Discurso durante a Sessão de Premiações e Condecorações, no Senado Federal

Sessão destinada à entrega da Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo.

Autor
Chico Rodrigues (PSB - Partido Socialista Brasileiro/RR)
Nome completo: Francisco de Assis Rodrigues
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Homenagem:
  • Sessão destinada à entrega da Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo.
Publicação
Publicação no DSF de 01/03/2023 - Página 19
Assunto
Honorífico > Homenagem
Indexação
  • SESSÃO SOLENE, ENTREGA, COMENDA, INCENTIVO, CULTURA, LUIS DA CAMARA CASCUDO.

    O SR. CHICO RODRIGUES (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - RR. Para discursar.) – Bom dia a todos e a todas.

    Quero cumprimentar o nosso Presidente Senador Rodrigo Pacheco, que iniciou presidindo esta sessão; cumprimentar a Senadora Daniella Ribeiro; a Senadora Zenaide Maia; o Ministro do Superior Tribunal de Justiça Joel Ilan Paciornik; o representante do Governo do Rio Grande do Norte; a Secretária Extraordinária da Cultura, Sra. Mary Land Brito; a Presidente do Instituto Brasileiro de Museus, Sra. Fernanda Castro; a Coordenadora do Museu do Senado, Sra. Maria Cristina Monteiro.

    Quero dizer, nesta sessão de entrega da Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo, que é motivo de muita alegria e muito orgulho para o Senado da República estarmos aqui para agraciar Flávio Capitulino, Yara Tupynambá, o Instituto Inhotim, Pedro Machado Mastrobuono, meu indicado, e Milton Nascimento com a Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo.

    Neste significativo evento, eu, minha colega Senadora Daniella Ribeiro e meu colega e Presidente do Senado, Senador Rodrigo Pacheco, unimo-nos para prestar homenagem a essas ilustres personalidades e instituições.

    Mas começo por ressaltar o valor dessa comenda que recebe o nome do sábio Luís da Câmara Cascudo. Nascido em 1898, na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, por quase um século ele nos honrou com suas pesquisas tão valiosas e até a sua morte, em 1986, manteve-se produtivo.

    Rotular Câmara Cascudo por alguma especialidade é quase impossível, pois seu valor extrapola a condição de advogado, antropólogo, folclorista, historiador, memorialista ou missivista.

    No Congresso Nacional, tenho representado o Estado de Roraima desde meu primeiro mandato como Deputado Federal, em 1991. E essa representação muito me honra. Mas não é possível eu me esquecer da condição de nascido em Pernambuco, uma origem que me deu a oportunidade de receber na fonte a rica cultura oral, sertaneja, popular e erudita; um registro cultural que quase todos nós podemos acessar nas obras de Câmara Cascudo, nordestino como eu.

    Na condição de engenheiro agrônomo e de extensionista rural, meu convívio com o homem do campo me proporcionou incontáveis horas de boa prosa e boa poesia transmitidas por tantos homens e mulheres simples que habitam os rincões deste país.

    Vivendo em Roraima por tantos anos, ali reencontrei essas raízes sertanejas dos nordestinos, que para ali migraram ao longo de décadas. E essas sapiências, crenças e artes, em diálogo com as culturas das diversas etnias indígenas, aumentaram em mim a admiração pelo legado cultural de nosso povo.

    Por isso, tanto valor eu associo a essa comenda. Por tudo isso, considero tão relevante esta cerimônia, que não ocorria desde 2018.

    E me congratulo com o artista Flávio Capitulino, restaurador reconhecido mundialmente, mas que se mantém ligado pelo afeto a suas raízes sertanejas, paraibanas e nordestinas.

    Esse artista e militante das causas ambientais é um exemplo de que o talento pode ser desenvolvido com a persistência, a constância e, acima de tudo, a humildade. Tendo sofrido as agruras de um migrante em terras francesas, não se deu por vencido e tem visto sua arte triunfar. Flávio é reconhecido mundialmente como restaurador. Tem prestado serviços a célebres galerias e museus de reconhecimento mundial.

    Atribuída a Câmara Cascudo, a frase "O melhor do Brasil é o brasileiro" bem se aplica a Flávio e aos demais homenageados nesta sessão.

    E vejam como as artes e imagens se ligam, pois congados, cavalhadas e violeiros são temas já pintados por Yara Tupynambá, uma das homenageadas deste dia. Essa artista plástica mineira, mais do que beber em fontes semelhantes às que bebera Câmara Cascudo, fez questão de traduzir em telas e murais o melhor da cultura brasileira. E sua generosidade a fez, também, professora e dirigente de tantas iniciativas públicas para promover Minas Gerais, o Brasil e o nosso povo. É uma verdadeira emoção e uma honra para o Senado Federal homenagear essa pessoa que criou uma bela obra com base no poema A Mesa, de Carlos Drummond de Andrade. Em verdade, homenageados somos todos nós!

    Uma homenagem que se estende a Pedro Machado Mastrobuono, que tem aprendido – e nos ensinado, de volta – a ser um guardião da memória, não só a brasileira como a de toda a humanidade, de todos os tempos. Dr. Pedro vem-se destacando não só como administrador de museus e curador de exposições artísticas. Ele tem demonstrado seu espírito republicano ao dirigir instituições nacionais, a exemplo de sua gestão no Instituto Brasileiro de Museus. Essa experiência, ele tem emprestado a muitas instituições, como é o caso de sua participação no Conselho Deliberativo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp) e no Conselho do Museu Lasar Segall. Um talento e um conhecimento que ele compartilha mundo afora, como na sua participação no Conselho Internacional de Museus da Unesco.

    Esse reconhecimento que hoje recebe é por tudo o que, de longa data, Pedro Machado Mastrobuono vem plantando, seja no cuidado com a arte de Alfredo Volpi, seja na direção de instituições vinculadas ao Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, seja na sua atuação no Instituto de Arte Contemporânea, também em São Paulo. Por sua brilhante atuação em prol da arte e da cultura, Pedro Machado Mastrobuono foi nomeado Diretor-Presidente do Memorial da América Latina, cuja administração será marcada a partir de agora por sua competência e amor às artes.

    E, na sequência das homenagens, a Comenda Câmara Cascudo é dedicada não a uma pessoa, mas ao Instituto Inhotim, com sede em Brumadinho (MG).

    Ali, como gostaria de celebrar Câmara Cascudo, natureza e arte se integram para proporcionar uma das experiências estéticas mais completas a quem o visita. Entre a Mata Atlântica e o Cerrado, estão expostas cerca de 700 obras, de artistas de 40 países – exposições que ocorrem tanto nas galerias quanto no Jardim Botânico, que abriga mais de 4 mil espécies de plantas raras, oriundas de todos os continentes.

    E, para inteirar essas homenagens, a Comenda Câmara Cascudo é dedicada também ao compositor e cantor Milton Nascimento – Milton Nascimento.

    Da voz do cantor já se disse que é a prova material da existência de Deus, pelo seu jeito jeitoso, pela sua melodia, pela sua letra, pela sua imaginação, pelo seu sentimento de troca com o ser humano, da mesma maneira que o são tantas maravilhas neste país e em todo o mundo, em escritos, em artes plásticas, em músicas provenientes daquele belo artista.

    Na condição de extensionista rural, profissão que exerci, conheço bem o que são os caminhos poeirentos e as águas frias dos igarapés, assim como as águas caudalosas dos rios da Amazônia.

    Se, para Milton Nascimento, "Cantar era buscar o caminho que vai dar no sol", para mim e meus tantos colegas de profissão, buscar o diálogo com o homem e com a mulher do campo era – e é – o caminho de nos encontrarmos com a luz, com as colheitas, com a fartura, com a esperança deste nosso querido e imenso Brasil.

    Se, na canção de Milton, "Para cantar, nada era longe, tudo tão bom/ Até a estrada de terra na boleia de caminhão", nós Parlamentares não podemos considerar nada longe, nada distante.

    E, em Roraima, não havendo tantas estradas, são as canoas, as rabetas, as catraias, as voadeiras, as balsas e todos os outros meios flutuantes que usamos para chegar até nossas populações ribeirinhas, incluindo as etnias indígenas, que nos alegram e nos contaminam, pela nossa existência e pelo nosso compromisso com a cultura deste nosso país tão abençoado.

    Por fim, quero dizer que recebem esta Comenda Câmara Cascudo, além dos homenageados de hoje, todos os cantadores e repentistas do Brasil, todas as lavadeiras que embalam a dura lida com seus cantos de trabalho, e todos os xilogravuristas que tornam o cordel brasileiro uma arte tão valiosa para a construção da nossa identidade cultural. Todos os grupos de bumba meu boi, todos os maracatus, caboclinhos, reisados, e todo o dicionário do folclore brasileiro, com cada um dos seus verbetes, estão escritos e tatuados na nossa memória pelo glorioso Luís da Câmara Cascudo.

    Portanto, este é um dia de alegria, um dia de festa, mas, acima de tudo, um dia de compromisso do Senado da República com a cultura brasileira.

    Muito obrigado, minha gente! (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/03/2023 - Página 19