroço no pescoço; dificuldade ou dor para mastigar ou engolir; irritação ou dor na garganta; perda de peso sem motivo aparente; mau hálito frequente; dentes, que podem ser afetados, ficando moles ou com muita dor em torno deles.

    É louvável ainda o esforço que tem sido levado a cabo por várias entidades para aumentar a visibilidade do problema. A Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e outras organizações trabalham para conscientizar a sociedade por meio da campanha Julho Verde, aproveitando o fato de que dia 27 de julho...

(Soa a campainha.)

    O SR. NELSINHO TRAD (PSD - MS) – ... é o Dia Mundial da Prevenção das Doenças da Cabeça e do Pescoço. É uma iniciativa para informar sobre o câncer abordando aspectos como a promoção da saúde, a prevenção, o diagnóstico, o tratamento e a reabilitação.

    Posto isso, é preciso ainda uma palavra de acolhimento para os laringectomizados, ou seja, aqueles que passaram pela cirurgia que consiste na remoção completa do órgão responsável pela fala, também afetando a respiração e a deglutição. É um procedimento cirúrgico bastante complexo e agressivo que normalmente causa um sofrimento físico e emocional muito maior que a própria doença.

    As alterações físicas no paciente podem resultar em exclusão social, em razão de que a sociedade ignora a existência do paciente com a cirurgia de câncer de cabeça e pescoço.

(Soa a campainha.)

    O SR. NELSINHO TRAD (PSD - MS) – O próprio paciente enfrenta problemas com a sua autoimagem depois de uma cirurgia tão invasiva: subitamente, para si e para outros, passa a ser um estranho. Assim, o acolhimento e a reinclusão social são etapas fundamentais para o pós-operado. A recuperação, pois, é um tanto dolorosa, já que o processo físico e o psicológico são bastante afetados. É um processo delicado, mas podemos vê-lo produzindo belos resultados para cada uma das pessoas envolvidas. É bom para o paciente, é bom para os seus familiares e amigos.

    Espero que, nesta oportunidade, eu tenha conseguido despertar um pouco de atenção para o problema. São muitos os aspectos envolvidos, mas, acima de tudo, trata-se de pessoas, dos nossos familiares e amigos da nossa convivência que precisam do nosso apoio...

(Soa a campainha.)

    O SR. NELSINHO TRAD (PSD - MS) – Se despertarmos para a dimensão do problema, podemos acolhê-los com fraternidade, respeito e dignidade.

    Confesso a V. Exa. que o inspirador desta minha fala de hoje foi um paciente meu da comunicação que perdeu a fala, que mal consegue engolir uma comida e que tem problemas para respirar. Hoje ele não consegue falar mais, mas a sua voz está aqui. Quero dedicar este pronunciamento ao jornalista Jota Menon, lá do Mato Grosso do Sul. Mesmo ele não podendo falar, estamos aqui para ecoar esse sofrimento no sentido de fazer a conscientização de centenas e milhares de pessoas pelo nosso País.

    Era isso, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/11/2021 - Página 33