Presidência durante a 29ª Sessão de Debates Temáticos, no Senado Federal

Sessão de Debates Temáticos destinada a discutir o papel do Brasil na mediação de conflitos e construção de uma cultura de paz.

Autor
Eduardo Girão (PODEMOS - Podemos/CE)
Nome completo: Luis Eduardo Grangeiro Girão
Casa
Senado Federal
Tipo
Presidência
Resumo por assunto
Assuntos Internacionais, Conflito Bélico, Relações Internacionais:
  • Sessão de Debates Temáticos destinada a discutir o papel do Brasil na mediação de conflitos e construção de uma cultura de paz.
Publicação
Publicação no DSF de 02/04/2022 - Página 20
Assuntos
Outros > Assuntos Internacionais
Outros > Conflito Bélico
Soberania, Defesa Nacional e Ordem Pública > Relações Internacionais
Matérias referenciadas
Indexação
  • SESSÃO DE DEBATES TEMATICOS, OBJETIVO, DISCUSSÃO, ATUAÇÃO, BRASIL, PARTICIPAÇÃO, MEDIAÇÃO, CONFLITO, GUERRA, PROMOÇÃO, PAZ, MUNDO, PAIS ESTRANGEIRO, RELAÇÕES DIPLOMATICAS, RELAÇÕES INTERNACIONAIS.

    O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) – Olha, Akira Ninomiya... Acertei agora?

    O SR. AKIRA NINOMIYA (Fora do microfone.) – Acertou.

    O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) – Pronto.

    Olha aí, o senhor acertou em cheio, com o coração, falando, dando esses exemplos que fazem a gente ver na prática a ação da mediação de conflitos, dos resultados dela. Eu lhe agradeço muito pela sua presença. Eu estava até anotando alguns pontos aqui. O senhor falando, e lembrando um pouco de alguns momentos da minha vida em que eu tive a oportunidade, através do movimento chamado MovPaz... Nildo também conhece bem.

    Se você pegar o Dicionário Aurélio, está lá o verbo pazear. Eu pazeio, tu pazeias, ele pazeia, nós pazeamos, vós pazeais, eles pazeiam, ou seja, é um verbo transitivo direto. E o mais interessante dessa história toda... Transitivo indireto, não é? O mais importante dessa história toda é o seguinte: é que é ação. Paz... As pessoas confundem paz com tranquilidade, com a ausência de violência. Paz é muito mais do que isso; paz é dinâmica, é ação, é justiça social. Paz é fazer o bem. Então, está aí o verbo no nosso dicionário. Isso muda tudo. Isso muda tudo, não é?

    E a cultura da violência, que está muito arraigada... Você pega os filmes a que nós assistimos na vida da gente, os adolescentes, nossos filhos, hoje em dia, muito mais delicado... Os pais precisam estar muito atentos aos filhos, porque há esses jogos violentos, aquilo vai criando uma cultura, vai criando um condicionamento.

    E olha as coisas, os sinais... Eu gosto sempre de observar os sinais. Semana passada aconteceu uma tragédia. Não sei se vocês ouviram falar. Um pai proibiu o filho de jogar na internet, essas coisas todas, e o filho matou o pai, a mãe, feriu a irmã, uma tragédia que aconteceu aqui no Brasil. É o vício, é um novo vício esse vício digital, que é uma audiência que nós vamos fazer, sobre isso. A gente já está trabalhando. Precisamos ter cuidado com isso.

    Mas a cultura da violência está nos filmes a que a gente assistiu. Quantos tiros são dados ali num filme daquele? É o Rambo aqueles filmes Duro de Matar, aquelas coisas todas. Ali vem a cultura da violência. As cantigas de ninar, por exemplo... Quem já não cantou para o seu filho: "Atirei o pau no ga-tô-tô, mas o gato..."? Atirar o pau no gato, o que tem a ver isso? Olha o que vai incutindo na cabeça, não é?

    Há outra também que é aquela em que você diz que vai resolver situações com uma ação só, e você diz: "Vou matar um coelho com uma cajadada só"...

(Intervenção fora do microfone.)

    O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) – "Vou matar dois coelhos com uma cajadada só", exatamente, quer dizer, é a cultura da violência em ação. A gente tem que reprogramar tudo isso. A solução dos que fazem a cultura da paz, que se dedicam a isso – o MovPaz, é um dos movimentos; eu mando aqui um abraço para o Clóvis Nunes; mando um abraço também para o Cleber Costa e para o Almir Laureano –, eles colocam assim: "Vamos alimentar dois coelhos com uma cenourada só". (Risos.)

    Olha como ficou diferente: "Vamos alimentar dois coelhos com uma cenourada só". Então, quer dizer, é até uma questão de respeito aos animais, à vida. Eu acho que a gente tem que se esforçar. E só em pararmos para pensar e ver... Rapaz, eu nunca imaginei: "Atirei o pau no gato... Rapaz, está errado isso". Então, isso já muda, isso é consciência, vai despertando a consciência.

    Você falou nos valores, você deixou muito claro nessa conversa com o neto do Gandhi, não é isso? Como é o nome dele?

    O SR. AKIRA NINOMIYA (Fora do microfone.) – Arun Gandhi.

    O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) – Arun Gandhi, que um dia a gente vai ter a honra de trazer aqui no Senado Federal, já conversei com você sobre isso, numa oportunidade em que ele vier.

    E eu tive a oportunidade, Vandinha, de estar na Índia; eu fui à Índia, uns 15, 20 anos atrás. Eu me perdi, no carro, estava conhecendo, me perdi, estava com a família, e vi uma criança embaixo de uma árvore, com um livro dessa grossura aqui, estudando. E aquilo foi muito marcante, porque eu disse: "Você pode me dizer onde é que fica o Aishwarya do Sai Baba?", eu perguntei, eu estava procurando ali. Aí, a criança com muito amor – você nota o olhar amoroso –, com muito amor: "Boa tarde!". Quer dizer, eu cheguei logo... "Boa tarde!" Mas não foi querendo julgar, era a educação dela. "Boa tarde!" "Opa, boa tarde!" "O senhor vai por ali, por aqui; se quiser, eu posso lhe explicar tudo." Aí, eu disse: "Você estuda onde?". "Eu estudo numa escola que é fundada por esse senhor que o senhor está indo visitar, o Aishwarya dele". Eu disse: "Eu não sabia que tinha escola".

    E aí eu fui descobrir que existe escola que está fazendo uma revolução na Índia, com um método de educação chamado Sathya Sai Educare, que já tem... Aí, quando eu cheguei ao Brasil, já havia escolas no Brasil, eu não sabia, com esse método em valores humanos; no mundo todo, existe até universidade na Índia. E as pessoas que são formadas nessa universidade – olha que coisa interessante – são disputadas pelas grandes empresas americanas e europeias, porque sabem que um cidadão que é formado ali: ele é integro, ele é cooperador, ele tem valores e princípios bem definidos com relação à honestidade, ele vai servir. Então, é muito interessante a revolução.

    Aí, só para concluir, são cinco valores desse método: paz, amor, não violência, retidão e verdade. Quem sabe um dia a gente possa ter esse método de forma institucional no Brasil – no Brasil! –, política pública. É outro seminário pelo qual a gente está trabalhando aqui dentro do Congresso para ouvir o MEC, trazer os cinco valores. Essas escolas estão assim, é incrível a autoestima das crianças. Há no Ceará, há várias no Ceará já; há em Ribeirão Preto; em Pernambuco; e é impressionante a autoestima dessas crianças, sabe? E lá, Ulisses, como eu sei que você é vegetariano desde que nasceu...

    O SR. ULISSES RIEDEL (Fora do microfone.) – Desde que nasci.

    O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) – ... eles têm, no método da escola, um princípio de defesa da vida. Então, eles revolucionam ali ao redor da comunidade com soja, com tudo, a alimentação das crianças, ao ponto de, uma vez, eu estar nessa escola e um pai chegar e dizer: "Olha, o meu filho fala de uma carninha que tem aqui que é tão saborosa e tudo, como é que faz para...". Entendeu? Só que era soja. (Risos.)

    Então, é algo muito interessante o que há de coisas para se desenvolver.

    Eu queria também falar sobre conflitos, eu não sei se vocês ouviram falar – o Prof. Jean Carlos vai falar daqui a pouco, vai ser o próximo a falar –, mas eu já queria comentar sobre um método, uma ferramenta. Eu conversei com alguns juristas, inclusive houve um seminário, houve uma audiência pública semana passada na Comissão de Assuntos Sociais, que eu estava presidindo, sobre constelação familiar. Não sei se vocês já ouviram sobre isso, mas é um sistema, um método, uma ferramenta de cura sistêmica a partir de um alemão chamado Bert Hellinger, que foi quem desenvolveu essa técnica, e ela tem conseguido – e eu sou testemunha porque já participei de alguns grupos – desembaraçar nós que vêm de gerações em gerações. E, como você falou daquele exemplo, eu me lembrei muito da eficácia da constelação familiar. Eu não sei se vocês ouviram, mas há processos que acontecem há décadas e, às vezes, sentando, a pessoa fazendo a constelação em grupo, resolve-se isso. O Juiz Sami veio aqui dar o testemunho dele sobre o trabalho que está sendo feito lá na vara em que ele está à frente.

    Mas eu já, imediatamente – pedindo desculpas por ser um pouco prolixo, eu sei que eu sou, mas a gente fica com entusiasmo de falar sobre esses assuntos que tocam a alma –, eu já passo aqui a palavra ao Sr. Jean Carlos Lima, autor e pioneiro em mediação no Brasil. Muito obrigado. É uma honra muito grande, Sr. Jean Carlos Lima, recebê-lo aqui.

    Eu lhe passo a palavra por 15 minutos, com a tolerância desta Presidência.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/04/2022 - Página 20