Discurso durante a Sessão de Debates Temáticos, no Senado Federal

Sessão de Debates Temáticos destinada a debater a eficiência do Passaporte Sanitário no enfrentamento à Pandemia e seus reflexos nos direitos pessoais, trabalhistas, sociais e religiosos da população.

Autor
Marcos Rogério (PL - Partido Liberal/RO)
Nome completo: Marcos Rogério da Silva Brito
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Combate a Epidemias e Pandemias, Defesa e Vigilância Sanitária, Direitos Individuais e Coletivos, Saúde Pública:
  • Sessão de Debates Temáticos destinada a debater a eficiência do Passaporte Sanitário no enfrentamento à Pandemia e seus reflexos nos direitos pessoais, trabalhistas, sociais e religiosos da população.
Publicação
Publicação no DSF de 15/02/2022 - Página 40
Assuntos
Política Social > Saúde > Combate a Epidemias e Pandemias
Política Social > Saúde > Defesa e Vigilância Sanitária
Jurídico > Direitos e Garantias > Direitos Individuais e Coletivos
Política Social > Saúde > Saúde Pública
Matérias referenciadas
Indexação
  • SESSÃO DE DEBATES TEMATICOS, DEBATE, EFICIENCIA, PASSAPORTE, CONTROLE SANITARIO, COMPROVAÇÃO, VACINAÇÃO, COMBATE, PANDEMIA, NOVO CORONAVIRUS (COVID-19), DIREITOS, POPULAÇÃO, PESSOAS, DIREITOS SOCIAIS, DIREITOS E GARANTIAS TRABALHISTAS, RELIGIÃO, COMENTARIO, ATUAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI).

    O SR. MARCOS ROGÉRIO (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - RO. Para discursar.) – Sr. Presidente Senador Eduardo Girão, Sras. e Srs. Senadores, cumprimento a mesa: a Deputada Federal Bia Kicis, nossa colega do Parlamento federal; a nossa colega Janaina Paschoal, que nos honra com sua presença nesta Casa; os professores que aqui estão, Professor Doutor José Augusto Nasser e a infectologista Dra. Roberta Lacerda; e também a Vereadora Priscila Costa, lá do Estado do Ceará. A todos os senhores e senhoras que estão aqui a minha saudação neste dia.

    Senador Girão, eu estava acompanhando do gabinete. Hoje é um dia de muitos Prefeitos e Vereadores visitando a Casa, mas fiz questão de vir aqui cumprimentar V. Exa. pela iniciativa deste debate.

    Essa iniciativa do Senador Girão, na verdade, não é uma iniciativa nova, é apenas reflexo, ou fruto, ou consequência de uma insistência. Quando tivemos aqui a CPI no Senado Federal, V. Exa., por diversas vezes, tentou fazer com que esse debate acontecesse no âmbito daquela CPI, uma CPI que escolheu um lado, uma CPI em que muitos dos seus integrantes se achavam – e alguns ainda se acham – pais da ciência – "ciência é o que eu penso, o que o outro pensa não é ciência, é anticiência, é negacionismo".

    A gente começou a observar, naquele ambiente tóxico que foi aquela CPI, algo inimaginável para uma Casa do Parlamento da República, como o Senado Federal, a Casa da moderação, do bom senso, do diálogo, do acatamento, do fino trato – esse é o traço do Senado Federal. Nós passamos a ver, naquele ambiente, um ambiente de absoluta agressividade contra aqueles que ousavam pensar diferente e manifestar, esposar os seus pensamentos. Então, toda vez que chegava alguém que, mesmo sem um único título publicado, uma única pesquisa publicada, uma única referência que pudesse dar lastro ao que estava falando, estivesse de acordo com o pensamento dominante da CPI, era tratado com fidalguia, era tratado com respeito, com urbanidade, era promovido – aliás, até no jargão futebolístico: levantava-se a bola para a pessoa. Mas, quando chegava alguém que tinha um pensamento diferente, não havia espaço para o diálogo, não havia espaço para o contraditório.

    E o que é ciência? Eu não vou avocar para mim aqui o direito de debater ciência numa perspectiva de discutir esse ou aquele protocolo, essa ou aquela iniciativa. Esse é o campo do debate de quem é da área, mas eu estou feliz hoje, Senador Girão, porque V. Exa., por insistência, consegue trazer esse tema para o Plenário do Senado Federal. Aqui vi infectologista falando, professores falando, especialistas falando. Não são pessoas... Não são palpiteiros de plantão. Não são palpiteiros, são pessoas que estudaram, que se dedicaram, que buscaram. E há médicos e médicos. Eu respeito todos, mas há médicos e médicos. Eu respeito quem pensa de um jeito e respeito quem pensa de outro, não há problema em divergir.

    Agora, eu penso que a pandemia causou um mal maior na sociedade que vai até além dos próprios efeitos absolutamente lamentáveis da pandemia em si, que foram infectar pessoas, mutilar pessoas e matar pessoas, o que é lamentável. Essa guerra é uma guerra que impõe a todos o dever de enfrentá-la e vencê-la, mas a pandemia conseguiu colocar na cabeça das pessoas muita dúvida. E a dúvida nos faz, às vezes, buscar respostas, mas aí chegaram os chamados pais da ciência para dizer: "Não, não há dúvida. Há uma unanimidade na ciência em relação a isso". Onde? Onde é que há unanimidade? Onde é que há clareza em relação a qualquer coisa? Até pouco tempo atrás... E, olha, eu respeito quem pensa diferente e eu defendo uma regra que lá na CPI a gente observava o tempo todo: liberdade. Liberdade! Aquilo que a Constituição Federal do Brasil assegura a todos os brasileiros está sendo relativizado neste momento. Veja: fundamentos da Constituição Federal estão sendo colocados ao lado, afastados em razão daqueles que se acham os pais da ciência, os donos do saber. Eu tenho dúvidas e continuo tendo. Eu continuo querendo saber o que pensam aqueles que defendem a vacina, aqueles que entendem que ela ainda tem problemas. Eu não quero essa cegueira deliberada.

    Eu estou vendo agora uma guerra. Nós temos agora uma nova causa. A reforma trabalhista não conseguiu ampliar situações ou hipóteses para demissão em justa causa ou para proteção ao trabalhador. Agora a pandemia veio e impôs uma outra situação: agora estão Brasil afora praticando demissões em razão de opções do trabalhador, que teve medo da covid e tem medo da covid, mas há aqueles que também têm medo da vacina.

    Eu me vacinei, mas eu defendo de forma intransigente o direito das pessoas de, se quiserem, não se vacinarem. É direito delas! Eu me vacinei. Agora, eu não tenho o direito de colocar a faca no pescoço de ninguém para determinar que faça ou deixe de fazer. É escolha do cidadão. Quem é que pode dar todas as garantias inerentes a essa ou àquela escolha ao paciente, ao cidadão?

    Não quero tomar o tempo do debate que está sendo feito aqui e que é fundamental, mas queria apenas ressaltar a iniciativa de V. Exa. de trazer aqui especialistas para discutir esse tema, um tema que, em nome do negacionismo... Porque negacionismo é daqueles que se acham os donos absolutos da verdade, isso é negacionismo, é negar o contraditório, é negar a divergência, é negar o espaço para o debate. A ciência se aperfeiçoa quando há espaço para o contraditório. Estão tratando ciência como ideologia. A Escola de Frankfurt, há um tempo, eu lendo lá... Estou assustado com algumas coisas. Tratar a ciência como ideologia, doutrinação...

    Eu penso, Senador Girão, que daqui a pouco nós vamos ter que fazer um outro debate aqui. Há muitos interesses movendo muitas coisas mundo afora. Vamos ter que discutir no Brasil e no mundo. O mundo pós-covid tem muitos desafios pela frente.

    Eu queria nesse momento apenas deixar aqui o meu registro ao Senador Girão, de que V. Exa. já vinha querendo fazer este debate desde antes, e hoje ele está acontecendo, ouvindo os dois lados, como deve ser o bom debate. Eu não tenho a pretensão de comprar como certeza absoluta, não: esse lado está certo, este lado está errado. Não, eu quero ouvir. E, como diz o sábio Salomão, na multidão dos conselheiros, há sabedoria. Eu não quero uma verdade que venha de uma única fonte. Eu quero ouvir os dois lados. Eu quero ouvir quem pensa de um jeito, mas eu quero ouvir quem pensa de outro para eu, dentro da minha liberdade, poder tomar a minha decisão, defender aquilo em que acredito.

    Deus abençoe V. Exa., Senador Girão, e os que compõem essa mesa, mas, de maneira especial, que Deus abençoe os médicos e médicas do Brasil! Que Deus abençoe aqueles que estudam, estudaram e continuarão estudando esse desafio que apanhou o mundo todo de surpresa! E ninguém estava preparado para enfrentar uma situação como essa, como ainda talvez não estejam 100%, mas eu espero que Deus possa, a cada dia que passa, abrir a mente dessas pessoas para conseguirem enxergar aquilo que vai ser a saída para todos nós, porque todos nós – quem pensa de um jeito e quem pensa de outro – queremos nos ver livres dessa pandemia o quanto antes. Deus abençoe o Brasil! (Palmas.)

    O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar PODEMOS/PSDB/PSL/PODEMOS - CE) – Amém!

    Muito obrigado, muitíssimo obrigado, Senador Marcos Rogério, de Rondônia.

    Eu já admirava muito esse Senador antes de imaginar entrar na política – o senhor já era Deputado Federal – pela sua coragem em defender a vida, sempre teve muita coerência. E na CPI eu tive a benção de conviver com o senhor e vi um outro lado que, particularmente, a gente não consegue perceber pela televisão, o seu humanismo. Você é uma pessoa muito humana, que procura tratar todos com muito respeito, mesmo as pessoas que divergem de forma frontal do que o senhor acredita, mesmo pessoas que lhe agridem de uma certa forma – a gente viu isso na CPI. O senhor manteve ali o seu sentimento de compaixão, o seu sentimento de compreensão com o próximo. Eu acho que isso ficou muito evidente para quem assistiu aquele capítulo importante da história do Brasil.

    Houve um dia lá, Senador Marcos Rogério, dia em que fiquei mais constrangido de todos – não foi ofensa, não foi nada –: quando a gente conseguiu, depois de muito esforço, levar dois médicos renomadíssimos, e, infelizmente, quem não concordava com eles se retirou, foi embora. Aquilo ali foi algo estarrecedor porque mostra a intolerância ao contraditório, a quem pensa diferente. No Brasil, a gente precisa buscar esse caminho do diálogo, precisa buscar esse caminho da pacificação, que passa também por ter a humildade de ouvir.

    O SR. MARCOS ROGÉRIO (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - RO) – Senador Girão, eu agradeço as palavras de V. Exa. V. Exa. tem sido nesta Casa uma voz firme na defesa daquilo em que acredita. Talvez o ponto central da defesa de V. Exa., muito antes de chegar aqui, era a pauta da vida.

    Conheci-o na Câmara dos Deputados à época, nos embates que enfrentamos lá, e aqui continua sendo a sua pauta principal.

    Há muitos que tentam pegar bandeiras que V. Exa. defende, que eu também defendo, e transformá-las numa fakenews gigante lá fora, colocando o carimbo, o rótulo de que é antivida, é negacionista. O Brasil o conhece, o Brasil nos conhece.

    Eu nunca me preocupei em receber aplausos de quem às vezes, pelos seus gestos e atitudes, não tenho orgulho. Naquele lugar, nós combatemos o bom combate e os brasileiros acompanharam, mas essa luta é uma luta permanente, diária e a pandemia vai passar. Muitos estão aqui e vão continuar aqui, eu disse isso lá naquela CPI, naquela vez, naquela ocasião, mas hoje há muitos brasileiros, irmãos nossos, sofrendo com essa guerra que a gente viu um pouco aqui dentro. Pessoas que, às vezes, chegam ao trabalho para trabalhar e porque não há um carimbo de que foi vacinado é colocado para fora ou porque às vezes não está usando o acessório "não farmacológico", como eles costumavam dizer aqui dentro da pandemia: "Não, não pode entrar". E é arrancado de uma reunião.

    Nós vivemos um tempo de intolerância muito grande. Aqueles que se acham donos do saber, pais da ciência, são intolerantes e julgam os outros de serem intolerantes.

    Eu defendo o Brasil das liberdades, aquela que foi esculpida na Constituição Federal. Nada disso, respeito a todos, mas há alguém que acha que não deve respeitar.

    Então, Deus abençoe V. Exa., sinto-me extremamente feliz em tê-lo nesta Casa, engrandecendo a representação do seu Estado do Ceará, engrandecendo a representação do Brasil no Senado Federal.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/02/2022 - Página 40