Discurso durante a 11ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à veiculação em programa de TV de paraquedista que lançou milhares de sementes em área da Floresta Amazônica. Registro da destinação das emendas parlamentares de S.Exa. em favor dos indígenas da Amazônia.

Autor
Plínio Valério (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Francisco Plínio Valério Tomaz
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Meio Ambiente, População Indígena:
  • Críticas à veiculação em programa de TV de paraquedista que lançou milhares de sementes em área da Floresta Amazônica. Registro da destinação das emendas parlamentares de S.Exa. em favor dos indígenas da Amazônia.
Publicação
Publicação no DSF de 15/03/2023 - Página 44
Assuntos
Meio Ambiente
Política Social > Proteção Social > População Indígena
Indexação
  • CRITICA, ATIVISTA, SEMENTE, FRAUDE, REFLORESTAMENTO, Amazônia Legal, EMENDA, AUXILIO, INDIO.

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PSDB - AM. Para discursar.) – Presidente, Sras. Senadoras, Srs.Senadores, portanto, todos que aqui estão, permitam-me, se fosse possível, mostrar uma fotografia sobre o assunto de que vou falar. Não deve ser... É irônico, mas ao mesmo tempo a gente tem que fazer como sinal de alerta.

    Sr. Presidente, estamos prestes a completar um ano de espetáculo esfuziante elaborado sob medida para ganhar manchete daquele público que desconhece inteiramente a Amazônia, mas se diz disposto a tudo para salvá-la.

    E está aqui na foto. Um paraquedista de certo renome foi contratado para operação malabarística, em que jogou 100 milhões de sementes, de 27 espécies nativas do bioma local, para uma área remota no Município de Novo Aripuanã, em nosso Amazonas.

    Temos aqui a imagem dessa operação devidamente filmada e fotografada das nuvens, pois as sementes foram lançadas a 14 mil pés, mais de 4,2 mil metros de altitude. A imagens, que dão para rir, General Mourão, para nós que conhecemos a Amazônia, e eu vou tentar não rir com esse discurso porque esta Casa é uma Casa séria, mas as imagens mostram, porém, algo curioso. Como fica perfeitamente visível, as sementes foram lançadas em áreas de floresta totalmente verde – em áreas totalmente verdes –, sem qualquer área de desmatamento visível. Só se observa o verde. Há pormenor a registrar: no município alvo da operação, a floresta está preservada em sua quase totalidade.

    Alguém poderia alegar que as imagens das filmagens e fotos poderiam induzir a erro, mas quem mostra que a preservação ambiental do Amazonas, em geral, e dessa região, em particular, chega a 97% são os satélites. O nosso Amazonas, por exemplo, preserva sua floresta em 97%, mas o que interessa aos autores desse feito é o circo, é fazer com que as imagens dos caixões de sementes sendo abertos a 14 mil pés percorram o mundo inteiro, é alcançar os ambientalistas do uísque de 12 anos e do caviar – deixa eu aumentar o uísque aqui para 18 anos. Afinal, a lógica se resume a uma só, quando se jogam sementes é porque a área está desmatada, mais falso do que uma nota de US$3, só que convence quem já está disposto a acreditar nisso.

    O circo foi montado com cuidado, com cuidado para torná-lo espetacular. Despacharam de barco mais de 3,7 mil quilos de materiais e equipamentos, com direito a usar veículo elétrico da fábrica patrocinadora, claro, quando em solo. Construiu-se uma caixa de madeira, claro, biodegradável para colocar os 300kg de sementes. O paraquedista mergulhou a 6,5 mil pés de altura para atingir a caixa em queda livre e, cinematograficamente, liberar as sementes. Está aqui a foto, mas eu acho que não tem como, a câmera não pode captar porque é uma imagem um tanto quanto ruim, mas mostra totalmente o verde aqui.

    Eu acho graça disso, eu rio disso, mas aqui eu estou tentando alertar você brasileiro, você brasileira. Não estou falando com o estrangeiro porque eles estão no papel deles, se acham colonizadores ainda porque encontram colonizados. Eu estou aqui alertando para que não façam como fez a SBPC há alguns anos, quando disse que em dez anos a Amazônia seria um tremendo areal. Já se passaram 20 anos e não tem nada de areia, e ninguém cobra porque eles mentem, mentem e mentem e ninguém cobra, Izalci. E aqui eu estou cobrando e alertando, porque daqui a dez, 20 anos, 30 anos, vão dizer que reflorestaram a Amazônia. Vão mentir, vão pregar mentira para quem desconhece e, cá para nós, o brasileiro e a brasileira desconhecem a Amazônia. Portanto, o trabalho maior que eu tenho aqui é fazer com que o brasileiro ou a brasileira passem a conhecer a Amazônia, porque, conhecendo, eu sei que vão amar e, amando, eu sei que vão defender.

    O paraquedista, já disse, mergulhou a 6,5 mil pés, imaginem só. E o que interessava não era semear a floresta preservada, mas obter a propaganda fácil. Seria muito mais interessante e produtivo semear áreas realmente degradadas em outros estados, o Nordeste e o Sudeste principalmente.

    Mas não, eles querem semear na Amazônia. No Amazonas, que preserva 97% de sua floresta. Mas onde estaria essa vantagem visual, se eles fossem semear no Nordeste? Não há nenhuma. Mas semear na Amazônia há um grande apelo nisso tudo. E a gente pergunta: não seria melhor investir esse dinheiro gasto, esse patrocínio, para ajudar aquele que verdadeiramente guarda a Amazônia? O guardião da Amazônia é o caboclo, é o índio, é o pequeno agricultor. Esse que é o guardião da Amazônia, e não esses hipócritas, que sempre estão arrecadando dinheiro, tirando fotografias e explorando a imagem da Amazônia.

    Mas se temos ideias, temos também certezas. E uma delas é a de que, dentro de mais algum tempo – dois anos eu acho pouco, mas dez anos é razoável e vinte, com certeza –, os espertalhões que montaram todo esse espetáculo vão exibir fotos da floresta, da mesma floresta que vimos nas filmagens e vão se vangloriar dos efeitos sensacionais da operação: a mata forte, verdinha, como estava antes.

    Então, vejam só, meu amigo Senador Paim, que está presidindo esta sessão, e Kajuru, o quanto é difícil para nós da Amazônia passar paro o Brasil e traduzir em imagens e talvez oralmente o que verdadeiramente é a Amazônia. O Unicef, em seu último relatório, diz – não é o Senador Plínio Valério, é o Unicef – que a Amazônia é o pior lugar do planeta, Senador Marcos Pontes, para uma criança viver. A Amazônia é o pior lugar do planeta para uma criança viver. O Unicef que diz isso. É essa mesma Amazônia pujante, bonita, bela e cobiçada que serve de objeto para esse tipo de espertalhão, para esse tipo....

    Mostre aqui de novo ele, lá na caixa biodegradável, com as sementes. É biodegradável para não poluir a floresta. Imagina uma caixa de cem quilos, no mínimo, como vai poluir a floresta. Está aqui o espetáculo: o paraquedista com a sua caixa, borrifando, espalhando milhões de sementes na Floresta Amazônica. Está aqui a Floresta Amazônica. Hipocrisia maior não há. Hipocrisia maior desconheço.

    Portanto, ainda temos aqui quatro anos de mandato que o povo do Amazonas me concedeu, que Deus abençoou, e eu vou continuar aqui. A mim não importa se é a mesma tecla de um piano, até porque eu já fiz parte de um grande serviço: a lei de autonomia do Banco Central fui eu que fiz com o apoio dos Senadores. Essa lei que vai estabelecer mandato de Ministro do Supremo também é de nossa autoria. Mas o que eu estou aqui e é difícil para eu fazer é que você brasileiro e você brasileira entendam o que é a Amazônia. Esse pessoal está te enganando. Não seja como eles querem que você seja. Não tenha esse sentimento de colonizado. Os Estados Unidos e a Europa – que representam o quê? 11% da população mundial? 11% – ditam as normas ambientais e comportamentais: o que nós brasileiros devemos fazer. Não é à toa que hoje a gente discute o tempo todo essa questão de gênero e que todo mundo ocupe o mesmo banheiro. Isso é coisa de europeu, é coisa de americano. E essa coisa de meio ambiente, que eles não têm mais, pois não cuidaram, querem nos impor, para que nós possamos viver nisso. Por que eu sei disso? Porque eu sou de barranca de rio. Por que eu sei disso? Porque eu convivo com indígenas e sei que eles querem o que têm direito, que é saúde, educação e transporte – e eles não têm.

    E eu tenho usado minhas emendas parlamentares para ajudá-los. Os tenharins, os baníuas, os saterés, todos eles querem o que as ONGs não dão. As ONGs querem isolá-los e eles não querem viver no isolamento.

(Soa a campainha.)

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Democracia/PSDB - AM) – O senhor precisa ver, Senador Marcos Pontes, a alegria nos olhos, estampada, lá na comunidade Castelo Branco, no médio Içana, no Alto Rio Negro, quando se instalou ali a internet. Nos olhos... Quando a gente levou canoas de alumínio, com motor de popa, para que eles pudessem colher castanha, jerimum e melancia.

    Eu tenho uma carta onde eles dizem, Paim - e é um absurdo -, "louvando o Senador, o grande homem, que nos ajudou", palavra deles, a realizar o nosso sonho. E o que foi que eu fiz por eles? Emenda parlamentar para picape, para motor de popa.

    Olha o sonho! Olha o sonho dos índios. Está lá, está escrito por eles, que eu ajudei a realizar, ajudei a realizar "o nosso sonho". Olha o sonho! O sonho deles não é isolamento. O sonho deles não é jamaxi nas costas para carregar macaxeira, a mandioca para fazer a farinha, o sonho deles é ter o que nós temos de direito.

    Quando eu cito aqui, defendo aqui, cooperativa para os indígenas, eu cito a Constituição Federal, o 174 e o 231, artigos. É a Constituição que diz que tem que incentivar a cooperativa e que os índios têm direito de explorar as suas riquezas, que é o seu subsolo.

    É duro, mas é louvável. É desafiante, Senador Paim, e eu encerro agradecendo a paciência de V. Exa.

    Eu encerro dizendo que vão ter que me aturar aqui por quatro anos falando desses problemas da Amazônia, da hipocrisia dessas pessoas. Só para finalizar. O Macron, na França, Presidente da França, que nos dita normas, que quer nos impor costumes, que não temos, nem devemos tê-los, lá, a Guiana Francesa... Sai ouro adoidado pela Guiana Francesa. Sai ouro. E é ouro também que vai do Amazonas para lá. E ele vive querendo ditar normas aqui.

    Portanto, a gente está aqui para cumprir essa missão. Graças a Deus. Graças a Deus, Senador Lucas - o senhor que está apressado para vir... Graças a Deus essa missão me foi dada e será cumprida.

(Soa a campainha.)

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Democracia/PSDB - AM) – E uma delas é repetir sempre: O Amazonas não é coitadinho. Isso aqui, não estou de pires na mão pedindo nada, não. Eu estou aqui discursando e exigindo justiça para o meu povo.

    Obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/03/2023 - Página 44