Discurso durante a 121ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Retrospectiva dos mandatos de S. Exª. e despedida como Senador da República.

Autor
Fernando Collor (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/AL)
Nome completo: Fernando Affonso Collor de Mello
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Atividade Política:
  • Retrospectiva dos mandatos de S. Exª. e despedida como Senador da República.
Aparteantes
Esperidião Amin, Jorge Kajuru, Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 15/12/2022 - Página 32
Assunto
Outros > Atividade Política
Indexação
  • REGISTRO HISTORICO, MANDATO PARLAMENTAR, SENADOR, PROPOSTA, REFORMULAÇÃO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), ESCOLHA, MINISTRO, FIXAÇÃO, MANDATO, COMENTARIO, REFORMA POLITICA, REGISTRO, MEIO AMBIENTE.

    O SR. FERNANDO COLLOR (Bloco Parlamentar Vanguarda/PTB - AL. Para discursar. Por videoconferência.) – Muito boa noite, Senador Veneziano Vital do Rêgo, que hoje preside esta sessão do Senado da República.

    Quero dizer que venho assistindo atentamente a todos os depoimentos que aqui foram dados a respeito da Senadora Nilda Gondim.

    Este momento de que nós todos estamos participando se reveste de uma profunda emoção. Pela primeira vez na história do nosso Senado, vê-se um Presidente, Veneziano Vital do Rêgo, presidindo uma sessão em que assiste, de forma emocionada e ao mesmo tempo de forma gratificada, ao "até logo" que a senhora sua mãe, Senadora Nilda Gondim, dá ao mandato de Senadora que ela honrosamente projetou sobre todos nós no período em que estivemos convivendo.

    Quero dizer a todas as mulheres nordestinas e brasileiras, mas, sobretudo, às mulheres nordestinas que nós, desta querida região do Brasil, temos uma relação muito profunda, uma relação talvez um pouco diferenciada de outros recantos do Brasil com as nossas mães, com os nossos pais. Eu bem posso imaginar esta emoção, como disse inicialmente, que vem carregando hoje à responsabilidade o nosso Senador Veneziano Vital do Rêgo, ao presidir esta sessão.

    Parabéns, Senador Veneziano! Parabéns a toda a família! Parabéns também ao nosso hoje Vice-Presidente eleito do Tribunal de Contas da União, o nosso querido ex-Senador e atual Ministro Vital do Rêgo!

    E à Sra. D. Nilda Gondim, Senadora da República, os meus votos de muitas alegrias, muitas felicidades, muita paz e muita saúde. A senhora tem motivos de sobra para se orgulhar da sua família, dos seus filhos Veneziano e Vital e de sua filha. Parabéns!

    É também revestido de emoção o outro motivo, qual seja, aquele apresentado pelo nosso querido Senador Marcos Rogério, que pede licença à nossa Casa para que possa tratar e cuidar da saúde de sua filha.

    Desejo a V. Exa., Senador Marcos Rogério, à sua filha e à sua digníssima família votos de uma pronta e rápida recuperação, para alegria não somente da figura de pai, que V. Exa. representa, mas também de todos nós que lhe depositamos tantas esperanças e, sobretudo, muita amizade.

    Permita-me, Sr. Presidente, iniciar a minha fala.

    Exmo. Sr. Presidente Veneziano Vital do Rêgo, Presidente desta sessão do Senado da República, na condição de Vice-Presidente do Senado Federal; Exmas. Sras. Senadoras, Exmos. Srs. Senadores, dois mandatos, quatro legislaturas, 16 anos. São esses os períodos abrangidos pelo meu exercício, como Senador da República, em que tive a honra de conviver com muitos e distinguidos integrantes desta Casa, dos mais variados matizes políticos, e de contribuir, no que esteve ao meu alcance, com quatro Presidentes da República.

    Quando assumi meu primeiro mandato, em 2007, eram muito otimistas as minhas expectativas e, ao mesmo tempo, inúmeras as perspectivas positivas do Brasil e do mundo.

    Retomei, àquela altura, o ofício da política com ânimo, com dedicação e com a experiência de um mandato legislativo como Deputado Federal, de três mandatos executivos de Prefeito da minha querida Maceió, de Governador da nossa querida Alagoas, além de Presidente da República, o primeiro eleito pelo voto direto, depois de quase 30 anos, sem que ao povo brasileiro tivesse sido dado o direito, pelo voto direto, de eleger o seu Presidente. Coube-me, portanto, a responsabilidade de ser o Presidente da redemocratização.

    Contudo, percorridos esses 16 anos como Senador, a dureza dos fatos internos e o rigor dos acontecimentos externos me trouxeram a uma constatação menos utópica e mais realista sobre o preocupante presente que vivemos e o futuro incerto que nos tangencia.

    Muitas das instabilidades que hoje presenciamos no Brasil, Sr. Presidente Veneziano Vital do Rêgo, Sras. e Srs. Senadores, e também no mundo, sejam elas políticas, econômicas, sociais, ambientais e, principalmente, institucionais, eram hipóteses que eu considerava factíveis de acontecer quando cheguei aqui ao Senado Federal.

    Não à toa, a primeira proposição que submeti à apreciação desta Casa, logo no início de 2007, tratava de minha maior preocupação, o sistema político brasileiro. Como solução, que sempre defendi, para minimizar nossas recorrentes crises, apresentei, com o apoio de diversos Senadores e Senadoras da época, uma proposta de emenda à Constituição instituindo o regime parlamentarista de Governo.

    Do mesmo modo, refletindo sobre a organização política de nossos Poderes, apresentei outra proposta de emenda à nossa Constituição, com o objetivo de reformular por completo o desenho institucional do Supremo Tribunal Federal, desde a fixação de mandatos, passando pelas formas de indicação de S. Exas., as Sras. e os Srs. Ministros, até o aumento do número de seus integrantes – isso, nos idos de 2007.

    Ainda nesse contexto, submeti ao debate e à apreciação das duas Casas do Congresso um exaustivo exercício do pensar da nossa política, que resultou no trabalho intitulado "Reconstrução da Política Brasileira, Bases e Componentes para a Reforma Política". Esse projeto abrangeu até mesmo uma reforma estrutural de nossa geopolítica interna.

    Fiz questão, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, de destacar essas propostas exatamente por entendê-las como eficientes remédios que poderíamos ter prescrito para evitar os difíceis e turbulentos tempos por que passa o país há pelo menos uma década. Soma-se a isso o preocupante rumo socioeconômico que toma a América Latina e, mais ainda, a sucessão de crises no mundo: desigualdades sociais, desequilíbrios ambientais, crises econômicas e de credibilidade na democracia e conflitos intermináveis que se juntaram a uma pandemia de alcance global jamais vista e a mais uma perigosa guerra de consequências ainda imprevisíveis.

    Esta, Sr. Presidente, a atual quadra mundial em que vivemos. Por isso, preocupam-me ainda mais as dificuldades que estamos enfrentando para encontrar soluções. Numa escala universal, verifica-se o terceiro ausente de que falava Norberto Bobbio em seus "Ensaios e discursos sobre a paz e a guerra", em que clamava pela criação de um poder supranacional e não despótico acima das partes, capaz de solucionar problemas e crises em contraponto à adoção do recurso à violência.

    Numa escala regional e mais precisamente no Brasil, constata-se a insistente e perigosa, perigosíssima polarização política, somada a uma profunda crise de confiança em nossas instituições.

    Sras. e Srs. Senadores, a pandemia e sua consequente politização ideológica das decisões alteraram a interlocução global, que passou a se estabelecer em parâmetros muito aquém da real e elevada política.

    Faltam-nos, em todo o planeta, líderes de verdade, comprometidos, de fato, com as reais demandas do mundo, capazes de debater ideários e de sobreolhar os problemas e soluções além do simples desejo de se chegar ao poder pelo poder.

    O mesmo podemos verificar em relação à preservação do planeta. O Brasil esteve na vanguarda do tema ambiental quando promovemos a Rio 92 e, depois, a Rio+20. Nessa seara, a recorrência dos problemas e a lentidão no andar das soluções possíveis e acordadas só nos revelam a incapacidade das nações e de seus dirigentes.

    Contudo, não temos mais tempo a perder. Urge debater e dialogar com mais pragmatismo, vontade política e determinação. Urge adotar medidas práticas, concretas, factíveis. Urge eleger líderes e autoridades confiáveis, mais responsáveis. Urge fazermos, de nossa parte, o dever de casa.

    Termino a minha missão, Sr. Presidente Veneziano Vital do Rêgo, Sras. e Srs. Senadores, termino a minha missão, neste Senado Federal, ainda preocupado.

    Ao longo desses anos, procurei contribuir, política e institucionalmente, com os instrumentos e atribuições que me competiam, que nos compete. Como Senador, testemunhei a crise econômica de 2008; vislumbrei as manifestações populares de 2013; vivenciei a grave crise política de 2014 e 2015; acompanhei, com preocupação, a radicalização ideológica das eleições de 2018 e, agora, as de 2022.

    Sinto, com profunda apreensão, que precisamos, urgentemente, resgatar valores, recuperar ideais, refundar a política e, acima de tudo, revigorar nossas instituições.

    Diante da polarizada divisão da população e perante o mundo desgovernado, devemos assumir o compromisso do momento histórico para reencontrar o caminho sereno do diálogo, restabelecer o consenso e reintegrar, no Brasil e no mundo, o conjunto de ideias que, verdadeiramente, alimentam o debate político eficaz. Esse é o papel que nós – políticos, autoridades constituídas e sociedade organizada – devemos assumir o quanto antes.

    Para tanto, Sr. Presidente, precisamos, em primeiro lugar, deixar de lado a ilusão de soluções simples ou salvadoras de discursos populistas ou enganosos e de versões mal-intencionadas dos problemas. Em segundo, precisamos evitar que a política se reduza de vez a uma prática ordinária da mera luta de classes, a permanente guerra de narrativas, mentiras e agressões. Definitivamente, não é esse o papel nem o perfil da política que todos nós almejamos.

    Mais do que entender e aceitar, devemos também convencer a todos de que a solução das crises do país e a moderação dos conflitos não passam – repito: não passam – pela excitação do poder das togas, muito menos pelo sonho da marcha dos coturnos. A solução está e sempre estará na interlocução política no seu mais elevado patamar, incluídos aí, quando necessário, o uso tempestivo de instrumentos constitucionais como os freios e contrapesos entre os Poderes e o controle e fiscalização sistemáticos da impessoalidade e moralidade na condução de cada um dos órgãos e instituições públicas.

    Sr. Presidente, mais do que nunca, como único ex-Presidente da República com assento nesta Casa, encerro meu mandato convencido de que cabe a este Parlamento assumir as rédeas do restabelecimento da normalidade institucional do Brasil. Cabe a ele também propor e apoiar a condução de uma política externa capaz de nos recolocar como um potencial interlocutor e proponente de soluções para crises como a ambiental e a de credibilidade na democracia.

    Daí também a importância de darmos o exemplo ao mundo na resolução de nossas atuais e agudas instabilidades por meio das bases constitucionais e do Estado democrático de direito.

    No campo político, a hora é de ação e de reação contra os insistentes inimigos da sociedade aberta, aquela a que se referia Karl Popper. Regulamentações, aparelhamento e inchaço do Estado, controle abusivo e demasia de normas de procedimentos e condutas, nada disso nos leva ao progresso social de uma nação.

    No campo econômico, não é mais tempo de insistir novamente no que von Hayek chamou de "caminho da servidão", acarretado pelo excesso de planejamento, interferência e regulação do mercado.

    Que o novo Governo e os novos integrantes do Congresso Nacional possam, com sabedoria, diálogo e parcimônia, assumir seus potenciais papéis no sentido de arejar, arejar esse nebuloso ambiente em que se encontra a sociedade brasileira!

    Enfim, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, sempre com os olhos voltados para a realidade do Brasil e do mundo, mas sem perder, nunca, o otimismo, continuarei em outra arena trabalhando pelo nosso país. Estarei sempre à disposição para ajudar governos e autoridades no que for preciso.

    Despeço-me agora agradecendo ao povo alagoano, que, por duas vezes consecutivas, me honrou com sua generosidade e confiança para representá-lo nesta Casa; a S. Exa. o Presidente Rodrigo Pacheco, pelas reiteradas manifestações de atenção e cordialidade; a todos os meus nobres pares, nos quais sempre encontrei apreço e consideração; a todos os auxiliares de gabinete, representados na pessoa do Dr. Joberto Santana, Chefe de Gabinete – meus agradecimentos pela fidelidade, pela presteza e pelo profissionalismo –; ao conjunto de servidores do Senado Federal, dos mais humildes à Consultoria Legislativa, diuturnamente dispostos a cumprir sua missão, minha gratidão.

    Por fim, deixo aqui o registro da minha mais sincera torcida para que a população brasileira e suas instituições encontrem, dentro da democracia, os meios adequados para a moderação dos conflitos e o melhor caminho para alcançar de vez a prosperidade e a ordem.

    Comigo os instrumentos que possibilitam a temperança, o equilíbrio, o diálogo, a alteridade, a empatia e a disposição ao trabalho estão, e sempre estarão, preparados, pelo Brasil.

    O meu muito obrigado a todos e particularmente a V. Exa., Presidente Veneziano Vital do Rêgo.

    Boa noite.

    O SR. PRESIDENTE (Veneziano Vital do Rêgo. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - PB) – Presidente Collor, receba e acolha calorosamente os nossos cumprimentos, nosso respeito, tratamento ao Senador e ao Presidente da República que foi.

    De fato, todos nós temos palavras a dirigir a V. Exa. na condição de uma pessoa que conhece as realidades nacionais, que sempre se importou de tratar os assuntos com o devido cuidado, com as sugestões, com o propósito do realizar. Particularmente, tive eu a honra, um pouco mais novo do que V. Exa., de poder ser conduzido na Comissão de Desenvolvimento Regional (CDR), sob a sua Presidência, ouvindo-o nos debates que V. Exa. promoveu, permitindo que nós pudéssemos nos arejar, um dos verbos utilizados por V. Exa. neste instante em que se despede desta Casa, dos seus e das suas companheiras. Eu me sinto muito feliz de ter podido gozar, nestes últimos quatro anos, da sua companhia e abeberar-me daquilo que V. Exa. em muito pode nos transmitir. Meu apreço, meu respeito sempre.

    E peço permissão a V. Exa. porque aqui encontram-se companheiros seus e companheiras suas que desejam, aparteando-o, transmitir também, em palavras e em sentimentos verdadeiros, aquilo que todos nós estamos a sentir neste instante.

    Começo com S. Exa. o Senador Jorge Kajuru; em seguida, Senador Paulo Paim; e Senador Esperidião Amin.

    Senador Jorge Kajuru.

    O Sr. Jorge Kajuru (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - GO. Para apartear.) – Obrigado, Presidente Veneziano.

    Presidente Collor, se me pedirem uma frase para defini-lo, eu vou responder: amigo é aquele que sabe tudo a seu respeito e, mesmo assim, ainda é seu amigo. E o senhor o foi comigo, sabendo de tudo o que eu falei em rede nacional como jornalista, ferrenho crítico seu. E, de repente, eu o conheço pessoalmente.

    Aqui coloco algo difícil de se encontrar em um homem público. O senhor, Presidente Collor, não guarda rancor no freezer, como dizia Leonel Brizola. Aprendi com o senhor que o contrário do amor não é o ódio, é a indiferença, é o desprezo; que, para discordar de um companheiro, você não precisa desqualificá-lo.

    E, por fim, Presidente Collor, o Brasil precisa saber – eu sou testemunha, e o Senador Paulo Paim, que vai falar depois de mim, também o é –: eu nunca vi um voto seu nesta Casa contra os mais necessitados deste país em projetos sociais, uma unanimidade sua para guardar para sua história, para seus filhos e para seus netos.

    Um grande abraço!

    Tenha certeza de que de mim nenhuma mágoa, de mim nenhum rancor; pelo contrário, só um sentimento bonito de companheirismo e de fineza.

    Obrigado.

    O SR. PRESIDENTE (Veneziano Vital do Rêgo. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - PB) – Senador Paulo Paim, por gentileza.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para apartear. Por videoconferência.) – Presidente Veneziano, eu sei que muitos serão os que farão a despedida no dia de hoje, mas eu tenho que falar e, se o Presidente Collor, Senador Collor, ex-Presidente Collor me permitir, confessar duas questões que marcaram a minha vida – e V. Exa. sabe muito bem, porque nós fomos oposição ao seu Governo, oposição ao Governo.

    Eu invento de fazer uma greve de fome para conseguir aumento do salário mínimo. O Fernando Collor é o Presidente. Faço um dia; no segundo, eu já estou meio que quase desmaiando; no terceiro dia, o Presidente Collor manda um emissário ao Presidente da Casa, que era Ibsen Pinheiro: "Diga para o Paim suspender a greve que eu vou dar um abono de emergência ao salário mínimo". E ele me dava o recado: "Logo ali será incorporado". E assim foi feito, graças a Deus. Tenho que lhe dizer, Senador, que eu não aguentava mais, confesso aqui para todo o Brasil. E aí eu suspendi a greve de fome, e veio o abono, que, em seguida, foi incorporado ao salário mínimo.

    Dois fatos só, que mostram a sua forma, na linha que falou o Senador Kajuru, de procurar caminhar com os aliados e com aqueles que pensam diferentemente também. Nem todos agem assim.

    Senador Esperidião, que está aqui, e Senador Presidente Veneziano, vem a reforma da previdência. O Presidente Collor já é Senador há muitos anos, e eu também, e eu não estou na CCJ. Daí vai para cá, vai para lá. Eu disse: "Eu vou falar com o Presidente Collor". Cheguei ao gabinete do Presidente Collor e pedi – pedi, pedi –: "Presidente, eu queria muito estar lá, discutindo previdência, racismo, salário mínimo, porque o senhor sabe que é quase a razão da minha vida". Eu quero homenagear é V. Exa., não sou eu, porque isso aqui é meu trabalho. O Presidente me recebe, eu faço o apelo para ele, se ele poderia me ceder o lugar dele na CCJ. Vejam o que ele está ouvindo aqui. Sabe o que ele me disse? "Paim, eu acompanho o seu trabalho". Ele pega o telefone na hora, liga para a CCJ: "Retirem o meu nome e botem o nome do Senador Paim para ele fazer a defesa daquilo que ele tanto acredita". Isso é impagável! Isso é impagável!

    Só posso lhe dizer – e aqui eu termino –, Senador, Presidente Collor: um abraço, muito respeito. A política tem idas e vindas, mas, no convívio aqui no Senado com V. Exa., eu percebi mais do que nunca como é bom trabalhar com homens que têm posição, e V. Exa., como foi dito aqui, nunca, em um único projeto... Porque V. Exa. no início falava até comigo: "Isso aqui não é bom para o trabalhador, não é, Paim? Não é bom para o povo mais sofrido, para os miseráveis". "Não, Presidente, não é". "Então, vou votar contigo".

    Obrigado.

    Um abraço, Presidente!

    O SR. PRESIDENTE (Veneziano Vital do Rêgo. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - PB) – Senador Esperidião Amin, como próximo orador a apartear o Presidente Collor.

    Senador Amin.

    O Sr. Esperidião Amin (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - SC. Para apartear. Por videoconferência.) – Olha, é um dia de muita grandeza! Por coincidência, é Dia de Santo Esperidião, podem conferir no calendário. Na Igreja Católica, o dia 14 de dezembro é o Dia de Santo Esperidião; na Igreja Ortodoxa, é no dia 12.

    Eu estou vivendo hoje um dia muito especial: num primeiro momento, além da participação de outras Senadoras, a despedida da Senadora Nilda Gondim, numa cena que edifica a política, a família e os valores da família fundados na educação e no respeito à opinião contraditória; e este momento, em que um ex-Presidente da República, Presidente da República eleito por voto dos brasileiros, inclusive o meu, se despede depois de 16 anos.

    Como ele é jovem – apenas o cabelo branco é que atrapalha um pouco, e essa trapalhada eu não tenho –, eu tenho certeza de que há muita possibilidade de não ser um adeus, quem sabe um até breve, porque eu não tenho nada a acrescentar ao depoimento conciso do meu querido amigo Kajuru Nasser, porque ele foi conciso e falou aquilo que faz parte do contraditório na política, que não exclui a grandeza e a coexistência. E este depoimento do PP de batismo, do meu querido amigo Paulo Paim, como se diz na linguagem popular, é de abafar, porque eu não sabia de nenhuma das duas ocorrências, de nenhum dos dois fatos.

    Parabéns, Paim, tem que ser uma pessoa da sua dimensão para nos dar este presente como exemplo de coexistência entre pessoas que pensam e têm trajetórias diferentes. Parabéns, Paim! Você hoje deu um testemunho de grandeza, grandeza de espírito, o que me emociona.

    E ao Presidente Collor eu quero recolher dois momentos de sua fala. Gostei muito da advertência sobre a excitação das togas e a referência também à busca de solução pelo trilhar dos coturnos, isso não dá certo. Como disse o seu Chanceler, duas vezes Ministro do Supremo, Francisco Rezek, muitas coisas, tais como o Inquérito 4.781, não são boas ideias. E não só esse, mas muitas coisas desse jaez não são boas ideias.

    E, ao citar dois astros da ideia liberal, Karl Popper e von Hayek, acho que o senhor nos dá uma boa lição para um momento em que muitos continuam achando que o Estado é a solução. Também não é uma boa ideia no geral.

    E, finalmente, eu quero compartilhar com o Presidente Collor, com o Senador Collor, esta preocupação com os limites da democracia. Os limites estão sendo esgarçados pelo radicalismo, pelas provocações. E a primeira vez em que senti isso foi no discurso do Obama, em novembro de 2016, quando ele fez questão, em Atenas, de fazer um discurso sobre esse perigo que corre a democracia representativa, especialmente no Ocidente, com o esgarçar, com os radicalismos e com a busca de soluções como aquelas que o Presidente referiu, que podem ser resumidas nos coturnos e na excitação das togas.

    Quero acrescentar àqueles fundamentos da democracia que foram referidos no seu pronunciamento a autocontenção. Se nós não tivermos a capacidade da autocontenção, a marcha da insensatez não é apenas um título de um livro, é uma advertência. E eu considero que a sua experiência é tratada na maturidade desse pronunciamento e deve ser um alerta que, com humildade, nós todos devemos, sobre suas palavras, refletir. Autocontenção e coexistência são fundamentais para que nós superemos, e acho que hoje o senhor nos deu uma grande contribuição para nos advertir de que é preciso refrear ímpetos e sabermos, mesmo sem ter que recorrer aos exercícios espirituais do nosso Santo Inácio de Loyola, que demandam 73 semanas de exercícios de como vencer a si mesmo, cada um de nós tem que dar a sua contribuição de vencer a si mesmo, porque vencer o outro não é difícil, mas vencer a si próprio é fundamental para que nós possamos coexistir.

    Parabéns! Eu lhe desejo saúde, desejo que preserve essa capacidade de coexistir e respeitar sem amargura, vencendo a amargura, que é outra coisa muito difícil, vencer a amargura. Hebreus 12:15, é o maior presente que um de nós pode ter diante de um infortúnio: não se deixar vencer pela amargura. Eu faço votos de que Deus lhe dê forças para continuar nos dando bons exemplos e, como hoje, boas lições. Felicidades e saúde.

    O SR. PRESIDENTE (Veneziano Vital do Rêgo. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - PB) – Os nossos cumprimentos, Senador Esperidião Amin.

    Eu me dirijo a S. Exa. Presidente Senador Fernando Collor de Mello para fazer os seus derradeiros, por estes instantes, comentários em relação aos seus colegas para, logo em seguida, convidar a S. Exa. a Senadora Simone Tebet.

    Presidente Collor, V. Exa. tem a palavra.

    O SR. FERNANDO COLLOR (Bloco Parlamentar Vanguarda/PTB - AL. Por videoconferência.) – Eu gostaria, mais uma vez, Sr. Presidente Veneziano Vital do Rêgo, de agradecer os depoimentos que aqui nos foram oferecidos por pessoas a quem eu tanto prezo e a quem eu tanto devo.

    Esperidião fala, enfim, daqueles momentos da eleição presidencial, em que juntos estivemos em Santa Catarina, no Sul do país, momentos realmente muito, muito, muito marcantes nas nossas vidas. Não nos esqueçamos nunca, não é, Esperidião, daquele comício lá em Criciúma e de outras passagens. Enfim, e das bandeiras que nós levantamos, enfim, das reformas que foram possíveis terem sido realizadas durante nosso período como Presidente da República.

    Do mesmo modo, ao querido amigo Paulo Paim. Essa questão dele da greve de fome realmente aconteceu, como ele colocou com muita clareza e com muita acuidade. E, quando eu soube – tem o lado engraçado da história, tem o lado forte, importante, do simbolismo que carregava aquela atitude do Paim naquele momento como Deputado Federal de fazer aquela greve de fome em defesa da melhoria salarial do nosso funcionalismo, mas tem também aquele lado que ele próprio também sorriu quando contou que já não estava mais aguentando de tanta fome –, quando me contaram, eu perguntei: "Mas, espera aí, pessoal, o Paim fazendo greve de fome? Há quanto tempo?". Aí o pessoal me disse: " Olha, já tem uns dois dias". E eu falei: "Mas ele não está comendo nada? E o pessoal disse: "Não, não está comendo nada.". Eu falei: " Então vamos acabar com isso, dá um jeito, como é que vamos fazer?". Aí, afinal, veio a questão do abono, enfim, graças a essa participação do Senador Paim que, como sempre, nas questões sociais, tem sido um paladino inigualável em toda a história do nosso Parlamento.

    Agradecer também ao nosso Senador Veneziano pela gentileza com que aborda esses momentos em que estamos, particularmente eu, vivendo. Vou ter muitas saudades da convivência com as Sras. e os Srs. Senadores.

    E também ao nosso querido Kajuru. Relembra ele daqueles momentos em que um crítico extremamente operoso e contundente ao nosso governo, mas pelo qual eu sempre tive muita atenção como pessoa, porque gostava de ver os comentários do Kajuru nas questões do futebol, de outras questões que ele tratava do Estado de Goiás, enfim. E, naturalmente, não ficava muito satisfeito com as críticas que recebia dele, mas houve esse reencontro no Senado da República, que foi muito prazeroso para mim, Kajuru. Sou muito grato a você pela atenção que você me dispensou. Sempre acompanhei com muito cuidado também a sua recuperação nos momentos em que você teve a sua saúde colocada em algum risco e sempre estive solidário, acompanhando, com votos de pronta recuperação, nos momentos que você passou, de dificuldades, no trato com a sua saúde.

    Então, a todos os Srs. Senadores, a todas as Sras. Senadoras, o meu muito obrigado. Mais uma vez, obrigado ao Senador Presidente, Rodrigo, pela gentileza que teve em relação a mim no período em que, juntos, estivemos convivendo no Senado da República. Muito obrigado ao meu querido amigo Senador Veneziano Vital do Rêgo. Enfim, muito obrigado a todos, aos meus auxiliares, ao meu chefe de gabinete, o Joberto Santanna, a todos os funcionários da Casa, a esse exemplar ninho da consultoria geral do Senado, passando também pela consultoria jurídica. Os consultores do Senado da República são exemplares em tudo aquilo que nós demandamos. Enfim, a todos os meus mais profundos agradecimentos.

    Tenho certeza de que levo, no meu coração e na minha memória, momentos que jamais ficarão esquecidos.

    Muito obrigado a todos vocês.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/12/2022 - Página 32