Pronunciamento de Randolfe Rodrigues em 24/03/2022
Interpelação a convidado durante a 24ª Sessão de Debates Temáticos, no Senado Federal
Sessão de Debates Temáticos destinada a discutir as causas, a situação e os efeitos da Guerra entre Rússia e Ucrânia e suas consequências para a economia.
- Autor
- Randolfe Rodrigues (REDE - Rede Sustentabilidade/AP)
- Nome completo: Randolph Frederich Rodrigues Alves
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Interpelação a convidado
- Resumo por assunto
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Assuntos Internacionais,
Conflito Bélico,
Economia e Desenvolvimento:
- Sessão de Debates Temáticos destinada a discutir as causas, a situação e os efeitos da Guerra entre Rússia e Ucrânia e suas consequências para a economia.
- Publicação
- Publicação no DSF de 25/03/2022 - Página 31
- Assuntos
- Outros > Assuntos Internacionais
- Outros > Conflito Bélico
- Economia e Desenvolvimento
- Matérias referenciadas
- Indexação
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- SESSÃO DE DEBATES TEMATICOS, DESTINAÇÃO, DISCUSSÃO, MOTIVO, RESULTADO, GUERRA, RUSSIA, UCRANIA, EFEITO, SITUAÇÃO, ECONOMIA, INTERPELAÇÃO, CONVIDADO, MINISTRO DE ESTADO, CHANCELER, ITAMARATI (MRE), CARLOS FRANÇA, QUESTIONAMENTO, POSIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, JAIR BOLSONARO, RELAÇÃO, CONFLITO.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP. Para interpelar convidado.) – Rapidamente, Sra. Presidente.
Chanceler Ministro Carlos França, permita-me, com a devida vênia. Em respeito a V. Exa., eu não quero, de forma alguma, constranger V. Exa., porque eu reitero aqui o que disse: V. Exa. tem mais coerência com a tradição diplomática brasileira do que os seus antecessores no âmbito deste Governo, mas me permita, com a devida vênia, só divergir de que há, de fato, posições dissonantes da parte da nossa Chancelaria, da Casa de Rio Branco – e eu me regozijo por essas posições da nossa Chancelaria –, da posição do Presidente da República.
Veja, Ministro, só para citar um exemplo. Em 27 de fevereiro – a invasão ocorreu no dia 24 –, o Senhor Presidente da República argumenta o seguinte: "Grande parte da população da Ucrânia fala russo, são países praticamente irmãos". Primeiro, desconhece a trajetória histórica da formação dos dois países, desde o século IX. O conflito ucrânio-russo tem antecessores históricos, inclusive no período czarista. Aliás, é posteriormente à Revolução Bolchevique que é dado para a Ucrânia o status de Estado associado à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Então, a primeira parte da fala do Senhor Presidente da República é quase que justificando a invasão.
Completa Sua Excelência o Presidente: "Eu entendo que não há interesse por parte do líder russo [Vladimir Putin] de praticar um massacre [contra civis]". Olhemos para o que está acontecendo na Ucrânia, olhemos para o que ocorre hoje em Mariupol, olhemos para o que ocorre hoje com o cerco em Kiev! Se aquilo não for massacre – inclusive condenado pela Corte Internacional de Justiça –, nada mais o será.
Continua o Presidente, no dia 27 de fevereiro: "Ele está se empenhando em duas regiões do sul da Ucrânia onde, em referendo, mais de 90% da população quis se tornar independente, se aproximando da Rússia". Ora, isso é ofensa àquilo de que o Brasil participou da fundação! V. Exa. sabe muito bem: nós muito nos regozijamos e temos orgulho de Oswaldo Aranha ter sido um dos fundadores das Nações Unidas, ter presidido, inclusive, a sua primeira sessão. A Carta das Nações Unidas é um documento respeitado ao longo da nossa história pela nossa diplomacia e pelos nossos Chefes de Estado e de Governo. Isso é uma chancela da parte do Senhor Presidente da República, eu repito, e não de nosso Itamaraty, à invasão, à ocupação.
Como se isso não bastasse, o Sr. Vice-Presidente da República fez também, dias após a invasão, uma declaração condenando a invasão – correta da parte de S. Exa. o Sr. Vice-Presidente da República. Ele é desautorizado logo em seguida por parte do Presidente da República.
Há uma distância enorme... E há uma obsessão pelo alinhamento do Senhor Presidente da República ao ditador russo – há uma obsessão por esse alinhamento –, inclusive se descaracterizando da posição tradicional alinhada ao Ocidente. No caso da invasão russa, é importante destacar que até a Suíça, que tem uma tradição, uma trajetória histórica de neutralidade, manifestou posição favorável a sanções e condenando claramente a invasão.
Eu reitero, Sr. Ministro... Não vou constrangê-lo nem insistir na pergunta em relação ao Vereador Carlos Bolsonaro, que vai à Rússia, quando o seu estado está, inclusive a sua cidade, a capital do estado do qual ele é Vereador, a cidade do Rio de Janeiro, imerso em enchentes e quando Petrópolis, a cidade vizinha, está vivendo uma das maiores tragédias de sua história, mas isso é à parte, inclusive é objeto provocação minha ao Supremo Tribunal Federal. Eu não vou insistir nessa pergunta, sobretudo pelo respeito – reitero – a V. Exa. e à Chancelaria brasileira, mas há um descompasso.
E eu repito, Sr. Chanceler: eu rogo a Deus e rogo à competência de V. Exa. pela teimosia de nossa Chancelaria, da tradição da Casa de Rio Branco, para que não se renda aos arroubos autoritários que subvertem a tradição diplomática brasileira da parte do Senhor Presidente da República.
Eu faço questão de separar V. Exa., nossa chancelaria, o comportamento profissional da nossa diplomacia em defesa dos interesses brasileiros da lamentável posição por parte do nosso Chefe de Estado e de Governo.