Discurso durante a 60ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa da soberania do País na exploração dos recursos naturais da Amazônia contra a ingerência indevida dos países desenvolvidos na questão ambiental brasileira.

Autor
Plínio Valério (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Francisco Plínio Valério Tomaz
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Meio Ambiente, Mineração:
  • Defesa da soberania do País na exploração dos recursos naturais da Amazônia contra a ingerência indevida dos países desenvolvidos na questão ambiental brasileira.
Publicação
Publicação no DSF de 01/06/2022 - Página 18
Assuntos
Meio Ambiente
Infraestrutura > Minas e Energia > Mineração
Indexação
  • DEFESA, SOBERANIA NACIONAL, BRASIL, MEIO AMBIENTE, CRITICA, MOTIVO, INTERVENÇÃO, PREJUIZO, ECONOMIA NACIONAL, RESULTADO, IMPEDIMENTO, EXPLORAÇÃO, MINERAÇÃO, POTASSIO, REGIÃO AMAZONICA, CITAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ALEMANHA, MINAS, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), PLANTIO, ALIMENTOS.

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PSDB - AM. Para discursar.) – Sr. Presidente, Srs. Senadores, Sras. Senadoras, desde que eu cheguei ao Senado, em 2019, tenho feito aqui discursos com mensagens amazônicas e muitas delas, como desabafo e com indignação. Às vezes, a gente não é entendido porque fala muito de hipocrisia em relação ao que existe, ao que permeia o assunto Amazônia, hipocrisia vinda, comandada pelos grandes fundos que se utilizam das ONGs para desmerecer sempre a Amazônia e desqualificar o Brasil no sentido de que não tem condições de tomar conta da Amazônia. Pois bem, eu faço hoje, e trouxe até por escrito, um discurso para mostrar, para clarear essa hipocrisia, começando pelo fato de que, enquanto tem aqui no Amazonas a queimada, lá fora, tem o incêndio. 

    Sr. Presidente, Sras. Senadoras, Srs. Senadores, há pouco mais de um mês, no dia 23 de abril, mais de 4 mil manifestantes organizaram um protesto em uma pequena vila do Estado de Renânia, do Norte-Vestfália, coração industrial da Alemanha. Eles se opõem à expansão da mina de Garzweiler, que, vista de cima, parece uma imensa cicatriz parda no terreno. Essa mina produz linhita, conhecida como carvão marrom, um dos combustíveis fósseis mais poluentes do mundo. Aqui no Brasil, no Amazonas, a gente não pode nem explorar o potássio que tem no Amazonas porque está perto de uma área indígena; não é dentro, é perto – olhem só o disparate!

    O problema da linhita não se limita à poluição. Com alto teor de água, ela tem baixo poder calórico e, portanto, é um dos combustíveis menos eficientes do mercado. Por isso, sua exploração é altamente destrutiva, exigindo escavação muito extensa e profunda para a extração de grandes quantidades do minério.

    As minas de linhita assumem a feição de gigantescas crateras porque a sua expansão destrói tudo nas proximidades. Eu estou falando da Alemanha, de um país que fiscaliza, de um país que vive em cima da nossa Região Amazônica, dizendo que nós não podemos fazer nada. Essa mina alemã já engoliu mais de uma dúzia de vilarejos, igrejas centenárias, casas e rodovias que foram demolidas e se removeu o solo sobre as quais estavam construídas, terras agrícolas desapareceram e até cemitérios foram esvaziados – uma verdadeira devastação.

    Não se trata, porém, de caso isolado. A linhita representa 45% da matriz energética do Estado alemão, com excedente exportado para a França e para a Holanda, dois outros países que vivem a dizer o que nós não podemos fazer. Essa fonte extremamente poluente assim está presente em vários dos países que se dizem os mais preocupados com o meio ambiente e com o aquecimento global. A Alemanha continua sendo o maior consumidor de carvão da Europa e suas usinas a carvão estão entre as maiores emissoras de dióxido de carbono da região.

    A expansão da mina foi contestada no Judiciário alemão. Não apenas foi mantida pela Alta Corte do Estado como se determinou a venda obrigatória – olhem só, a venda obrigatória! – das terras para a empresa que a explora. Embora reconheça, abro aspas, "os danos climáticos e ambientais inegáveis", fecho aspas, causados pela mineração de carvão e pela geração de energia de carvão, o tribunal decidiu que as medidas de proteção climática não exigem a retirada imediata do carvão da matriz energética. Para que a mineradora tome posse da terra, basta que o fornecimento de linhita ao mercado de energia esteja em risco.

    Eles dizem que a gente não pode fazer nada e que eles não fazem...

(Soa a campainha.)

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PSDB - AM) – Quando é colocada em risco a energia deles ou a alimentação, eles podem tudo e nós, no Brasil, na Amazônia continuamos não podendo fazer nada.

    Presidente, peço um minuto para encerrar, porque eu quero falar também dos Estados Unidos. Apertou a alimentação lá, olha o que os Estados Unidos fizeram, meu amigo Lucas, meu amigo Kajuru. A verdade é que as nações desenvolvidas – mesmo as que posam de defensoras da ecologia – esquecem essa postura sempre que se veem em dificuldades alimentares ou energéticas.

    O Governo do Estados Unidos acaba de anunciar que, para ajudar no combate à crise alimentar, permitirá que produtores lá façam o plantio em terras ambientalmente sensíveis que foram reservadas para a conservação. É informação oficial. Isso é hipocrisia! O Brasil – e aqui eu vou me dirigir aos brasileiros e às brasileiras –, vocês não podem entrar nessa onda. Vocês não podem acreditar no que o Macron, no que a Greta, no que os artistas populares brasileiros vivem a dizer: que a Amazônia está sendo destruída.

    Há pouco, aqui, o Eduardo Velloso, do Acre, que assume como Senador, falou da preservação no Acre em 85%; no Amapá, do Lucas, passa de 90%; no Amazonas, meu Amazonas, passa de 90% a preservação ambiental e nós não podemos fazer nada! Sequer podemos explorar o potássio, que fica perto de Manaus, que vai dar 25 mil novos empregos, porque não deixam. Encontraram um resto de cerâmica indígena e a Justiça Federal deu liminar para proibir que se vá adiante com o potássio da Amazônia.

    Portanto, mais uma vez e sempre, eu subo a esta tribuna para falar da hipocrisia que permeia o assunto amazônico. O Macron, a Greta, o Leonardo DiCaprio, a Gisele Bündchen, o Caetano Veloso e, por aí afora, falam do que não conhecem, falam do que não sabem. Eu estou aqui porque falo do que conheço...

(Soa a campainha.)

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PSDB - AM) – ..., do que entendo, do que sinto e do que sofro. Vocês não podem ver daí. Se pudessem, veriam assustados o que eu tenho aqui, que é a mancha exatamente da exploração na Alemanha. Eles tiram simplesmente quem está na frente, vilarejos, igrejas, monumentos... Aqui, a gente não pode sequer encontrar um caco de artesanato indígena que não pode fazer nada. Muita hipocrisia.

    Fica aqui o registro, Presidente, deste Senador do Amazonas que vai continuar, até o final de seu mandato, a chamar de hipócritas aqueles que podem tudo e não querem nos dar o direito de sobrevivência. A Amazônia, de que tanto se fala, que tanto se exalta, tem nove milhões de habitantes que não têm sequer condições de comprar uma cesta básica. No meu estado, segundo a Unicef, em 2017, último relatório, morreram 1.262 crianças ao nascer. Lá não se tem mais nem o direito de viver. Se depender dessa gente, nós não temos direito sequer à alimentação...

(Soa a campainha.)

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PSDB - AM) – ... Presidente, o meu registro é para que conste que este Senador do Amazonas vai continuar chamando essa gente de hipócrita.

    Obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/06/2022 - Página 18