Discurso durante a Sessão Solene, no Congresso Nacional

Discurso em Sessão Solene destinada a homenagear Ruy Barbosa, patrono do Senado Federal.

Autor
Otto Alencar (PSD - Partido Social Democrático/BA)
Nome completo: Otto Roberto Mendonça de Alencar
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Homenagem:
  • Discurso em Sessão Solene destinada a homenagear Ruy Barbosa, patrono do Senado Federal.
Publicação
Publicação no DCN de 02/03/2023 - Página 13
Assunto
Honorífico > Homenagem
Indexação
  • DISCURSO, SESSÃO SOLENE, HOMENAGEM POSTUMA, CENTENARIO, MORTE, RUY BARBOSA, ADVOGADO, JURISTA, POLITICO, PATRONO, SENADO.

    O SR. OTTO ALENCAR (Bloco/PSD - BA. Para discursar. Sem revisão do orador.) – Exmo. Sr. Presidente do Senado Federal, Senador Rodrigo Pacheco, agradeço a V. Exa. Já me sinto contemplado pelo discurso do Presidente Sarney, do Senador Sarney. Ele descreveu muito bem toda a história de Ruy Barbosa, em síntese; ele, que é escritor e conhecedor da história do meu conterrâneo Ruy Barbosa.

    A cidade de Ruy Barbosa é minha terra natal. Os meus antepassados lá da região resolveram homenageá-lo com o nome Município de Ruy Barbosa. Eu me sinto muito contemplado não só pela história de Ruy Barbosa, e muito mais por ser um baiano lembrado, ao longo de todos os anos, pela sua obra magistral.

    Exma. Ministra Rosa Weber, Presidente do Supremo Tribunal Federal, peço a V. Exa. que leve a minha sincera admiração e consideração a todos os membros da Corte, sobremaneira ao Ministro Alexandre de Moraes pela coragem, pela decisão de interpretar a legislação eleitoral e dar as condições que deu ao Brasil de termos uma eleição que obedeceu àquilo que a população desejava pelo voto livre e soberano do povo baiano, da minha terra, e do povo brasileiro.

    Senador e Presidente José Sarney; Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, José Alberto Simonetti; as autoridades presentes – o representante do Procurador-Geral da República, Luiz Augusto Santos Lima; a Sra. Elisabete Costa, representando o Governador do meu estado, Jerônimo Rodrigues; o Sr. Major-Brigadeiro do Ar Malta; representante da Associação Brasileira de Imprensa, Sr. Moacyr Oliveira Filho; Presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa, Alexandre Santini; Editor-Chefe do site Migalhas, Sr. Miguel Matos; Deputados Federais da Bahia presentes, Deputado Otto Alencar Filho, representando a Câmara dos Deputados, Coronel Gabriel Nunes, Ricardo Maia; Senador Jaques Wagner, também representante da Bahia, e Senador Angelo Coronel, meu conterrâneo, meu patrício nasceu em 1849.

    Há pouco, eu conversava com a Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministra Rosa Weber, e dizia a ela que, nesse período, dois gênios baianos teriam nascido: em 1847, o poeta Castro Alves; em 1849, Ruy Barbosa.

    Uma das biografias mais importantes escritas sobre Ruy Barbosa foi de um Senador da República da Bahia também, o Senador Luiz Viana Filho. É uma biografia consistente. E, nela, tem detalhes interessantes, Sr. Presidente do Senado Federal, Senador Rodrigo Pacheco. Descreve a cordialidade de Ruy Barbosa com seus amigos e relata um fato interessante. Quando Castro Alves, nosso Poeta dos Escravos, teve seu rompimento amoroso com a poetisa portuguesa Eugénia Câmara, Ruy Barbosa o acolheu na sua residência, para que passasse aquele período agudo, de tanta paixão, que o Poeta dos Escravos teve pela poetiza Eugénia Câmara.

    Ele foi colega de Castro Alves na Escola de Direito do Recife. Estudaram juntos. Depois disso, ele foi para a Faculdade de Direito do Largo do São Francisco, no Estado de São Paulo.

    Formado em Direito, não teve como não participar da vida política. Ruy Barbosa, além de jurista, advogado, escritor, filólogo, tradutor, teve essa oportunidade de, na República, comandada pelo então Marechal Deodoro da Fonseca, ser o seu Ministro da Fazenda. E também, como falou o Presidente José Sarney, ter sido, ao lado de Prudente de Morais, um dos dois que construíram praticamente a primeira Constituição da República.

    Ruy Barbosa escreveu várias obras do direito político, escreveu sobre a imprensa, escreveu, na época, um artigo chamado "O Reino da Mentira", em 1917, que parece que vaticinou o que iria acontecer nesta nova quadra, sobretudo nestes últimos quatro anos da República, a nova fake news.

    Ele descreve, naquela época, nesse artigo, Sr. Presidente, exatamente, tudo que se fez agora para patrocinar, através da mentira, novos heróis da pátria, novos líderes e novos mitos, que poderiam dar solução à República, e me parece que vaticinou o que aconteceu e está acontecendo com essa nova prática de se constituir heróis falsos e de destruir personalidades e biografias das pessoas.

    Foi Ministro da Fazenda num período muito difícil, em que a República teve muitas dificuldades com os recursos que tiveram a chamada gestão do encilhamento, pela produção de moeda e, consequentemente, inflação e grandes dificuldades para o período republicano.

    Em 1907, durante o Governo Afonso Pena, foi uma celebridade mundial, quando em Haia foi chamado de Águia de Haia, defendendo, como falou o Presidente José Sarney, a igualdade entre as nações e a pacificação do mundo.

(Soa a campainha.)

    O SR. OTTO ALENCAR (Bloco/PSD - BA) – Foi quatro vezes Senador da República. Portanto, esteve à frente, participando do Senado, durante 32 anos. Perde para o Senador José Sarney, como ele falou há pouco, que foi Senador, um bom Senador, um grande Presidente, Senador da República durante 40 anos. O Presidente Sarney ganha de Ruy Barbosa por oito anos. Portanto, é um feito também histórico para o Senado e para a República.

    Foi candidato a Presidente da República por quatro vezes, sobretudo na campanha civilista, quando perdeu as eleições para o então Marechal Hermes da Fonseca.

    Dirigindo-se, e defendendo, à imprensa, Ruy Barbosa escreveu:

A imprensa é a vista da nação. Por ela é que a nação acompanha o que lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam, percebe onde lhe alvejam ou nodoam, mede o que lhe cerceiam ou destroem, vela pelo que lhe interessa e se acautela do que ameaça.

    Na Oração aos Moços, não pôde ler o seu discurso, ou falar, na Escola de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, porque já estava doente com grandes dificuldades para assim o fazer.

(Soa a campainha.)

    O SR. OTTO ALENCAR (Bloco/PSD - BA) – Portanto, Sr. Presidente fico muito grato a V. Exa., que me dá oportunidade de, neste momento, prestar uma homenagem ao grande baiano, talvez o maior de todos, o jurista, aquele que deixou uma história de vida pautada na honra, na dignidade, na defesa da República e, acima de tudo, da liberdade.

    Foi uma das vozes que se levantou contra a destruição de Canudos, no meu estado, em 1897. Poucos tiveram essa coragem de se insurgirem contra a ação de guerra contra um religioso, Antônio Conselheiro. Ele se colocou contra essa posição, defendeu a liberdade, a democracia e a República.

    E resumo com uma frase de um dos meus conterrâneos também, Afrânio Peixoto, nascido pertinho da cidade onde eu nasci, em Lençóis, na minha querida Chapada Diamantina, que me parece resumiu o que foi Ruy Barbosa em poucas palavras: "Libertador de cativos, defensor de oprimidos, educador do povo, reformador da pátria, apóstolo de todas as causas liberais, o maior entre os seus no seu tempo". E eu complemento o que disse Afrânio Peixoto: o maior de todos os tempos no Direito, na luta pela liberdade, democracia e pela República.

    Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DCN de 02/03/2023 - Página 13