Discurso durante a 14ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a comemorar os 90 anos da conquista do voto feminino.

Autor
Rose de Freitas (MDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Rosilda de Freitas
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Data Comemorativa, Direitos Políticos, Eleições e Partidos Políticos, Mulheres:
  • Sessão Especial destinada a comemorar os 90 anos da conquista do voto feminino.
Publicação
Publicação no DSF de 25/02/2022 - Página 29
Assuntos
Honorífico > Data Comemorativa
Jurídico > Direitos e Garantias > Direitos Políticos
Outros > Eleições e Partidos Políticos
Política Social > Proteção Social > Mulheres
Matérias referenciadas
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, DESTINAÇÃO, COMEMORAÇÃO, DIREITOS POLITICOS, DIREITOS, VOTO, MULHER, APOIO, ASSINATURA, CONVENÇÃO INTERNACIONAL, TRATADO, COMBATE, VIOLENCIA, TRABALHO, ASSEDIO MORAL, GENERO.

    A SRA. ROSE DE FREITAS (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - ES. Para discursar.) – Bom dia a todas!

    A gente fica em um entra e sai aqui, porque eu tenho que coordenar os cortes que o Presidente fez no Orçamento. E alguma coisa se perdeu da educação. E nós mulheres, principalmente, sabemos da importância que tem a educação para desenvolver o país e para promover a nossa inclusão verdadeiramente, a capacitação das mulheres, a luta para que as mulheres estejam também em pé de igualdade com toda a sociedade e se movimentem para crescer, para se vocacionar e ocupar o seu lugar no mercado de trabalho.

    Eu quero saudá-las.

    A Leila, quando fala assim, Zenaide, está nos chamando de "vovozinha"? O que é? Eu não sei!

    A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. PDT/CIDADANIA/REDE/CIDADANIA - DF) – Imagine, Rose!

    A SRA. ROSE DE FREITAS (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - ES) – Eu vou descobrir.

    A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. PDT/CIDADANIA/REDE/CIDADANIA - DF) – É só admiração!

    A SRA. ROSE DE FREITAS (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - ES) – Eu ainda vou descobrir! (Risos.)

    Eu quero saudá-las. Eu acho que é muito interessante... Eu quero dizer para vocês todas que a sensação que nos dá... Nós estamos falando de 90 anos, mas comemoramos como se fosse ontem, porque cada conquista das mulheres é muito suada, é muito difícil. Quem vê a Leila, que saiu do vôlei, que foi para a política e que sabe que tem que enfrentar, como todas nós mulheres... E eu não vou falar: "coitadinhas de nós"! Pelo contrário, eu vou dizer: viva! A gente conseguiu quebrar os preconceitos, quebrar as resistências.

    Ainda convivemos com muita discriminação, mas o voto é um caminho, não é? O voto é aquela arma que a gente tem na mão – e eu não gosto de falar em arma, não. É um instrumento que a gente tem na mão esse voto. Há mulher que diz assim: "Não, meu marido votou, já está bom". Não está bom! Nós temos que votar todas! A cada dia, mais votos! E temos que entender que esses votos têm que ser, na sua maioria, para as mulheres. Se as mulheres fizessem um movimento para votar em mulher, as nossas... Eu fui Constituinte. Eu me lembro de quantas mulheres havia. Eu lembro que fui a primeira Vice-Líder na Casa, e aquilo parecia um estrondo: "A Rose é a primeira Vice-Líder!". Quando se é primeiro em alguma coisa, a gente fica um pouco feliz, mas fica pensando: puxa, eu sou primeira... Depois de tantos anos do voto, do nosso sufrágio feminino, eu penso que a gente tinha que ter mais poder.

    Ontem, na reunião com o Presidente, Leila, lá, eu dizia para a Eliziane, que agora é nossa Líder, que precisamos ter mais relatorias, precisamos adentrar mais nos assuntos da pauta do país inteiro, para entender que, quando nos apossamos do nosso espaço, quando nós entendemos que ali temos que falar com muita propriedade e comemorar, sim, e falar dezenas de vezes, a gente tem que entender que também temos que estar na pauta da economia, nas pautas sociais. Eles acham sempre que as mulheres têm que ocupar só – só! – a Comissão de Assuntos Sociais, mas e a Comissão de Infraestrutura, e a de Esporte, não é, Leila? Não é porque a Leila é do esporte, mas porque nós temos que começar a fazer com que as mulheres estejam em todas as áreas, falando das políticas públicas necessárias, para que elas mostrem a sua competência e a gente exerça de verdade a nossa igualdade.

    Nós fazemos pressão o tempo inteiro, gente. É pressão o que a Leila faz, a Zenaide – não é, Zenaide? É "endormido" esse processo das mulheres na Casa. Quando você vê uma ministra falar, a Maria Claudia, quando você vê a Juliana falar, nós estamos aqui exercendo o poder da pressão da história que houve lá atrás, mas que, para nós, é como se fosse agora, dizendo: "Escutem, nós votamos". Portanto, nós decidimos uma eleição e, ao decidir essa eleição, nós temos que procurar a melhor dialética possível para formar, dentro da sociedade, esse exército de mulheres, mobilizando permanentemente para avançar nas nossas conquistas.

    Eu falo isso querendo olhar para bem perto, não é? Eu sou autora da imprescritibilidade do feminicídio – a da Câmara está numa gaveta da Câmara –, e a gente não consegue levar para a pauta. Nós temos outras e outras: mulher chefe de família, mulher isso, mulher aquilo, mulher aquilo... É uma luta para entrar na pauta. Agora, evidentemente que há uma diferença entre Davi e o Rodrigo, não é? Haveremos de ter uma mulher presidindo o Congresso. Eu já fui Vice-Presidente do Congresso, passei por agruras muito grandes, mas estou otimista em relação a isso. A Simone disputou, e a Simone agora está indo dar visibilidade à luta das mulheres numa disputa à Presidência da República. E essa linguagem, acreditem, é ela que conquista os espaços. Ainda que eles não sejam tão visíveis e tão poderosos quanto o necessário, eles nos colocam frente às primeiras vitórias. E essas primeiras vitórias são importantes. Vejam, eu fui a primeira mulher a presidir a Comissão de Orçamento, a Comissão mais importante da Casa. Por quê? Por quê? Só em 2015? Quantos anos depois? Agora, sou pela segunda vez. E a gente termina o trabalho sendo aplaudida de pé.

    Então, as mulheres estão preparadas, a Leila está preparada, todas estão preparadas para ocupar os espaços, mas a correlação de forças, é isso que nós temos que entender, porque comemorar esse voto é importante, a correlação de forças – não é, Zenaide? – é muito pesada. Nós comemoramos que somos a segunda bancada, mas somos apenas a segunda bancada. Na sociedade, nós somos mais do que a maioria da população. Na Câmara, são 72 mulheres, mas são apenas 72 mulheres, diante de 513. Eu estou sempre dizendo: "Olha como crescemos!", mas ainda não crescemos o suficiente para fazer a diferença.

    Então, eu queria dizer que nunca haverá... Não é nenhuma palavra que seja contrária aos homens. Nós temos muito que aprender, mas muito que ensinar a eles, que o amor, na verdade, que é demonstrado entre a união das pessoas, muitas vezes, o amor à irmã, à mãe, à colega, é um amor que tem que ser exercido, na prática, pela homenagem permanente que tem que se dar a essa mais da metade da população que ainda não está nos níveis de poder que precisa haver no país para alterar essa realidade.

    E, aí, nós lembramos, lógico, da primeira vez em que fizemos um abaixo-assinado para haver uma ministra dentro do Poder Judiciário. Foi uma alegria quando conseguimos. Nós, mulheres, somos humildes até diante disso, Leila! Esse movimento das mulheres para obter igualdade de gênero passa por tantas escalas... Eu estou preparada, agora, para ir lá para a Casa Civil, para que a gente colha a assinatura do Presidente da República – vou ficar um pouquinho lá na hora em que acabar a outra reunião –, para a gente pedir, evidentemente, que a Convenção 190 da OIT seja assinada. Não há por que não ser assinada. E vamos aproveitar que é um período pré-eleitoral para colocar uma posição unânime de todas nós. Todas aquelas que puderem se manifestar, dirigindo manifestações à Casa Civil – no gabinete, muitas vezes, não vão ser lidas –, dizendo: "Nós queremos" e mandando assinaturas de apoio... Vamos encher a Casa Civil. Vou fazer uma sala contígua cheia de papel, assinatura, manifestação, porque não é possível que isso não seja assinado, e é importante que o seja hoje, perto da nossa comemoração do Dia Internacional das Mulheres.

    O que eu gostaria de falar é que nós avançamos muito na legislação em relação à violência contra a mulher, mas efetivamente ela não surtiu o efeito que precisava que tivesse surtido, porque nós, mulheres, ficamos nos articulando para que possamos aprovar as leis, mas não fiscalizamos se elas são executadas. O botão do pânico, por exemplo, é uma coisa que já poderia estar no programa do Governo, nós colocamos recurso para isso, e nós não conseguimos.

    Nós, mulheres, não temos que nos submeter mais aos sonhos, aos agradecimentos. Nós somos agradecidas, não é? Quem viu a Leila falar ontem, quem viu falar a nossa Eliziane, quem vê a Zenaide falar sabe que a gente abre um obrigado, enche a boca com obrigado, e o coração vai transbordando de gratidão por coisas que, efetivamente, nos pertencem, que são a nossa dignidade, o reconhecimento da nossa igualdade, e, na prática.

    Então, eu quero dizer para vocês que eu vim falar hoje até muito emocionada, porque é um número expressivo de projetos os que nós já colocamos, aprovamos... A nossa união – viu, Leila? –, a nossa união não quer dizer que a gente tem que estar juntas, agarradinhas, todo dia, mas que a gente tem que estar confraternizando com as nossas amigas, colegas mulheres em qualquer lugar em que elas estejam.

    E acreditem: não foi extirpado o machismo. Ele existe, ele é frequente, há essa disparada desigualdade no trato em relação às mulheres. Então, nós temos que exercitar isso todo dia. E onde uma mulher não considerar a outra, nós temos também que chamar a atenção e dizer: "Olha, ela é uma mulher igual a nós na atividade humana e vivencial de ser mulher, todos os dias, todas as horas". Nós não temos que copiar ninguém. Uma mulher falou assim: "Na próxima encarnação, eu quero nascer homem". Então é voltado... Uma juíza: "Não, não nasça homem, nasça mulher, mas nasça com essa fleuma toda que nos faz sentir que nós haveremos de mudar o mundo".

    Onde a covid foi mais bem enfrentada foi através do comando de uma mulher, não é? Onde a ciência mais evoluiu, pela dedicação... Olhem, a Margareth Dalcolmo, de noite, doente, vai e: "Eu tenho que dizer para a população"... Foi ela que conscientizou por demais o papel que as mulheres, a ciência e as mulheres têm a produzir na vida deste país.

    Eu tenho orgulho de ser mulher, gente, gosto muito de ser mãe. Às vezes, brigo muito contra isso, mas gosto muito de ser mãe, gosto muito de ser mulher. Cada mulher que nasce eu torço para que nasça com menos medo, com mais coragem e mais resiliência para essa luta nossa.

    Então, eu quero agradecer a fala e dizer: Viva os 90 anos que se passaram, viva o voto que nós temos na mão e viva aquilo que nós vamos fazer hoje ainda, amanhã também, para que a gente um dia possa gritar a plenos pulmões que nós somos iguais e somos reconhecidas igualmente!

    Muito obrigada e feliz dia internacional para todas as mulheres do nosso país.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/02/2022 - Página 29