Fala da Presidência durante a 116ª Sessão Especial, no Senado Federal

Abertura de sessão especial destinada a comemorar o Dia Nacional do Delegado de Polícia.

Breve histórico sobre o cargo de delegado de polícia no Brasil. Considerações sobre a importância de investimentos na polícia judiciária.

Autor
Marcos do Val (PODEMOS - Podemos/ES)
Nome completo: Marcos Ribeiro do Val
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
Homenagem:
  • Abertura de sessão especial destinada a comemorar o Dia Nacional do Delegado de Polícia.
Segurança Pública:
  • Breve histórico sobre o cargo de delegado de polícia no Brasil. Considerações sobre a importância de investimentos na polícia judiciária.
Publicação
Publicação no DSF de 03/12/2022 - Página 6
Assuntos
Honorífico > Homenagem
Soberania, Defesa Nacional e Ordem Pública > Defesa do Estado e das Instituições Democráticas > Segurança Pública
Matérias referenciadas
Indexação
  • ABERTURA, SESSÃO ESPECIAL, COMEMORAÇÃO, DIA NACIONAL, DELEGADO DE POLICIA.
  • REGISTRO HISTORICO, CARGO, DELEGADO DE POLICIA, POLICIA JUDICIARIA, LEI FEDERAL, IMPERIO, COMENTARIO, INVESTIMENTO, SEGURANÇA PUBLICA, REGISTRO, RESPEITO, POLICIA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), PARTICIPAÇÃO, EVENTO, POLICIA RODOVIARIA FEDERAL, ENTREGA, VEICULOS.

    O SR. PRESIDENTE (Marcos do Val. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - ES. Fala da Presidência.) – Declaro aberta a sessão.

    Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

    A presente sessão especial semipresencial foi convocada nos termos do Ato da Comissão Diretora nº 8, de 2021, que regulamenta o funcionamento das sessões e reuniões remotas e semipresenciais no Senado Federal e a utilização do Sistema de Deliberação Remota; e em atendimento ao Requerimento nº 750, de 2022, de autoria do Senador Humberto Costa e de outros Senadores, aprovado pelo Plenário do Senado Federal.

    A sessão é destinada a comemorar o Dia Nacional do Delegado de Polícia e da Delegada também.

    A Presidência informa que esta sessão terá a participação dos seguintes convidados: Sr. Benito Augusto Galiani Tiezzi – é italiano o nome? –, Delegado-Geral Adjunto da Polícia Civil do Distrito Federal; Sr. Sandro Torres Avelar, Diretor Executivo da Polícia Federal; Sr. Luciano Soares Leiro, Presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal; Sr. Rubens de Lyra Pereira, representante da Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (Fenadepol); Sr. Paulo D'Almeida, representante da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Judiciária; Sr. Rodolfo Queiroz Laterza, Presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil, que vai estar no sistema remoto.

    Agora vou pedir para compor a Mesa os seguintes convidados: Sr. Benito Augusto Galiani Tiezzi, Delegado-Geral Adjunto da Polícia Civil do Distrito Federal, por favor, para compor a Mesa; Sr. Paulo D'Almeida, representante da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Judiciária; Sr. Sandro Torres Avelar, Diretor Executivo da Polícia Federal; Sr. Luciano Soares Leiro, Presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal; Sr. Rubens de Lyra Pereira, representante da Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal; e, remotamente, Sr. Mário Dermeval, Presidente do Conselho Nacional dos Chefes de Polícia Civil, e Sr. Fábio Daniel Lordello, Presidente da Federação Nacional dos Delegados de Polícia Civil – eles estão no sistema remoto.

    Convido a todos para que, em posição de respeito, possamos acompanhar o Hino Nacional.

(Procede-se à execução do Hino Nacional.)

    O SR. PRESIDENTE (Marcos do Val. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - ES. Para discursar - Presidente.) – Sessão especial em homenagem ao Dia Nacional do Delegado de Polícia.

    Delegado, em sentido amplo, é um indivíduo que foi autorizado por outrem a representá-lo, a realizar algo em seu nome. É um enviado, um comissário, um representante.

    No Brasil, delegados e delegadas de polícia representam o Estado. São seus mandatários diretos, investidos do poder e do dever públicos de preservar a ordem, o patrimônio e, em especial, a segurança e a vida das pessoas. E o fazem, muitas vezes, sem os necessários recursos e, especialmente, sem o merecido reconhecimento. E ainda doam a vida para quem não conhecem e, muitas vezes, até os critica.

    É uma honra, portanto, recebê-los novamente aqui no Senado Federal e prestar-lhes — a cada um de vocês, delegadas e delegados de polícia — esta modesta, mas justíssima, homenagem.

    É uma homenagem que esperamos renovar a cada dezembro, relembrando, a cada edição, alguns marcos dessa nobre função que as senhoras e os senhores exercem. O primeiro e mais remoto é o que deu causa à escolha do dia 3 de dezembro como o Dia Nacional do Delegado de Polícia: a Lei nº 261, de 3 de dezembro de 1831, esta que é, literalmente, uma lei do tempo do imperador, do tempo em que Dom Pedro II, de acordo com os costumes da época, fez saber a todos os seus súditos que a Assembleia Geral havia decretado e que ele queria que fosse criada a função de delegado. De acordo com a lei, os delegados seriam nomeados pelo próprio imperador e – detalhe – não poderiam recusar o cargo. Eram suas funções, abro aspas, "a prevenção dos delitos e a manutenção da segurança e da tranquilidade pública", e a remessa, "quando julgarem conveniente, de todos os dados, provas e esclarecimentos que houverem obtido sobre um delito, com uma exposição do caso e de suas circunstâncias, aos juízes competentes, a fim de formarem a culpa".

    Saltando – pelo curto tempo que nós temos – o final do século XIX e os primeiros três quartos do século XX, cumpre-nos mencionar o importante papel constitucional que, em 1988, foi-lhes atribuído, que é o de dirigir as polícias civis, às quais, por sua vez, incumbe exercer as funções de polícia judiciária.

    Mais recentemente, já neste século, em 20 de junho de 2013, a Lei nº 12.830 esclareceu que as funções exercidas por delegadas e delegados de polícia têm natureza jurídica e são essenciais e exclusivas de Estado. Por isso, a mesma lei determinou que o cargo de delegado de polícia é privativo de bacharéis em Direito, devendo-lhes ser dispensado o mesmo tratamento protocolar que recebem os magistrados, os membros da Defensoria Pública e do Ministério Público e os advogados.

    Finalmente, em 21 de dezembro de 2017, com quase 200 anos de atraso – a cara do Brasil –, a Lei nº 13.567 instituiu o Dia do Delegado de Polícia, a ser celebrado, em homenagem à lei de Dom Pedro II, a cada dia 3 de dezembro, razão pela qual estamos aqui hoje reunidos.

    Delegadas e delegados de polícia acumulam, portanto, as funções de administradores, policiais e operadores do direito. Representam, em muitas situações, a face mais visível do Estado para uma população cujos direitos são, muitas vezes, negados. Exercem, desse modo, também, uma função social da maior importância.

    Pelas razões expostas, em nome do povo brasileiro e em meu próprio nome, como cidadão, os nossos mais profundos agradecimentos e as nossas mais sinceras homenagens a esses homens e mulheres que, em cada recanto deste país, tornam nossas vidas mais justas e seguras.

    Encerro esta parte do meu discurso, mas eu queria fugir um pouquinho do protocolo e dizer que, desde que entrei, como Senador, eu tenho falado para todos os Governadores e também falei muito com o Ministro da Justiça da importância do investimento na polícia judiciária.

    Infelizmente, aqui, no mundo político, investir na polícia judiciária, na visão da população – porque ela não vê... Ela sentiria se tivesse bastante investimento, mas ela não vê, então, naturalmente, os políticos começam a colocar policiais fardados nas ruas, porque aí a sociedade vê, e é falso, uma enganação de segurança. Quem, efetivamente, traz essa sensação de segurança são vocês, policiais judiciários, com as provas e todo o conteúdo das investigações em que não há nenhuma possibilidade de soltar quem cometeu o crime, dando para a gente essa sensação de que realmente o crime não compensa. Precisamos trabalhar bastante isso.

    Eu até estava falando com os colegas que no meu estado houve uma situação muito trágica. O padrasto, de repente, sai da casa, com a casa pegando fogo – isso foi em Linhares –, e acabou que duas crianças, acho que uma de quatro e outra de seis anos, morreram carbonizadas. E a polícia judiciária, de uma forma impressionante – sei das condições que eles têm lá no estado –, conseguiu extrair sêmen do corpo das crianças e o comparou com o do padrasto. Aí, foi comprovado que o padrasto abusou sexualmente das duas crianças e ainda botou fogo na casa.

    Isso trouxe para a sociedade, ao mesmo tempo, uma revolta, óbvio, claro, pela crueldade, e um alento, uma segurança muito grande. Todos se sentiram seguros e que o estado estava caminhando para aquela sensação de segurança. Isso faz uma diferença enorme não só para nós cidadãos comuns, mas para as empresas que queiram investir em todo o sistema do estado.

    Nós tivemos, no Espírito Santo, greve da polícia e sentimos na pele... Eu até brinco dizendo que a gente treinou para a covid. Ficou todo mundo dentro de casa, ninguém saía, não tinha escola funcionando, não tinha hospital funcionando, comércio também fechado... Ou seja, o Espírito Santo entendeu que a segurança pública, que o papel de vocês é a espinha dorsal da democracia.

    Conseguimos também na LDO – aqui eu dou o meu agradecimento ao Celso Sabino, que foi o Presidente da Comissão – colocar como prioridade para o próximo governo investimentos na segurança pública porque sempre foi colocada a questão da saúde e da educação. Conseguimos colocar como um artigo. Ficamos um pouco apreensivos, na votação do Congresso, de pedirem para tirar e colocar a questão da saúde, até por conta de que nós estávamos saindo da pandemia. Mas entenderam, graças a Deus, que a segurança pública precisava e precisa ter esses investimentos não só em equipamentos, mas em efetivos e salários justos, pela função que vocês exercem.

    Uma mosca pousou em mim e falou que a esposa do Celso Sabino está por aí. Eu não sei quem é, mas não precisa se apresentar. Ele falou que, se eu falasse isso, me mataria; então, sete dias depois vocês iriam à minha missa. E também até me passou antes que os recursos para a emissão de passaporte ele conseguiu com o Paulo Guedes.

    Quer dizer, nós estamos trabalhando muito. Às vezes, a gente não divulga porque o processo democrático leva um ritmo, e eu, particularmente, que nunca fui político na vida, fico meio agoniado. A gente quer as coisas com mais velocidade, com mais rapidez, principalmente na área da segurança, principalmente para a função que vocês exercem, porque está em risco a vida de vocês. Vale abrir aspas aqui para falar do que aconteceu com um ex-Deputado, Presidente de um partido, que jogou uma granada e abriu tiro contra a Polícia Federal. Nunca vi nada tão insano em toda a minha vida.

    Quero dizer da minha admiração, como disse no início. Nunca fui policial na vida, mas eu tenho a gratidão por dois delegados. É por isso que, para mim, muito me honra estar aqui.

    Em 1990, quando eu cheguei até aqui, o Espírito Santo senta desse lado, vi Collor de Mello, ex-Presidente da República, sentado logo à frente. E eu falei: "Meu Deus, estou tendo contato direto com o Presidente". Em 1990, eu tinha meus 18 anos, 18 para 19. Aí, sentei ao lado dele e falei: "Presidente, se não fosse você, eu não estaria aqui hoje como Senador da República". Ele olhou para mim, rindo: "Poxa, que bom, bom saber disso. Mas por quê?". Aí, eu falei assim: "Porque eu tinha uma empresa e fali no Plano Collor". E aí, ele tomou um susto e falou: "Era o destino, não é?". Quebrei, fiquei muito tempo devendo, sumiu o dinheiro do mercado, aí, fiz questão de entrar na carreira militar. Por conta disso, meu pai parou de falar comigo. Meu pai é médico e queria que eu fizesse Medicina. Eu não tenho nada a ver com Medicina. E fui para as Forças Armadas. Aí, Collor foi lá e também enxugou as despesas das Forças Armadas, e não tinha nem refeição. A gente tinha que ir embora antes do almoço. Então, a gente ia, fazia faxina e ia embora para casa. Aí, eu falei assim: "Não, não é para isso que eu quero estar nas Forças Armadas".

    A situação em que eu estava era uma situação muito difícil, de passar fome, de ter que escolher entre pagar a conta de luz ou comprar comida. Ficamos eu e o meu irmão menor em casa. Enfim, a gente optava, lógico, por comida e desligava a luz, então, não tinha luz dentro de casa. A gente viveu momentos muito difíceis. Mas a vida foi levando.

    Eu comecei... Eu já praticava arte marcial. O meu professor tinha 80 anos de idade, veio do Japão, mal falava o português. Ele começou a ter câncer de estômago. Eu fiquei até achando, assim, engraçado, não é? Porque o japonês se alimenta muito bem, mas a maioria tem câncer no estômago. E ele disse: "Do Val, se você puder assumir as aulas, eu não tenho condições físicas para isso". E eu nem poderia, porque, na época, eu era faixa marrom, depois que eu fui para a preta e tudo mais.

    Mas certo dia, eu parei, abri a janela, estava muito quente, os alunos pediram para parar para tomar água. E quando abri a janela, vi uma operação policial, uma abordagem de dois policiais tentando algemar um rapaz. Eles não conseguiram algemar, e o rapaz empreendeu fuga. Instintivamente, isso, 20 anos atrás, era meio comum você pegar a arma, dar um tiro para cima e dizer: "Para, porque senão vou atirar em você". Só que com o movimento que ele fez para dar o tiro para cima, o tiro pegou na cabeça do rapaz, e ele morreu na hora. Tinha sido a primeira vez que eu tinha visto alguém morrendo assim, na frente. E eu vi que não foi intencional, porque ele sentou na calçada, desesperado, o policial, não sabia o que fazer. Eu desci, me coloquei à disposição para ser testemunha de que não foi intencional.

    Dali, eu comecei a estudar uma forma de ajudar a polícia nesse quesito, que é o momento mais sensível. Uma coisa é quando você faz uma abordagem, tem certa distância de segurança, tem dois parceiros que ajudam, um fazendo a cobertura, para que você possa fazer a revista. Naquela época, não tinha muito esse entendimento da triangulação. E, aí, eu comecei a desenvolver técnicas nesse sentido, para algemar seja uma pessoa drogada, alcoolizada, reagindo à prisão, mas mantendo as questões da segurança da arma, do parceiro, enfim.

    Depois disso, na cara de pau, eu bati na Academia da Polícia Civil do Espírito Santo. Um delegado, Dr. Hélio Moreira, acho que deve estar aposentado hoje em dia, falou o seguinte: "Do Val, você não tem experiência policial, apesar de você vir das Forças Armadas." Aí eu falei: "É, mas eu aprendi a fazer uma boa faxina; limpar é comigo mesmo". E ele falou o seguinte: "Tem um grupo de delegados que vão iniciar agora o treinamento, a sua imersão aqui na Academia de Polícia. Eu vou, então, deixar um horário para que você dê sua aula. Se for algo interessante, eles vão, claro, dar o depoimento, e aí a Academia de Polícia decide se te contrata ou não". Graças aos delegados, e muitos eram policiais em outro estado, principalmente do Rio de Janeiro... Eles deram muito feedback positivo, e um deles chegou até a fazer uma sugestão de pauta para o Jô Soares. Aí, fui ao Jô mostrar essa técnica.

    De forma bem resumida, um americano assistiu, fez o convite para que eu pudesse dar aula nos Estados Unidos. Eu fiquei meio impactado com isso, mas o assessor dele pediu US$15 mil para abrir essa porta para mim. Eu falei: "Poxa, eu estava sem luz e tendo dinheiro só para comer; onde eu ia arrumar US$15 mil?". E disse para ele: "Eu agradeço, mas eu não tenho condições de pagar esses US$15 mil". Mas despertou aquela vontade de... Não, eu nunca quis ficar na zona de conforto e nunca quis que as pessoas tivessem pena da minha trajetória: "Ah, coitado do Marcos!". Não, era uma coisa que me incomodava, e eu tentava sempre sair dessas posições, porque não me permitia ficar ali sentado me lamentando.

    Bom, então eu fui à banca de jornal, comprei um mapa dos Estados Unidos, abri assim no chão de casa e vi que o Texas era o maior estado e que Dallas era a maior cidade do Texas. Não tinha Google Maps na época; era aquele mapa de papel mesmo. E aí eu falei: "Eu vou a Dallas, vou dar essa aula, vou dar um workshop, na cara de pau! Se gostarem, bem!".

    Eu não falava inglês, chamei um aluno de nome Evandro e pedi: "Evandro, eu não falo inglês, e você morou muito tempo nos Estados Unidos, você pode me ajudar a contactar Dallas e pedir para eu dar um treinamento para a equipe da SWAT?". Ele falou assim: "Você está é louco, eles não vão nem querer atender!". Aí eu falei: "Não estou perguntando a sua opinião; eu estou perguntando se você vai poder me ajudar ou não". Aí ele disse: "Ah, tá bom!". Ele ligou – nós conseguimos o telefone –, e o Departamento de Polícia fez a transferência para o Departamento da SWAT. Quem atendeu foi o Christian D'Alessandro, que hoje é um irmão. E ele falou: "O quê? Brasileiro querendo dar aula de táticas policiais para a gente? Esse cara é doido?". E "tum", desligou o telefone. Aí eu falei: "Evandro, o seu inglês deve estar péssimo, porque o cara não deve ter entendido nada, por isso que desligou o telefone. Vamos tentar de novo, fala com mais calma". Ele falou de novo, e o policial desligou o telefone de novo. Na terceira vez, o policial virou e falou assim: "Olha, vocês estão insistindo. O que vocês querem?". Aí, ele até disse: "Olha, até o Alan Brosnan – que é um instrutor da SWAT nos Estados Unidos – viu já o trabalho do Marcos, e você pode confirmar com ele". E então esse Christian D'Alessandro, que é o líder do time, falou: "Tá bom! Então, você me dá uma semana, que vou levantar essas informações, e vocês voltam a fazer contato".

    Passou uma semana, eu tive que tomar muito remédio para dormir, porque eu era adrenalina pura. Eu assistia, na minha época, nos anos 70, àquela série SWAT, e a gente brincava de polícia e ladrão, aquele negócio todo. Eu nunca fiquei na posição de ladrão, não – tá, gente?; eu fiquei sempre na posição de polícia. Aí, uma semana depois, ele falou: "Olha, nós entramos em contato com o Alan Brosnan e realmente ele confirmou e ele achou até estranho que você não aceitou", porque o Alan não sabia que o representante dele no Brasil tinha me cobrado. Eu acho que ele não entendeu por que eu não tinha aceitado. E ele falou o seguinte, o Christian: "Tá bom, nós vamos deixar um dia para vocês virem aqui dar essa aula como workshop. Mas tem algumas condições: se vocês vieram para cá para tirar o nosso tempo, em que nós deveríamos estar fazendo um treinamento específico para situações específicas, e não for um treinamento útil, nós vamos conduzir vocês até a imigração para que vocês saíam logo do país. E, se vocês vierem para cá também com a intenção de morar ilegalmente, nós vamos fazer a mesma coisa". Porque eu tinha pedido – a gente precisava – uma carta convite para tirar o visto. Bom, eu virei para o Evandro e falei: "Vamos embora, então, vamos lá, ele já está providenciando, vamos correr atrás do visto". E o Evandro falou: "Eu não vou de jeito nenhum. Está doido! Vou perder o meu visto e ficar dez anos sem voltar aos Estados Unidos". Eu falei: "Pô, então você não está acreditando na possibilidade de a gente conseguir".

    Eu o convenci, chegamos lá. Mas, quando nós chegamos lá, ele me apresentou. Quando ele me apresentou, além do meu tamanho – qualquer um é maior que eu, até um recém-nascido –, a equipe da SWAT olhou assim para mim, e ele falou: "Olha, esse que vai ser o instrutor de vocês. Eu vou ser o tradutor, ele não fala inglês". Aí os policiais pensaram: "Pô, o cara é um anão e ainda não fala inglês, vem do Brasil, não vamos assistir a essa aula, não!". Aí, levantaram-se e saíram da sala de aula. Ficaram só os 15 da frente, porque não viram que os outros estavam levantando e saindo. Então, ficaram os 15, olhando para mim. Eu falei: "Opa! Então, ficaram 15, vamos embora".

    Na metade, quando nós paramos para o almoço, os que ficaram em sala de aula começaram a dizer para os outros: "Olha, vocês estão perdendo, porque, realmente, esse menino está ensinando técnicas que a gente nunca imaginava e que vão preservar a nossa vida, a de terceiros e evitar processos para o departamento de polícia". E aí essa equipe veio, a equipe que saiu, esses 30 que saíram vieram, pediram desculpas e perguntaram se podiam participar, então, do restante da aula. É claro que a vontade que eu tinha era de mandá-los para aquele... Mas eu estava ali torcendo para que pudesse ser uma aula realmente proveitosa.

    Bom, finalizando – era até as 5h da tarde –, chegando a quase 5h horas da tarde, chega, no fundo da sala de aula, o chefe da polícia de Dallas e o comandante da polícia de Dallas. E eu falei: "Ué, esse pessoal está chegando aí para quê?". Aí eu comecei a ficar: "Ih, talvez eles não estejam gostando". E americano é muito frio, muito sério. Quando eu falei "aula encerrada", chegou o maior da turma – o cara era grande com força –, chegou para mim e falou assim: "Great class! Great class!". Aí, eu não falava inglês, virei para o Evandro e falei assim: "Evandro, acho que o negócio deu zebra, porque chegou o chefe de polícia e o cara está falando num tal de 'great class', eu acho que deve ser o departamento de imigração. Nós vamos embora daqui". Achei mesmo. (Risos.)

    Aí, ele falou: "Não, Marcos, ele está dizendo que a aula foi boa". Eu falei: "Poxa, daquele jeito frio, dizer que a aula foi boa?". Porque, no Brasil, a gente comemora, brinca e gosta da... E aí o chefe de polícia veio e me contratou para começar a trabalhar com a equipe. E, assim, fiquei lá por 20 anos. Em 2003, eles me tornaram membro da unidade, e aí fui também trabalhar nas operações com eles.

    Voltei para o Brasil por questões de divórcio, minha ex-mulher entrou em depressão por estar morando lá sozinha, e aí a minha ex-mulher voltou para o Brasil com a minha filha, e é lógico que eu voltei também. Aí fiquei indo e voltando até que as pessoas começaram a me pedir para entrar na política. Eu estou passando para vocês isso, porque a gente tem uns desafios, principalmente a turma aí que está cursando, e, se a gente se deixar levar, nos desafios, a gente pensa tipo: "Ah, é impossível, não vou conseguir" ou "não vou conseguir fazer com que seja cumprida essa missão dada"... E eu estou passando isso para vocês, porque nada foi fácil. Então, não achem que eu cheguei lá e...

    E esse momento de se tornar também membro foi muito gratificante. E, quando eu fui encerrar a carreira, eles fizeram um evento gigantesco e, nesse evento, estaria palestrando o militar do Seal que matou o Bin Laden. Então, era um momento único você ver e ouvir uma palestra do militar que realmente foi o que deu o disparo e que matou o Bin Laden.

    Voltando ao Brasil, as pessoas começaram a falar da possibilidade. "Por que você não vem a ser candidato? A gente precisa renovar". Aquele movimento da renovação, até que eu falei: "Bom, vou começar a pensar nessa possibilidade".

    Já tinha me divorciado, a minha ex-mulher voltou para o Brasil, não quis continuar o casamento, porque eu focava muito no meu trabalho, e aí cheguei para o meu pai, aposentado, médico, e falei assim: "Pai, eu queria o seu conselho, o que você acha de eu me candidatar como Senador e tal?". Ele falou: "Olha, eu vou fazer uma campanha contra você. Não quero você lá de jeito nenhum, você vai perder os seus valores". Eu falei: "Opa! Então, não é isso não. Eu quero exatamente fazer o inverso, que a gente possa chegar lá e fazer a diferença".

    Eu, com uma filha de 14 anos, falei para ela, mesmo ela sendo nascida lá e sendo americana, eu disse: "Não, os Estados Unidos já estão prontos, vamos construir o Brasil que a gente sonha em ter". E falei para ela: "Filha, o pai vai cumprir uma missão agora, vou ficar muito ausente, mas eu quero deixar um país melhor para você".

    Feito isso, a minha esposa, da época, falou: "Olha, se você for eleito, eu vou pedir divórcio". Eu falei: "Caramba!".

    Fui eleito no domingo, na terça-feira a gente estava no cartório divorciando. Aí me divorciei, cheguei para cá, o segundo divórcio por causa de trabalho. Aí eu falei assim: "Vamos embora, então, se tiver o terceiro, eu vou para o terceiro". Estou no terceiro, superespecialista em casamento. Quem quiser perguntar qualquer coisa, estou pronto para explicar.

    Mas a gente paga um preço para tudo em que a gente acredita e sonha. Tudo tem um preço. Às vezes, eu sei que vocês devem falar assim: "Poxa, mas fulano tem tantas facilidades e eu estou com tantas dificuldades". E faz comparações para que você fique ou na zona de conforto ou que seja tornado uma pessoa... "Ah, coitado dele e tal". Eu passo para vocês para saírem dessa posição, ainda mais vocês que têm dado muito orgulho para o Brasil. Eu comemoro todo dia quando eu ligo a televisão às 6h da manhã e vejo que alguém acordou às 5h para ser algemado. Eu fico: "Ah, show de bola!".

    E a gente precisa dar melhores condições para que venham mais pessoas realizar o sonho de ser polícia, que é um sonho supernobre.

    Estar aqui, a pressão é muito grande. O sistema trabalha para te... Eu falo que aquela cúpula, uma para cima e uma para baixo, representa, a de cima, aquela que mói a sua reputação, e a de baixo, aquela que te enterra. Aqui é assim, impressionante!

    Tudo é feito foi de uma maneira para você perder a sua história, a sua honra, desde a imprensa até partidos opositores. É uma coisa assim que... É um ambiente insalubre, a gente tinha que ganhar por insalubridade. Apesar de ter dito... As pessoas acham que têm alguns privilégios, mas não tem nenhum dos privilégios que vocês imaginam que um Senador tenha. Não tem, porque eu cheguei aqui e falei: "Olha, eu não quero privilégio nenhum". Aí a Diretora falou: "Mas, Senador, não tem privilégio nenhum". A aposentadoria é com 35 anos, enfim. Então, tudo que a gente escutava era mentira e eu cheguei achando que iria abafar, do tipo, esse Senador chegou não querendo nada, já não tinha nada mesmo.

    Já encerro aqui, porque senão vai dar a hora do jogo do futebol da Seleção e a gente estará aqui ainda falando.

    E hoje, até recentemente... Geralmente eu falo que eu desabafo assim porque eu não tenho tempo de ir ao psicólogo, aí eu aproveito para desabafar. Recentemente, eu fiz uma postagem na minha rede social, mostrando o meu contracheque e minha conta. Como sempre, desde o dia em que eu entrei, ou um ano depois, estou sempre usando cheque especial.

    E aí os Senadores começaram a dizer: "Não, vamos fazer aqui um PIX para o do Val". Eu falei: "Não, negativo. Não quero receber PIX de forma alguma". Aí, fui ao banco e peguei um consignado.

(Intervenção fora do microfone.)

    O SR. PRESIDENTE (Marcos do Val. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - ES) – Peguei um consignado, que eu estou pagando... Eu mostro aqui, olha! Vou mostrar para vocês aqui, pessoal. Ninguém acredita. (Risos.)

    Aí, a minha equipe, minha assessoria, a Sílvia morre. Cadê a Sílvia? Ela está ali já ligando para mandar eu não falar nada.

    E aí as pessoas, assim... Aqui dentro a gente tem uma noção totalmente diferente, tem pessoas com muitas condições, que compraram aeronaves... (Pausa.)

    Aqui, cheque especial: 11 mil negativos! (Risos.)

    Não, não preciso fazer campanha de PIX, porque eu morro de medo, esse mundo político aqui... Eu só abro para mostrar, porque eu tenho até medo, cada dia que eu abro, de tomar um susto.

    Bom, então, assim, a gente paga um preço, e tive que baixar, que mudar meu padrão de vida. E coloquei isso na rede social, e a imprensa pegou e falou que eu estava desdenhando ou reclamando de um salário de 33 mil, o que não é verdade. Eu recebo líquido – eu – 19 mil. E pronto, foi uma imprensa atrás da outra, espalhou isso, do tipo: "Pô, o cara tem uma excelente profissão e tá desdenhando enquanto a maioria dos brasileiros...".

    Claro, muitos estão passando fome, e a gente aqui trabalhando para fazer os acordos para que a gente possa votar e chegar recursos para essas pessoas, mas a gente vê que alguns políticos – e não todos – e alguns partidos – e não todos – estão pensando no seu protagonismo, mas não no fato em si de passar fome o brasileiro.

    Bom, apanhei igual um condenado, lógico que apanhei igual um condenado, mas já sabia que o sistema segue esse padrão.

    E vocês também. A polícia é muito criticada aqui no Brasil. Nos Estados Unidos, com certeza, hoje teria um quadro na sala principal de vocês com algumas medalhas ou honrarias que receberam, os que estão entrando, e são extremamente respeitados.

    Mas é algo que vocês não imaginam: de eu estar no aeroporto de Dallas, e, chegando os militares, começou o aeroporto inteiro a bater palmas. Eu corri, achando que era algum ator de Hollywood, e eram os militares chegando da guerra. Então, assim, é um respeito... E a maioria quando chega da guerra vai para a polícia.

    E, por incrível que pareça, a SWAT tem como premissa um treinamento muito contínuo. Em média cada policial gasta mil tiros por dia em treinamento. Então, ele treina um dia, folga outro e, no terceiro dia, ele vai para o seu plantão. Depois, ele folga, treina e vai para o plantão. Folga, treina e plantão. E eles gastam em média mil tiros nos treinamentos.

    E a grande maioria... O Christian, esse que atendeu o telefone – desligou, atendeu, desligou, atendeu, desligou, nós ficamos muito amigos, quase irmãos –, completou 30 anos na SWAT de Dallas e nunca matou ninguém. Então, é um trabalho de muita técnica para não ter a necessidade de tirar a vida de ninguém. E olha que o Texas é um país em que é arma para tudo quanto é lado.

    Então, esse que tem que ser o padrão nosso aqui, de uma polícia eficiente sem que tenha que tirar aí a vida...

    É claro que, para proteger a sua vida, você tem o direito de tirar a do outro – está até na Constituição.

    Eles também têm isso lá. Se alguém atirar contra um policial, pega a prisão perpétua; se matar, é pena de morte. Então, no Texas, é bem radical.

    Era isto, gente, que eu queria passar para vocês que estão chegando a essa carreira excepcional. A gente só vê pessoas de caráter elevado, e a gente fala: "Não, o Brasil não está abandonado, tem esses guerreiros aí trabalhando para que a gente possa deixar realmente um futuro melhor". E a gente aqui, trabalhando, os que entraram, os novos, nesse mesmo sentido. Então, é importante a gente sempre unir forças para que vocês tenham mais facilidade de trabalho.

    Eu estive em um evento da Polícia Rodoviária Federal em que eles receberam vários helicópteros blindados, veículos blindados e não sei o quê blindados. Eu falei: "Nossa, parece padrão americano, que coisa fantástica". Aí chega a Dra. Carol ao meu gabinete com um portfólio com uma qualidade que eu nunca tinha visto – eu falei: "Caramba, vou querer fazer um igual" –, solicitando emendas até para a camisa de vocês. Eu falei: "Não acredito nisso". Ela explicou: "É porque o recurso vem só de passaporte". E eu achando que a Polícia Federal era a que tinha muito mais condições e investimentos que a Polícia Rodoviária Federal. Aquilo me assustou, e eu falei que íamos trabalhar bastante para deixar o primo pobre no mesmo nível do outro. Então, a gente sabe das dificuldades. E vamos lutar por isso.

    Agora, encerrei, porque a cadeira começou a dar choque.

    Vou chamar os oradores para o tempo de cinco minutos. É o que está aqui, não é porque eu tirei de vocês esse tempo, não! (Risos.)

    Poderiam falar: "Ah, o Do Val falou mais, aí passou o tempo".

    Concedo a palavra ao Sr. Benito Augusto Galiani Tiezzi –é italiano esse nome? – para proferir a palavra por cinco minutos.

    O senhor pode ir para a tribuna – aqui ou ali.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/12/2022 - Página 6