Discurso durante a 122ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Discurso de despedida de S. Exa. como Senador da República.

Autor
Alvaro Dias (PODEMOS - Podemos/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Atividade Política:
  • Discurso de despedida de S. Exa. como Senador da República.
Aparteantes
Eduardo Girão, Flávio Arns, Izalci Lucas, Jean-Paul Prates, Jorge Kajuru, Leila Barros, Luis Carlos Heinze, Marcos do Val, Oriovisto Guimarães, Paulo Paim, Randolfe Rodrigues, Zequinha Marinho.
Publicação
Publicação no DSF de 16/12/2022 - Página 38
Assunto
Outros > Atividade Política
Indexação
  • DISCURSO, DESPEDIDA, ORADOR, MANDATO, CARGO, SENADOR, COMENTARIO, VIDA PUBLICA, ORIGEM, LONDRINA (PR), VEREADOR, COMBATE, AUTORITARISMO, MISTURA, PODER, REPUBLICA, PRIVILEGIO, PARTICIPAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL, FUTEBOL, DEFESA, APOSENTADORIA ESPECIAL, PROFESSOR.

    O SR. ALVARO DIAS (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - PR. Para discursar.) – Obrigado, Presidente Rodrigo Pacheco. Foi uma honra ser presidido por V. Exa. e, certamente, um dos momentos mais importantes da minha trajetória vivi sob a Presidência de V. Exa. Repito, me honra muito ter sido presidido por V. Exa., que elevou a imagem do Senado Federal como uma instituição independente.

    Eu relutei muito em vir à tribuna no dia de hoje. Pensei mesmo em não vir, até porque não gosto de despedida. Nesta tribuna, estive em incontáveis oportunidades – muitas oportunidades e, evidentemente, por muitas razões. Aqui estive durante um longo período da minha trajetória política. Relutei mesmo, mas lembrei-me dos versos de Milton Nascimento, Senador Kajuru: "Estou só e não resisto, muito tenho pra falar".

    Milton Nascimento, em Travessia.

    Se estive aqui em muitas oportunidades, por muitas razões, hoje há uma razão especial: gratidão. Esta é a palavra: gratidão. Há uma frase emblemática no mundo da política que diz que o dia do benefício é a véspera da ingratidão. Para muitos, sim, mas, me perdoem, eu cultivo intensamente a virtude da gratidão.

    Antes de agradecer, dou asas às lembranças. Na poesia "Oração ao Tempo", o poeta decanta o tempo.

És um senhor tão bonito

Quanto a cara do meu filho

Tempo, tempo, tempo, tempo [...]

Compositor de destinos

Tambor de todos os ritmos [...].

    Sem nostalgia, mas com o sentimento do dever cumprido, aqui estou. Há quase quatro décadas, eu ocupava esta tribuna pela primeira vez. Iniciara minha carreira política fazia 15 anos, como Vereador, em Londrina. Vereador eleito aos 23 anos, Deputado Estadual, Deputado Federal por dois mandatos, tudo isso sem interrupção. E eis-me aqui. Tinha 38 anos, Senador da República.

    Minha estreia nesta tribuna, ocorrida em 24 de março de 1983, foi motivada pelo apelo do Presidente João Figueiredo para que o Congresso lhe desse uma trégua. Os meus questionamentos nunca foram dosados pelas conveniências da hora ou pelo pragmatismo corriqueiro. Não me aclimatei à sombra oferecida aos apoiadores dos governos de plantão. Os meus movimentos e ações estiveram voltados à mudança do sistema. Jamais dei trégua à corrupção e aos desmandos praticados por agentes públicos, fossem quais fossem as funções que exerceram no Executivo ou no Legislativo.

    Minha trajetória de vida pública, que completa 46 anos de mandato, testemunha a veracidade desta afirmação: não visto a roupagem do visionário. Eu creio piamente naquilo que proponho e defendo com fervor. Combati o sistema insurgindo-me contra o autoritarismo. Combati o sistema insurgindo-me contra a promiscuidade entre os Poderes. Combati o sistema insurgindo-me contra os privilégios concedidos aos agentes públicos. Combati e dei o exemplo, pois abri mão dos meus privilégios. As agruras e facetas de uma realidade inóspita jamais me fizeram capitular. O grande jurista Raymundo Faoro, de saudosa memória, costumava dizer, de forma lapidar: "A utopia se alimenta dessas percepções periódicas, assentada sobre uma velha imagem apagada, mas não extinta, de soberania da nação".

    Estive na iminência de ser cassado quando Deputado Federal, função que exerci de 1975 a 1983, pela defesa que fiz de meus colegas perseguidos pela ditadura e também por ter participado das causas que devolveram a normalidade institucional ao país, entre elas a liberdade de imprensa, a anistia, a Assembleia Constituinte, a eleição direta para Presidente da República.

    Organizei, a pedido do saudoso líder Ulysses Guimarães, o comício em Curitiba que deflagrou a campanha nacional pelas Diretas Já. No dia 22 de dezembro de 1983, o Presidente Ulysses Guimarães convocou os presidentes regionais do MDB para que viessem a Brasília e anunciou o início da grande campanha por eleições diretas no país. Olhou-me e perguntou: "Você aceita comandar o primeiro comício em Curitiba?". Curitiba é tida como a capital laboratório, os artistas lançam inicialmente os seus espetáculos em Curitiba, porque, se obtêm sucesso em Curitiba, certamente obterão no país todo. Eu respondi afirmativamente, estava disposto a contribuir, e o comício ocorreu no dia 12 de janeiro de 1984. Era um período de férias, mas, mesmo assim, a Boca Maldita, local histórico no centro da capital paranaense, foi incapaz de acolher a multidão que se distribuiu pelas imediações. Muitas manifestações políticas ocorreram naquele local depois disso, nenhuma com o simbolismo e a importância histórica daquele comício que deu início ao tsunâmi que soterrou definitivamente o período militar no país.

    Interrompendo meu mandato de Senador, fui Governador do Paraná. Tive a honra de ser Governador com a maior votação da história do estado para a chefia do Executivo: 72% dos votos. Realizei a reforma administrativa, enxuguei a máquina do estado, acabei com mordomias, suspendi aposentadorias ilegais, demiti servidores relapsos e prendi – sim, prendi! – corruptos. Adotei um regime de elaboração de preços e fiscalização de gastos de obras públicas que revoltaram alguns empreiteiros viciados em licitações desonestas.

    Foi o Governo que realizou o maior programa de infraestrutura da história do Paraná. Em todas as frentes, foi uma gestão exitosa. Foi responsável pela implantação do projeto Paraná Rural, programa que compatibilizava a prosperidade rural com a preservação ambiental. O programa incentivava o plantio direto, a preservação e a recuperação ambiental e o manejo integrado do solo e das águas, 45 práticas agrícolas para preservar a fertilidade e aumentar a produtividade. O sucesso foi tão grande que o projeto se tornou referência dentro e fora do Brasil.

    Implantamos o SUS, construímos hemocentros e hospitais, criamos duas universidades estaduais públicas e decretamos a gratuidade do ensino em todas as universidades estaduais do Paraná, sem dúvida a maior conquista social da juventude paranaense em décadas. Não há emoção maior do que ver o pai assistindo ao filho receber o diploma no dia da formatura e poder afirmar: "Graças à gratuidade do ensino, meu filho se tornou doutor!".

    Grandes obras: captação de água do Passaúna, do Tibagi, do Pirapó, a construção da usina de Segredo, duplicações, enfim...

    Mas eu agora me lembro e não posso deixar de prestar uma homenagem a uma grande figura da política brasileira: José Sarney. Por uma questão de gratidão, não posso deixar de agradecer. Eu sei que nós desperdiçamos sempre muitas oportunidades de sermos gratos àqueles que nos valorizam, àqueles que nos compreendem, àqueles que nos estimulam ou nos embalam na vida. José Sarney foi inaugurar, ao final do seu mandato, a barragem do Passaúna, quando vivia um momento de certa impopularidade, e nós sabemos que há sempre no mundo da política a preferência pelo sol nascente e, certamente, o desprezo ao sol poente. Prestamos a ele naquele dia a homenagem, mas hoje, desta tribuna, faço questão de homenageá-lo pela figura excepcional que foi num período de transição da vida nacional, especialmente no período em que se consolidavam os primeiros passos para a restauração democrática no nosso país. Portanto, as minhas homenagens ao cidadão José Sarney, um homem conciliador e pacificador. Certamente o seu exemplo de pacificação política deveria ser hoje, certamente, seguido por aqueles que, como autoridades públicas, são responsáveis pela vida nacional.

    Para que eu pudesse concorrer ao Senado, era preciso renunciar ao Governo do Paraná. E eu não poderia, de forma alguma, naquele cenário de inflação galopante de 80% ao mês, da maior crise financeira da história da administração pública brasileira, ser irresponsável e abandonar o barco antes de chegar em terra firme.

    Por essa razão, dispensei o mandato de Senador. Não poderia de forma alguma deixar o estado entregue à dúvida. Não fui candidato. Isso me custou oito anos sem cargo eletivo. Mas é preciso dizer: posso perder eleições, posso perder amigos, posso perder mandatos, mas não posso perder a dignidade.

    Esse período sabático nos fortaleceu. De volta ao Senado em 1999, coloquei a ética acima da lealdade partidária e fui obrigado a deixar o PSDB, que estava no poder, por ter assinado requerimento de instalação de CPI para investigar denúncias de corrupção no Governo, porque sempre defendi a tese de que devemos combater a corrupção onde ela esteja, não é justo combater a corrupção na casa do vizinho e ignorá-la na nossa própria casa. Preferi a expulsão.

    De volta ao PSDB, que reconsiderou sua decisão anos depois, atuei na defesa intransigente dos valores republicanos. O combate à corrupção foi prioridade. Entendi que era o melhor que eu poderia fazer naquele momento, mas também direcionei o mandato à produção legislativa, buscando traduzir as aspirações da sociedade, atuando em defesa da ética e da moralidade pública. Ao relatar o Plano Nacional de Educação, no ano de 2013, o Plenário desta Casa aprovou 54 das minhas emendas, das 101 mudanças que propus no meu relatório aprovado pela Comissão de Educação. Foi um trabalho construído a muitas mãos, que contou com a participação de 35 especialistas em inúmeras audiências públicas.

    Como estamos em tempos de Copa do Mundo, faço também questão de relembrar a CPI do Futebol, que tive o privilégio de presidir no Senado Federal. Foi instalada sob a égide do ceticismo, salientando que, na visão da sociedade brasileira, eram remotas as perspectivas institucionais para promover uma investigação dos bastidores do principal esporte brasileiro. No plano propositivo, destaco, entre os resultados da CPI do Futebol, um novo marco institucional legal, o Estatuto do Torcedor, e a Lei de Responsabilidade Social do Desporto Brasileiro. Foi uma vitória na qual estavam perfiladas como vencedoras a ética e a justiça.

    O Senado ofereceu a toda a sociedade evidências de inúmeros ilícitos existentes na gestão do futebol brasileiro. Cartolas foram indiciados e afastados, a Receita Federal recuperou valores sonegados. Era do conhecimento da população que o futebol estava sendo administrado de forma predatória, beneficiando os dirigentes dos clubes em detrimento dos torcedores, da qualidade esportiva, bem como da própria economia nacional.

    Abro parêntese para dizer que o jornalista da BBC de Londres, Andrew Jennings, autor do livro Jogo Sujo, fazia questão de destacar em toda a Europa, nas suas entrevistas e, na última edição do livro Jogo Sujo, destacou que a CPI do Futebol do Senado Federal deu início à derrubada da cúpula da FIFA, por desvendar os mistérios de transações internacionais mais do que suspeitas, claramente desonestas, proporcionando ao Ministério Público da Suíça a instauração dos procedimentos que levaram à queda da direção da FIFA.

    Andrew Jennings relata no livro Jogo Sujo e faz referência à CPI do Futebol do Senado em 60 ocasiões do seu texto. A Receita Federal gostou muito dessa CPI, Senador Jean Paul, porque recuperou milhões de reais dos sonegadores.

    Depois, eu tive também a satisfação de relatar as alterações da Lei Pelé, oportunidade em que assumi a defesa dos profissionais de imprensa esportiva, introduzindo legislação com segurança aos cronistas, no sentido de dar liberdade para frequentar estádios e exercer a sua profissão.

    Eu poderia citar inúmeros projetos, como disse há pouco, Senador Kajuru, mas faço referência, para ficar nos Anais da Casa, à nova lei do salário-educação. Iniciativa de minha autoria, ratificou o compromisso em legislar em prol do fortalecimento da cidadania. Sempre acreditei que a educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo, tese defendida pelo saudoso Nelson Mandela.

    A partir da sanção pelo então Presidente Lula, os recursos passaram a ser repassados pela União diretamente aos municípios sem intermediação dos governos estaduais. Foram bilhões de reais a mais a favor dos municípios brasileiros.

    Um outro projeto estratégico aprovado foi a emenda constitucional que instituiu cobrança de taxa de iluminação pública a partir de uma reivindicação da Confederação Nacional dos Municípios, conquista definitiva dos municípios brasileiros, que significa ao longo do tempo bilhões de reais para os nossos municípios em todo o país.

    Tive o privilégio de ter sido autor da proposta de emenda à Constituição aprovada da aposentadoria especial dos professores. Era eu ainda Deputado Federal.

    Fui autor da PEC, recentemente isso, que quebra o monopólio governamental para permitir a fabricação pela iniciativa privada de todos os tipos de radioisótopos de uso médico no diagnóstico e tratamento do câncer e outras doenças graves.

    Essa foi a 118ª emenda constitucional a ser inserida na Constituição Federal desde 1988. Sua aprovação foi um ato de amor à vida. A produção de radioisótopos passou a ser descentralizada no país para atender toda a demanda, sem recursos públicos e com garantia de qualidade.

    Não recuei um só instante no combate vigoroso à corrupção. Requeri, presidi e participei de mais de uma dezena de CPIs. Poderia passar em revista dezenas de requerimentos e pedidos de auditoria, mandados de segurança junto ao Supremo, ações diretas de inconstitucionalidade, 19 representações ao Ministério Público cobrando a punição de responsáveis, que deram origem a procedimentos que ensejaram a investigação judiciária que levou à Operação Lava Jato.

    Não posso deixar de mencionar vários projetos de minha autoria que aprimoram a legislação criminal. Mas vou destacar, foram vários... Vou destacar dois: a Proposta de Emenda à Constituição 13, de 2018, que legitima constitucionalmente a prisão em segunda instância; e a PEC, agora na Câmara, com o número da Câmara, 333, que foi de 2017 aqui no Senado, a PEC nº 10, no Senado, proposta que acaba com o foro privilegiado por prerrogativa de função. No Brasil, são mais de 55 mil autoridades blindadas pelo foro privilegiado, uma aberração sem similar no planeta, como costumava dizer o saudoso Luiz Flávio Gomes, que complementava, com maestria: uma herança da aristocracia totalmente dissonante numa República.

    É com pesar que constatamos que a própria sociedade não entendeu o alcance da proposição. O fim do foro privilegiado, além de restaurar um padrão civilizatório perdido, redimensionaria o poder da nossa Suprema Corte, atendendo reivindicações em curso no seio da população. Senador Girão, eu entendo que muitos brasileiros estejam insatisfeitos com o Supremo Tribunal Federal, mas não entendo por que esses mesmos cidadãos brasileiros não promovem uma campanha nacional para que se aprove, na Câmara dos Deputados, o fim do foro privilegiado.

    Essa aprovação significaria, num primeiro momento, reduzir o poder do Supremo Tribunal Federal. Eliminar aquela hipótese, sempre lembrada pelo Senador Oriovisto Guimarães, de que os brasileiros imaginam existir um conluio entre o Senado Federal e o Supremo Tribunal Federal, porque não há aqui processos de impeachment que cheguem à deliberação. Imaginam... Imaginam, e certamente com certa dose de razão, existir um conluio, porque só Ministros do Supremo julgam Senadores, e só Senadores podem julgar Ministros do Supremo.

    Pois bem, para que isso se altere, para que esse conluio, eventual conluio, se ele existe, possa ser sepultado, bastaria aprovar o projeto, que está na Câmara desde 2017 e que acaba com o foro privilegiado das autoridades.

    Conservo intacta a capacidade de me indignar, de não aceitar me abster dos meus princípios e da convivência pacífica com a minha consciência.

    O foro por prerrogativa de função é instituto que precisa ser varrido da nossa Carta Magna. Os seus resultados têm sido nefastos para o regime republicano, alçando a impunidade à condição de mácula nacional. O itinerário republicano culminou com o triste espetáculo da polarização perversa entre o ódio e rancor, cultuados em praça pública.

    Procurei sempre vocalizar a necessidade de dizer não à beligerância política para rejeitar o ódio, para abraçar a construção de um futuro digno do nosso povo trabalhador. O cenário que se cristalizou: o divórcio entre o poder e a sociedade.

    O mote da minha campanha à Presidência da República, em 2018, a refundação da República, refletiu a necessidade de mudança do modelo político e do sistema de governança. A tese matricial da minha campanha jamais perdeu de vista que nossa República abrigou vícios de origem, entre eles a trágica ditadura que acabou se instalando, junto com a República, no país.

    Não esquecemos que com mão de ferro e de forma sanguinária, Floriano Peixoto assumiu o poder ao arrepio da Constituição, sem realizar eleições, substituindo Deodoro da Fonseca. Na obra de Lima Barreto, os lances de autoritarismo e prepotência de Floriano são registrados.

    Em Florianópolis, antiga Desterro, palco do fuzilamento impiedoso de 185 revoltosos, a República deixou um rastro sanguinário. Em outro episódio sangrento, Canudos, lá esteve Antônio Conselheiro. Antônio Conselheiro, no Ceará do nosso Senador Girão, abandonou a família e embrenhou-se pelo interior do Nordeste para mobilizar a população contra as autoridades que, muito distantes da realidade social, acabavam por edificar um fosso enorme, provocando a rebeldia de brasileiros. A instalação do regime republicano contabilizou, portanto, a morte de aproximadamente 25 mil pessoas, num verdadeiro massacre, em Canudos.

    E agora a pergunta que temos de fazer: o que temos hoje? Os vícios do passado foram escoimados? Temos uma República ou temos um Império travestido de República? Muitas vezes, passa-se a ideia de que vivemos num Império onde autoridades assumem o poder para preservar os seus privilégios, ignorando as aspirações da sociedade.

    É exatamente esse divórcio entre o Estado brasileiro e a sociedade que alimenta a polarização de hoje, que leva pessoas inconformadas às ruas para defender, certamente, muitas vezes, de boa-fé, mas, nem sempre corretamente, posições que extrapolam os limites do bom senso, porque chegam às raias da radicalidade insana em nosso país.

    Pautei a minha atuação na vida pública pela coerência. Quem se diz combatente de privilégios das autoridades e não abre mão dos seus não tem moral nem legitimidade para alçar essa bandeira. Eu, desde sempre, abro mão dos meus privilégios. Só em relação à aposentadoria de ex-Governador, 29 anos, uma economia de R$11 milhões. Abri mão em respeito àqueles que confiam em mim.

    Iniciei e desenvolvi parte da carreira política sob a ditadura, mas testemunhei, apreensivo, como ela se impôs a uma democracia ainda embrionária, mas de bons presságios. Era calouro do curso de História quando os tanques desfilaram pelas ruas do Rio de Janeiro, pondo fim ao Governo de João Goulart.

    Foi durante o curso ministrado pela faculdade de Londrina, da Universidade de Londrina, que manifestei minha vocação política e quem a captou e a incentivou foi Prof. João Olivir Gabardo, diretor da instituição. Foi ele quem me convenceu a disputar uma vaga na Câmara de Vereadores.

    Eu era maior de idade. Era maior idade, mas sentia-me propenso a aceitar o convite. Mas decidi submetê-lo à autorização dos meus pais, Silvino e Helena. Ter um filho na política era a última coisa que eles queriam. Deram a sua benção, ressalvando que o faziam para não frustrar uma vocação e fazer-me infeliz.

    Passei a exercer a política desde minha juventude, o que faço por amor ao Paraná, ao Brasil e ao seu povo.

    Agradeço aos meus pais pelo exemplo de trabalho. Dedicaram-se, a vida toda, à agricultura, tendo sido desbravadores do norte do Paraná.

    Agradeço também, pela lealdade, aos companheiros, e respeito à ética, exemplos aos quais tenho a convicção de ter sido fiel ao longo dessa trajetória.

    Sou grato aos eleitores, muito grato ao eleitor anônimo, aos eleitores que me conferiram confiança e que me honraram nas diversas investiduras do mandato popular, que carregaram as suas esperanças e os seus sonhos para as praças públicas ensolaradas nas tardes de sábado e domingo, multidões alimentando sonhos e esperanças. Muitas vezes, vimos trabalhadores rurais com o rosto marcado pelo tempo, esperançosos de que ali estávamos para representá-los, para sermos porta-vozes das suas apreensões e das suas angústias.

    Não posso deixar de agradecer a todos aqueles que durante toda essa jornada, durante todo esse itinerário fascinante que percorri na política do meu Estado, me embalaram e me estimularam. Foram os responsáveis para que eu pudesse chegar a esta tribuna.

    Agradeço à equipe de trabalho que sempre me acompanhou nesses anos todos. Agradeço pela dedicação, pela lealdade – pela lealdade – e, sobretudo, pela solidariedade nos momentos tensos da política, nos revezes.

    Agradeço a todos que trabalharam comigo nesses anos, pela eficiência, porque certamente essa eficiência foi fundamental para que conquistássemos algumas vitórias.

    Agradeço também à imprensa que deu cobertura ao nosso trabalho, muitas vezes rompendo o silêncio imposto por parte da mídia sobre nossas proposições.

    Um agradecimento especial às instituições que valorizam o trabalho e a atividade do Parlamentar e porque sempre me incluíram entre os melhores Congressistas do país. Cito o Congresso em Foco, o Diap e a Arko Advice.

    Aos meus pares que debateram de forma vigorosa durante ciclos diversos da política brasileira, debates travados no Plenário do Senado Federal, o meu agradecimento pelo respeito ao contraditório, que é essencial na democracia.

    A minha gratidão, claro, especialmente aos meus companheiros de partido, aqueles que vieram somar conosco no Podemos com a esperança de que pudéssemos construir juntos uma ferramenta política capaz de recuperar a credibilidade na instituição partidária brasileira.

    Esse sonho não acabou e, certamente, não acabará tão cedo porque haveremos de prosseguir com este desiderato, a esperança de que um dia a população brasileira possa acreditar nos partidos políticos como ferramenta de luta a favor das suas aspirações.

    Muito obrigado, portanto, aos Parlamentares que somaram conosco nesses últimos anos.

    Eu tenho como consolo o fato de que o Paraná continuará muito bem representado aqui pelo Flávio Arns e pelo Oriovisto Guimarães, dois grandes Parlamentares. Aqui está o Paulo Salamuni, suplente de Oriovisto Guimarães. Eu tenho certeza de que eles continuarão honrando o Paraná nesta Casa.

    Mas volto, dando asas à lembrança. Volto aos meus tempos de universitário, Senador Kajuru. Líder universitário, recebi em Londrina Geraldo Vandré em reunião com meus amigos estudantes. Cito aqui – o Salamuni conhece bem – alguns deles representando aos demais: o Hélio Duque, Edson Gradia, a Graça, a Dorothy e tantos outros.

    Geraldo Vandré apresentou a nós, um grupo de estudantes, uma música que estava compondo – isso é história! Viria a se chamar Pra Não Dizer que Não Falei das Flores. Ainda não sabíamos que nome teria esta canção. Geraldo Vandré a batizou como Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores. Não imaginávamos que a música se transformaria no hino da resistência ao regime autoritário.

    Uma das estrofes da canção diz:

Os amores na mente, as flores no chão

A certeza na frente, a história na mão

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Aprendendo e ensinando uma nova lição.

    Essa estrofe resume minha travessia. Caminhei e cantei e segui a canção, com os amores na mente e as flores no chão.

    E por falar em amores, não posso deixar de agradecer à minha família. E onde encontrar palavras? Onde encontrar resistência à emoção que aflora para agradecer à família? (Pausa.)

    E a Débora, minha... (Pausa.)

    ... minha mulher. (Palmas.)

    Eu sabia que eu não ia conseguir...

    Mas eu quero agradecer então à minha família.

    Vou deixar de dizer o que eu acabaria dizendo aqui, impedido pela emoção.

    Devo dizer apenas muito obrigado aos meus filhos, aos meus irmãos, sobrinhos, enfim, a toda família!

    Vamos tocar em frente!

    Muito obrigado de coração!

    Aprendi e ensinei uma nova lição. Eu me preparei para ensinar história, mas ela me tornou seu protagonista, utilizando-se da minha mão, coração e mente. Defendemos a transparência com alegria. Defendemos a transparência como bandeira, como compromisso e como destino. Como afirmou o intelectual mexicano, poeta, escritor e diplomata Octavio Paz: "As massas humanas mais perigosas são aquelas em cujas veias foi injetado o veneno do medo, do medo da mudança". E os ventos da mudança ainda não invadiram a alma da política nacional. Que soprem mais fortes os ventos da mudança e vençam!

    Nossa travessia é de vitórias fascinantes e de alguns reverses doloridos. Que a vitória da mudança nos leve à pacificação nacional com a derrota do fanatismo exacerbado dos extremistas! As derrotas não comprometem a nossa história, as derrotas não comprometem a nossa biografia, as derrotas muitas vezes nos honram porque nos qualificam.

    Deixo de ser representante. Passo a ser representado. Mas a integridade não se aposenta. A decência não dependura as chuteiras.

    Muito obrigado aos meus amigos do Senado Federal! (Palmas.)

    O SR. PRESIDENTE (Irajá. Bloco Parlamentar PSD/Republicanos/PSD - TO) – Gostaria também de manifestar, Senador Alvaro Dias, a minha alegria em poder conviver com V. Exa. nesses quatro anos aqui de mandato do Senado da República. Quero registrar também o meu respeito e a minha admiração.

    Parabéns pelo lindo e emocionante discurso que faz a esta Casa, relembrando toda a sua trajetória vencedora, desde Vereador até chegar aqui ao Senado da República, passando pelo Governo do estado, fazendo uma brilhante e bonita história.

    Como disse o Presidente Rodrigo Pacheco, até breve, porque todos nós aqui teremos muita saudade das suas atuações, da sua presença, dos seus discursos eloquentes no Senado Federal, registrados aqui por décadas, e o Senado da República reconhece, com toda tranquilidade, com toda alegria, a sua biografia e todos os trabalhos relevantes que você prestou ao país, em especial ao Estado do Paraná.

    Meus parabéns! E, para mim, foi um privilégio poder conviver com V. Exa. nesses quatro anos aqui durante o meu mandato no Senado da República.

    Eu gostaria de passar a palavra, para as suas manifestações, ao Senador Kajuru.

    O Sr. Jorge Kajuru (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - GO. Para apartear.) – Senador Alvaro Dias, Alvaro todos os Dias, 46 anos de vida pública sem nenhuma mancha; 46 anos e jamais, na escalada de manchetes do Jornal Nacional, o seu nome foi manchado.

    Eu, Kajuru, tenho que dizer aqui que, quando recebi o seu telefonema me oferecendo o seu Gabinete 10, eu decidi trocar na hora, e ele vai se chamar Gabinete Histórico Alvaro Dias, para te esperar de volta em 2026. E, lá, os seus exemplos para mim vão ser importantíssimos em mais quatro anos de mandato.

    Alvaro, a tua história é tão irretocável, tão consagrada que quem não respeitá-lo é ladrão, é ignorante, é gente de inveja pura ou é traidor – e do seu principal traidor, que foi um só, eu nem vou dizer o nome desse lixo humano.

    Sua cabeça está erguida por todos os seus momentos na vida pública. Se qualquer faculdade perguntar a um jovem qual o modelo para ser um homem público, para ser um Parlamentar, a resposta será em segundos: Alvaro todos os Dias.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Jorge Kajuru (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - GO) – Para concluir, eu quero lhe dizer, em nome da sua amada Débora e de toda a sua família, que eu aprendi um costume. E como, para mim, quem não tem gratidão não tem caráter, eu vou revelar aqui a minha forma de lhe ser grato por tudo que você representa para mim.

    Você me emocionou quando, lá atrás, nas Diretas, escolheu, para ser a voz das Diretas, o locutor esportivo, meu ídolo, meu patrão, Osmar Santos. Nunca vou me esquecer disso.

    E, Alvaro, o meu corpo é protegido pela minha mãe, aqui à direita; pela Claudinha Leitte, à esquerda; nas costas, por José Luiz Datena, meu amigo, irmão e pai, há 40...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    O Sr. Jorge Kajuru (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - GO) – Para lhe agradecer, Alvaro, eu quero lhe dizer, olhando para os seus olhos: eu vou colocar aqui no meu corpo o seu rosto, o rosto mais limpo que eu conheci na política brasileira, tatuado em mim pelo resto de minha vida.

    Obrigado por você existir Alvaro.

    O SR. PRESIDENTE (Irajá. Bloco Parlamentar PSD/Republicanos/PSD - TO) – Com a palavra, o Senador Flávio Arns, pelo sistema remoto.

    O Sr. Flávio Arns (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - PR. Para apartear. Por videoconferência.) – Agradeço a V. Exa. também.

    Quero, em primeiro lugar, deixar um grande abraço ao grande amigo, Senador do nosso querido Paraná e do Brasil, Alvaro Dias, e dizer, em primeiro lugar, que eu também sou muito grato, porque, lá atrás, quase 40 anos atrás, quando o Senador Alvaro Dias foi Governador do Paraná, ele me convidou para continuar a dirigir, naquela ocasião, o Departamento de Educação Especial do Paraná, o departamento que articulava as ações a favor da pessoa com deficiência.

    E quero dizer a todas as famílias de pessoas com deficiência, aos profissionais e às pessoas com deficiência que nós devemos muito ao Alvaro Dias e à Débora Dias, porque foi um período inigualável, ele como Governador e ela como Primeira-dama. Foram momentos assim, essenciais, importantes para o avanço dessa área.

    O amigo do Alvaro, Olivir Gabardo, o conduziu para a política, como ele mencionou; um outro amigo dele, muito próximo também de Londrina, que me conduziu para a política foi Justino Alves Pereira, de Ibiporã, ex-Secretário de Saúde, Deputado Estadual e Deputado Federal. Há uma característica em Alvaro Dias que eu sempre enalteço, porque ele conhece todas as lideranças do Paraná, pelo nome, pela história. Sabe da trajetória de cada uma dessas pessoas e sabe da trajetória, do nome, do reconhecimento e dos trabalhos das lideranças todas pelo Brasil.

    Então isso é muito importante, essa afinidade, essa proximidade que o Alvaro Dias sempre teve com todas as pessoas. Muitas pessoas, vindo para o Senado, ainda colocam as proposições que desejam na verdade seguir no Senado Federal. Algumas dizem: "Olha, meu grande objetivo vai ser a prisão em segunda instância, o fim do foro privilegiado". Essas pessoas deveriam dizer: "Eu vou apoiar as PECs do Alvaro Dias, que já, cinco anos atrás, seis anos atrás, aprovou, no Senado Federal, o fim do foro privilegiado, que...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Flávio Arns (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - PR. Por videoconferência.) – ... é um grande anseio da sociedade brasileira, ou a prisão em segunda instância. A PEC já está tramitando há anos. Essas pessoas devem vir a Brasília e dizer: "Eu vou apoiar aquilo que o Alvaro Dias estava fazendo".

    Se nós pensarmos na área da educação – eu já ressaltei isto inúmeras vezes –, um dos documentos mais importantes nossos, o Plano Nacional de Educação 2014 e 2024, 51 emendas do Senador Alvaro Dias incorporadas ao Plano Nacional de Educação. Isso é muito importante.

    Então, o Brasil deve muito ao Alvaro Dias em todas as áreas, em todos os sentidos.

    Mas eu quero dizer, Alvaro, que o mais importante de tudo é a sua personalidade, e é dessa personalidade que o Brasil está mais carente no dia de hoje, de integridade, de justiça, de diálogo, de entendimento, de construção de caminhos, de pontes, fugindo do radicalismo, seja de que natureza for, do fundamentalismo, para dizer: "Olha, vamos juntos fazer uma caminhada a favor do Brasil".

    Eu diria, Alvaro, que você fez um trabalho maravilhoso, essencial para o país. Você vai fazer muita falta no dia a dia, no cotidiano, eu digo, do Senado Federal, porque são personalidades como a sua que constroem, que nos orientam, que são referência. Por isso é que nós queremos que você continue firme na caminhada, sempre presente a orientar, a estimular, a encaminhar a todos nós e a sociedade para que haja uma construção de um país melhor, mais justo, mais desenvolvido.

    Nesse seu discurso, a gente quer dizer, Alvaro, obrigado! Para mim, pessoalmente, obrigado! Para o Paraná, que bom que você fez essa caminhada! Para o Brasil, que bom que você esteve sempre presente. E vamos continuar juntos porque é de pessoas como você que o Paraná, principalmente, e o Brasil, essencialmente, necessitam.

    Abração meu, da minha família e de todos aqueles milhões que amam a sua trajetória.

    Abração.

    O SR. PRESIDENTE (Irajá. Bloco Parlamentar PSD/Republicanos/PSD - TO) – Com a palavra o Senador Oriovisto, pelo sistema remoto.

    O Sr. Oriovisto Guimarães (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - PR. Para apartear. Por videoconferência.) – Alvaro Dias, amigo Alvaro Dias, você sabe que eu estou em Curitiba hoje por causa da covid. Se não fosse ela, eu estaria aí para lhe dar um abraço. Aliás, nada do que eu falar hoje aqui vai substituir a emoção que eu poderia lhe transmitir num verdadeiro abraço: abraço de quem o admira há muitos anos; abraço de quem tem uma idade muito parecida com a sua e que viveu no mesmo estado que você, que cursou faculdades na mesma época que você, que conheceu as pessoas que você conheceu.

    Acompanhei sempre a sua jornada na vida pública, nos mais diversos papéis que você desempenhou na vida pública. Eu, lá atrás, na juventude, tive alguma participação na luta contra a ditadura; depois, levou-me a vida a ser um homem de empresa, a construir escolas, a construir uma universidade, a ter um trajeto diferente do seu, mas nunca deixei de observá-lo e de admirá-lo.

    Quis a vida que, ao me aposentar da iniciativa privada, eu fosse me encontrar com você de novo – você, como candidato à Presidência da República –, eu fui lhe pedir um conselho, e você disse: "Você quer ser candidato ao Senado? Saia e não fique falando!". Eu saí daí, do Senado, da sua sala – não sei se você se lembra disso – e resolvi seguir o seu conselho. E o 1% de voto que eu tinha transformou-se no 1º lugar, derrotando outros que estavam na política há muito tempo. Tudo isso, com a sua inspiração, com o seu exemplo, com seus conselhos.

    Você, agora, deixa-nos, por algum tempo, e me deixa uma incumbência extremamente digna à qual eu farei de tudo para ver se serei capaz de dar conta, que é conduzir o Podemos, substituí-lo nessa Liderança.

    Quero lhe dizer que você não sairá do Senado, não sairá da minha vida, não sairá da vida do Kajuru, não sairá da vida do Girão, não sairá da vida do Marcos do Val, não sairá da vida do Flávio Arns, assim como não sairá da vida de dezenas de outros Senadores.

    Nós continuaremos conversando, Alvaro. Eu quero levá-lo comigo para Brasília, se possível, toda semana. Você tem o que fazer em Brasília, no mínimo, dando conselho para todos os que vão continuar lutando, todos os que veem a política como você sempre viu, como um poema, como uma música a seguir cantando, sempre em busca da transformação...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Oriovisto Guimarães (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - PR. Por videoconferência.) – ... seja em busca da liberdade, contra a ditadura, seja em busca de um Brasil melhor, mais ético, acabando com o foro privilegiado ou aperfeiçoando as suas instituições, o seu esporte, a sua política, enfim, fazendo com que este país cresça.

    Tem gente que faz política com amor, tem gente que faz política com ideal, e você é uma dessas pessoas. Pessoas como você contaminam uma nação, dão o bom exemplo. V. Exa. viverá para sempre na função daqueles que continuarão o trabalho que você começou, que nós continuaremos e que não terminará nunca, a gente sabe disso, mas que faz sentido porque existem pessoas como você.

    Aceite o meu mais forte abraço e o meu "até já".

    O SR. PRESIDENTE (Irajá. Bloco Parlamentar PSD/Republicanos/PSD - TO) – O próximo orador inscrito é o Senador Eduardo Girão.

    Antes disso, eu gostaria de informar às Senadoras e aos Senadores que a Presidência retira de pauta o PLP 127 – e eu sou, inclusive, o Relator desta matéria –, a pedido dos colegas Senadores, para que nós possamos discutir, em um outro momento, um acordo, para que possamos harmonizar o tema e trazê-lo, novamente, à apreciação do Plenário.

    Com a palavra o Senador Eduardo Girão.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE. Para apartear.) – Meu querido irmão, meu amigo, Senador Alvaro Dias, tem uma frase de um grande pacifista, um grande humanista americano, Martin Luther King, que diz assim: "Uma injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar".

    Desde o dia em que eu coloquei os pés não aqui, no Plenário, mas em Brasília, chegando aqui, tateando, compreendendo, a primeira pessoa que eu fui procurar foi o senhor, porque o senhor já me inspirava, como a milhões de brasileiros, pela sua trajetória política. E eu fui ali como um recém-eleito de outro partido, mas fui conhecê-lo e conversar sobre a Presidência do Senado naquele momento, porque a gente tinha que ter um candidato. E foi muito interessante o que aconteceu na sua sala, jamais vou esquecer, porque nós conversávamos ali, e o senhor, com um desprendimento incrível! Porque o Alvaro Dias, meus colegas Senadores, é um exemplo de que a ética dá certo e vence.

    Alvaro, naquele dia, começou a se construir uma alternativa, na qual eu caí de paraquedas, para organizar algumas reuniões, e me vi ali entre tantos a que eu assistia pela televisão. E o senhor foi o primeiro, o primeiro... Enquanto nas redes sociais o senhor era o que estava na frente, o top, o que a sociedade queria como Presidente, o senhor, pelo bem da nação, para construir uma alternativa única, unida, para renovar o Senado, foi o primeiro a abrir mão pelo país. Ali, eu decidi, internamente – não podia falar naquele momento, porque tinha que construir com outras lideranças do meu estado e tudo mais –, ir para o partido em que o senhor estava e, no dia da eleição, eu assinei a ficha de filiação por causa do senhor. De lá para cá, só gratidão. De lá para cá, tudo que eu sei da política, o que eu aprendi, eu devo muito às suas ponderações: "Girão, não vai por aqui, vai por aqui"; "olha, isso não é assim, não é o momento".

(Soa a campainha.)

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) – E eu só tenho que lhe agradecer, porque de muitas armadilhas acabei sendo desviado porque o senhor foi sempre muito cuidadoso, muito correto e me ensinou muito.

    Pode ter certeza, Senador Alvaro Dias, de que, em relação às suas pautas, aos seus ideais – porque o senhor é um idealista –, nós vamos aqui, juntos, tentar dar o melhor de nós, no limite de nossas forças, para seguir o seu exemplo e esperar a sua volta para esta Casa, se assim for a vontade de Deus e do povo do Paraná, e será, pois a gente conhece a sua história, pela sua honradez, pela sua dedicação àquele estado fantástico... Estamos esperando o senhor aqui em 2023.

    Um grande abraço. Deus o abençoe!

    E o Oriovisto falou uma coisa muito interessante: toda semana, queremos encontrá-lo aqui, porque o senhor é muito importante para esta nação aqui em Brasília.

    Deus o abençoe!

    O SR. ALVARO DIAS (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - PR) – Obrigado.

    O SR. PRESIDENTE (Irajá. Bloco Parlamentar PSD/Republicanos/PSD - TO) – Com a palavra o Senador Izalci.

    O Sr. Izalci Lucas (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PSDB - DF. Para apartear.) – Presidente, eu quero também manifestar aqui minha admiração e meu reconhecimento pelo trabalho do Senador Alvaro Dias, que acompanho desde o PSDB – V. Exa. foi do PSDB durante muito tempo – e que sempre foi uma referência para nós, não só em termos de Parlamento, mas também de gestão, como Governador.

    Então quero aqui ressaltar isso, acompanhei toda sua trajetória, tive o privilégio, inclusive, de compor bloco com V. Exa., liderando o Podemos, e dizer que a gente aprende todos os dias, como diz aqui o Senador Kajuru: "Alvaro todos os dias". Nas sessões presenciais, V. Exa. sempre esteve presente todos os dias, falando, ensinando, passando todo seu conhecimento, capacidade de articulação e experiência que muito nos ajudaram e vão continuar nos ajudando. Eu recomendo mesmo ao Senador Oriovisto que o traga toda semana para a gente continuar aqui com essa convivência que é muito importante para o Brasil. Vários Senadores que estão nos deixando neste mandato vão fazer falta aqui.

    Lamentavelmente, ao que a gente assistiu nessa última campanha foram discussões ideológico-partidárias. Ninguém quis discutir o país, os grandes problemas. Ninguém fala em educação, ninguém fala em segurança, ninguém fala em saúde. V. Exa. sempre teve essa preocupação e é para nós uma referência. Parabéns a V. Exa.!

    Só quero, antes de mais nada... Presidente, Senador Irajá, V. Exa. anunciou, e nós fechamos um acordo com relação ao PL 127, do qual V. Exa. é o Relator. Nós vamos fazer a discussão na segunda-feira, às 16h, mas gostaríamos de fato de votar essa matéria na terça, porque essa matéria é fundamental para as pequenas e microempresas. Então eu peço que a gente continue, mas, na terça-feira, votando, com ou sem... Nós temos a segunda-feira exatamente para convencermos ou sermos convencidos, mas a matéria não pode ser adiada para o ano que vem. Então, esse é um apelo que faço a V. Exa.

    Senador Alvaro, parabéns a V. Exa.!

    O SR. PRESIDENTE (Irajá. Bloco Parlamentar PSD/Republicanos/PSD - TO) – Com a palavra o Senador Randolfe.

    O Sr. Randolfe Rodrigues (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/REDE - AP. Para apartear.) – Caríssimo Alvaro – depois de mais de dez anos de convivência, permita-me chamá-lo assim –, eu fiz questão de estar presente aqui no Plenário do Senado para ouvir esse célebre pronunciamento seu, que entra na esteira dos vários grandes momentos e pronunciamentos do Senado Federal, assim como você é um dos grandes nomes daqui do Senado.

    A história que você descreveu, da sua trajetória, se confunde com a história brasileira dos últimos 40 anos, se confunde inclusive com um dos capítulos mais belos da vida brasileira, que foi a luta pela democracia.

    Entre as várias qualidades que eu tenho que saudar em você, eu quero saudar a qualidade da coerência: você sempre teve uma linha constante, uma posição constante. Em alguns momentos, não estando com V. Exa. ou estando ao seu lado, é uma posição que sempre foi respeitada por todos aqui do Plenário do Senado. Eu queria ter na minha biografia, ter no meu currículo, a possibilidade de estar presente aqui em um discurso tão emblemático e histórico como esse que você pronuncia.

    Obrigado também por ter possibilitado para mim, nessa minha trajetória, a honra de ter relatado uma proposta de emenda à Constituição de sua autoria, a PEC do fim do foro privilegiado – acho que uma das mais belas votações que já ocorreu no Plenário do Senado –, idealizada por você, empunhada por você, defendida por você, como é defendida a fortaleza dos seus ideais.

    Eu tive a honra de relatar essa PEC, que, aprovada por unanimidade aqui no Senado, lamentavelmente passou a dormitar no Plenário da Câmara, mas o que não dorme, Alvaro, é o teu exemplo, um exemplo para a nação. Mesmo aqueles que divirjam de você não têm como não respeitar você, não têm como não aplaudir a contribuição que você tem para o país. Contribuição que você tem, e eu estou proferindo o verbo no tempo correto, e que continuará contribuindo com este país.

    Quero destacar o que já foi dito aqui por outros colegas, em especial pelo Senador Kajuru: você foi vítima do pior dos vícios humanos, a traição, Kajuru, que é o pior dos vícios humanos – o pior dos vícios humanos. Mas você tem duas das maiores virtudes humanas: a lealdade ao povo e a lealdade ao seu país e a sua coragem. Essas são as suas virtudes e eu sempre sou da máxima de Santo Agostinho de que existem as virtudes cardeais e os pecados capitais. Eu sou da máxima de que as virtudes cardeais, como a lealdade – a lealdade sua ao seu povo –, a coragem e a coerência, são maiores do que qualquer um dos pecados capitais, tal qual a traição.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Randolfe Rodrigues (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/REDE - AP) – Você não está se despedindo desta tribuna, você ainda é muito jovem para isso; você está dando para nós um até breve, você ainda terá muito a contribuir ao seu país.

    Eu quero homenagear a sua família, porque eles, com certeza, têm muita razão para ter muito orgulho do pai, do avô, do irmão, do tio; os sobrinhos, enfim, todos eles têm muita razão de ter orgulho do homem público que você é, um exemplo para todos nós brasileiros.

    É um até breve e continuaremos juntos. Como diz a poesia de Drummond, a gente continua caminhando junto de mãos dadas pelo mesmo caminho, pelos mesmos destinos da construção de um país justo e honesto.

    Este Senado e este país só têm muito a agradecer por toda a sua contribuição para a vida pública brasileira e para a nossa democracia.

    O SR. ALVARO DIAS (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - PR) – Obrigado.

    O SR. PRESIDENTE (Irajá. Bloco Parlamentar PSD/Republicanos/PSD - TO) – Com a palavra o Senador Zequinha.

    O Sr. Zequinha Marinho (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - PA. Para apartear.) – Senador Alvaro Dias, não poderia deixar de também participar deste momento.

    Não é um momento de festa, mas é um momento de reflexão. O legado que V. Exa. deixa para o Brasil e para todos nós nesta Casa não é pequeno, porque o caráter firme, correto, a personalidade, o trabalho e o idealismo marcaram, ao longo dessa trajetória política, cada passo que V. Exa. deu, e isso enriquece e dignifica uma Casa como o Senado Federal.

    Para nós, que estamos começando aqui, V. Exa. foi um espelho que iremos continuar mirando, trabalhando e lutando por um Brasil melhor, preservando o princípio da integridade, da moralidade, da ética e da correção.

    Portanto, o Pará é uma terra tão boa e, com mais uma sílaba, a gente chega ao Paraná. A diferença é que nós estamos no norte e o seu está no sul, mas a gente o abraça e deseja um breve retorno a esta Casa porque o Brasil, o Senado Federal e o Congresso Nacional vão continuar precisando de V. Exa.

    Um abraço muito fraterno, respeitoso, de muita admiração pela sua pessoa e pelo seu trabalho.

    Muito obrigado.

    O SR. PRESIDENTE (Irajá. Bloco Parlamentar PSD/Republicanos/PSD - TO) – Passo a palavra para a Senadora Leila Barros, por sistema remoto.

    A Sra. Leila Barros (PDT/PDT - DF. Para apartear. Por videoconferência.) – Olá, obrigada, Senador Irajá, cumprimento o senhor e todos os Senadores que estão aí no Plenário.

    Eu tive que voltar para casa porque eu tenho um probleminha, o senhor sabe, no quadril e hoje sofri muito com ele, mas esperei até o final desta sessão, esperei a sua fala para dizer assim... Fiquei ouvindo suas palavras e disse: "Meu Deus, 46 anos de vida pública". Que linda trajetória, Senador, poxa! E uma trajetória, como o Senador Randolfe falou, que se confunde com as grandes transformações do nosso país, entre elas a luta pela democracia. E aí, quando se fala de virtudes, outra fala muito interessante do Senador Randolfe, do Kajuru, também do Oriovisto, quando a gente fala de virtudes, dessa sua lealdade, dessa sua coerência, a lealdade com o povo, a lealdade com o país, eu gostaria só de acrescentar a lealdade ao seu estado. Olha, poucas vezes, Senador, eu vi, nestes quatro anos dentro do Senado Federal, uma bancada funcionar tão bem, ter tanta sinergia, o senhor, o Oriovisto, o Flávio Arns – inclusive o Flávio Arns era de outro partido e se identificou tanto com vocês dois. Enfim, a gente percebia o trabalho não só do partido Podemos, mas a sua liderança junto à bancada do Paraná e esse carinho, esse respeito. Ouvir o Senador Flávio Arns, o Senador Oriovisto falar do senhor demonstra o tanto que o senhor defendeu com o coração – não é essa coisa de unhas e dentes, não; com o coração –, com muita capacidade o seu estado.

    Mas eu digo a mesma coisa, Senador. Eu queria primeiramente agradecer ao senhor porque poucas pessoas sabem, e eu gostaria de externar isso agora.

(Soa a campainha.)

    A Sra. Leila Barros (PDT/PDT - DF. Por videoconferência.) – Foi um dos Senadores o senhor, Senador Alvaro, que, desde o primeiro momento em que cheguei ao Senado, me estendeu a mão, foi extremamente empático, generoso. Aliás, o senhor é generoso, sempre foi generoso com todos nós, independentemente do partido. Eu cheguei sendo Senadora do PSB, passei pelo Cidadania, mas o senhor nunca deixou de me orientar, de me alertar, de ser generoso. Nossa, como o senhor vai fazer falta, sério. É uma dor que quem conviveu com o senhor... Somos 81 Senadores nesta Casa, mas a estes que estão aí no Plenário, aos que já falaram e a mim – o senhor pode ter certeza –, a todos o senhor fará falta, mas a nós em especial será uma saudade maior, será uma saudade maior de um grande companheiro, de uma grande liderança, de um ser humano incrível...

(Soa a campainha.)

    A Sra. Leila Barros (PDT/PDT - DF. Por videoconferência.) – Como o Senador Oriovisto falou e outros tantos, é um até logo, porque o senhor é importante e todos nós certamente iremos procurá-lo para conversar, para trocar e para escutar muito o que o senhor ainda tem para nos ajudar, porque nós teremos mais quatro anos, Senador, mas eu tenho certeza de que em 2026 o senhor volta. O Paraná vai sentir a sua falta, o Brasil e este Senado também vão sentir.

    Um beijo para o senhor, para a sua família e até logo, meu amigo. Além de ser uma grande referência para mim, o senhor é um grande amigo. Que Deus abençoe o senhor.

    Obrigado, Senador.

    O SR. PRESIDENTE (Irajá. Bloco Parlamentar PSD/Republicanos/PSD - TO) – Com a palavra o Senador Jean Paul.

    O Sr. Jean Paul Prates (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN. Para apartear.) – Querido Senador Alvaro, querido Presidente, adversários não são inimigos. E muitas vezes esses adversários podem se tornar amigos. Há vários Alvaros e há vários Dias. Estou parecendo o Kajuru, não é? Há vários Alvaros Dias, mas eu creio que a referência histórica a esse nome será sempre a V. Exa.

    Nós não estamos no mesmo estado, não estamos no mesmo partido, não estamos no mesmo bloco, não estamos no mesmo campo ideológico, mas nós estamos no mesmo Brasil e nós estamos também ao lado da boa política. Essa política construtiva, colaborativa, correta e pura. A que V. Exa. faz e a que eu também procuro fazer.

    A pureza e a boa-fé por vezes nos conduzem a muitos acertos – e, no seu caso, muito mais acertos, sobejamente mais acertos do que erros. Todos nós estamos sujeitos a erros. Erros de julgamento sobre as pessoas, sobre fatos ocorrem, são dolorosos – às vezes, são até irreversíveis –, mas, na maior parte das vezes, dependendo da capacidade, da amplitude do coração das pessoas, são reversíveis. Reversíveis e perdoáveis.

    Em 46 anos de vida pública, a sua contribuição como legislador, como homem público, como administrador é muito maior com certeza do que como eventualmente vociferador ou campanhas eleitorais. V. Exa. é um homem íntegro. Senador que, a meu ver e certamente a todos os nossos colegas, entra para o panteão dos Senadores históricos desta Casa.

    E, para não deixar isso como um discurso muito triste, fazê-lo sorrir, eu quero propor-lhe uma cofundação. Juntamente comigo, juntamente com o Senador Paulo Rocha, com a Senadora Kátia Abreu, Senadora Simone Tebet, Senadora Nilda Gondim, Senadora Rose de Freitas, Senador Alexandre Silveira, Senador José Serra, Senador Acir Gurgacz, Senador Telmário Mota, Senadora Maria do Carmo, Senador Dário Berger... 

(Soa a campainha.)

    O Sr. Jean Paul Prates (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) – ... Senador Elmano Férrer – ô, campainha! –, Senador Fernando Bezerra Coelho, Senador Roberto Rocha, Senador Tasso Jereissati e muitos outros que se unirão a nós no que eu gostaria de propor aqui: uma sociedade civil denominada Instituto dos Senadores da República do Brasil.

    Um grande corpo consultivo. Um think tank do Brasil. Uma instituição cidadã que reúna a todos nós, adversários não inimigos, para que nós continuemos a ajudar o Senado, os Senadores, o Brasil e até o mundo com as nossas ideias, com as nossas obras, até conferindo os efeitos de tudo que nós fazemos nesta Casa e, em geral, até como...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    O Sr. Jean Paul Prates (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) – ... ex-Governadores, gestores públicos e tantas outras funções importantes que ocupamos, inclusive na iniciativa privada.

    O que nos une é essa experiência única de estar embaixo desta redoma, sob os olhos de Ruy Barbosa e do Cristo, e de várias presidências e mesas, e com vários colegas com os quais aprendemos tanto, Senador Randolfe. Aprendemos tanto com todos nós, fizemos tanto pelo país. Acho que podemos nos propor essa ideia.

    E o convido para ser um desses Senadores a compor esse instituto. É uma ideia que me ocorreu agora, Senador Oriovisto, a partir das suas palavras, em função de toda a experiência, que não pode ser jogada fora, por todos nós, coletivamente. Acredito que, enquanto estivermos vivos, temos que continuar atuando.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Jean Paul Prates (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) – Parabéns, Senador Alvaro Dias. Espero tê-lo como colega nessa nova instituição.

    Obrigado.

    O SR. PRESIDENTE (Irajá. Bloco Parlamentar PSD/Republicanos/PSD - TO) – Com a palavra o Senador Marcos do Val. Sistema remoto.

    O Sr. Marcos do Val (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - ES. Para apartear. Por videoconferência.) – Estão me ouvindo? Estão, não é?

    Mais uma vez, eu estou aqui porque eu estou assim, agoniado, triste e feliz. É tudo uma mistura de sentimentos, compactuando com as palavras de cada um.

    Essa ideia do instituto que o Jean Paul Prates acabou de colocar eu achei sensacional. Já fico contando o tempo de eu acabar minha missão para poder fazer parte desse grupo, desse grupo de elite.

    Quanto ao Alvaro Dias, para quem eu nunca tive a oportunidade de contar qual é a minha história com Alvaro Dias, eu, ainda adolescente, sempre escutava do candidato a Presidente Alvaro Dias. E escutava as pessoas dizendo: "Poxa, se ele estivesse à frente nas pesquisas, esse seria o meu candidato". E ouvi isso quase que de quatro em quatro anos.

    E sempre olhava o Alvaro Dias com aquela serenidade, com palavras sábias, colocadas no momento certo, de forma correta, sempre com muito respeito. E eu olhava para ele e dizia assim: "Como passar por esta Casa, passar pela política brasileira, e as pessoas da rua – não são nem do estado, são de outro estado – falarem para mim, como adolescente: 'Poxa, aquele ali seria um excelente Presidente do Brasil'". E eu escutei isso por muitos anos.

    E aí, quando me propus a pensar na possibilidade de vir a ser candidato, o nosso líder do nosso estado do Podemos, Gilson Daniel, virou para mim e falou o seguinte: "Olha, o Senador Alvaro Dias vai te ligar". Aí eu pensei comigo: "Já começou com papo de política. Até parece que o Alvaro Dias vai me ligar".

(Soa a campainha.)

    O Sr. Marcos do Val (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - ES. Por videoconferência.) – Meu telefone toca. Não tinha... Tinha uma identificação de número desconhecido, e, quando atendo, era o Alvaro, esse amigo, se tornou meu amigo, uma pessoa que eu admirava como brasileiro, como alguém que, desde a minha adolescência... São 46 anos de política, eu tenho 51 anos de idade, ou seja, eu tinha cinco anos – cinco anos – de idade, quando esse monstro aí na política entrou, entregando para a gente um Brasil infinitamente melhor do que tinha naquela época. Ele ligou para mim numa simplicidade me convidando para ir ao Podemos e ser candidato. Aquela ali, Alvaro, o meu amigo Alvaro, o meu Líder...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Marcos do Val (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - ES. Por videoconferência.) – ... o meu eterno Líder Alvaro, aquela ali foi a decisão da minha entrada na política.

    Eu sabia que os preços seriam altos, os que eu iria pagar. Meu pai mesmo não queria que eu pensasse na possibilidade, porque eu tinha uma carreira, porque eu ia sujar a minha carreira. Mas eu olhava o Alvaro: "Não, não são todos". E aquela ligação... Eu me deitei e não conseguia dormir por saber que o Alvaro Dias tinha ligada para um capixaba fazendo um convite com tanta simplicidade, com tanta humildade.

    Quando eu cheguei aí... Eu falava muito do canibalismo entre os Parlamentares, que era um denegrindo o outro, era um denunciando o outro, era um... E eu olhava para você, Alvaro – às vezes, você não percebia –, mas eu virava a minha cadeira, porque minha fica à frente e a sua lá atrás...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Marcos do Val (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - ES. Por videoconferência.) – ... e olhava assim para você e falava: "Meu Deus, eu tenho que aprender com o nosso Líder, que tem mais de 40 anos, aqui dentro". Eu estava com dois, três anos, e já estava contando o tempo de ir embora, de tanta pressão, de tanto ambiente de desgaste, por estar longe da família, pelo preço que se paga, pela injustiça da sociedade de nos acusar sempre de formas pejorativas. E você ali, sempre com a sua serenidade e equilíbrio. Quando pegava o microfone, eram sempre aquelas palavras extremamente equilibradas que nos davam sempre a esperança de continuar nessa luta.

    Vocês continuam me ouvindo ou não?

    O SR. PRESIDENTE (Irajá. Bloco Parlamentar PSD/Republicanos/PSD - TO) – Sim, pode continuar, Senador Marcos do Val.

    Para concluir. (Pausa.)

    V. Exa. está com o áudio... (Pausa.)

    Voltou.

    Para concluir, por favor.

    O Sr. Marcos do Val (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - ES. Por videoconferência.) – Eu queria até mais umas duas horas, porque concluir vai ser o tempo de o nosso amigo sair daí, e eu não quero que ele saia daí. Mas...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Marcos do Val (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - ES. Por videoconferência.) – É tão importante, Alvaro, você como pessoa e como político que foi na minha vida e é na minha vida, que o convidei para ser padrinho do meu casamento. E você disse assim, generosamente, nem titubeou: "Poxa, vai ser um prazer". E vê-lo lá como padrinho do meu casamento, aquela pessoa que mudou o país e que eu tinha lá. Eu sempre olhava para ele e dizia: "Meu Deus, como seria bom se esse candidato fosse Presidente". De repente, ele estava ali na frente, como padrinho do meu casamento, junto com a minha família, junto com quem eu amava, que amo.

    Quero dizer o seguinte, meu Líder... (Pausa.)

    Não queria interromper aí o Randolfe.

    Quero dizer, meu Líder, que é um exemplo para todos.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Marcos do Val (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - ES. Por videoconferência.) – A gente vê os depoimentos de partidos de oposição, debates acalorados nós sempre tivemos com outros partidos e vê, de repente, todo mundo unido e sentindo muito essa tua partida. Mas eu peço aqui ao nosso novo Líder Oriovisto: Pelo amor de Deus, arrasta esse homem para Brasília toda semana, pelo amor de Deus! Eu separo uma sala no meu gabinete para que você tenha um, não sei, um lugar para estar, porque vamos sentir muito a tua falta, a tua liderança. Você é um norte para nós que chegamos.

    Eu me sinto órfão hoje; hoje, eu me sinto órfão! E não queria ter esse sentimento. Eu queria ter o sentimento de que... Por isso que, com a ideia do Jean Paul Prates, desse instituto, renasceu em mim agora uma esperança de que eu vou, ainda, continuar tendo contato com você.

    Mas é isso, meu amigo, meu Senador exemplo, meu Líder, um exemplo de pai de família, de marido. Eu não tenho absolutamente nada para falar que poderia ser melhor, porque você foi sempre – sempre – insuperável para a gente. É uma perda para nós Senadores. É uma perda para o Congresso. É uma perda para o brasileiro. E eles vão perceber isso na caminhada que nós vamos ter aí sozinhos. E eu espero que o Oriovisto possa cumprir a palavra dele e te carregar para Brasília para que a gente não se sinta órfão.

    Olha, meu agradecimento, do fundo do coração, pelo exemplo que sempre foi, pela simplicidade que sempre foi e por ter me dado a honra de ser o meu padrinho de casamento.

    Obrigado.

    Que Deus te proteja!

    O SR. PRESIDENTE (Irajá. Bloco Parlamentar PSD/Republicanos/PSD - TO) – Com a palavra o Senador Paim.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para apartear. Por videoconferência.) – Senador Alvaro Dias, Vereador; Deputado Estadual; Deputado Federal, dois mandatos; Governador; Senador, quatro mandatos.

    Senador Alvaro Dias, se eu fosse falar de você, eu diria, rapidamente: um homem de diálogo, seriedade, honestidade, responsabilidade, coragem, competência e verdadeiro.

    Senador, eu quero ser rápido, mas eu me lembro, eu fui Constituinte. V. Exa. era Governador. Eu era ainda novo, mas quando V. Exa., como Governador, falava para os Constituintes, em reuniões que nós fazíamos para esse fim, ouvindo alguns Governadores, V. Exa. devia estar com trinta e poucos anos, 44 anos se eu não me engano, corretamente, 44 anos. Era um jovem Governador. Você já era ouvido como é ouvido pelo Brasil hoje.

    Hoje, Senador Alvaro Dias – e já vou terminar com isso –, você merecia aqui falarmos, como foi dito, por horas e horas. Toda vez em que conversávamos com você, você contribuía com ideias ou dizia: "Essa eu posso votar". "Essa eu não posso votar." Essa é a verdade que faz com que a gente nos respeite, nós homens públicos, não é? Não tinha meias palavras. "Nisso eu vou ajudar, mas ajudo até aqui". "Isso eu não posso." Eu, cada vez que conversava com você, saía da conversa com mais respeito ainda, independentemente da sua posição.

    Alvaro, só vou dizer isso: Hoje, aqui, por iniciativa dos Senadores Izalci, Kajuru, foi emendado e atualizado o projeto Jovem Senador, que eu apresentei 12 anos atrás. Hoje, eles deram uma aprimorada no projeto, e eu tive a alegria – agradeço ao Pacheco – de ser Relator. Mas não quero falar de mim nem de nós. Mais de 2 milhões de jovens passaram por esse programa. Eu diria para a juventude brasileira: "Leiam a história desse querido Senador Alvaro Dias". Esse querido Governador, e Senador, e Deputado, e Vereador tinha que escrever, Alvaro – eu sei que você vai escrever –, mas fica um pedido nosso: escreva a sua biografia! A juventude brasileira tem que se espelhar em homens públicos como você.

    Eu tenho muito orgulho, e aqui eu já termino, em dizer, meu querido... Vou dizer, meu querido amigo Alvaro Dias, tomara que tenhamos no Brasil mais políticos que pensem e trabalhem, dialogando com todos. E, quando falo isso, falo como um dos poucos Senadores negros...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Por videoconferência.) – ... do Brasil. Sou um dos poucos Senadores negros na história do Brasil todo! Mas eu digo que eu tive sempre em você um companheiro, companheiro de jornada, independentemente da raça, da cor, da origem, da procedência e da liberdade dos homens e mulheres dentro da sua visão de sociedade. Você respeita a todos e faz o bom debate, qualificado e carinhoso.

    Um abraço, Alvaro. Estarei contigo.

    O SR. PRESIDENTE (Irajá. Bloco Parlamentar PSD/Republicanos/PSD - TO) – Com a palavra o Senador Heinze.

    O Sr. Luis Carlos Heinze (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - RS. Para apartear.) – Senador Alvaro Dias, quero deixar um abraço.

    V. Exa. foi Governador do Estado do Paraná. Tenho orgulho daquele estado, muitos gaúchos ajudaram a criar e a fazer daquele grande estado o que é hoje, e V. Exa. teve a honra de ser Governador daquele estado. Vereador, Deputado, Senador, enfim, fez muito pelo Paraná, fez muito pelo Brasil.

    Eu vi aqui a emoção do Marcos do Val. Quando ele falou ali, Girão, eu achei que não ia falar no final: "Meu padrinho". Quer dizer, entre tudo que falou, de ser um conselheiro, de além de tê-lo trazido para a política, de tê-lo convencido a entrar na política – um grande parceiro nosso –, também padrinho de casamento. Essa afeição e a emoção do Marcos do Val tocam a todos nós.

    Meus parabéns pela empreitada que está fazendo! E nós nos encontraremos em tantas outras jornadas pelo bem do nosso Brasil. Parabéns pelo seu trabalho, por todos esses anos de vida pública limpos, isso que é importante! Quando tantos casos hoje, Girão, que decepcionam a política brasileira estão por aí, V. Exa. tem dado um exemplo.

    Parabéns! Estamos juntos. Valeu, tchê!

    Obrigado.

    O SR. PRESIDENTE (Irajá. Bloco Parlamentar PSD/Republicanos/PSD - TO) – Com a palavra o Senador Alvaro Dias.

    O SR. ALVARO DIAS (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - PR) – Presidente, tudo vale a pena, quando a alma não é pequena, diz o poeta. E todos nós vivemos num cenário de incompreensão, de injustiça, inversão de valores e certamente, muitas vezes, perguntamos: o que aqui estamos fazendo? Como conviver neste cenário? E, hoje, eu que não queria vir a esta tribuna exatamente porque não conseguiria conter a emoção, posso dizer que essa trajetória de alguns revezes e muitas vitórias valeu a pena.

    Eu ouvi a manifestação generosa de Parlamentares de vários partidos, adversários e parceiros na luta que travamos aqui no Senado Federal durante todos esses anos. Eu não tenho palavras para a gratidão. Confesso que a minha emoção reflete o sentimento que vai na alma: de gratidão por todos aqueles que compreenderam, entenderam as nossas falhas, os nossos defeitos e se manifestam...

(Soa a campainha.)

    O SR. ALVARO DIAS (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - PR) – ... dessa forma tão generosa nessa conclusão do mandato, quando realmente nos dedicamos, trabalhamos muito com honestidade. Mas certamente sempre paira a dúvida: vale a pena? Hoje eu posso dizer: tudo vale a pena quando a alma não é pequena.

    Muito obrigado a todos. Eu gostaria de agradecer a cada um dos que se manifestaram, mas eu creio que todos dispensarão esse agradecimento individual. Quero dizer da minha honra em ter sido parceiro de todos, mesmo daqueles em campos diferentes, politicamente ou partidariamente. Quero dizer que foi uma honra enorme poder conferir que realmente a política não é essa prateleira vazia de decência, de integridade, de responsabilidade pública. Há na política, sim, aqueles que merecem o respeito da sociedade.

    Para concluir, Presidente, quero agradecer todo esse tempo que me foi disponibilizado para esta despedida e dizer que vou daqui e passo a ser representado, mas com a convicção de que serei muito bem representado, porque aqui, Carlos Viana, Irajá, ficam Senadores que merecem o respeito de todo o país. O Senado é essa instituição essencial ao Estado de direito. Devo concluir dessa forma, defendendo a instituição. Eventualmente podemos condenar esse ou aquele, porque nós somos humanos e falhamos, mas somos passageiros transitórios, substituíveis; a instituição jamais. A instituição é permanente, definitiva, insubstituível e deve ser preservada. Certamente Senadores, como aqueles que aqui se encontram e hoje me emocionaram, haverão de ser a nossa garantia, agora como representado, de que essa instituição será preservada, em nome do Estado de direito, porque essencial à democracia.

    Muito obrigado, Presidente. Vamos carregar os nossos sonhos e as esperanças da pacificação, do progresso, da justiça, da liberdade e da democracia, como sonho de um povo que quer exercitar a cidadania na sua plenitude! Muito obrigado, Presidente. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/12/2022 - Página 38