Discurso durante a 41ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a homenagear a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, em razão dos 49 anos de sua fundação.

Autor
Elmano Férrer (PP - Progressistas/PI)
Nome completo: Elmano Férrer de Almeida
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Administração Pública Indireta, Agropecuária e Abastecimento { Agricultura , Pecuária , Aquicultura , Pesca }, Homenagem:
  • Sessão Especial destinada a homenagear a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, em razão dos 49 anos de sua fundação.
Publicação
Publicação no DSF de 29/04/2022 - Página 8
Assuntos
Administração Pública > Organização Administrativa > Administração Pública Indireta
Economia e Desenvolvimento > Agropecuária e Abastecimento { Agricultura , Pecuária , Aquicultura , Pesca }
Honorífico > Homenagem
Matérias referenciadas
Indexação
  • HOMENAGEM, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUARIA (EMBRAPA), PESQUISA AGROPECUARIA, AREA, CIENCIAS AGRARIAS, CIENCIAS AGRICOLAS, CONTRIBUIÇÃO, DESENVOLVIMENTO AGRARIO, DESENVOLVIMENTO AGRICOLA, DESENVOLVIMENTO AGROPECUARIO, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, BRASIL.
  • COMENTARIO, VIDA PUBLICA, ORADOR, DIRETOR, EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUARIA (EMBRAPA), AMBITO ESTADUAL, ESTADO DO PIAUI (PI), TERESINA (PI), IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, APOIO, GRUPO, PAIS ESTRANGEIRO, AFRICA, ASIA, ELOGIO, AGRONEGOCIO, PRODUÇÃO, SOJA, ESTADO DO TOCANTINS (TO), REGIÃO NORDESTE, ESTADO DA BAHIA (BA), ESTADO DO MARANHÃO (MA), DESENVOLVIMENTO, AGRICULTURA FAMILIAR, APREENSÃO, SECA, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, PESQUISA, RECURSOS HUMANOS, COMBATE, FOME.

    O SR. ELMANO FÉRRER (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - PI. Para discursar.) – Inclusive como "embrapeano" que sou, com muita honra.

    Bom, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, nós temos aqui alguns Senadores presentes, o nosso ex-Governador Rodrigo Rollemberg, que conviveu conosco nesta Casa, e eu queria cumprimentar a todos nesta oportunidade.

    Nesta semana, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a nossa querida Embrapa, completa 49 anos de existência e é motivo de orgulho para todos nós que estamos aqui – nós brasileiros.

    Essa grande instituição foi criada por lei em 7 de dezembro de 1972, sua instalação foi autorizada – aprovados seus estatutos – em 28 de março de 1973 e a primeira diretoria foi empossada em 26 de abril de 1973, há exatamente 49 anos.

    De lá para cá, é uma trajetória vitoriosa reconhecida nacional e internacionalmente. A empresa se transformou em uma das maiores instituições de pesquisa agrícola do planeta. São mais de oito mil colaboradores, que incluem cerca de dois 2,2 mil pesquisadores, dos quais cerca de quase 90% com curso de mestrado, doutorado e pós-graduação.

    Eu, o "veinho" aqui, que, aliás, é conhecido lá no Piauí como "veinho trabalhador", passei dez anos dirigindo uma instituição da Embrapa, no período de 1979 a 1988, que era a Unidade de Execução de Pesquisa de Âmbito Estadual (Uepae), em Teresina, hoje Centro Nacional de Pesquisa do Meio-Norte do Brasil. Estive também em várias unidades de pesquisa – por exemplo, na África e na Ásia; em Gerdat, com sede em Montpellier, na França; em Icrisat, instituição de pesquisa inglesa, que eu tive a oportunidade de conhecer lá na Índia, especificamente lá em Hyderabad, no sul daquele país – e ouvi, naquele momento, assisti, vi a participação, o testemunho de nações como o Senegal, o Mali, na África, a Índia, na Ásia, e os elogios a essa grande instituição, fruto da inteligência dos brasileiros, sobretudo daqueles que estão na área das ciências agrárias e do desenvolvimento econômico do nosso país.

    Hoje, temos uma responsabilidade muito grande com essa instituição, que ajudou a criar e desenvolver o agronegócio no Brasil.

    Os números apresentados pela Embrapa impressionam. O valor estimado de sua contribuição para a agricultura nacional no ano de 2020, por exemplo, foram de R$62 bilhões e a geração de 41 mil empregos, um resultado muito maior, bem maior do que o orçamento anual, do ano de referência de 2020, que a gente vê que foi de R$3,4 bilhões.

    Essa contribuição pode ser observada nos resultados das pesquisas, de várias pesquisas, mas, entre elas, nós citaríamos aqui a fixação biológica do nitrogênio, do zoneamento dos riscos climáticos, dos rebanhos, bem como do desenvolvimento de pastagens adaptadas aos diferentes solos e climas. Por exemplo, nós temos o trópico úmido, temos aqui o Brasil central, temos o Semiárido e o Nordeste do Brasil. Foram geradas variedades para todas essas regiões, dada a dimensão continental do nosso país, apropriadas de todos esses produtos, o que torna difícil mensurar o impacto da produção agrícola em nosso país.

    Quero destacar aqui a produção dos Cerrados, não só dos Cerrados brasileiros, mas a conquista da soja tropical.

    Quando nós estávamos na Embrapa, nesse período de 1979 a 1988, os pesquisadores da Embrapa... Lá, naquela época, era uma unidade de pesquisas de âmbito estadual, o Epae; muitos conhecem aqui essa terminologia, era o nome da unidade. E o Centro Nacional de Pesquisas de Soja em Londrina, quer dizer, os pesquisadores geraram para baixas latitudes do Brasil e no mundo a variedade da soja tropical.

    No meu entendimento àquela época, foi mais ou menos em 1981-1984, só isso permitiu ocupar os Cerrados do Piauí, os Cerrados do Maranhão, os Cerrados da Bahia, esses três estados que constituem, juntamente com o Tocantins, o grande Matopiba. Quer dizer, só essa tecnologia gerada, esse avanço permitiu a ocupação dessas áreas até então inaproveitadas.

    Eu vi o esforço lá, nos Cerrados do Piauí, para incorporarmos as atividades econômicas e a geração de riqueza. Hoje, nós temos, por exemplo, no Piauí, 5,5 milhões de toneladas de grãos. Nós temos um pouco mais na região de Balsas, no Maranhão, e na região em torno de Barreiras, também uma grande produção, que, no meu entendimento, chega a quase 20 milhões de toneladas de grãos, graças à Embrapa, graças ao Centro Nacional de Soja e à nossa instituição, à época, uma unidade em âmbito estadual.

    Entre outros destaco, com menor alcance, em termos de volume, mas de inegável impacto de resultados que levaram a, por exemplo, a inclusão de novos produtos na pauta das exportações brasileiras, a exemplo do nosso feijão, o feijão caupi, e também o mungo e o mel orgânico. Também a Embrapa trabalha cultivos de agricultores, como a agricultura familiar, a média agricultura e agricultura comercial, que é o que nós temos de mais avançado no Brasil e no mundo.

    Nós chegamos a um grau de desenvolvimento tecnológico do nosso agronegócio invejável. Parece-me que nós estamos alimentando quase um bilhão de pessoas no mundo e temos muito mais condições de avançar nisso, apesar de também nós ainda termos problemas relacionados à desigualdade entre as pessoas, às desigualdades entre as regiões e também à desigualdade de renda, a má distribuição da renda e da riqueza nacional.

    Ouso garantir a todos os presentes que o nosso país deve se orgulhar muito por ter em seu território uma empresa desse porte, com tamanha experiência e reconhecida capacidade.

    Na década de 70, a agricultura se intensificava no Brasil e no mundo. O crescimento acelerado da população, da renda per capita e da abertura para o mercado externo mostravam que sem investimentos em ciências agrárias, em pesquisas e inovação, o país não conseguiria reduzir o diferencial entre o crescimento da demanda – nós todos sabemos que nós chegamos a importar produtos da base alimentar da população – e da oferta de alimentos. E hoje nós geramos o superávit que está alimentando uma parte significativa do mundo.

    Felizmente, em 1974, foram criados pela Embrapa os primeiros centros nacionais por produtos: o Centro Nacional de Pesquisa do Trigo, em Passo Fundo, que é do nosso estimado e querido Senador Lasier; e de arroz e feijão em Goiânia – à época, não existia o Estado do Tocantins; o de gado de corte, em Campo Grande; o de seringueira em Manaus; e, posteriormente, o centro nacional de pesquisas do Meio-Norte, Piauí e Maranhão, e outros centros importantes.

    Daí, Lasier, Chico Rodrigues, Izalci, tem uma preocupação muito grande com a Embrapa e o destino da Embrapa. Presidente Celso Moretti, eu creio que nós podíamos dedicar o próximo ano, quando nós celebrarmos os 50 anos da Embrapa, a uma discussão sobre a Embrapa e o que ela fez nesses primeiros 50 anos. Por quê? Quando a gente fala que foram criados, e a Embrapa hoje tem 43 centros nacionais de pesquisa, incluindo centros de recursos... Aqui nós conhecemos neste instante a Chefe do Cenargen. E a experiência que eu tive à época e tenho ainda, eu creio que nós temos que...

    Essa questão do financiamento da pesquisa. A gente vê hoje em todas as áreas, na educação, na saúde, na ciência e tecnologia, o trabalho da Embrapa. Nós temos ainda, meus colegas aqui da Embrapa, os "embrapeanos", e as autoridades, um problema no Semiárido do Nordeste, que tem uma precipitação pluviométrica de 10%, ou seja, em torno de, em determinadas regiões do semiárido, de 450 a 500mm por ano, enquanto lá no trópico úmido, na nossa Floresta Amazônica, nós temos precipitação que chega a 5 mil milímetros/ano, que é uma área que nós não conhecemos.

    Eu e o Lasier tivemos uma missão que nós fizemos lá, eu acho que foi em 2017, em que nós fomos até São Gabriel da Cachoeira, mais de uma hora de voo de Manaus para lá. Uma imensidão, uma floresta imensa, que nós não conhecemos. E é um desafio – é um desafio! E fui a Maturacá, na fronteira com a Venezuela. Então, isso é uma responsabilidade nossa, Lasier, Chico Rodrigues e nosso querido Izalci, sobretudo, e do ex-Senador Rollemberg, que passou por esta Casa.

    Não tem um país no mundo com a riqueza do nosso país, não existe. Pode fechar as fronteiras deste país com seus 213 milhões que tem como viver e bem, buscando a justiça social, a melhor distribuição da renda e da riqueza.

    Eu já estou na parte aqui final.

    Essa empresa mantém historicamente um intenso programa de cooperação científica com várias instituições no mundo. Inclusive eu participei como administrador de pesquisa. Eu não fui um pesquisador de campo propriamente dito, mas fui e aprendi muito, muito na Embrapa.

    Inclusive, aqui me faz lembrar o que representou, dentre outros grandes diretores que a Embrapa teve e tem ainda, o nosso Eliseu Roberto de Andrade Alves. Ele foi um grande Presidente da Embrapa, juntamente com os diretores, e fez, juntamente com Alysson Paolinelli e muitos outros ministros da agricultura, essa reforma que nós estamos... Aliás, fizeram esse grande avanço da ciência e da tecnologia agropecuária que nos permite hoje esse excesso de produção, quando eu me lembro que tínhamos uma dependência muito grande de importação de produtos da nossa cesta básica alimentar, podemos assim dizer.

    A Embrapa é criativa em vários formatos que não implicam infraestrutura física, por intermédio do desenvolvimento de projetos e pela presença, por tempo determinado, de pesquisadores em instituições de pesquisa parceiras, reduzindo-se custos e utilizando-se de estrutura já existente, dando assim mais dinâmica à cooperação.

    Eu vi o esforço na minha época. Quase 2 mil profissionais da área de ciências agrárias tiveram a oportunidade, com recursos do Banco Mundial, de cooperação técnica e, sobretudo, também financeira e recursos que aportaram a essa instituição que nascia e não podia se desenvolver e permanecer como ela é hoje sem os investimentos feitos com seus pesquisadores, dos recursos humanos em nível de mestrado, doutorado e pós-doc.

    E a gente sente que muitos estão se aposentando, muitos jovens ainda. E no meu entendimento, poderiam dar uma contribuição muito grande. Quando eu fiz agronomia, fiz direito também e curso de pós-graduação em planejamento e desenvolvimento econômico, vi um grande pesquisador na Universidade Federal do Ceará, um pesquisador mesmo, se aposentar e aquele armazenamento de experiências e de conhecimentos científicos ser interrompido, porque não teve sucessores.

    E nós temos uma preocupação muito grande com relação aos recursos humanos do Estado brasileiro. Nós estamos numa situação em que vejo que nós temos que investir muito nessa área, porque há, eu diria, um desmoronamento do Estado instituição. Eu vejo a falta de substituição de técnicos e, no caso aqui, de pesquisadores, e a capacidade de investimento do Estado brasileiro. Daí porque, Celso Moretti, analisando o orçamento de várias instituições no Brasil de ontem e de hoje, a gente se pergunta: como será o amanhã? Eu vejo que nós temos que ter essa preocupação no próximo ano, ao celebrarmos 50 anos dessa grande instituição, que é uma das instituições que deu certo neste país. Eu vi instituição nascer aqui no Brasil e morrer, no meu período de vida, nascer e morrer. Então isso, nós avançamos muito mesmo como nação, melhorando a vida das pessoas.

    Eu tenho um testemunho a dar a respeito disso. Nas secas, na Região Nordeste, uma criança morreu, em meus braços, de fome. E hoje, não existe, quer dizer, persiste ainda a pobreza, persiste ainda a miséria, a desigualdade, mas nós temos de avançar muito mais.

    Eu teria aqui mais algumas coisas a dizer. Vou concluir.

    Em seu planejamento estratégico, de fato é importante, para 2030... A Embrapa trabalha com as projeções mundiais de aumento de consumo da água, de mais de 50%, de energia em 40%, de alimentos em 35%, consequências lógicas das previsões de expansão populacional e o aumento da longevidade.

    Olhem o velhinho aqui. Eu tenho muitos colegas meus que se aposentaram com cinquenta e poucos anos. Eu não vou dizer a minha idade, não vou dizer aqui, mas eu tenho uma preocupação com o envelhecimento. Viu, Chico! Você está novo ainda, o Izalci, o Lasier, mas nós temos de ter um programa de envelhecimento. Vejo ali um colega nosso. Ele já levantou o braço, cabecinha branca, mas não é o velhinho da lancha não. Nós temos de ter um envelhecimento ativo, e eu estou tendo. Eu tenho 79 anos. Estou dizendo logo a minha idade. Estou Senador e trabalho mais do que muitos jovens aí, inclusive filho meu, com 38 anos. Dormir à tarde, cochilar depois do almoço, o velhinho nessa idade nunca fez. E nós temos de ter essas preocupações. Hoje eu vejo muitos idosos pobres, na periferia de Teresina, que não podem, que não têm como pagar um cuidador, a família não tem, porque um filho está em São Paulo, o outro está não sei onde. A migração, em decorrência da desigualdade regional neste País, é muito grande. E eu vejo casais, com mais de 70 anos, desassistidos. Nós temos um problema social muito importante.

    Mas estou falando isso aqui porque eu creio que isso tem de ser uma preocupação de todos nós, uma preocupação é todos nós. Lasier, Chico Rodrigues, há um descrédito muito grande com relação a todos nós, Izalci, políticos. É bom a gente falar essas coisas numa oportunidade como esta. Isso aqui é a elite de um segmento importantíssimo para a economia e para a parte social do Brasil. Nós estamos assim num descrédito! Eu estou terminando o meu mandato – ouviu, Lasier –, você também. O Chico ainda tem mais 4 anos. Não é Chico? Está tranquilo, tem mais quatro anos. Mas a gente chega por aí e é um descrédito, uma desesperança no futuro, sobretudo no nosso segmento político.

    Quando eu me refiro ao Estado... Eu fiz direito também, estudei teoria do Estado. Vejo uma preocupação com a crise dos Estados nacionais, todos os países. Isso tem que ser uma preocupação de todos nós. Estou falando isso, porque aqui é o cérebro das decisões, nós estamos no Brasil central, na capital do Brasil.

    A minha assessoria está pedindo para eu terminar, mas quando é que eu vou falar para vocês? Nunca mais, só agora, então não posso perder a oportunidade de dizer o que eu sinto, o que eu penso, não é? É para terminar, não é? É minha assessora.

    Então vamos concluir parabenizando essa grande instituição. Devemos lutar para que ela não feneça. E jamais vai fenecer, porque ela está trabalhando dentro de um setor fundamental para a sobrevivência nossa. E nós temos uma responsabilidade pela grandeza territorial do Brasil, essa dádiva que Deus nos deu. Nós temos que buscar o equilíbrio nessas discussões maiores, muitas vezes com conotações políticas e ideológicas, mas pensando nos seres humanos, nos nossos brasileiros, na desigualdade e na busca incessante pelo nosso desenvolvimento, sobretudo pela melhoria de vida e qualidade de vida dos nossos irmãos brasileiros.

    Viva a Embrapa!

    E até a próxima. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/04/2022 - Página 8