Discurso durante a 172ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Discurso de defesa da indicação de S. Exa. para exercer o cargo de Ministro do Tribunal de Contas da União (TCU).

Autor
Kátia Abreu (PP - Progressistas/TO)
Nome completo: Kátia Regina de Abreu
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Agentes Políticos:
  • Discurso de defesa da indicação de S. Exa. para exercer o cargo de Ministro do Tribunal de Contas da União (TCU).
Publicação
Publicação no DSF de 15/12/2021 - Página 47
Assunto
Administração Pública > Agentes Públicos > Agentes Políticos
Matérias referenciadas
Indexação
  • DISCURSO, DEFESA, INDICAÇÃO, PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO, NOMEAÇÃO, AUTORIDADE, SENADOR, MULHER, KATIA ABREU, CARGO PUBLICO, MINISTRO, TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO (TCU).

    A SRA. KÁTIA ABREU (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO. Para discursar.) – Boa tarde a todos.

    Senadores e Senadoras da República Federativa do Brasil, este Senado que me enche de orgulho faz com que, a cada dia que aqui passo... É muito tempo. São quase 16 anos apenas no Senado Federal. É muito mais do que um período escolar de um ensino fundamental, de um ensino médio, de uma universidade, é muito mais tempo do que isso.

    Eu quero dizer a cada um de vocês que está aqui hoje e a outros que por aqui passaram e que já não estão aqui mais...Cada um de vocês, nesse período de convivência extraordinária, aqui nesta Casa, foi um professor, um exímio professor, um ilustre professor, para toda a minha vida.

    Aprendi com cada um, na sua especialidade, na sua alegria, na amizade, às vezes na timidez, no debate mais acirrado; mas eu gostaria de demonstrar, neste início, a minha gratidão, gratidão a Deus por ser uma Senadora da República, entre 215 milhões de habitantes, apenas 81 senadores e eu ser um desses Senadores; 14 mulheres e eu ainda poder ser uma dessas mulheres. É muito privilégio, privilégio dado por Deus, privilégio dado pelo meu Estado do Tocantins, mas também gratidão à minha família, que se encontra aqui. Uma criação humilde, simples, mas uma criação com muitos princípios.

    Eu agradeço a presença da minha mãe, dos meus sete irmãos. Tenho sete irmãos homens, eu sou a única irmã. Agradecer aos meus três filhos, aos meus netos que se encontram aqui, ao meu marido, aos meus amigos que vieram do Tocantins e de tantos outros lugares. Muito obrigada pelo apoio durante toda a minha jornada, uma jornada que não foi fácil, mas foi uma jornada maravilhosa. Quando eu olho a minha estrada que ficou para trás, eu sinto orgulho, saudade e muitas alegrias. Dificuldades quem não as tem?

    Presidente Rodrigo Pacheco, a convivência com V. Exa. tem sido um prazer muito grande. Também um ilustre grande professor, um grande gestor desta Casa e o senhor tem toda a minha admiração.

    Eu quero agradecer também, desde o início da minha vida, quando o Tocantins me acolheu, quando lá cheguei sozinha com três crianças pequenas... Quando eu poderia imaginar na vida chegar aonde eu cheguei! Cheguei no primeiro ano do Estado da sua criação em 1988, cheguei um pouco antes, em 1988, quando ele se transformou num Estado aprovado por esta Casa e, desde esse tempo, eu lá estou, acolhida pelo povo do Tocantins. Tocantinense eu me sinto hoje, nascida no Estado de Goiás, em Goiânia, onde a minha família era estabelecida e grande parte da minha família ainda está lá.

    Eu quero dizer que a minha vida toda – eu disse pela manhã hoje aos meus colegas –, eu gostaria de ter sido talvez uma intelectual, eu sonhava em ser uma grande psicanalista, copiando a estrada da minha mãe, que também é uma psicanalista, e, quando eu já tinha, na minha imaginação, escolhido o meu gabinete, a minha clínica, o meu divã, a minha vida deu uma guinada de 360º e eu tive que me transformar: uma moça jovem em uma empresária rural, sem saber absolutamente nada do campo, absolutamente nada, ignorância total e foi justamente essa ignorância que me deu força para sobreviver, que me deu força para lutar e força para aprender. Nunca tive vergonha de perguntar, sempre fui "perguntadeira", sempre fui estudante, para não dizer estudiosa, porque nem estudiosa fui, nem especialista. Estudante de caderno em punho, caneta na mão, perguntando às pessoas, desesperadamente, para aprender a administrar uma propriedade rural aos 25 anos de idade, atropelada pelo destino, já que eu tinha outros planos para a minha vida.

    E foi o amor à administração, à organização, à vontade de vencer, de fazer certo que fez com que eu chegasse até aqui.

    Muitos, inclusive aqui ou no meu Tocantins, que veem o meu movimento perguntam quais são os remédios que eu tomo para ter tanta energia. A minha energia que vem e que me impulsiona é a vontade de vencer, é a vontade de fazer certo. Você quer vencer e chegar aonde? Não existe esse lugar para chegar. É importante vencer em qualquer momento, em qualquer lugar, em qualquer atividade, desde a menor até a maior. Não conheço a palavra "desistir", não conjugo esse verbo. Sempre fui obstinada, Sr. Presidente, desde pequena.

    Cheguei com a ignorância total em uma propriedade rural e, de lá, passo a passo, degrau por degrau, estudando todos os dias com afinco – não pude frequentar as grandes universidades, não pude estudar fora, não pude falar línguas, que era o meu grande sonho, mas foi na universidade da vida, da lida, da roça, da convivência com as pessoas, com os seres humanos... A coisa que eu mais amo na vida é gente, gente de todas as formas, gente que me contradita, gente que briga comigo, que concorda comigo, que me ensina a viver. Eu gosto de gente que eu nem conheço. E é isso que me move. Nós viemos nesse mundo num período tão breve, e a nossa obrigação é fazer a diferença, é mudar a vida das pessoas, é fazer e transformar, fazer com que as pessoas possam ser mais felizes.

    Eu vejo aqui nesta Casa, Sr. Presidente – o senhor descreveu lá em Portugal, com muita competência, um rol de trabalho feito pelo Congresso Nacional, que me emocionou –, um trabalho árduo desta Casa, às vezes incompreendido, às vezes atacado, criticado, mas, ai do Brasil, se não fosse o Congresso Nacional! Ao mesmo tempo, eu vejo os Prefeitos do interior deste País, do meu Tocantins, os Vereadores nas câmaras mais humildes, os Governadores de Estado, as instituições privadas e públicas, todo mundo lutando todo dia. E a minha pergunta é a mesma de todos vocês: por que não saímos de onde estamos? Por que o Brasil não cresce? Por que não damos conta de acabar com a miséria? Por que a educação não chega às casas de todo mundo? Por que a saúde não funciona? E não é aqui absolutamente uma crítica a um Governo – absolutamente –, são décadas de erros, de ineficiência, de burocracia e de falta de transformação.

    É inexplicável que nós tenhamos um exército de pessoas competentes, trabalhando todos os dias, e o nosso Brasil não impulsione, o nosso Brasil não avance. Nós temos que unir forças para descobrir o que há por trás disso tudo, abrir os nossos corações, deixar de lado os nossos orgulhos, as nossas vaidades, as questões partidárias, unir forças com quem pode nos ajudar. E o Tribunal de Contas da União faz parte desse grupo de instituições que pode nos ajudar.

    Eu estou aqui no Congresso Nacional há muito tempo – fui Deputada Federal duas vezes; Senadora da República, duas vezes –, e a distância entre o Congresso Nacional e o Tribunal de Contas da União é um abismo. Nós não somos brigados, mas nós somos distantes. Nós não temos aquele apego, aquela união para transformar o País, porque o Tribunal de Contas, por sua vez, com o nosso distanciamento, se limitou a focar a fiscalização, as auditorias, pela distância, porque não puderam mais ouvir as ruas. Quem ouve as ruas somos nós. Nós, que ouvimos as ruas, é que temos que levar para o Tribunal de Contas da União o que o povo lá fora quer, o que os Prefeitos 0.6, os Prefeitos 0.8, os Prefeitos das capitais... Isso foi silenciado, e o Tribunal de Contas da União não tem bola de cristal para adivinhar.

    Faço a mea-culpa – eu, que estou aqui há muito tempo –: tão pouco nós aproveitamos aquela Casa, com um exército de servidores de primeira linha. É indiscutível. Nós precisamos buscá-los para assessorar, que é a sua função principal. Como vamos enfrentar a ineficiência do Estado brasileiro? Pois é a ineficiência do gasto público que faz com que nós não possamos sair do lugar.

    Nós precisamos melhorar essa eficiência, combatendo a burocracia, combatendo também a corrupção, que é uma obrigação de todos, mas, acima de tudo, combatendo a incompetência, a falta de gestão, que rouba muito mais do que muitos corruptos por aí, a falta de capacidade técnica e administrativa. A falta da capacidade educacional da instrução dos nossos gestores, espalhados pelo nosso continente Brasil, precisa ser superada. E é através dessa união, dessa voz trazida das ruas, na união do TCU com o Congresso Nacional, que nós vamos resolver essas diferenças, esses desgostos, essas mazelas.

    Com o Judiciário, com a distância do Tribunal de Contas com o Judiciário, respeitando todas as competências: nós temos milhares de ações que estão derrubando decisões do Tribunal de Contas da União. São decisões que foram avançando e mudando a ideia dos juízes, dos magistrados, e nós temos que dar instrumentos ao Tribunal de Contas da União para acompanhar esse desenvolvimento da legislação brasileira.

    Todos nós temos a culpa, mas uma culpa que podemos reverter rapidamente. Nós precisamos fazer, e é o que eu pretendo, aqui, diante, humildemente, de todos os senhores. Não sou doutora em nada, infelizmente. Não sou mestranda, porque não tive oportunidade de fazer. Sou formada em Psicologia, não consegui ser uma psicanalista e procuro ser uma fazendeira pelo menos medianamente competente.

    Contei hoje de manhã – e Jader Barbalho deu muita risada – que, quando eu assumi a propriedade rural, eu não sabia o que fazer, olhava para um lado e para o outro e todo mundo: "Contrata um gerente". E eu falei: "Não, eu não saberia comandá-lo. Eu não saberia orientá-lo, porque eu não sei nada sobre esse assunto. No dia em que eu aprender tudo, eu vou contratar um gerente". Os anos se passaram, e o primeiro gerente que eu tive foi Irajá Silvestre Filho. Esse foi o primeiro gerente da nossa fazenda depois que tudo aconteceu.

    A busca pela eficiência me persegue desde pequena, desde muito nova. Passei pelo sindicato rural, fiz história, com alegria, com obstinação, pela Federação da Agricultura do Estado em todos os lugares, a primeira mulher. Esse estigma me persegue, para minha alegria! Cheguei na Presidência da Confederação Nacional da Agricultura sem nenhum diploma extraordinário como eu gostaria, mas foi a minha vontade de vencer, a minha vontade de realizar, a minha obsessão pela competência que me fez superar e liderar uma das maiores entidades patronais deste País, com mais de 5 milhões de produtores rurais.

    Administrei alguns bilhões de reais durante esse período, pelo Sistema S e também pela federação, confederação e todas as entidades.

    Passei pelo Ministério da Agricultura também sem nenhuma especialização ou doutorado em gestão, mas perguntem àqueles, como Blairo Maggi, que me sucedeu. Em uma reunião governamental, quando terminou o governo, todos os Ministros contrariados com a sucessão, que não tinham recebido nada de ministro nenhum, e Blairo Maggi pediu a palavra e disse: "Não aconteceu o mesmo comigo. Eu encontrei tudo em cima de uma mesa, em papel e digitalizado". Isso porque eu não queria que o Ministério e o meu País parassem. Eu tenho sentimento lá na frente; eu não sou egoísta, medíocre, pequena. O Ministério da Agricultura não é meu, a gestão não era minha; é do povo brasileiro, é do Brasil, é dos produtores rurais. Era minha obrigação deixar uma sucessão digna para quem vinha depois de mim, aliado ou não. E é assim que eu penso todos os dias.

    Eu peço humildemente a cada um de vocês que possam me dar mais essa oportunidade não só de ser uma Ministra do TCU, mas a primeira mulher Ministra indicada pelo Senado Federal. Nós temos duas mulheres em 126 anos: uma, indicada pelo Presidente Sarney; a outra, indicada pela Câmara dos Deputados. Mas o Senado Federal ainda não teve essa oportunidade, e essa também é uma oportunidade.

(Soa a campainha.)

    A SRA. KÁTIA ABREU (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO) – Não é por ser apenas mulher. Nós não queremos privilégios. Nós não queremos ser escolhidas por sermos mulheres, mas também nós não queremos ter desvantagens por sermos mulheres.

    E ainda, antes de encerrar, Sr. Presidente, eu peço a todos os colegas que avaliem a possibilidade, que façam uma análise e uma reflexão. Em 126 anos de Tribunal de Contas da União, cem ministros já foram escolhidos: apenas 1 da Região Norte; 4 do Centro-Oeste; 15 do Sul; 36 do Nordeste; 44 do Sul do País. Todos competentes e bem escolhidos, exerceram as suas funções maravilhosamente bem. Não há aqui nenhuma crítica e nenhum rancor. Mas, nesta Casa, que combate a desigualdade neste País, será que não é, nos mínimos detalhes, nas mínimas questões, nas mínimas oportunidades, que não chegou a hora, depois de 50 anos, de a Região Norte do País ter o seu segundo ministro no Tribunal de Contas do País?

    Eu gostaria muito de contar com cada um de vocês e dizer que vou para aquela Casa não para me aposentar, não para me aposentar... Não é meu final de carreira! Iludem-se aqueles que estão imaginando que é meu final de carreira. Não! É o início de uma nova carreira, com toda força, energia, alegria, vontade de vencer, vontade de fazer, vontade de ser competente.

    É para isso que eu quero ir para o Tribunal de Contas: fazer de lá a extensão desta Casa, porque eu quero estar lá e quero estar aqui junto com vocês para sempre.

    Contem comigo no Tribunal. Todos os gestores deste País, contem com todas as minhas forças para praticar a justiça, para praticar o bem em favor do povo brasileiro.

    Muito obrigada. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/12/2021 - Página 47