Discurso durante a 36ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada à celebração do 62º aniversário de fundação de Brasília, capital federal.

Autor
Leila Barros (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Leila Gomes de Barros Rêgo
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Homenagem:
  • Sessão Especial destinada à celebração do 62º aniversário de fundação de Brasília, capital federal.
Publicação
Publicação no DSF de 19/04/2022 - Página 11
Assunto
Honorífico > Homenagem
Matérias referenciadas
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, COMEMORAÇÃO, DATA, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, CIDADE, CAPITAL FEDERAL, BRASILIA (DF).
  • COMENTARIO, DADOS, CENSO DEMOGRAFICO, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE), MULHER, PIONEIRO, TRABALHO, CONSTRUÇÃO, BRASILIA (DF), EXISTENCIA, POBREZA, DEFESA, MELHORIA, EDUCAÇÃO, JUVENTUDE, COMBATE, VIOLENCIA DOMESTICA, MODERNIZAÇÃO, TRANSPORTE COLETIVO URBANO, AUMENTO, TRANSPARENCIA ADMINISTRATIVA, GOVERNO.

    A SRA. LEILA BARROS (PDT/CIDADANIA/REDE/PDT - DF. Para discursar.) – Eu cumprimento, nesta manhã, o Sr. Presidente, as Sras. e Srs. Senadores.

    O Presidente desta sessão é o requerente comigo desta importante sessão especial destinada a comemorar os 62 anos da nossa capital, da nossa Brasília, Senador da República, meu amigo e companheiro de bancada, Senador Izalci.

    Cumprimento o Ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública, Sr. Anderson Torres; o Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Sr. Paulo César Rezende de Carvalho Alvim; a Reitora da Universidade de Brasília, minha querida amiga, companheira, a Magnífica Reitora Márcia Abrahão; e o representante da Presidência do Memorial JK, Sr. André Kubitschek, que é o bisneto do nosso querido JK.

    Eu cumprimento também as Senadoras e os Senadores, os brasilienses que aqui nasceram – entre eles, eu me incluo. E saúdo com muito carinho os integrantes da Banda de Música do Colégio Militar Dom Pedro II, sob a regência do Tenente Ademir Junior. Meu carinho, meu respeito, de todos os Senadores pelo belo trabalho de todos vocês. Na pessoa deles, eu cumprimento todas as ilustres autoridades convidadas e já nominadas pelo Izalci aqui, nesta sessão – que vai continuar no decorrer da sessão –, os brasilienses de coração, que adotaram esta cidade para construírem suas histórias e suas famílias, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos acompanham pela TV Senado, pela Rádio Senado assim como pelas plataformas de comunicação da Casa.

    Depois de dois anos em que as medidas sanitárias adotadas para enfrentarmos a pandemia nos impediram de festejar Brasília, finalmente agora, quando a cidade já completa 62 anos, podemos celebrá-la como merece.

    Aquele sonho de Dom Bosco, no distante ano de 1883, de uma terra prometida, onde jorrará leite e mel, materializou-se nesta nossa Brasília tão rica e de um povo trabalhador e generoso. Aquela terra de poeira e solidão, escondida e esquecida no Planalto Central do nosso país, transformou-se na capital da esperança.

    A história da nossa cidade já foi cantada em verso e prosa nas mais diversas línguas; sonhadores e heróis foram louvados e gozam do prestígio e do reconhecimento até hoje, são motivos de museus, de bustos, de placas, de livros, de canções, de biografias e de outras honrarias, e todos, absolutamente todos, merecem cada centímetro da fama conquistada.

    Nosso Presidente Juscelino Kubitschek, Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Israel Pinheiro, Joaquim Cardozo e Bernardo Sayão foram algumas das personalidades, dos nomes que contribuíram para que a cidade fosse construída em apenas três anos e onze meses. Os anônimos, os candangos, e entre eles eu incluo os meus pais, também estão imortalizados na história da construção da nova capital; inclusive, ganharam um monumento de destaque em sua homenagem, em plena Praça dos Três Poderes aqui, em Brasília.

    Porém, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, apesar de generosa com os homens, a história não foi justa com as mulheres que ajudaram a construir Brasília. Na condição de Procuradora Especial desta Casa, é meu dever e minha obrigação enfatizar isso. O Censo Experimental realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em Brasília, no ano de 1959, dá uma ideia do tamanho da injustiça cometida contra as trabalhadoras que, com seu esforço, também foram decisivas para que a nova capital ficasse pronta no prazo estipulado pelo nosso Presidente Juscelino Kubitschek. O IBGE contou 2.966 mulheres economicamente ativas em sua coleta de dados. A maioria era prestadora de serviços diversos, como cozinheiras, parteiras – porque nasceram inúmeros brasilienses após a chegada dos candangos –, lavadeiras e costureiras, totalizando 1.822 mulheres. Entre as demais, 74 trabalhavam diretamente na indústria de construção, e 54, na indústria de transformação.

    Sobre esse capítulo esquecido da nossa história, sugiro a todos que assistam ao excelente documentário chamado Poeira e Batom no Planalto Central – eu tive a oportunidade de assistir, e realmente é incrível a história dessas pioneiras.

    O excelente filme de Tânia Fontenele Mourão, Mônica Gaspar e Tânia Quaresma reúne vários depoimentos de grandes mulheres e suas histórias, que ficariam perdidas na poeira do tempo se não houvesse esse resgate. Esse documentário histórico de valor inestimável tem pouco menos de uma hora de duração e pode ser encontrado no Youtube. O testemunho dessas mulheres que colaboraram para que a nova capital fosse construída em tempo recorde merece ser visto por todos e não pode continuar relegado ao esquecimento.

    Sr. Presidente desta sessão, Izalci, Sras. e Srs. Senadores e convidados, louvemos por igual o trabalho daquela geração de mulheres, assim como louvamos o trabalho daqueles homens. "Esquecer" – com todas as aspas –, a importância do trabalho da mulher em nosso passado, é uma forma de querer diminuir a importância da mulher no presente.

    Agora, 62 anos depois, a tarefa de preparar Brasília para o futuro cabe à nossa geração. É sobre os nossos ombros – de homens e mulheres que amam Brasília – que recai a missão de avançarmos e consertarmos os diversos problemas que se acumulam pela nossa cidade.

    Em agosto, mais do que a campanha eleitoral a pleno vapor, nós teremos o início da realização do Censo Brasileiro de 2023, que atualizará o retrato de nossa cidade e a dimensão dos nossos desafios.

    Os dados do último censo de que dispomos, de 2010, mostram que Brasília tinha 36 aglomerados subnormais, que é a forma dos técnicos nos dizerem que nós tínhamos 36 favelas ou áreas favelizadas, da dimensão de cidades muitas delas.

    Quando eu digo para vocês que "tínhamos" 36 aglomerados subnormais não é porque eles melhoraram ou deixaram de existir, mas porque surgiram muitos mais, aumentando a dimensão da nossa missão e dos nossos desafios. Não podemos aceitar pacificamente que as pessoas achem normal existir aglomerados subnormais em seu país, e a capital do Brasil deve ser um exemplo disso, ou deveria ser um exemplo.

    Todos os governantes dignos deveriam se comprometer com a ideia de que uma cidade só é saudável quando não tem "aglomerados subnormais". A população não merece, por exemplo, o precário e indigno tratamento oferecido pela saúde pública, a despeito da qualidade e da dedicação dos profissionais que lá trabalham. O contribuinte não pode mais ser surpreendido com tantos casos envolvendo mau uso do dinheiro público oriundo do suor do seu trabalho.

    A educação do DF também precisa melhorar. No último levantamento do índice de Desenvolvimento da Educação Básica, divulgado em 2020 – nós acompanhamos aqui nesta Casa, Senador Izalci –, a capital do país foi um dos três entes federativos que não conseguiram atingir a meta na fase inicial do ensino básico.

    Não podemos aceitar a normalidade com que as pessoas falam da geração "nem-nem", que não trabalha e nem estuda, como se se tratasse de crianças e jovens que tivessem tido as melhores oportunidades para estudar, para se desenvolver e para trabalhar. Cada cabeça jovem dessas é uma espécie de computador sem uso, que não é ligado na tomada, porque é preto, pobre, periférico, mulher e morador de um "aglomerado subnormal". Subnormal, meus amigos, é a gente aceitar isso com normalidade!

    Também precisamos pacificar as escolas e combater com maior eficiência a violência doméstica e essa verdadeira epidemia de feminicídios – sim, no país inteiro e aqui na capital do país –, que tem interrompido a vida de tantas mulheres.

    O transporte coletivo carece de modernização – todos os dias nós assistimos a isso –, e a mobilidade urbana tem que passar a ser, sim, prioridade do Governo – tem que ser, sim, prioridade!

    A falta de transparência, como se o governante de plantão – ou os governantes de plantão – não fosse um servidor da população, é outro problema que precisa ser resolvido rapidamente. Tem que prestar conta sim, tem que ter transparência sim.

    Aos 62 anos, Brasília merece ser mais bem cuidada, todos nós sabemos, e se preparar para os próximos 62 anos que virão.

    Muito obrigada, meus amigos. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/04/2022 - Página 11